Os dias na empresa passam rapidamente, e Marina comemora em silêncio seu primeiro mês de trabalho.
Por mais que tenha que lidar com Victor com frequência, ela está feliz por continuar trabalhando no que acredita ser o início de um grande sonho.
— Hoje recebi meu primeiro salário — comenta, sorridente, enquanto ajuda os pais na padaria.
É sábado, e como de costume, Marina aproveita o dia de folga para auxiliar no negócio da família.
— Deveria sair para comemorar — sugere Daniela, feliz ao ver o entusiasmo da filha.
— Estava pensando nisso — confessa Marina, limpando a mesa de um cliente que acaba de sair. — Vou chamar a Andressa para ir comigo. Não quero ir sozinha.
Andressa é vizinha e amiga de infância. As duas têm a mesma idade e, apesar de seguirem caminhos diferentes, mantêm uma amizade sólida.
— Falando na Andressa… — Daniela se aproxima, baixando a voz em tom conspiratório. — Ouvi dizer que ela anda saindo com um homem rico e mais velho.
— Sério? Isso é bom, não é? — Marina franze o cenho, surpresa com a notícia.
— Seria ótimo, se fosse algo sério. Mas dizem que ele só a busca na esquina e nunca baixa o vidro do carro — sussurra Daniela, como se temesse que alguém pudesse ouvir.
A declaração pega Marina de surpresa, e ela fica pensativa. Contudo, não é de seu feitio alimentar fofocas, então decide encerrar o assunto.
— Seja como for, isso é problema dela — responde, afastando-se da mãe.
Após o almoço, Marina pega o telefone e liga para Andressa, convidando-a para sair.
— Claro que vou com você! — responde à amiga, animada. — Já estava pensando em sair hoje, mas não queria ir sozinha.
— E para onde você quer ir? — pergunta Marina, curiosa.
— Tenho convites exclusivos para uma exposição no museu central. Pensei em dar uma passada lá.
Uma visita ao museu não era exatamente o que Marina tinha em mente para comemorar, mas, querendo sair de casa, decide aceitar.
— Tudo bem, nos encontramos às cinco. O que acha?
— Perfeito! — responde Andressa, entusiasmada.
De volta ao quarto, Marina começa a se arrumar. Faz tempo que não sai para algo além do trabalho ou faculdade, e a ideia de um programa diferente a anima. Quando o relógio marca a hora do encontro, ela sai de casa e encontra Andressa. Ao vê-la, Marina não pode deixar de notar o quanto a amiga parece diferente. Andressa agora usa roupas de grife e ostenta um celular de última geração.
— Você está linda — comenta Marina, abraçando a amiga.
— E você também! — responde Andressa, radiante.
— Vamos pegar o ônibus das cinco e meia? — sugere Marina, já começando a caminhar, mas Andressa a interrompe segurando seu braço.
— Ônibus? Pelo amor de Deus, não! — diz Andressa, quase ofendida. — Já chamei um Uber.
— Não vai sair caro? — pergunta Marina, preocupada.
— Não se preocupe, eu pago — responde Andressa, despreocupada.
— Eu não posso deixar você pagar, especialmente sabendo que não está trabalhando… — insiste Marina, um tanto desconfortável.
— Só não estou trabalhando porque o meu namorado pediu para deixar o emprego — explica Andressa, com um sorriso tranquilo. — Ele me dá uma mesada todo mês.
A lembrança da conversa com a mãe na padaria surge na mente de Marina.
— Que bom namorado você tem… — responde ela, tentando não prolongar o assunto. — Mas é sempre bom ter um emprego, sabe? Não é bom depender de ninguém — aconselha.
— Não se preocupe com isso — diz Andressa, enquanto mexe no celular. Logo, um carro branco
chega e se aproxima delas, se identificando como o Uber, que as leva ao museu central.O lugar está movimentado, com pessoas bem vestidas. Na entrada, Andressa mostra dois cartões, revelando ser uma convidada especial.
A exposição, composta por obras e artefatos internacionais, atrai olhares de todos. Porém, Andressa parece distraída, como se estivesse à procura de alguém, enquanto Marina se encanta com as peças exibidas.
— Uau… — murmura, admirando um jarro datado de mais de mil trezentos anos.
— Imagino quanto isso deve valer — comenta Andressa, ainda olhando ao redor.
A atitude da amiga desperta a curiosidade de Marina.
— Está procurando por alguém? — pergunta, desconfiada.
— Não, claro que não — responde Andressa, visivelmente nervosa.
