Quando saio, Luciano está deitado no sofá de maneira desconfortável. Tenta dar a forma correta ao seu corpo para que caiba nele. A verdade é que meu sofá é pequeno para acomodar um homem tão alto como ele deitado. Olho para ele com culpa.—Vai conseguir descansar bem no meu sofá?—Acho que não — está contorcido no móvel tentando caber enquanto olha para o teto.Mordo a unha do meu polegar pensando no que fazer por ele. Tenho uma ideia.—Tenho um colchão inflável guardado no meu armário. Mas a bomba para enchê-lo quebrou. Você poderia inflá-lo do jeito antigo?—Quer que eu fique sem pulmões? Estou muito cansado para isso — ele se senta e suspira — Daria qualquer coisa para dormir numa cama...Ele diz isso em um tom melancólico olhando para o chão. É a imagem perfeita de uma vítima, e eu a vilã.—Caso você não saiba, neste apartamento há duas camas. Uma da Amy e a minha. O que você pede não vai rolar — esclareço.—Tem certeza? Estava pensando que... — lá vem seu tom de vítima — ao amanhe
Acordo depois de dormir na mesma posição durante toda a noite. Uma posição desconfortável que deixou o lado esquerdo do meu quadril doendo bastante, fiquei deitada de lado por horas e horas. Mas com a luz do dia invadindo meu quarto e com a certeza de que hoje é sábado, me permito esticar com liberdade na minha cama.—Quero dormir por mais 3 horas. Posso dormir por mais 3 horas? — falo com a voz rouca de sono.Embora seja a mesma liberdade com que me estico na cama que me alerta. Abro os olhos assustada para me encontrar sozinha aqui. Sozinha.—Cadê o responsável pela dor no meu quadril e por eu não sentir minha perna esquerda? — questiono me levantando.Rapidamente calço as pantufas e saio do quarto. Enquanto saio, ouço a televisão da sala com vozes infantis, não me surpreende ver Amy com sua tigela de cereal hipnotizada pelos desenhos animados na TV. Isso era o normal. O que me surpreende é que ao lado dela no sofá está Luciano, com outra tigela de cereal. Ele está comendo.Ninguém f
—Você vai se casar com a minha mamãe, Lulu? — pergunta ela empolgada para Luciano.As risadinhas e as provocações dele acabam com isso. O impacto é visível. Não mais sorrisos, não mais piadas, não mais nada. Isso é mais que desconfortável, é constrangedor.—Amy... esses são assuntos de adultos... já te falei. Termina seu cereal — peço.Em seguida, pego Luciano pelo braço para conversar em particular. Chegamos até um canto da cozinha, ele ainda está com a tigela de cereal na mão. Está concentrado em brincar com a colher em vez de falar comigo.—Você tinha que dizer a ela que somos namorados? Dá para ser mais manipulador? — digo exausta.—O que você queria que eu dissesse? Que você pode dormir com um desconhecido ou com um amigo? Ela não tem uns cinco anos? Temos que manter as coisas simples — ele se defende.Nem eu consegui pensar no que responder quando ela fez essas perguntas. Então, me rendo e deixo para lá.—Sua sobrinha sabe que fomos casados? — questiona ele."Sua sobrinha". Isso
Bom, aconteceu algo muito interessante e inesperado para mim. Terminei de assistir meu filme, comecei a preparar o almoço e... nada do Luciano ir embora.Estou fritando o frango com a testa franzida, aquela que é causada por ver Luciano com Amy desenhando na mesa de jantar. Agora estão fazendo retratos um do outro. Amy inspirada, Luciano concentrado como nunca. Quando ele percebe que estou observando, me olha com um grande sorriso forçado.—Você não sabe como estou me divertindo, Amy. É a coisa mais divertida que fiz em muito tempo — garante, voltando a se concentrar no desenho.—É mesmo, né? — exclama Amy empolgada — Você está me desenhando bonita? Quero ficar bonita.—Você já é bonita — comenta focado na pintura — e eu sou talentoso, um mais um...—DOIS! — grita Amy.—Ouviu só? Até ensinei ela a somar — se gaba.Poupo-me de dizer alguns insultos para esse ser. Decido melhor servir a comida nos pratos.—Deixem isso para depois. Vamos comer. Limpem a mesa — peço.Eles fazem isso, arrum
