Já sentada à sua mesa, Marina aproveita o raro momento de solidão para conter as lágrimas que ameaçam escapar. Ela não consegue compreender por que Victor é tão irritante e insuportável, mesmo nos breves momentos em que estão juntos. Ele parece determinado a tornar cada segundo ao seu lado insuportável.Marina sabe que ele quer a fazer desistir do emprego, mas não cederá tão facilmente. Trabalhar em um escritório renomado como aquele pode ser a oportunidade que mudará sua vida. Ela não pode permitir que Victor ou qualquer outro a impeça de conquistar o que deseja.— O que vou fazer? — sussurra para si mesma, sentindo o peso das circunstâncias pressionando seu peito.Ela tem plena consciência de que, se as coisas continuarem do jeito que estão, será difícil suportar a convivência com Victor por muito tempo. Enquanto seus pensamentos a absorvem, ela ouve passos vindos do corredor. Katrina havia lhe entregado a agenda antes de sair para o fórum com Rodrigo, e sabe que não havia ninguém
Joana se remexe na cadeira, visivelmente desconfortável com a situação.Desde que começou a suspeitar das traições do marido, não consegue mais se concentrar em nada.Aparentemente, tudo estava bem até que Xavier Ferraz começou a ficar distante, chegando tarde em casa ou, em algumas noites, nem voltando, alegando compromissos de trabalho e viagens de negócios. As suspeitas de Joana se tornaram inegáveis no dia em que, sem intenção, entrou de surpresa no escritório do marido e encontrou uma caixa com um luxuoso colar de diamantes. Ao lado, um cartão:“Para a mulher que alegra as minhas noites”.Sem querer estragar a suposta surpresa que achava ser para ela, Joana saiu discretamente. Indo ao salão de beleza, se preparar, acreditando que Xavier a convidaria para um jantar ou algo especial naquela noite.A verdadeira surpresa ocorreu quando recebeu uma ligação do marido informando que teria que viajar por três dias para tratar de negócios. Frustrada e magoada, Joana permitiu que ele fosse
Joana observa Marina de cima a baixo, com um sorriso dissimulado nos lábios, como se estivesse prestes a aplicar uma lição.— Conheço muito bem mulheres como você, querida — diz Joana, com a voz impregnada de uma doçura artificial. — Jovens, bonitas, ambiciosas… Entram em grandes empresas não apenas para trabalhar, mas para se aproximar de homens como os meus filhos. Rodrigo e Victor são ótimas oportunidades, não acha?Marina sente o peso das palavras, mas não se deixa abalar. Mantém-se calma, enquanto um brilho cortante acende em seu olhar.— Ah, senhora Ferraz, que interessante ouvir isso — começa Marina, com um tom educado, mas carregado de uma sutil provocação. — Mas, permita-me esclarecer: eu, de fato, tenho ambições, mas elas não envolvem depender de um homem rico para me auxiliar a alcançá-las.Joana, surpreendida pela ousadia da resposta, se esforça para manter a pose superior.— Vejo que você tem bastante confiança. Confiança demais, talvez — replica, forçando um sorriso. — M
Enquanto sai da empresa, Marina sente que as palavras de Victor ainda ecoam em sua mente como um peso que ela não consegue afastar.— Por que ele me odeia tanto? — sussurra para si mesma, sentindo o coração apertado.Sentada no ponto de ônibus, ela observa o céu escurecendo rapidamente. Nuvens densas se acumulando no horizonte anunciam a iminente chegada de uma tempestade. O vento frio começa a cortar o ar, trazendo uma sensação de inquietude.— Justo hoje que esqueci o guarda-chuva… — murmura, com um suspiro resignado. — Eu só queria ter uma vida normal, será que é pedir demais?Seu celular vibra, quebrando o silêncio ao redor. O nome de Sávio aparece na tela. “Quero te ver hoje”Ao ler a mensagem, fica em dúvida. O polegar paira sobre a tela enquanto decide se responde de imediato ou não.Mas, depois do caos emocional do dia, ela opta por guardar o celular na bolsa, voltando a encarar o céu, agora carregado de nuvens escuras. A brisa fria toca suavemente sua pele e, sem perceber, s