As duas continuam a explorar a exposição, e o local fica cada vez mais cheio. Enquanto Marina observa um quadro famoso, de relance, avista uma silhueta familiar: um homem alto, de cabelos pretos, está parado diante de uma obra de arte. Involuntariamente, sua mente voa para Victor.
“Ótimo… Só me faltava pensar naquele idiota no meu fim de semana.”
Ela balança a cabeça, tentando afastar o pensamento, mas Andressa percebe sua distração.
— Você ouviu o que eu disse? — pergunta Andressa, tirando Marina de seus devaneios.
— O quê? Desculpe, me distraí — responde, voltando a atenção para a amiga.
— Vi meu namorado.
— Sério? Não me diga que vai me deixar plantada aqui para ficar com ele — brinca Marina.
— Claro que não, sua boba — responde Andressa. — Mesmo que quisesse, não posso. Ainda não nos assumimos publicamente.
— Que situação complicada… Espero que se resolvam logo.
— Eu também, mas enquanto estamos assim, não está nada mal. Nos amamos e acredito que o amor vence tudo.
— Isso é verdade — concorda Marina.
As duas continuam caminhando pelos corredores, até que Marina para bruscamente, fazendo Andressa esbarrar nela.
— O que houve? — pergunta Andressa, sem entender a reação da amiga.
Marina permanece paralisada, com seus olhos fixos à sua frente. Victor Ferraz está ali, observando-a com um olhar frio e calculado. Ele lança um olhar rápido para Andressa e depois volta a encarar Marina, balançando a cabeça em um gesto de desaprovação.
— Vamos sair daqui? — pede Andressa, mas é tarde demais. Victor começa a caminhar em direção a elas. — Danou-se… — murmura Andressa, vendo o inevitável encontro se aproximar.
Quando Victor se aproxima e está prestes a dizer algo, Rodrigo Ferraz aparece, aproximando-se das duas mulheres com um sorriso discreto.— Marina, que surpresa encontrar você por aqui — saúda Rodrigo, lançando um olhar de soslaio para Andressa, que imediatamente baixa o olhar, como se quisesse desaparecer.— Confesso que não costumo frequentar lugares como este — responde Marina, um pouco desconfortável por estar ali, especialmente na presença de Victor, que parece visivelmente incomodado com sua presença. — Minha amiga me convidou — explica Marina, direcionando o olhar para Andressa, que parece cada vez mais nervosa na companhia dos dois irmãos. — Estes são Rodrigo e Victor Ferraz. Trabalho na empresa deles — acrescenta, notando o olhar surpreso que Andressa lança ao ouvir a revelação.— Boa noite, senhores — murmura Andressa com a voz baixa, claramente desconfortável diante dos dois homens.Victor, que até então se mantinha em silêncio, finalmente fala, com um tom ríspido e mal-humo
Já sentada à sua mesa, Marina aproveita o raro momento de solidão para conter as lágrimas que ameaçam escapar. Ela não consegue compreender por que Victor é tão irritante e insuportável, mesmo nos breves momentos em que estão juntos. Ele parece determinado a tornar cada segundo ao seu lado insuportável.Marina sabe que ele quer a fazer desistir do emprego, mas não cederá tão facilmente. Trabalhar em um escritório renomado como aquele pode ser a oportunidade que mudará sua vida. Ela não pode permitir que Victor ou qualquer outro a impeça de conquistar o que deseja.— O que vou fazer? — sussurra para si mesma, sentindo o peso das circunstâncias pressionando seu peito.Ela tem plena consciência de que, se as coisas continuarem do jeito que estão, será difícil suportar a convivência com Victor por muito tempo. Enquanto seus pensamentos a absorvem, ela ouve passos vindos do corredor. Katrina havia lhe entregado a agenda antes de sair para o fórum com Rodrigo, e sabe que não havia ninguém
Joana se remexe na cadeira, visivelmente desconfortável com a situação.Desde que começou a suspeitar das traições do marido, não consegue mais se concentrar em nada.Aparentemente, tudo estava bem até que Xavier Ferraz começou a ficar distante, chegando tarde em casa ou, em algumas noites, nem voltando, alegando compromissos de trabalho e viagens de negócios. As suspeitas de Joana se tornaram inegáveis no dia em que, sem intenção, entrou de surpresa no escritório do marido e encontrou uma caixa com um luxuoso colar de diamantes. Ao lado, um cartão:“Para a mulher que alegra as minhas noites”.Sem querer estragar a suposta surpresa que achava ser para ela, Joana saiu discretamente. Indo ao salão de beleza, se preparar, acreditando que Xavier a convidaria para um jantar ou algo especial naquela noite.A verdadeira surpresa ocorreu quando recebeu uma ligação do marido informando que teria que viajar por três dias para tratar de negócios. Frustrada e magoada, Joana permitiu que ele fosse
