—Então... você terminou definitivamente com o Mateo? Não tem mais volta?—Amy exagera e distorce as coisas. Não preste atenção, tá bem? — comento tentando parecer inteira.Amanda me olha como se não acreditasse, no entanto, poupa o que poderia me dizer.—Já que estamos as três aqui, vamos tomar sorvete? Quem quer de creme com morangos? — propõe ela erguendo a mão animada.—Euuuuu! — grita Amy.—Vai tirar o pijama, rápido — pede à sua filha.Amy sai correndo para o quarto dela novamente. As duas vemos Amy entrar e fechar a porta. Com isso ficamos em silêncio. Espero que ela não queira trazer o assunto da América de novo, ou eu ficaria irritada.—Você acha que... Mateo vai cobrar de mim já que vocês não estão mais juntos? — questiona preocupada Amanda.—Cobrar o quê? — respondo confusa.—Você sabe... o que ele fez por mim...—Não. Não sei. O que ele fez por você? — pergunto estranhando.—Eu consegui... consegui meu contrato pelos contatos dele. Não foi você que pediu isso a ele, mas tem
Eu não conseguia acreditar que estava fazendo isso, mas estava. Espionando um ex com outro ex. A combinação era apoteótica e hilária. Em vez de estar descansando neste fim de semana, me encontrava aqui com Luciano, no carro dele, nos arredores do apartamento de Mateo.Luciano aparentemente tinha um laptop guardado numa mochila escondida neste veículo, e nele estava digitando códigos que eu não conseguia entender. Olho novamente para a saída do estacionamento traseiro do edifício. Nos posicionamos aqui, não pela porta principal, porque era a que meu ex-parceiro costumava usar.Vejo alguns carros entrando, nenhum deles é o de Mateo. Estamos aqui há talvez uma hora, com meus olhos fixos na rua. Penso que podemos ficar o dia inteiro sem resultados. Não aguento ficar mais tempo sem falar.—Esta é sua estratégia para me fazer acreditar em bobagens sobre Mateo? Vigiar o prédio dele e só? — digo a Luciano.Ele nem se incomoda em me olhar, continua ali digitando obsessivamente no computador.—V
Luciano não se conforma com a minha proposta, a insatisfação é latente nele. Também sua mania de me surpreender da forma como faz, de repente arranca pisando no acelerador numa velocidade imprudente. Coloco o cinto de segurança o mais rápido que posso.—Você poderia dirigir como alguém que tem medo de multas de trânsito? — exclamo.—Tarde demais para isso — afirma com o olhar concentrado na estrada.É quando posso ver, alguns carros à frente está o carro de Mateo. Entendo por que saiu dessa forma tão violenta. Seria interessante se pudéssemos alcançá-lo.—Então você viu o carro dele saindo — digo — Pergunta de espiã iniciante. O que vamos conseguir seguindo-o? Ele pode entrar em outro prédio e, aí, o que faremos?—A paciência é a primeira virtude a ser citada nesse tipo de missão... — responde ele enquanto dirige.—Paciência? Isso me diz o homem mais paciente do mundo, né? — zombo dele.—Você está tão afiada que eu poderia jurar que aquele confinamento na lavanderia te excitou mais do
A dor de uma traição não se assemelha à de outra. Cada traição se crava na sua pele e deixa uma cicatriz particular. Tentei superar os fantasmas do passado e me impor sobre o ressentimento em relação à minha meia-irmã Amanda, mas vê-la conectada em flagrante com Elizabeth, é demais para mim. E é particularmente doloroso que esteja com Amy. É como se tivesse me dado três punhaladas nas costas.Para o resto do salão infantil, nada fora da rotina está acontecendo. Cada estilista está ocupada com o cabelo da criança designada, quem ficou paralisada nesta estação foram a suposta prima e minha suposta irmã reconvertida. A primeira a falar é minha pequena sobrinha.—Mamãe! Você veio! Vão cortar meu cabelo polque tenho muito — explica Amy.—Ma-mary, o que você está fazendo aqui? Você não ia ficar em casa trabalhando? — pergunta Amanda.Tenho vontade de pegar Amy e levá-la embora sem dar explicações. Já são coincidências demais, coincidências que temo colocarem Amy em perigo. Lembro a mim mesma