A chuva começa a cair com intensidade, martelando ritmicamente o para-brisa do carro de Victor, formando pequenos riachos que deslizam pela superfície de vidro.Do lado de dentro, o silêncio pesa no ar, tornando a atmosfera quase sufocante. Marina observa as gotas que escorrem, como se o mundo lá fora tivesse desacelerado, enquanto o som dos limpadores de para-brisa cria um ritmo hipnotizante, cortando o silêncio pesado. O tráfego desacelera, os carros se movem irregularmente, e a cidade, que antes vibrava de vida, agora parece envolta em um sonho confuso, onde cada minuto se arrasta como uma eternidade.No carro, Marina sente o tempo congelar. A cada movimento dos limpadores, uma camada invisível de tensão cresce no ar, sufocando seus pensamentos.— Será que vamos demorar? — ela pergunta, quase num sussurro, enquanto observa o trânsito imobilizado.Victor se acomoda no banco, deixando os seus dedos relaxarem no volante enquanto responde, sem pressa.— Não sei. É o horário de pico, e
Quando o trânsito volta finalmente a se mover, Marina agradece mentalmente. Tudo o que deseja é se ver livre de Victor e chegar em casa.Quando o carro dele para em frente à padaria, ela se vira e o agradece, forçando um sorriso.— Obrigada pela carona — diz ela, enquanto abre a porta do carro.Ao descer, se depara com o olhar curioso de seu pai, que a observa sair do carro com uma expressão interrogativa.— Estava preocupado com você — diz José, com uma voz carregada de leve estranheza.— O trânsito estava um caos — responde Marina, tentando parecer tranquila.A chuva forte havia ido embora, dando lugar à garoa.Victor, percebendo o olhar desconfiado do homem, decide descer do carro para cumprimentá-lo. Ele dá a volta, subindo a calçada até José, estendendo a mão com um sorriso caloroso.— Boa noite, senhor — diz Victor, com uma voz educada e firme.Ao perceber que é Victor Ferraz, o semblante de José se suaviza. Ele não havia reconhecido de imediato o carro de onde a filha havia des
— Mari!A voz de Andressa interrompe os pensamentos de Marina, que está prestes a entrar em casa. Ela se vira e vê a amiga saindo do portão da casa ao lado. Andressa está impecavelmente bem-vestida, como se estivesse prestes a sair de casa para um encontro.— Boa noite, Andressa. Nossa! Você está linda. Vai a algum lugar especial? — pergunta Marina, admirando o visual da amiga.— Eu ia, mas acabei cancelando — confessa Andressa, com um toque de decepção.— Sério? Mas você já está toda arrumada — observa Marina, percebendo a produção meticulosa da amiga.— Pois é, mas esse tempo me deixa indisposta, e minha cabeça começou a doer.— Que desperdício, aposto que você ficou horas na frente do espelho se maquiando.— Isso é verdade, mas não me importo, vou tirar algumas fotos para postar nas redes sociais — responde Andressa, agora mais próxima.Ela lança um olhar curioso para a casa de Marina.— Estava com visitas?— Estava sim. O Victor Ferraz, para ser mais exata — revela Marina, notando
Após sair da casa de Marina, Victor dirige em direção à mansão dos pais, mas sua mente está longe, absorta em pensamentos sobre Marina e seu comportamento durante a carona. É evidente que ela fica nervosa quando ele se aproxima e isso, de certa forma o diverte. Ele percebe que, por trás daquela fachada de mulher determinada e forte, Marina reage como qualquer outra à sua proximidade. Afinal, quem resistiria ao seu charme? Por mais prepotente que isso possa parecer, Victor está acostumado a conquistar todas as mulheres que deseja e nunca recebeu um “não” em sua vida.Ao chegar à mansão, se depara com Joana, sua mãe, parada à porta de entrada, aguardando-o com um semblante de curiosidade e impaciência.— Onde você estava? Por que demorou tanto? Te liguei várias vezes e seu celular estava desligado — a voz dela sai mais alterada do que ele esperava.Victor suspira, tentando conter a irritação que sente. Não suporta ser pressionado, ainda mais por sua mãe, que ele acredita estar agindo as