—O meu também não tem sido dos melhores... Se eu te contasse o que ele tem aprontado ultimamente — rio mais descontraída, percebendo que ele ainda segura minha mão.Só agora percebo para onde estamos indo. Não perguntei nenhuma vez ao Luciano nosso destino. E agora que penso nisso, estamos indo por uma rota muito parecida com a do prédio do meu apartamento.—Para onde você está me levando? — pergunto desconfiada.—Como assim para onde? Você tem um apartamento pra me mostrar. É o mínimo que mereço. Fui um ótimo noivo, muito melhor que o anterior, posso jurar — diz naturalmente.Seria fácil me deixar levar pelo seu charme natural, mas dessa vez não deixo. Ainda tem o caso da minha madrasta pendente. Solto sua mão e fico mais séria. Ele me olha de canto.—O que foi que eu fiz agora?—É isso que eu queria saber... — crio coragem — Acabei de sair do ensaio de casamento mais turbulento e patético da história. Amanda fez um escândalo, não quer se casar.—E o que isso tem a ver com a gente? No
Mentiras e mais mentiras. O sobrenome da América devia ser "Mentira", e sua profissão antes de casar com meu pai tinha que ser golpista nata. Não tinha outra explicação.A história que minha madrasta sempre sustentou era que ela era uma herdeira estrangeira sem filhos e com muito dinheiro para investir. Se apaixonou tanto pelo meu pai que não se importou que ele já fosse casado.Depois lhe deu uma filha, Amanda. Sua suposta única filha. Lembro claramente dos dramas da América ao mencionar que tinha sacrificado seu corpo por sua "única filha". O quanto foi difícil ser "mãe de primeira viagem". Dizia com tanta convicção que ninguém ousava contradizer.—Não faz sentido o que você está dizendo — é o que consigo dizer por reflexo.—Também não faria sentido você cair no jogo da... nossa irmã — diz ele, extremamente desconfortável, negando com os olhos fechados.Essa realidade me atinge. Se Amanda e eu compartilhávamos pai, e Amanda e ele compartilhavam mãe, ela era nossa meia-irmã. Dos dois.
—América é realmente quem diz ser? O que mais ela está escondendo? — pergunto.—Pelo que pude descobrir, ela criou uma nova identidade — explica passeando pela minha sala, tomando tempo para analisar cada detalhe e tocar cada superfície — Mudou de sobrenome, fingiu nunca ter se casado ou me ter tido, seus diplomas e formação provavelmente são falsos. Não sei como não teve coragem de mudar o nome, talvez seu narcisismo não tenha permitido.—Ela criou uma nova vida... mas... ainda não faz sentido. Seu pai devia ter mais dinheiro que o meu. Por que deixá-lo pelo Sergio?A essa altura Luciano estava analisando minha cozinha, olhando o teto, as bancadas, e eu o seguia intrigada com seu comportamento.—Porque ela não podia controlá-lo com minha avó no meio — confessa.—Como assim?—Minha avó era uma mulher que sabia o que fazia e que tipo de filho tinha. Um bêbado, gastador. O dinheiro era dela, ela que administrava. América não deve ter aguentado não ter o controle. Imagina ter que explicar
Sei que pareço mais atrevida que o normal, algo que deixa Luciano mais inseguro. Ele para de olhar pro chão e me encara.—Não é a mesma coisa... — comenta inseguro.—Por que não seria?—Você era virgem. Não esteve com mais ninguém. Para de brincar fingindo que sim. Você está apaixonada por mim.Uma segunda risada mais voraz e faminta escapa da minha garganta. Rio na cara dele pela audácia que Luciano tinha. Ele disse mesmo isso.—Não estou apaixonada por você, seu egocêntrico. O que te faz pensar isso? — zombo mais, e minto, sim estou apaixonada por ele.—Você não resiste a mim e inventa desculpas pra me afastar. Se eu ignorasse suas limitações bobas, você estaria gemendo naquela cama, satisfeita. Muito satisfeita — ele se gaba aproximando muito sua boca da minha.Essa aproximação não está me agradando, compartilharmos o mesmo ar. Nem que ele esteja colocando seu joelho entre minhas pernas. Seu corpo está perto demais de mim. Estou tristemente excitada. Mais do que deveria.—O que você
