Dos muitos mistérios que Luciano representa pra mim, o da relação dele com América corrói minhas entranhas. Como não seria assim com os dois se olhando com tanta repulsa? O que tem a ver com as estranhas reações que minha madrasta teve com ele? Com esse ódio sem disfarce que meu falso noivo demonstra?—América, esse é um pedido meio fora de lugar. Luciano e eu vamos nos casar, ele será parte da "nossa família" — intervenho.—Marianne, o que faz aqui? Não sabia que estava aqui... — se recompõe alisando seu vestido e visivelmente desconfortável.—Ela trabalha aqui. Do que você está falando? Quem não deveria estar neste escritório é você. Quem deixou você entrar? — responde Luciano muito, muito sério.Esse era um detalhe do Luciano. Podia ser muito encantador, e muito odioso quando queria. Está sendo isso agora. Embora sempre tenha sido assim ao interagir com América.—Este era o escritório do meu marido. Você é quem não deveria ousar falar comigo desse jeito tão grosseiro — diz América o
— Eu te disse que América age estranho perto do Luciano e vice-versa. Eles estão conversando no escritório dela, deixei meu celular escondido gravando — relato orgulhosa.Giana não está tão feliz quanto eu com meu plano brilhante. Muito pelo contrário.— Eles continuam agindo estranho? Será que não tiveram um caso?Eu que estava bebendo meu café, quase cuspi. Olho para Giana com nojo, todo o nojo que estou sentindo. Luciano e América? Juntos?— Caso de que tipo? — pergunto como se não soubesse do que ela está falando.— Bom... sua madrasta é muito bonita, e se mantém muito bem pra idade dela. O Luciano é um mulherengo pelo que sabemos. Pode ser que tenham se reencontrado por acaso, e daí surgiu o conflito. Ou o que mais poderia estar acontecendo?— Não pode... isso não pode ser verdade.— Por quê? Você confia na ética de algum dos dois?A verdade é que não. Não seria estranho que América, sendo a bruxa que é, tenha traído meu pai. Também não a considero decente o suficiente pra não ter
— Estou te responsabilizando por uma falta da qual você sabe que é responsável. Você é uma garota inteligente. O que está fazendo ferindo o ego de um homem fraco como Andrew? Concentre suas forças em concretizar o casamento com o Brown — aconselha.Não sei o que é mais doloroso, meu pai falar da minha vida amorosa como se fosse o negócio do fim do mês ou ele estar me dando toda essa atenção por causa do Luciano. Antes dele, foi por causa do Andrew. É sempre por outro homem, não por mim, por sua filha.— É o que eu faço. Por isso vou pedir que você peça pra sua outra filha concentrar as forças dela em manter seu noivo na linha. Andrew deixou de ser meu problema — argumento.Meu pai faz uma careta de deboche, de um deboche extremamente cruel.— Você não está agradecida por isso? Deveria estar. Andrew é um recurso esgotado. A traição dele te levou a algo melhor. Jogue bem suas cartas.— Do que você está falando, pai? — pergunto confusa — O Andrew não é seu acionista de ouro? Seu aprendiz
O tempo parece correr mais rápido quando você tem muito pra fazer. Justamente nisso que eu estava como madrinha forçada do casamento do meu ex com minha irmã. O maior desafio atual com o qual estou me estapeando figurativamente, é conseguir uma igreja pra eles se casarem.Como era de se esperar, nada agrada a Amanda, mesmo faltando menos de um mês pro casamento, ela não consegue chegar a uma decisão. Não é fofoca da minha parte, estamos passeando pelo corredor da minha última opção, a catedral da cidade vizinha.América e Amanda andam na minha frente, eu escutando os absurdos que essas mulheres soltam.— Não está muito antiga, mãe? Quero algo mais moderno — reclama minha meia-irmã de braço dado com minha madrasta.— Não dá pra pedir pra uma catedral ser mais moderna. Embora vamos ter que fazer muito trabalho pra deixar no nosso nível. Como é o coral desta, Marianne? — América vira o rosto pra falar comigo.— Está disponível pra data do casamento. É muito respeitado na cidade — respondo