—Costumo cortar o cabelo da Amy aqui com qualquer cabeleireira de plantão. Deixo ela um pouco e volto logo. Não conheço essa estilista. Ok? — impõe Amanda.Não me importa nada com sua intervenção. Agora é pior. Amanda ia deixar a menina sozinha com essa mulher? A paranoia me invade. Vejo Elizabeth digitando apressada no celular. Amy agora sim está percebendo a tensão, se agarra ao meu ombro num abraço forte.—Seja como for, não me sinto à vontade deixando que ela a atenda — rebato.—Você não vai levar a Amy para lugar nenhum sem minha autorização. Eu sou a mãe dela — afirma Amanda.—O que está acontecendo? Qual é o problema aqui? — questiona um segurança que se aproxima de nós.Se antes havia pessoas que não prestavam atenção em nós no local, agora sim estão prestando. Por si só já estavam fazendo isso se mandaram chamar o segurança do shopping, e eu subestimei a situação.—Nenhum, se minha irmã me devolver minha filha — explica Amanda.—Essa é uma disputa familiar, e eu sou a cuidador
—Não te liguei porque vi tudo o que precisava ver — digo buscando calma sem sucesso.Não sei o que farei se Mateo estiver relacionado com os Kosnikov. Seria demais para mim. E o mais aterrorizante, Amy, Luciano e eu estaríamos em perigo iminente.—Eu também percebi isso pelo seu comportamento. Nunca cheguei a importar para você — se faz de vítima.—Não tente reescrever a história, ok? E não me olhe assim, porque eu estava em paz e tranquila até que sua... "amiga" queria pôr as mãos na minha sobrinha — argumento.—É o trabalho dela, Marianne. Uma coincidência — se defende.Reviro os olhos, estou farta da mesma canção. Uma coincidência, o fato dele dizer isso com tanta ênfase me faz acreditar que não, não é uma coincidência. Meus punhos formigam por ter que falar com ele para entretê-lo e não sair daqui para longe com Amy.—Não sei que jogo macabro vocês dois estão tramando, mas quero vocês dois longe de nós — peço com firmeza — Façam a vida de vocês juntos ou o que seja.—Você não se im
Narrado por Luciano BrownEu não sabia quando parar, não dava a mínima para os avisos de perigo e estava feito para apostar qualquer preço. Incluindo minha integridade. A mesma história de toda a minha vida, só que desta vez um pouco mais velho.Essa é a explicação mais ou menos boa com a qual posso justificar estar nessa situação. Vasculhando um carro alheio ao qual acessei como o ladrão que sou de vez em quando. Soube que quando Mateo retornou para onde Marianne estava, era minha oportunidade.Mas não tem sido uma tarefa simples, não há nada que me sirva no porta-luvas, nem perdido pelo chão, além disso o estacionamento tem muitas testemunhas. Por isso, tive que fingir que sou o dono do carro sentado no banco do motorista enquanto procuro com as mãos, e com o pé esquerdo mantenho a porta aberta. Que, se fechar, daqui nem Deus me tira.Recorro ao histórico de localizações do GPS dele, passeio por ele para detectar algumas coincidências que me parecem interessantes. Fotografo essas, e
Mateo continua dirigindo porque o trânsito já avançou. Ainda não percebeu que estou por aqui. Eu também estava batendo recordes na posição em que estava, minhas costas não eram mais as mesmas de antes.—O que você conseguiu falar com Amanda? Conseguiu persuadi-la? — pergunta ele, rendido.—Persuadi-la do quê? Ela não tem autoridade sobre a filha, aquela menina não a vê como mãe. Tentei animá-la a sair para buscar a menina para que eu pudesse levá-la, o que ela fez foi começar a chorar como uma imatura. É patética e estúpida — explica a voz feminina.—Pensei que ela pudesse me ser útil, não é mais que um peso morto. Nem deveria ter ajudado ela a conseguir trabalho, a esse nível nem poderá levar a filha para longe de Marianne.Eu concordava com isso de que Amanda era patética e estúpida, mas não me parece correto que tirem sua filha. Mães piores já existiram na história, como, por exemplo, a que nós compartilhamos.Volto a escutar o som de uma chamada entrante. O veículo continua em movi