Meus olhos queimavam de fúria enquanto encarava meu novo chefe, que me avaliava com desdém. Saí da sala de Fernando na companhia de Daniel. Era muito fácil cometer um assassinato agora mesmo, se tivesse que olhar para aquele rosto novamente em menos de uma hora. A companhia do meu amigo era agradável e ele apareceu em hora certa, o que me deixava um pouco mais confortável. Nunca me imaginei agredindo alguém, só que agora, isso me parecia mais que possível.
Olhei para Victoria quando passamos por sua mesa, ela estava pálida e centrada encarando o computador, o que já me fazia pensar que era o efeito que um certo alguém tinha sobre as pessoas que estavam ao seu redor. Um efeito nada positivo por sinal.— Por que você quis almoçar comigo e não com o seu irmão? — Me virei para Daniel que parou de repente espantado com minha pergunta após tanto silêncio.Ele pareceu ficar tenso e depois relaxou. Com um sorriso gigantesco, ele indicou para que continuássemos andando, para depois falar:— Bom eu não vejo meu irmão faz alguns meses, e agora ele está aqui. Não somos muito melosos. E sabia muito bem que se o chamasse, ele diria não. — passamos pela portaria e eu cumprimentei a recepcionista. — e além disso faz meses que você e eu não concretizamos nosso ritual matinal de almoçarmos juntos, concluí que seria mais justo. Com você posso dar boas risadas. — Ah! Está bem. Vou fingir que acredito nisso. Mas se for verdade, é muito fofo da sua parte. — Havia um certo sarcasmo na minha voz. — Para de falar que eu sou fofo. — Daniel fez uma careta quando se virou para mim. — No mínimo você tem que falar que sou um cara excepcional. — Você é um ótimo amigo, e uma pessoa excepcional. — falei em concordância. Nós dois acabemos rindo. — Com toda a certeza um bom partido.Daniel apenas sorriu, e depois de um tempo se gabou de realmente ser um ótimo partido. Ouvi ele se gabar do quanto era bonito, e que era muito rico. Que tinha diversas qualidades... Mas a essa altura, não estava mais prestando atenção. Hoje de manhã, quando acordei pensei em mil possibilidades de arrumar outro serviço e trabalhar em casa. Nos últimos dias esse era um dos meus principais pensamentos mais recorrentes. Porém, quando entrei na empresa novamente, me senti em casa. Só que depois que conheci meu chefe novo, essa ideia de não mudar os ares virou algo passageiro. Pois com toda a sutilidade em que fui tratada me fez repensar em meus objetivos há tanto tempo esquecidos. Isso me fez com que me lembra-se de fantasmas que tinham o prazer de acabar com meu apetite. O jeito rude de Fernando fazia com que Guilherme viesse a minha mente, e isso não era um bom sinal.Minha mão tremia enquanto caminhava com Daniel rumo ao nosso restaurante favorito a uma quadra da empresa. Sem nem acreditar que meu trabalho foi questionado de tal maneira. Mal conseguia me prender ao que meu amigo me dizia, só era capaz de repassar na minha cabeça aquela cena devastadora, que envolvia Fernando. Ele tinha acabado de chegar, e já estava fazendo uma reviravolta por toda a empresa. Todos estavam eufóricos com a sua presença, e eu estava inquieta pela maneira que ele me tratou. Não fazia nem quatro horas que ele estava ali, e já botava o terror em todas as pessoas ao seu redor.Viramos a esquina e lá estava à entrada do buon sapore, que era um dos meus restaurantes de massas favorito. Eu amava aquele ambiente e estava rezando para esse momento trazer a minha paciência novamente. Assim que nos sentamos à mesa e pegamos nossos cardápios, encarei Daniel com um disfarçado sorriso nos lábios.— Ainda não acredito que me trouxe para almoçar ao invés do seu irmão. — minha voz entoava tanta incredulidade que o fez rir e dar de ombros. — Já faz meses que não realizamos nosso ritual de almoçarmos aqui, achei propicio para uma saudação de boas vindas. — Um grande sorriso surgiu nos lábios do meu amigo. Instintivamente me senti mais relaxada. — E, além disso, gosto de conversar com você.No primeiro momento pensei em responder que também gostava de conversar com ele. Mas quando se tratava de Daniel, eu precisava ser muito cuidadosa, pois sabia que ele poderia muito bem levar para outro lado.Há muito tempo, quando eu ainda estava com Guilherme ele revelara sentir algo por mim. E meus outros amigos também afirmavam que ele ainda podia nutrir uma afeição voltada a minha pessoa. Contudo, eu só o enxergava como meu melhor amigo. Mesmo