Era minha vez. Tinha chegado.—Os hábitos do Andrew não mudaram? Não me diga isso — lamento com a maior compaixão.—Que hábitos você está falando? — questiona alarmada.—Bem... seu vício em... outras mulheres — confesso machucada — Lembro que... na sala de jogos dele também encontrei várias... peças como as que você diz. A sala de amamentação fica em que parte do apartamento?Essa é a pergunta que acaba com Amanda. Ela não sabia que eu sabia o que ela tinha feito. Eu estava vários passos à frente dela. Mas Amanda também não ia se deixar vencer assim tão fácil, mesmo pensando que o homem com quem vai se casar a traiu. Por sinal, antes da Amanda, não suspeitei que Andrew me traísse. Estou inventando tudo.—Ah, a peça que te falei não tem nada a ver com o que você está insinuando. Agora que penso bem, deve ser um mal-entendido. Ele é o homem mais atencioso, respeitoso e cuidadoso comigo — se defende.—Imagino, pelo quanto ele tem colaborado com a organização do casamento — argumento soand
Deve ser culpa do vinho que me sinto assim, ansiosa para saber onde Luciano está. Pego meu celular, me deito no sofá novo e deixo a taça no chão. Tiro minhas sandálias e ligo pra ele. Me atrevo a ligar pela primeira vez, porque se dependesse dele, nunca aconteceria.O celular toca e toca, sem resposta. Até que consigo, o som do atendimento me faz sentir nas nuvens, ou seria o álcool? Tento falar primeiro, a voz não sai. Não sei o que dizer.—Quem é?Caio na real. Não é a voz do Luciano. É a voz de uma mulher.—Sou Marianne. Quero falar com o Luciano. Pode ser? — respondo tentando soar firme.—E quem é você, Marianne? — volta a questionar a mulher.—Sua... noiva.Com minha resposta temerosa, o que escuto em troca são risadas. As risadas debochadas dessa mulher desconhecida que atendeu o celular.—Sei, claro — diz e desliga.A surpresa passa rápido, tateio pelo chão até achar minha taça e viro até o fim. Meu celular toca. É Luciano. Atendo.—Tudo bem? Teve algum acidente? — pergunta ele
Apesar das mil exigências da América e sua atitude de diva, finalmente conseguimos escolher a catedral que visitamos. E como a data do casamento está definida em nossas cabeças, apenas dois dias depois do acordo estamos nisso: o ensaio da cerimônia religiosa.Como madrinha, estou servindo de coordenadora junto com o cerimonialista. Melhor dizendo, tentando explicar ao cortejo composto por 10 madrinhas e 10 padrinhos, junto com as daminhas e pajens, que não dava pra começar o ensaio sem... os noivos.Nem Amanda, nem Andrew apareceram no horário do seu próprio ensaio. Estão uns 20 minutos atrasados. Por isso, minha ilustre madrasta está entretendo o padre para que não se irrite com o atraso, e mais atrás está Sergio conversando com os pais do Andrew pra salvar as aparências. Não sei dizer qual dos três está mais irritado.—Liga pra sua irmã de novo, Marianne. Tenho hora marcada na manicure em duas horas. Não posso perder — reclama uma das madrinhas.—Também não posso ficar muito. Preciso
—É... o anel — reconsidera Andrew e coloca com dificuldade.Digo com dificuldade porque o anel parece muito pequeno para o dedo de Amanda. A gravidez a fez ganhar alguns quilos, ainda parece ela mesma, só que bem... é o que acontece com algumas grávidas.—Você não levou meu anel para ajustar? Te falei que tinha mudado de tamanho. Nosso médico falou sobre a retenção de líquidos... — Amanda o repreende baixinho.—Para de comer e reclamar tanto, mulher — dispara Andrew irritado enquanto força o anel em seu dedo.O rosto de Amanda se contorce de dor com esse comentário insensível e grosseiro de Andrew. Acho que o padre os ouviu porque começa a fazer uma piada sobre a troca de alianças.Nenhuma chega aos ouvidos de Amanda, que vira sua cabeça para mim. Seus olhos estão cheios de lágrimas, e sinto uma pontada de pena.Uma que não deveria ter sentido ou demonstrado, porque minha meia-irmã se afasta de Andrew e vem em minha direção. Me abraça e começa a chorar aos berros enterrando seu rosto e