A conversa estava fluindo a ponto de esquecerem o porquê de estarem ali. Assim que Esther se levantou, avisando que prepararia o almoço, Harry a convenceu a pedir algo pelo aplicativo.— Pai, o que acha que devemos fazer? – Harry perguntou a Owen, voltando ao assunto inicial.— Se eu fosse vocês, eu recomeçaria a vida em outro lugar, esquecendo tudo isso. E quanto ao contrato, Esther, você chegou a assinar algo que te deram?— Não, tenho certeza de que lembraria caso tivesse assinado algum documento – Esther afirmou.— E as ameaças? Acredita que eles irão cumpri-las? – Helena perguntou, preocupada.— Duvido muito que meu pai vá desistir tão facilmente. No passado, ele me deserdou e cumpriu com a palavra em me fazer não conseguir mais nenhum emprego nesse ramo. Mas isso não me impediu de tentar outra área – Owen contou.— Eu não estou preocupado com a minha carreira, nem com a herança. Apenas quero ter uma vida nova com Esther e ter certeza de que ela estará segura – Harry afirmou, pe
Era como se nenhum deles soubesse o que fazer naquele momento. Harry tentou confortar Esther, mas, enquanto olhava para a foto em questão, sentiu-se apavorado com a grande semelhança entre Esther e aquela mulher. Se ele já estava se sentindo assim, imagina o que passava pela mente de Esther. Owen e Helena saíram em busca de um ar fresco. Harry sabia que eles iam conversar, mas não queriam que Esther escutasse, para não deixá-la mais nervosa. Esther desabou chorando sobre o peito de Harry enquanto ele a abraçava. Ele queria poder tirar a dor que ela estava sentindo. Por mais que tentasse convencê-la a não se preocupar até saber a verdade, ele mesmo já estava convencido de que Esther havia sido tirada de sua mãe verdadeira. Bastava saber o motivo disso.— Preciso saber a verdade, Harry. Não conseguirei ter paz enquanto não descobrir. Se Brenda realmente for minha mãe verdadeira, por que Lorenza e Benjamin me enganaram esse tempo todo? – disse Esther, com a voz trêmula.— O que você p
— Você não precisa se esforçar para me animar, Harry – Esther disse. Harry estava tentando puxar assunto para que Esther mudasse o rumo de seus pensamentos e parasse de se preocupar tanto.— Odeio vê-la tão triste – Harry falou, pegando a mão dela. — Sei o quanto é difícil, mas ficar perdida nesses pensamentos não vai ajudar em nada.— Está tudo bem, não precisa se preocupar comigo – Esther disse, abaixando a cabeça.— Eu me preocupo mais com você do que comigo mesmo. Me pedir isso não mudará nada.— Sei que estou sendo uma companhia horrível no momento, mas eu simplesmente não consigo acalmar a mente. São tantas perguntas que me rondam. Estou ansiosa por respostas, mas, ao mesmo tempo, tenho medo do que ouvirei. Harry suspirou, compreendendo o que ela estava dizendo, e então estacionou o carro.— O que você está fazendo? — Esther perguntou, observando Harry sair do carro e abrir a porta do seu lado.— Quero te mostrar uma coisa — Harry falou, pegando a mão dela e a guiando para for
Harry soltou um resmungo antes de responder:— Só você mesmo para me fazer pensar em algo tão torturante. Mas, respondendo a essa pergunta, nesse universo horrível onde eu teria que escolher entre comer somente carne pelo resto da vida ou comer tudo, menos carne, eu prefiro a segunda opção – ele respirou fundo como se fosse a coisa mais dolorosa a se dizer.— Então você, que dizia amar tanto carne, abriria mão disso? – Esther riu ao ver sua expressão de dor.— Seria uma terrível tortura, tenho certeza de que passaria dias sonhando com um x-burguer bem caprichado, o cheiro delicioso de bacon e de carne assada. Mas é melhor do que comer somente carne para o resto da vida. Não acredito que seja uma dieta saudável e sofreria mais sem poder comer todas as outras coisas – Harry explicou.— Está tudo bem, volte a comer o seu lanche delicioso – Esther brincou, acariciando o seu braço. Harry sorriu, dando uma grande mordida no lanche e suspirando de prazer.— Ainda bem que nunca precisarei e