assim, preferia ser cautelosa. Guilherme sempre teve ciúme excessivo de nossa amizade. Daniel chegou a me pedir para registrar Beatriz, com medo de que minha pequena não crescesse e sentisse falta de uma figura paterna. Tive que negar, pois não queria dar esperanças a ele. E não queria que Dan confundisse as coisas, por sorte, ele havia aceitado ser o padrinho da minha filha. Aceitando tranquilamente minha decisão. Éramos apenas amigos, não fazia sentido algum. O garçom se aproximou, e nós pedimos o de sempre. A famosa macarronada desse restaurante, era espetacular. Pedimos um bom vinho, o que era de certa forma bem vindo para mim. Um pouco do torpor do álcool me ajudaria a me sentir um pouco mais calma. — Você está muito estranha. Aconteceu alguma coisa? — Levantei meus olhos para Daniel, que expressava preocupação em sua face. — Eu detesto seu irmão! — Falei sem rodeios e levei a taça aos meus lábios para degustar aquele liquido precioso.Daniel arregalou os olhos, completamente surpreso. Acho que ele não esperava tanta sinceridade da minha parte, mas era impossível não falar isso a ele. Mesmo sabendo que Fernando era seu irmão, não tinha como fingir que meu novo chefe não era horrível.— O que houve? — Daniel ficou rígido na cadeira e parecia um pouco irritado.— Não sei se é meio certo eu falar mal do meu novo chefe, ainda mais ele sendo seu irmão.Nós dois ficamos nos encarando e eu sabia que Daniel iria exigir que eu contasse toda a história a ele. Talvez isso resultasse em uma possível briga, e eu causaria isso. O peso na minha consciência começou a crescer, e desejei não ter tocado nesse assunto há poucos segundos atrás.— Ju, fale o que aconteceu. Sou seu melhor amigo e não gosto de ver você com essa carinha chateada. Não ligue para o fato de Fernando ser meu irmão.Estava prestes a falar, quando o garçom chegou e entregou nossos pratos. Levei a primeira garfada a boca e gemi de prazer. O aroma e o sabor dessa comida ainda eram tão bons quanto me lembrava.Fiquei me enrolando enquanto almoçava, sabendo que o homem a minha frente aguardava uma resposta. Me senti na duvida entre falar a verdade, e omitir a hostilidade do seu irmão. Porém Daniel era uma das pessoas que mais me conhecia, e então seria difícil esconder algo dele. Ele sempre sabia quando eu não estava falando a verdade.Por fim, fui eu a quebrar o silêncio:— Ele apenas questionou o meu trabalho, e perguntou a Camilla se eu fui a melhor candidata que encontraram para ele... — Fiz uma breve pausa quando o rosto do meu amigo enrubesceu de raiva. Contei tudo o que ouve aquela manhã, e Daniel ficou completamente em silêncio durante esse tempo. — Estava prestes a dar um show e cortar a cabeça dele quando você chegou. — Eu não acredito que ele fez isso! — esbravejou. — Meu pai pediu para que você passasse a trabalhar com ele por causa da sua eficiência e experiência aqui e ele faz isso? Você era meu braço direito! E tiraram você do meu escritório!Me encolhi um pouco sem graça. Não esperava essa reação dele, tudo bem eu estava com raiva, mas também não extremamente furiosa a ponto de apreciar Daniel explodindo desse jeito. Todos da mesa ao lado nos olhavam em especulação. Ele se levantou, mas eu puxei seu braço. — Hey, aonde vai? — Quero conversar com meu irmão sobre isso. Não vou permitir que ele te trate assim. — Ele estava soltando a minha mão, quando indiquei que se sentasse de volta. — Para! Isso não tem importância agora, vou mostrar meu trabalho ao seu irmão e o fazer pagar com a língua. Não quero que interfira no meu trabalho. Tudo bem?Daniel concordou, mas não falou uma única palavra. No resto do almoço, conversamos sobre outros assuntos em que não envolviam meu encontro trágico com seu irmão. Conseguimos nos divertir, e quando pagamos nossa conta e caminhávamos satisfeitos para a empresa novamente, liguei para Mariana para saber da minha filha, que aparentemente parecia estar extremamente bem. Meus olhos marejaram ao receber uma fotinho da minha pequena, uma emoção que jamais poderia conter. Meu peito estava doendo de saudade.Quando eu e meu amigo tomamos rumos diferentes dentro do edifício, já me sentia bem mais calma ao chegar ao escritório. Não estava totalmente tensa, ou nervosa como momentos antes. Então consegui seguir com a minha rotina de adaptação tranquilamente como tinha planejado.Já passava das quatro horas quando bati na porta do escritório do meu chefe e adentrei no local. Seus olhos verdes fitaram os meus, e aquela sensação de exposição tomou conta de mim. Permaneci séria, sem deixar me abalar ou deixar que qualquer incômodo meu transparecesse pelo meu semblante.