Não podia acreditar na compra que estou procurando fazer agora: um ferro de passar para dar um retoque no meu vestido de madrinha. Não seria uma compra precipitada, mas sim de última hora. Amanhã é o grande casamento da minha irmã e meu ex-namorado.Por isso, estou andando pela seção de eletrodomésticos pequenos deste shopping. Já faz alguns minutos que estou lendo as características de um modelo vertical que me parece mais apropriado e fácil de usar para o que preciso.Nisso, o celular na minha bolsa toca, na tela aparece o nome de Estela. É uma das madrinhas da Amanda. Atendo.—Marianne, que horas você vai chegar no porto? Não quero mais atrasos, temos um horário rigoroso de partida com o capitão — explica ela.Suas palavras são um disparate para mim. Não fazem o menor sentido. A única coisa que faz sentido é a promoção do ferro de passar azul que tenho nas mãos.—Por que eu iria ao porto? Pode me explicar melhor?—Para a despedida de solteira da sua irmã. Alô? — responde como se fos
Minha irmã reage imediatamente ao contato, tira a venda dos olhos e olha para o homem horrorizada.—O que é isso? Quem é você? — pergunta alarmada.—Não importa quem eu sou. O que importa é que você é a noiva. Uma salva de palmas para a noiva! — anima o stripper.As damas gritam em êxtase e estão muito envolvidas em seus papéis. Tão envolvidas que não percebem que a noiva não está à vontade. O rapaz dança se afastando um pouco, como se quisesse que ela ficasse mais confortável. No entanto, Amanda não consegue ficar à vontade. Pelo seu rosto de desconforto, parece que está sendo assediada.Olho para suas supostas amigas e elas estão mais preocupadas em tirar fotos, gritar incentivos, dançar ou beber. Será que nenhuma pensa em pará-lo? Quando o marinheiro arranca a calça e quase esfrega seu pacote em Amanda, preciso agir.—Já chega. Para — exijo colocando meu braço em seu peito e forçando-o a se afastar de Amanda.Há muita confusão no ambiente por minha atitude. O stripper não sabe o que
O som do corpo de Amanda amortecendo na água me tira do transe em que estou. Ela tinha feito mesmo, aquela m***** louca tinha mesmo se jogado na água sozinha.—O QUE VOCÊ FEZ COM ELA?! ASSASSINA! — grita Estela.Meu rosto de consternação não poderia estar maior ao perceber que não estou sozinha. Umas cinco damas de honra estão ao meu lado processando o que acabou de acontecer. Há surpresa, consternação e medo.—Manda parar o capitão! A noiva caiu na água! — começa a gritar Maritza para os tripulantes que estão por perto.Uma garota sai correndo até onde está o capitão, enquanto outros dois jogam boias salva-vidas na água escura. Assim que elas caem na água, os braços de Amanda emergem, gemendo e pedindo ajuda. Ela estava se afogando e não conseguia alcançar nenhuma boia sozinha. Então os dois rapazes pulam na água para resgatá-la.A essa altura, o iate já parou e tanto as damas quanto o resto da tripulação estão atentos ao acidente. Os rapazes conseguem segurar Amanda e colocar uma das
Minhas palavras recebem várias reprimendas que escorregam por mim. Escorrega qualquer opinião dessas mulheres......Quando voltamos ao porto e examinam Amanda na ambulância, o carro de Sergio está chegando. América é a primeira a sair correndo para abraçar Amanda. Ela está coberta com uma grande toalha nos ombros e sentada na borda da parte de trás da ambulância.Paciente e tomando seu tempo para chegar, está nosso pai. Mas América não consegue esperar sua chegada, solta sua filha e me ataca furiosa.—O que você fez com minha filha? Sua vadia! — ela levanta a mão, quer me dar um tapa.Reajo bem a tempo de evitar, seguro seu pulso e depois a empurro com tanta força que minha madrasta tem que dar uns passos para trás.—Como você se atreve? Insolente! — ela grita.A essa altura não me importa a reação dela, mas sim a de Sergio. Aquele que está nos observando com seu olhar calculista de sempre. Não se aproxima de Amanda para saber como ela está, não se aproxima de mim. Aquele não se impor