Yan— Não ache que pode me enganar, rainha Vik. Posso colocá-la em um lugar ainda pior do que esse para morrer lentamente — ameaço.Os dedos finos e pálidos da rainha envolvem a grade e seu rosto gruda nas barras de ferro.— O que eu ganharia o enganando? No momento ganho mais se você for curado e estiver forte o suficiente para enfrentar o que virá.Encaro a rainha que parece estar falando a verdade e então encaro meu filho que adormeceu em um sono tranquilo, aconchegado em meus braços.— Ele é só um bebê, como poderá me curar? Se o que estiver dizendo for verdade.— Ele ainda não pode — ela diz, afastando-se das grades. — Tudo o que pode fazer por você é aliviar os efeitos da maldição com sua presença. Quanto mais tempo perto dele, menos sentirá os sintomas desagradáveis.— Mas ainda posso quebrá-la com a solução que Marry encontrou — pondero. — Como eu faço isso?— Sugiro que seja rápido, Alfa. — Ela recua lentamente e se deita no feno mofado e sujo. — Estou cansada, me deixe dormi
MarryA dor atravessa meu corpo, enquanto reúno forças para me levantar. Handall continua rindo loucamente, cantando a sua vitória. Com muito esforço consigo me sentar, mas ainda sinto o poder deixando meu corpo e isto é um processo doloroso. Talvez porque eu não queira liberar este poder, e ele está sendo arrancado a força.Ouço um estrondo na porta e um rosnado vindo do lado de fora, deve ser Huan. O lobo deve ter escutado o meu grito e veio ao meu socorro.— Huan... — sussurro, quase sem forças. — Socorro...Ouço fortes pancadas na porta que começa a rachar. O lobo rosna e vejo uma feição de preocupação surgir na face anteriormente tranquila de Handall.— É melhor ir embora, lobo! — exige o velho bruxo. — Ouça um conselho: pegue as suas coisas e suma daqui, ainda dá tempo de fugir — oferece com uma risada histérica, diria que o homem está a beira da loucura.O rosnado do Beta só se intensifica, atacando a porta com cada vez mais brutalidade. A rachadura formada aumenta cada vez mai
MarryFecho meus olhos e seguro firme nos pelos de Huan, mas tudo aconteceu rápido demais. Em um momento Huan corria a toda velocidade e no segundo seguinte estávamos rolando pelo chão de terra batida e pequenas pedras que arranharam a minha pele.Ainda desnorteada pela queda e pela fraqueza que abate meu corpo, tento focar meu olhar para entender o que está acontecendo.Huan está caído a poucos metros de distância, mas se coloca de pé aos poucos. Ele parece muito mais ferido que eu, mas não sei o motivo. Sangue escorre entre seus dentes brancos e uma de suas patas parece quebrada, pois ela está levantada e pendurada de uma forma estranha.Procuro me sentar e deixar a tontura passar para entender o que aconteceu, mas não demora muito e o motivo de nossa queda está bem na nossa frente.No começo tive dificuldades de entender, mas alguns traços ainda estavam lá. Handall não é mais um velho bruxo magricela, ele agora parecia mais forte, mais jovem. A pele não estava mais enrugada, os cab
MarryMinha cabeça está doendo. É tudo o que registro quando tento abrir meus olhos. Forço minhas vistas, mas não vejo nada. Não sei se estou vendada ou se o lugar onde estou é tão escuro que não há nenhuma sombra, silhueta... não há nada. Mas sinto como se houvesse algo sobre os meus olhos, por isso creio que esteja vendada.Ouço um gotejar a uma distância, e isso me diz que estou em um lugar úmido, com água por perto. Talvez eu consiga rastejar a encontrar água para beber, pois meus lábios estão secos.Com cuidado meus dedos percorrem o chão de pedra úmida, tateio e encontro uma poça. Continuo forçando minhas mãos para frente e a poça se torna mais funda. Não vou mais além, pois não sei onde estou. Se estiver na floresta ou em uma gruta, eu posso cair em um córrego e me afogar. Minhas mãos estão amarradas, mas consigo formar uma concha com elas e pegar um pouco de água, levando-a até a boca. O sabor agradável de água fresca percorre a minha garganta, saciando a minha sede.Curvo meu