— Sei que está ocupado, então não vou tomar muito do seu tempo. — Minha voz era calma, estritamente profissional. — Trouxe uma cópia da sua agenda, com todas as reuniões que você terá ao longo desse mês. Essas dessa semana são as mais importantes, pois são com grandes investidores, e clientes.Estendi a ele as cópias da minha agenda que estavam marcadas por tópicos e agendamentos dos seus horários. Em cada data e hora que marcavam uma reunião, estava à descrição de com quem seria, de qual era a principal característica dos representantes, e o ponto forte e ponto fraco de cada empresa que queria se associar a nossa.Sempre fui focada em meu trabalho, principalmente na organização que ele envolvia. Desde que assumi essa responsabilidade de ser a secretaria de Fernando levei isso ainda mais a sério. Também tive que estudar toda a sua maneira de trabalho, para aprimorar ainda mais o meu. Então nesse exato momento, depois de demorar dias para organizar tudo para a sua chegada mesmo a uma certa distancia. Agora me via ansiosa pelo que ele falaria de tudo isso. Fernando estava concentrado olhando para tudo que estava a sua frente, enquanto eu ainda indicava tudo a ele. Como funcionaria sua rotina. Depois de longos minutos de silêncio, analisando por si só o conteúdo apresentado, finalmente ele ergueu o olhar até mim de uma maneira tão séria, que faria outra pessoa tremer, mas não eu. Já vivi ao lado de alguém pior que ele. — Sente-se, por favor... — Fernando apontou para a poltrona a sua frente, e eu me acomodei no assento, sem o questionar. — Andei refletindo... —Ele fez uma breve pausa e passo
Os sentimentos em meu peito se encontravam muito próximos de explodir, é natural sentir medo ou receio, é algo que todo ser humano carrega em seu peito e em seu interior, sabe qual é o problema? Sentir esse medo próximo de pessoas nas quais desejamos impressionar, ou daqueles dos quais desejamos mostrar toda a nossa imponência. Ao entrar na minha BMW, tudo o que consegui fazer por uns vinte minutos foi encarar o nada, pisquei algumas vezes recordando o que havia acontecido no elevador a poucos segundos, a minha total e completa humilhação. Por alguns instantes considerei a gentileza dela com o meu pânico; em seguida aquele sentimento de diminuição subiu para o meu peito, assim como uma raiva da qual eu não sei de onde surgiu. Comecei a socar o volante do carro com a buzina soando alto no estacionamento. Me remexi, bati, soltei maldizeres para aquele momento. BIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII _ MALDIÇÃO! - Saia de meus lábios enquanto a fúria enchia o meu peito. - Sou Fernando Murbeck c
Não consigo parar de olha-lo, não consigo ao menos evitar. Frequentemente meus olhos param diretamente em Fernando, especialmente nos momentos que ele não pode notar. Tem sido assim nos últimos dias, principalmente quando pude perceber certa gentileza em seu olhar. Estou impressionada com a sua beleza, em como está estonteante na noite de hoje. Embora todos os dias eu o veja assim, tão bem arrumado, em especial nesse momento Fernando conseguiu se destacar em meio a todos. Roubando diversos olhares. A imagem do sorriso que mostrou ao me ver, não sai da minha cabeça, estou até quase sorrindo sozinha em resposta. Olhei mais uma vez para meu chefe, que estava sério conversando com o seu pai a uma grande distância. Ele tinha covinhas! Nunca reparei esse majestoso detalhe em sua face, mas também ele pouco sorria, e quase nunca dirigia a palavra a mim. Passávamos a maior parte do tempo concentrados em nossos afazeres, ele mais do que eu. Afinal tinha uma bebezinha linda que requeria ainda
Antony estava falando algo com seus filhos, voltando ao assunto principal, ou seja, a empresa. Então o clima pareceu diminuir, porém Fernando ainda parecia irritado. Senti que estava sendo observada e olhei para Helena que me encarava seriamente com a sobrancelha arqueada em uma interrogação silenciosa, que parecia ser mais voltada para ela, do que para mim. Apenas dei de ombros, e voltei a prestar a atenção no que falavam. Antony se dirigia a Fernando nesse momento:— Nunca imaginei que um imprestável, como você Fernando se tornaria alguém tão importante. — Antony falou como se não fosse nada e levou sua taça a boca degustando um pouco mais de champanhe antes de continuar a falar com seu filho. — Sempre botei mais fé no seu irmão, Daniel que sempre foi mais parecido comigo em tudo. Desde sempre eu visualizei seu irmão como um perfeito CEO, e não você.Os olhos de Fernando gelaram ao encarar o seu pai, e meu próprio sangue pareceu ferver. A relação de pai e filho nunca foi das melhor