—Não sei o que está acontecendo com você hoje. Você está falante demais, menininha — repreendo minha sobrinha.Ela dá de ombros. Descubro o poder das más influências, porque o responsável por isso teve que ser Luciano. O mesmo Luciano que não diz mais nada durante nossa refeição. Sua mente foi para um lugar distante e lá ficou. Deve estar cansado ou entediado com tudo isso. Dou alguns minutos a mais para que ele vá embora. Enquanto isso, preciso tirar essa pedra do sapato.—De onde veio o "Lulu"? Você inventou ou o Luciano pediu para chamá-lo assim? — pergunto à minha sobrinha.—Ele tem um nome graaande, melhor Lulu. Mais bonito — responde enquanto come.—Certamente soa mais bonito, meu coração — elogio Amy com um sorriso.Dou uma olhada para Luciano, ele come em silêncio, ainda pensativo. Também termino de comer do meu lado. Ao ver os pratos dos três vazios, decido me levantar para convidar Luciano a se retirar.—Vamos tirar a mesa? — digo à minha sobrinha, e olho para Luciano — Se vo
Nunca se deve perder a calma. Perder a calma é o princípio do fim. Mas como manter a calma quando você está trancada num espaço minúsculo com seu ex-marido. O mesmo ex-marido por quem você ainda sente coisas que vão além da sua razão e compreensão. Aquele com quem, por ser uma bêbada de merda, você transou várias vezes numa noite.Não é fácil, e eu não sou feita de pedra. Me queima o contato que o corpo dele faz com o meu. É triste que essa nem seja a intenção de Luciano, ele só está forçando para abrir a porta e eu tenho pensamentos torturantes por toda parte.—Não abre. É a primeira vez que tem esse tipo de problema? — pergunta ele.—Não é. Costuma travar, e quando isso acontece não dá pra abrir por dentro. Essa é a razão pela qual você não devia ter fechado, gênio — explico teimosa.—Você está me culpando porque uma das suas portas não cumpre sua função básica? Abrir e fechar direito? — ele também está teimoso — Por que você não mandou consertar?—Não tive tempo! Sou uma mulher ocup
—É por isso que te pergunto. Sua experiência com Amy acabou com seus desejos de ser mãe?Não tinha acabado, pelo contrário, tinha aumentado. Devia ser lindo ter seu próprio filho, não porque eu não amasse Amy com toda minha alma, mas pelo fato de que no final do dia, eu era uma tia ajudando sua sobrinha. Não uma mãe. Amanda levaria sua filha, era como deveria ser.—Não. Quero filhos — menciono com certeza disso.—Quantos você quer?—O quê? — digo levantando meu rosto.As expressões que Luciano faz deveriam ser dignas de gravação. Está como se esforçando para manter a boca reta, custa-lhe e em seus olhos leio o pânico. Está mais estranho que de costume.—Quantos filhos você quer? — se esforça para dizer.Vou mentir para provocá-lo. É meu único consolo.—Estava pensando em... seis.—SEIS!? SEIS O QUÊ? — exclama aterrorizado.Rio diante de tal absurdo e seu susto. Ele percebe que estou brincando com ele, se irrita com minha brincadeira inocente, rio mais. Não sobreviveria depois de seis c
Não penso, não medito, nem me dou a oportunidade de ficar calada por muito tempo. Me desfaço do aperto das mãos de Amanda. Ela me observa aterrorizada e magoada com o gesto que acaba sendo brusco e surpreendente até para mim.—Você não pode levar Amy para ver sua mãe — afirmo de uma vez.—Por quê... por que não? — ela se atreve a me perguntar.Nessa nova dinâmica que tenho com Amanda, sempre tentei manter a calma, ser a adulta das duas e deixar os ressentimentos mais ou menos para trás. Mas ela estar me propondo algo como isso, me ultrapassa, ultrapassaria qualquer um.—América abandonou vocês por anos. Fugiu deixando você e a menina desamparadas, nem foi ver nosso pai em seus últimos dias. Para que ela vai querer ver a neta agora? — soou tão ressentida.—Os advogados dela não dão segurança de que ela possa sair viva da prisão. Quando seu julgamento acontecer, vão transferi-la para uma prisão pior, ela quer se despedir da Amy em melhores condições — ela soa desesperada.—Para quê, Aman