Nem o desconforto bobo da América me faz sentir melhor. Já o Luciano sim, ele adorava esse tipo de tortura. Especialmente aquelas direcionadas ao passado da América. Mais de uma vez perguntou sobre sua suposta formação como arqueóloga no Egito, ou se era verdade que falava mandarim. América não podia parecer mais desconfortável. Já pediu para ir ao banheiro umas três vezes.Sergio nem prestava atenção na esposa, estava mais preocupado em cumprimentar os convidados e entretê-los. Em fingir ser o pai perfeito, não só para os familiares, mas para seus funcionários. Metade da Belmonte Raízes está nesta festa de 400 pessoas. O que me faz lembrar que Giana também disse que estava por aqui.—Volto já. Vou cumprimentar a Giana — aviso ao Luciano.Ele me dá um sorriso e continua encantando o resto da mesa. Da minha parte, procuro minha amiga e a encontro numa mesa bem no fundo, foi difícil achá-la na verdade. Ela está com nossa equipe de trabalho, Maite, Mila, Karen e Oliver.—Amigaaa! — ela se
O mundo gira, mesmo com os olhos fechados e acordando, posso sentir. Tinha bebido demais no que foi o casamento patético da minha irmã. Sorrio e me aconchego mais na minha cama pequena. É complicado enumerar qual foi a melhor parte desse casamento infernal, se a sogra crítica, o pai hipócrita ou o noivo amargurado durante toda a noite.Tento voltar a dormir até que a ressaca passe um pouquinho mais, mas preocupada se já é muito tarde, me obrigo a abrir os olhos. Vejo, meio embaçado, que são 2 da tarde, o que nem é tão ruim assim. Me aconchego de novo, ajeitando minha bunda no calor da minha cama. É tão bom e quentinho nas minhas costas.—Você está fazendo isso de propósito? Eu poderia jurar que sim.Meus olhos se abrem na hora, me viro de uma vez, e encontro... Luciano ali apoiando seu rosto no braço. A reação é mais rápida do que eu poderia esperar. Tento me afastar dele ao mesmo tempo que solto o maior grito da minha vida.Só que minha cama é pequena e na tentativa de me afastar dele
-Muito engraçado, né. É óbvio que este apartamento não combina com seu padrão de vida. Vou morar com você, MAS continuarei visitando regularmente meu apartamento, é meu investimento - concordo com ele. Parece satisfeito - Outro ponto a discutir, por quanto tempo supostamente vai durar este casamento?-De dois a três anos será suficiente.-Dois a três anos, não é muito tempo?-Acredite, não vou dar o prazer à minha família de me divorciar antes de um ano. Devem estar fazendo apostas sobre quanto tempo vou durar com minha noiva. Não vou deixá-los ganhar. Ou você tem outros planos para esse período?Medito sobre estar presa em um contrato por tanto tempo. Sairei de lá mais perto dos 30 que dos 20. Mas com muito a ganhar se soubesse jogar bem com meus recursos.-Posso entender. Quem diria que você pensou em mais coisas produtivas do nosso relacionamento do que em sexo? - digo para provocá-lo.Ele não se deixa convencer pelo meu joguinho.-Vale ressaltar que o sexo está no topo das minhas p
É uma terça-feira qualquer, de uma semana qualquer no trabalho. Nenhum acontecimento extravagante ou sequer relevante aconteceu durante o expediente que valesse a pena mencionar. Com exceção de que na segunda-feira nos deram folga para nos recuperarmos dos excessos do casamento da Amanda.Falando nisso, devo dizer que o escritório está mais tranquilo do que deveria estar depois de um dia de folga. Estou redigindo um documento no meu computador e tenho a mente nessa estranheza. O silêncio e a paz se respira em cada canto.-Seu favorito. Para começar a semana com o pé direito - anuncia Maite colocando um copo de café na minha mesa.Primeiro vejo o copo com a marca de uma cafeteria, ela comprou fora. Em seguida, olho para ela, que está com outro suporte com vários cafés. Está sorridente e sendo gentil comigo.-Obrigada... - digo insegura e bebo dele.Minha insegurança se devia ao fato de que Maite nunca tinha me comprado um café. Nem sorrido desse jeito ou sido gentil comigo. Para complet