O ambiente trazia um clima tranquilo e leve, as conversas aconteciam e os murmúrios eram fáceis de se distinguir; a música suave preenchia meus ouvidos até a voz do meu pai roubar a atenção e me trazer para a realidade, levei a taça até meus lábios tomando um gole lento enquanto o mais velho dizia asneiras sobre negócios que se encontravam resolvidos. Quando notou a minha falta de vontade em prestar a atenção o senhor Murbeck rosnou baixinho, com uma expressão de desdém na minha direção. _ Como sempre nunca me escuta… - Seu nariz se franziu daquela maneira irritante o que me fez rebater logo em seguida. _ Por este motivo sou bem-sucedido atualmente. - Ao pontuar essa frase ele ergueu seu dedo roliço na minha direção pronunciando. _ Hora seu… - Se calou no mesmo instante ao ver alguém se aproximar, assim que Júlia se colocou ao meu lado, o homem mudou sua expressão para um sorriso largo demais, atencioso ao extremo, suas íris brilharam ao conversar com a minha secretária, ela tinha
Estava olhando espantada para Fernando nesse exato momento em que fiquei em pé e me afastei um pouco. Seus olhos me interrogavam em uma pergunta silenciosa que eu mal entendia. — Essa é a minha filha, por isso tem um bebê na foto. — Dei uma pausa um pouco constrangedora para que ele assimilasse o que estava falando. O que claramente não deu certo. — Essa é a Beatriz. Apontei para o celular que agora estava em cima da mesa, ainda com a imagem de Beatriz sentadinha no sofá apoiada por almofadas, com um laço rosa na cabeça, e um enorme sorriso banguela. Seus olhos encaravam a foto como se tentasse entender como isso tinha acontecido. Mas se Fernando falou que não era contra eu ser mãe, então porque estava me olhando de maneira esquisita? Como se o que acabei de falar fosse uma equação nada simples... Até pagar os custos adicionais do nosso plano suspeitava que fora ele ele quem pagou, então agora era eu que estava confusa com essa sua reação pouco normal. Com um pigarro Fernando f
Já passava das três da tarde quando meu celular vibrou, e eu recebi uma mensagem de Ana. Era um vídeo de Beatriz dando o suas famosas gargalhadas. Ela estava com seu vestidinho rosa, e seus pezinhos se mexiam incessantemente. Minha vontade era largar tudo e correr para ficar com ela. Vi essa filmagem diversas vezes, até pausar e acariciar seu rostinho congelado na tela. Meus olhos já estavam marejados com as lembranças que me vieram à mente. Com o susto que passei nos últimos dias. Depois que cheguei em casa no sábado, notei que Beatriz não estava muito bem, ela estava muito quente. Percebi que era febre no mesmo instante, e quase entrei em colapso quando vi seus olhinhos me encarando com uma expressão triste. Fiquei em pânico e corri com ela para o hospital, onde encontrei com seu pediatra. Dr. Rodrigo. Estava tão desesperada que quase nem acreditei quando ele me informou que isso era normal para a idade dela, porque seus dentinhos estavam nascendo. Mesmo assim não me senti totalme
Dor uma palavra tão pequena, mas que trás uma carga de sentimentos pesada. Sentimos dor quando algo nos machuca e isso pode ser tanto física quanto na alma, no meu caso apesar de ser quem sou, carrego uma dor imensa em minha alma. Por quê? Sou rico, famoso, tenho uma família, amigos e, além disso, estudo; de quê adianta tudo isso se passa apenas de fachada? Ninguém é completo quando um buraco imenso se faz presente em seu coração. E no meu caso é exatamente assim que funciona, um paraíso escuro, é assim que eu definiria toda a minha vida, quando mais novo sempre tentei encobrir esses sentimentos com bebidas, festas e garotas tão vazias quanto a mim. Hoje em dia o preencho com trabalho, vivo para isso e mais nada ou ninguém, então um paraíso perfeito não existe, ás pessoas apenas acreditam que ele existe na vida dos outros. O convite de Júlia foi tão repentino, contudo me trouxe um sentimento diferente em meu peito, algo que não experimentava a tantos anos, "expectativa"; você imagina