FelipaO desgraçado teve a ousadia de ameaçar fechar a empresa e deixar todos desempregados se eu não fizesse o que mandava. Pude ver em seus olhos que não era blefe.Por isso estou aqui, encarando a mensagem que me mandou.Só volto a realidade quando uma ligação cai. Só assim percebo que ainda estou andando por uma rua qualquer.É quase nove da manhã.— Tia? — atendo. — Acon... — antes de completar, ouço seu choro. — Tia?— O que vou fazer, Lipa? O que vai ser de mim? — ela chora muito.— O que aconteceu?O barulho de uma ambulância me assusta.Ela não fala nada, apenas chora.— Onde você está?— Estamos indo ao hospital.Hospital? Meu coração está batendo rápido e desesperado.Mal noto o momento em que pergunto o número do hospital e aceno para um táxi.Chego ao hospital e nem preciso perguntar por ela. Vejo minha tia na sala de espera conversando com um médico. Ando o mais rápido possível, meu coração doendo ao ver ela desabar de joelhos diante do homem.— Tia? — chamo.Ela me olha
Aquiles— Vamos para casa — digo para Felipa logo após o médico informar que o tio dela está fora de perigo, mas que só poderá receber visitas amanhã.— Eu quero ficar com a minha tia.— Me obedeça, Felipa.— Por favor, me deixa ficar com a minha tia. Ela precisa de mim agora.— Sim, ela precisa que você venha comigo, tome um banho, troque essa roupa de ontem, se alimente e providencie tudo que ela precisa para passar a noite aqui. Ou você acha que sua tia deve continuar com o uniforme da empresa?Ela olha para a tia, como se só agora percebesse suas vestes. Logo volta a olhar para mim. Seu rosto está um desastre depois de chorar tanto, mas é um lindo desastre.— Obrigada, Vincent. Eu nunca vou poder te compensar pelo que fez. Mas saiba que vou tentar.— Eu sei. Agora vai avisar sua tia que estamos indo.Ela obedece e segue até a tia, as duas conversam, se abraçam e depois saímos.No carro, ela pergunta:— Como você sabia qual era o hospital? Não me lembro de ter dito. Eu disse?— Não
FelipaO medo que senti de perder meu tio Felix foi maior que qualquer medo de ser humilhada por Vincent. Estava disposta a fazer qualquer sacrifício para que ele ajudasse, mas isso não me impede de arrepiar quando ele avisa que voltaremos aquele assunto.Eu prometi que o obedeceria e vou obedecer. Só preciso convencer meu corpo. Estou com tanto medo do que vai acontecer esta noite que acordei antes do nascer do sol e fui direto para o hospital ficar com meus tios. Evitei ver meu marido e pensar no que vai acontecer, no que terei que fazer.É ridículo, não é?! Uma mulher de vinte e cinco anos com medo de sexo. Talvez se eu tivesse escutado os conselhos dos meus tio e feito terapia, já teria me livrado disso, mas só de pensar em falar sobre isso com um desconhecido ou desconhecida já me faz desistir. Não quero falar, quero que suma. A gente esquece tanta coisa ao longo da vida, por que não posso esquecer isso?Enfim... Meu tio está cada dia melhor, e reclamando que quer voltar para sua
FelipaMe deixe te ajudar.Essas palavras... O jeito carinhoso como me prende em seus braços me faz sentir protegida e acolhida, nada como o que senti instantes antes.— Uma coisa que aconteceu na minha infância. — Acabo confessando. Como ele não diz nada, continuo. — Quando eu tinha dez anos a minha mãe foi morar com outro homem. Meu pai já tinha nos abandonado há algum tempo. — Sinto Aquiles ficar duro, tenso. Acho que ele tem alguma ideia do que vou revelar. — Eu tenho o sono pesado, sempre tive. Minha mãe frequentemente me castigava por não acordar quando ela chamava. Acontece que depois de um tempo com o novo namorado, eu passei a sempre acordar sem minha calcinha. Cheguei a falar com minha mãe que era sonambula, porque não entendia como isso acontecia. Mas um dia... — suspiro. — Eu acordei porque senti dor. Ele estava lá. O namorado da minha mãe estava com o rosto entre as minhas pernas. Pelo sono eu ainda demorei a entender que era seu dedo dentro de mim que causou aquela dor.