YanSubo as escadas com as palavras da rainha em minha mente, Preciso fazer isso, tenho que libertar os escravos e arriscar que este seja o caminho certo para me livrar da maldição.A medida que subo as escadas, ouço o som da batalha que ocorre no salão. Os lobos cinzentos devem estar invadindo o castelo, acreditando que sua rainha já esteja livre e que em breve tomarão o reino para si. Todos estão acreditando que o rei está doente e fraco e por isso investiram neste dia, mas ninguém poderia saber que o meu filho é um bruxo quebrador e que embora ele não tenha a capacidade para me libertar da maldição, ele pode amenizar os efeitos do feitiço quando está perto de mim.Graças ao poder do meu filho, sinto-me como novo, em meu corpo não há dor ou fraqueza, e eu vou me aproveitar disto para mostrar que o rei está bem e forte, tudo não passou de uma invenção.A espada ainda está em minhas mãos, e a ergo ao invadir o espaço tomado de lobos se degladiando. O som de uivos e ganidos misturados
HandallA atitude do Beta me obrigou a antecipar meus planos. Marry deveria ficar e alimentar o Fosso até que ele estivesse pronto, o que não faltava muito, porém o lobo tinha que interferir e levar a bruxa escrava de mim.Eu só vi duas opções: deixá-los escapar e pensar em outro plano para atrair a escrava novamente ou antecipar todo o plano. Considerando que o Beta havia quebrado meu braço, e eu não tinha mais tanto tempo disponível, além da dor infernal que eu sentia, decido pela segunda opção.Inicialmente o poder seria liberto para quebrar o feitiço das coleiras e em seguida, usando o poder restante, tentar tomar o castelo e o reino dos Lobos Negros. Mas diante das circunstâncias, decido absorver todo o poder guardado pelo Fosso durante tanto tempo.A medida que o poder preenche meu corpo, sinto os seus efeitos. Minha força é restaurada de uma maneira que eu me sinto tão forte quanto nunca cheguei a ser um dia. Sinto o poder correr em minhas veias, forte e poderoso, não um poder
YanEu mal podia acreditar no que via ocorrer no campo onde os súditos estavam até segundos atrás. O chão se abre sob seus pés e ao mesmo tempo que alguns escravos se alegram e se tornam gratos por estarem livres, alguns lobos tentam fugir desesperadamente do que está acontecendo.Me sinto completamente impotente. O que eu poderia fazer para evitar aquilo? Recuo da janela com meu filho nos braços e a espada ainda na minha outra mão. Terei que descer até o calabouço, preciso contar a rainha o que está acontecendo e talvez ela possa me ajudar. Infelizmente estou inclinado a acreditar no que ela havia dito sobre um poder acumulado poder destruir nossos reinos em breve.Começo a descida pela longa escadaria.Pelo menos libertei os escravos e devo estar livre da maldição. Elevo meu pensamento para Marry e Huan, sinto que meus poderes estão mais fortes. O rastro deixado por Marry está lá, só não consigo identificar onde. Mas paro em meio a escada quando constato que não encontro o rastro do
HandallOs bruxos libertos me olhavam com veneração, contentes e gratos por serem livres novamente depois de muitos anos sendo escravizados pelos lobos.— Ouçam todos com atenção — ergo minha voz para que todos me ouçam, pois o grupo reunido ao meu redor é muito grande e todos precisam ouvir a minha voz. — Agora é a nossa vez de tomar o que é nosso. Nosso lar foi destruído pelos lobos e hoje destruiremos o deles.O povo a minha volta entra em euforia, gritando e erguendo as mãos em punho, determinados a fazer justiça. Agora é a nossa vez de tirar deles o que foi retirado de nós.— Tratei de lançar um feitiço de divisão nas terras do castelo que já está em ação, todo o terreno ao redor do castelo se tornará um enorme abismo, e será impossível entrar no castelo sem permissão — faço uma pequena pausa. — Sem a minha permissão. Ninguém mais sairá ou entrará sem que eu permita, principalmente aqueles lobos fedorentos. — O castelo será nosso! — um dos bruxos grita, sendo acompanhado por out