—É por isso que te pergunto. Sua experiência com Amy acabou com seus desejos de ser mãe?Não tinha acabado, pelo contrário, tinha aumentado. Devia ser lindo ter seu próprio filho, não porque eu não amasse Amy com toda minha alma, mas pelo fato de que no final do dia, eu era uma tia ajudando sua sobrinha. Não uma mãe. Amanda levaria sua filha, era como deveria ser.—Não. Quero filhos — menciono com certeza disso.—Quantos você quer?—O quê? — digo levantando meu rosto.As expressões que Luciano faz deveriam ser dignas de gravação. Está como se esforçando para manter a boca reta, custa-lhe e em seus olhos leio o pânico. Está mais estranho que de costume.—Quantos filhos você quer? — se esforça para dizer.Vou mentir para provocá-lo. É meu único consolo.—Estava pensando em... seis.—SEIS!? SEIS O QUÊ? — exclama aterrorizado.Rio diante de tal absurdo e seu susto. Ele percebe que estou brincando com ele, se irrita com minha brincadeira inocente, rio mais. Não sobreviveria depois de seis c
Não penso, não medito, nem me dou a oportunidade de ficar calada por muito tempo. Me desfaço do aperto das mãos de Amanda. Ela me observa aterrorizada e magoada com o gesto que acaba sendo brusco e surpreendente até para mim.—Você não pode levar Amy para ver sua mãe — afirmo de uma vez.—Por quê... por que não? — ela se atreve a me perguntar.Nessa nova dinâmica que tenho com Amanda, sempre tentei manter a calma, ser a adulta das duas e deixar os ressentimentos mais ou menos para trás. Mas ela estar me propondo algo como isso, me ultrapassa, ultrapassaria qualquer um.—América abandonou vocês por anos. Fugiu deixando você e a menina desamparadas, nem foi ver nosso pai em seus últimos dias. Para que ela vai querer ver a neta agora? — soou tão ressentida.—Os advogados dela não dão segurança de que ela possa sair viva da prisão. Quando seu julgamento acontecer, vão transferi-la para uma prisão pior, ela quer se despedir da Amy em melhores condições — ela soa desesperada.—Para quê, Aman
—Então... você terminou definitivamente com o Mateo? Não tem mais volta?—Amy exagera e distorce as coisas. Não preste atenção, tá bem? — comento tentando parecer inteira.Amanda me olha como se não acreditasse, no entanto, poupa o que poderia me dizer.—Já que estamos as três aqui, vamos tomar sorvete? Quem quer de creme com morangos? — propõe ela erguendo a mão animada.—Euuuuu! — grita Amy.—Vai tirar o pijama, rápido — pede à sua filha.Amy sai correndo para o quarto dela novamente. As duas vemos Amy entrar e fechar a porta. Com isso ficamos em silêncio. Espero que ela não queira trazer o assunto da América de novo, ou eu ficaria irritada.—Você acha que... Mateo vai cobrar de mim já que vocês não estão mais juntos? — questiona preocupada Amanda.—Cobrar o quê? — respondo confusa.—Você sabe... o que ele fez por mim...—Não. Não sei. O que ele fez por você? — pergunto estranhando.—Eu consegui... consegui meu contrato pelos contatos dele. Não foi você que pediu isso a ele, mas tem
Eu não conseguia acreditar que estava fazendo isso, mas estava. Espionando um ex com outro ex. A combinação era apoteótica e hilária. Em vez de estar descansando neste fim de semana, me encontrava aqui com Luciano, no carro dele, nos arredores do apartamento de Mateo.Luciano aparentemente tinha um laptop guardado numa mochila escondida neste veículo, e nele estava digitando códigos que eu não conseguia entender. Olho novamente para a saída do estacionamento traseiro do edifício. Nos posicionamos aqui, não pela porta principal, porque era a que meu ex-parceiro costumava usar.Vejo alguns carros entrando, nenhum deles é o de Mateo. Estamos aqui há talvez uma hora, com meus olhos fixos na rua. Penso que podemos ficar o dia inteiro sem resultados. Não aguento ficar mais tempo sem falar.—Esta é sua estratégia para me fazer acreditar em bobagens sobre Mateo? Vigiar o prédio dele e só? — digo a Luciano.Ele nem se incomoda em me olhar, continua ali digitando obsessivamente no computador.—V