AquilesQuando eu soube o que estava por trás de toda recusa de Felipa em algo tão simples, jurei a mim mesmo fazer os responsáveis por seu trauma pagar. E eu não vou esquecer dessa promessa.Virgem aos vinte e cinco? Isso é um absurdo. Não que eu tenha algo contra. Saber que sou seu primeiro é indescritível. Mas era direito dela escolher ser, não ser forçada por não conseguir, por ter medo.E porra, dez anos... uma criança que nem mesmo entendia o que estava acontecendo direito, sendo tocada por um adulto escroto. Isso é inconcebível.— Em que está pensando? Fiz algo errado? — sua voz é hesitante.Viro para ela, que está com o rosto apoiado na mão, me observando com uma expressão preocupada.— Estava apenas me decidindo sobre algumas coisas que preciso fazer. Não teve nada errado aqui.Ela suspira longamente e volta a deitar olhando o teto.— Obrigada por fazer isso. — Isso me pega de surpresa.— Agora entendeu que não precisava de todo show e ameaças? — provoco. Prefiro quando está
Felipa— E essa carinha de quem transou muito? — é a primeira coisa que Lana fala com me vê. Seu sorriso é maldoso.“Nem foi tanto assim”. Penso.Para ela apenas digo:— Vida de casada. Experimenta, amiga.Ela ilustra uma cruz com os dedos, o que me faz rir.— Casamento só serve igual ao seu, com um gato e cheio da grana. Eu não vou me casar pra dividir boletos, quero alguém que pague os meus.— Você não tem jeito.— Agora, me deixe ir. Não posso me atrasar jamais na aula do...— Insuportável Juarez. — Ela completa por mim.Aceno já me afastando.— Te vejo no intervalo — digo.— Só se for para contar detalhes — ela grita.Sem detalhes para Lana, são meus. Aqueles momentos são meus para embalar meu sono. Desde aquela noite não tenho mais pesadelos, pelo contrário, mais de uma vez já acordei suada e desejosa por sonhar com aquele momento.Confesso, eu queria mais. Entretanto só confesso para mim, ele nunca vai saber. Não preciso que repita que foi só daquela vez, que mesmo se rolar nova
FelipaEstamos andando pelos corredores do prédio do meu curso.Não sei onde enfiar minha cara. Estou morrendo de vergonha. Todos os olhares são em nossa direção. Vincent segura minha mão com força, meu dedos até doem, mas sei que se ele afrouxar, eu fujo correndo.Seus passos não são longos, e ele não olha para os lados, como se todos aqueles curiosos fossem insignificantes. Já eu, vejo tudo, inclusive que fotos são tiradas, como se fossemos celebridades. Ainda bem que coloquei uma roupa mais apresentável, para não destoar muito do deus grego com o qual me casei.Lana está perto dos armários e faz um sinal de coração com as mãos, piscando para mim.“Socorro!” Movimento a boca dizendo sem som. Ela apenas ri. E eu passo. Não posso parar para falar com ela agora, primeiro preciso deixar Vincent fazer o que está determinado.Continuamos seguindo até a sala do reitor.Os olhos da secretária se arregalam ao nos ver.— Boa noite! Quero falar com o responsável por esse campus. — Vincent exig
Aquiles— Anda muito distraído, meu amigo. Está pensando em que? — Jordan pergunta. Posso sentir ele me observando balançar o uísque no copo.É quinta feira e estamos em um bar depois do expediente.— Felipa vai se formar em poucos meses no curso de veterinária, penso em montar uma clínica para ela.Ele sorri e toma um gole da sua bebida.— Ótima ideia, mas acha que ela vai aceitar?— Aposto que não. É muito orgulhosa. Como se um clínica fosse grande coisa — resmungo a parte final.— Para ela é. Não nasceu em berço de dólares como um certo alguém.Ficamos alguns instantes em silêncio, até que Jordan b**e o copo vazio na mesa.— Já sei — diz animado. — Aquela amiga dela está finalizando o curso de ...O interrompo, desconfiado.— Como você sabe que ela está finalizando algo? Jordan, você comeu a amiga dela?O sorrisinho no rosto dele é suficiente.— Depois Felipa diz que eu sou a pior pessoa — murmuro deixando o copo de lado e pedindo uma nova dose.— E você é. Eu não enganei ninguém, n