-O que me conta? Começa você, não sabe esconder quando está mal - comenta.O triste é que ele dizia a verdade. Eu era péssima controlando minhas emoções e escondendo-as.-Parece que todo mundo lá fora sabe que vamos nos casar. E... estão me tratando suspeitamente bem. Até a Maite brincou que eu ia convidá-la pro casamento - explico.Luciano inclina a cabeça, estranhando.-Com o anel no seu dedo, e o jeito que dançamos no casamento da nossa irmã, teriam que ser idiotas pra não perceber - diz tirando a manta.Deixo de me sentir como um bicho esquisito, pra me sentir como um bicho esquisito envergonhado.-Você poderia nunca mais se referir à Amanda como "nossa irmã"? - exijo.-Não sei, agora que penso melhor, me dá tesão - brinca ele maliciosamente.Finjo um chorinho olhando pro céu, e Luciano ri como o cara de pau que é. Depois, tira de uma gaveta um envelope preto, que me oferece e pego.-O que é isso?-Nosso acordo pré-nupcial. Leia, analise com quem quiser, vamos assinar esta semana -
-Acho que entendi. Você se incomodaria com uma cerimônia no exterior?-Não me incomodaria. À noite te passo minha lista de convidados - comenta antes de atender seu celular. Ligaram pra ele e se concentra nisso com uma cara de irritação.Contenho meu sorriso enquanto saio da sala dele com uma grande missão nos ombros. Organizar um casamento express em menos de um mês......Dos primeiros passos pra se casar, tem que ser encontrar o lugar onde você vai fazer. Escrevi pra vários salões e clubes pedindo uma visita, sendo este o que mais rápido me respondeu. É um clube de iates pelo qual estou passeando com Giana e a coordenadora de eventos pelo deck.-A cerimônia civil pode ser realizada em nossos jardins e a recepção dentro - explica a mulher.Este clube é distinção e luxo à parte. É lindo de qualquer ângulo e grita dinheiro, mesmo assim, vejo como pode ser daqueles lugares "reservados". Que tarefa mais difícil o Luciano tinha me dado.-Poderiam fazer as duas do lado de fora? - pergunta
O que deveria ser uma tarefa divertida, se transformou em uma cena de pesadelo. Estou sendo encurralada contra a parede de um banheiro por uma desconhecida que parece me odiar, e nem a conheço. A pressão de suas unhas longas nas minhas bochechas e o jeito que sei que está me xingando em um idioma que também não conheço, me machuca.—Me solta!—exijo à velha empurrando ela pelo peito. Ela não desiste.—Mal comecei com você!—grita furiosa—Com o que você está chantageando ele? Está grávida? Você é uma criança!—Meu relacionamento não é problema seu! Me solta ou vou chamar a segurança!—tento tirar suas garras da minha cara, mas seu aperto é forte.A mulher dá uma risada macabra, como se achasse graça da minha ameaça. Seus olhos azuis e cabelo loiro me dão uma sensação fria e cortante. Dá medo e eu queria estar em qualquer lugar menos aqui. Queria estar na beira de um penhasco, melhor que aqui.Um raio de esperança aparece pela porta de entrada do banheiro. Dois homens muito altos e vestidos
Sim, somos escoltadas pelas funcionárias e outros seguranças do local. Assim que fecham o portão atrás de nós, nossas expressões de dignidade sucumbem ao medo.—Por que acabaram de te ameaçar de morte?—pergunta Giana tremendo.Não é a única que está tremendo.—O pior é que... não sei...—respondo igual ou mais trêmula que ela.....Os tremores pararam eventualmente em nossa viagem de táxi de volta. Foi uma viagem silenciosa e com muitas perguntas no ar, das quais nenhuma teria resposta pela origem delas. Quando o taxista deixa Giana em seu apartamento, peço que em vez de me levar pro meu me leve à origem do problema.Luciano Brown.Por isso estou na porta do apartamento dele, tocando a campainha e esperando que me abra. A porta se abre rapidamente, não com ele, mas com uma mulher que deduzo trabalhar na limpeza, usa uniforme.—Senhorita Marianne. Entre, espere um momento, o senhor Luciano está tomando banho—informa ela.Entro no apartamento pra constatar que quem me abriu a porta não é