Luciano não se conforma com a minha proposta, a insatisfação é latente nele. Também sua mania de me surpreender da forma como faz, de repente arranca pisando no acelerador numa velocidade imprudente. Coloco o cinto de segurança o mais rápido que posso.—Você poderia dirigir como alguém que tem medo de multas de trânsito? — exclamo.—Tarde demais para isso — afirma com o olhar concentrado na estrada.É quando posso ver, alguns carros à frente está o carro de Mateo. Entendo por que saiu dessa forma tão violenta. Seria interessante se pudéssemos alcançá-lo.—Então você viu o carro dele saindo — digo — Pergunta de espiã iniciante. O que vamos conseguir seguindo-o? Ele pode entrar em outro prédio e, aí, o que faremos?—A paciência é a primeira virtude a ser citada nesse tipo de missão... — responde ele enquanto dirige.—Paciência? Isso me diz o homem mais paciente do mundo, né? — zombo dele.—Você está tão afiada que eu poderia jurar que aquele confinamento na lavanderia te excitou mais do
A dor de uma traição não se assemelha à de outra. Cada traição se crava na sua pele e deixa uma cicatriz particular. Tentei superar os fantasmas do passado e me impor sobre o ressentimento em relação à minha meia-irmã Amanda, mas vê-la conectada em flagrante com Elizabeth, é demais para mim. E é particularmente doloroso que esteja com Amy. É como se tivesse me dado três punhaladas nas costas.Para o resto do salão infantil, nada fora da rotina está acontecendo. Cada estilista está ocupada com o cabelo da criança designada, quem ficou paralisada nesta estação foram a suposta prima e minha suposta irmã reconvertida. A primeira a falar é minha pequena sobrinha.—Mamãe! Você veio! Vão cortar meu cabelo polque tenho muito — explica Amy.—Ma-mary, o que você está fazendo aqui? Você não ia ficar em casa trabalhando? — pergunta Amanda.Tenho vontade de pegar Amy e levá-la embora sem dar explicações. Já são coincidências demais, coincidências que temo colocarem Amy em perigo. Lembro a mim mesma
—Costumo cortar o cabelo da Amy aqui com qualquer cabeleireira de plantão. Deixo ela um pouco e volto logo. Não conheço essa estilista. Ok? — impõe Amanda.Não me importa nada com sua intervenção. Agora é pior. Amanda ia deixar a menina sozinha com essa mulher? A paranoia me invade. Vejo Elizabeth digitando apressada no celular. Amy agora sim está percebendo a tensão, se agarra ao meu ombro num abraço forte.—Seja como for, não me sinto à vontade deixando que ela a atenda — rebato.—Você não vai levar a Amy para lugar nenhum sem minha autorização. Eu sou a mãe dela — afirma Amanda.—O que está acontecendo? Qual é o problema aqui? — questiona um segurança que se aproxima de nós.Se antes havia pessoas que não prestavam atenção em nós no local, agora sim estão prestando. Por si só já estavam fazendo isso se mandaram chamar o segurança do shopping, e eu subestimei a situação.—Nenhum, se minha irmã me devolver minha filha — explica Amanda.—Essa é uma disputa familiar, e eu sou a cuidador
—Não te liguei porque vi tudo o que precisava ver — digo buscando calma sem sucesso.Não sei o que farei se Mateo estiver relacionado com os Kosnikov. Seria demais para mim. E o mais aterrorizante, Amy, Luciano e eu estaríamos em perigo iminente.—Eu também percebi isso pelo seu comportamento. Nunca cheguei a importar para você — se faz de vítima.—Não tente reescrever a história, ok? E não me olhe assim, porque eu estava em paz e tranquila até que sua... "amiga" queria pôr as mãos na minha sobrinha — argumento.—É o trabalho dela, Marianne. Uma coincidência — se defende.Reviro os olhos, estou farta da mesma canção. Uma coincidência, o fato dele dizer isso com tanta ênfase me faz acreditar que não, não é uma coincidência. Meus punhos formigam por ter que falar com ele para entretê-lo e não sair daqui para longe com Amy.—Não sei que jogo macabro vocês dois estão tramando, mas quero vocês dois longe de nós — peço com firmeza — Façam a vida de vocês juntos ou o que seja.—Você não se im