— Não me importo com o seu dinheiro e acredite em mim, Esther não é a minha ruína, ela é a minha salvação – Harry afirmou. Carson se afastou, ainda sorrindo.— Espere e verá – ele sussurrou antes de partir. Daniel o encarou enquanto caminhava para fora. Quando Harry fez menção de levantar o punho, o primo se afastou rapidamente, seguindo o avô.— Veja o que vocês fizeram, eles eram nossa única esperança de nos salvar da pobreza – Lorena gritou enquanto puxava os cabelos.— Eu não me importo com os seus problemas, vocês cavaram suas próprias covas, e não serei obrigada a entregar minha vida para salvá-los da ruína. Mesmo com o dinheiro prometido, Benjamin perderia tudo outra vez – Esther respondeu, fazendo de tudo para controlar as lágrimas que começaram a embaçar sua visão. Não era hora de chorar; não queria que aquelas pessoas a vissem como fraca.— Você quer a verdade? Sua mãe não passava de uma alcoólatra que nem mesmo podia sustentar a própria filha. Fiz um favor, te criando e
Esther havia mergulhado na tristeza. Durante uma semana, Harry foi paciente, tentando de tudo para convencê-la a sair daquele quarto. Ele levava os alimentos e, com muita insistência, Esther comia um pouco. Mas sua paciência já havia se esgotado. Não suportava mais a ver naquele estado. Ele não aceitaria deixar que Esther sufocasse com aqueles sentimentos; precisava fazer algo. Após pensar muito no assunto, andou até a porta de seu quarto, ainda perdido em seus pensamentos. Não sabia ao certo o que faria, mas estava disposto a tudo para vê-la se recuperar. Por mais que entendesse o sofrimento de Esther, ela ainda era jovem e precisava lutar para viver. Agora, teria a chance de viver conforme queria, não como foi imposto a ela. Quando colocou a mão na maçaneta fria da porta, sentiu um arrepio percorrer seu corpo, uma sensação estranha, quase como um aviso sobrenatural ao entrar naquele quarto escuro, que já não via a claridade há um bom tempo. Harry observou Esther deitada na mes
Quando o avião pousou, Harry percebeu que as mãos de Esther estavam trêmulas enquanto ela observava pela janela a vista. Ele segurou firme sua mão e esperou até que ela estivesse pronta para sair.— Eu sempre quis vir a New Haven, só não esperava que seria nessas circunstâncias – Esther falou enquanto andavam em busca de suas malas. Esther sempre foi apaixonada por livros e várias vezes mencionou New Haven em suas conversas. A cidade era conhecida como um refúgio para amantes de literatura, onde todas as ruas eram nomeadas com nomes de escritores famosos. O lar da maior biblioteca do mundo e do museu mais famoso.— Quem sabe conseguimos aproveitar um pouco nos dias que estivermos aqui – Harry comentou. Ele queria isso. Podia até imaginar a surpresa de Esther ao entrar na livraria e seus olhos brilhando. Estava certo de que fariam isso.****************** Eles estavam observando o restaurante do lado de fora, tentando procurar por Brenda.— Já sabe o que fazer se a ver? – Harry
— Ela chegou a cursar a faculdade de Direito por um ano depois que se formou no ensino médio, porém abandonou. Três anos depois, se casou, e sabemos o resto – Esther disse, tentando não pensar novamente na morte de seu pai. Ela queria conversar com Brenda, saber tudo sobre a sua vida, o que gostava, o que fez durante todos esses anos, se ao menos sentiu falta da filha e, o mais importante: por que desistiu de se aproximar de Esther. Mas, ao mesmo tempo, sentia medo, inseguranças. Não estava sendo fácil convencer a si mesma de que as pessoas que a criaram não eram seus pais. Por mais cruel que Lorena tivesse sido com suas palavras, Esther a amava. Era tudo culpa do seu coração idiota que teimava em ser mole e continuar com esses sentimentos por pessoas que a desprezavam. Uma parte de si sentiu alívio ao descobrir isso, mas outra parte estava confusa, magoada e se sentia ferida. Esther nunca foi de ter muitas expectativas em relação à Lorena e Benjamin, mas jamais imaginou que eles e