Joana observa Marina de cima a baixo, com um sorriso dissimulado nos lábios, como se estivesse prestes a aplicar uma lição.— Conheço muito bem mulheres como você, querida — diz Joana, com a voz impregnada de uma doçura artificial. — Jovens, bonitas, ambiciosas… Entram em grandes empresas não apenas para trabalhar, mas para se aproximar de homens como os meus filhos. Rodrigo e Victor são ótimas oportunidades, não acha?Marina sente o peso das palavras, mas não se deixa abalar. Mantém-se calma, enquanto um brilho cortante acende em seu olhar.— Ah, senhora Ferraz, que interessante ouvir isso — começa Marina, com um tom educado, mas carregado de uma sutil provocação. — Mas, permita-me esclarecer: eu, de fato, tenho ambições, mas elas não envolvem depender de um homem rico para me auxiliar a alcançá-las.Joana, surpreendida pela ousadia da resposta, se esforça para manter a pose superior.— Vejo que você tem bastante confiança. Confiança demais, talvez — replica, forçando um sorriso. — M
Enquanto sai da empresa, Marina sente que as palavras de Victor ainda ecoam em sua mente como um peso que ela não consegue afastar.— Por que ele me odeia tanto? — sussurra para si mesma, sentindo o coração apertado.Sentada no ponto de ônibus, ela observa o céu escurecendo rapidamente. Nuvens densas se acumulando no horizonte anunciam a iminente chegada de uma tempestade. O vento frio começa a cortar o ar, trazendo uma sensação de inquietude.— Justo hoje que esqueci o guarda-chuva… — murmura, com um suspiro resignado. — Eu só queria ter uma vida normal, será que é pedir demais?Seu celular vibra, quebrando o silêncio ao redor. O nome de Sávio aparece na tela. “Quero te ver hoje”Ao ler a mensagem, fica em dúvida. O polegar paira sobre a tela enquanto decide se responde de imediato ou não.Mas, depois do caos emocional do dia, ela opta por guardar o celular na bolsa, voltando a encarar o céu, agora carregado de nuvens escuras. A brisa fria toca suavemente sua pele e, sem perceber, s
A chuva começa a cair com intensidade, martelando ritmicamente o para-brisa do carro de Victor, formando pequenos riachos que deslizam pela superfície de vidro.Do lado de dentro, o silêncio pesa no ar, tornando a atmosfera quase sufocante. Marina observa as gotas que escorrem, como se o mundo lá fora tivesse desacelerado, enquanto o som dos limpadores de para-brisa cria um ritmo hipnotizante, cortando o silêncio pesado. O tráfego desacelera, os carros se movem irregularmente, e a cidade, que antes vibrava de vida, agora parece envolta em um sonho confuso, onde cada minuto se arrasta como uma eternidade.No carro, Marina sente o tempo congelar. A cada movimento dos limpadores, uma camada invisível de tensão cresce no ar, sufocando seus pensamentos.— Será que vamos demorar? — ela pergunta, quase num sussurro, enquanto observa o trânsito imobilizado.Victor se acomoda no banco, deixando os seus dedos relaxarem no volante enquanto responde, sem pressa.— Não sei. É o horário de pico, e
Quando o trânsito volta finalmente a se mover, Marina agradece mentalmente. Tudo o que deseja é se ver livre de Victor e chegar em casa.Quando o carro dele para em frente à padaria, ela se vira e o agradece, forçando um sorriso.— Obrigada pela carona — diz ela, enquanto abre a porta do carro.Ao descer, se depara com o olhar curioso de seu pai, que a observa sair do carro com uma expressão interrogativa.— Estava preocupado com você — diz José, com uma voz carregada de leve estranheza.— O trânsito estava um caos — responde Marina, tentando parecer tranquila.A chuva forte havia ido embora, dando lugar à garoa.Victor, percebendo o olhar desconfiado do homem, decide descer do carro para cumprimentá-lo. Ele dá a volta, subindo a calçada até José, estendendo a mão com um sorriso caloroso.— Boa noite, senhor — diz Victor, com uma voz educada e firme.Ao perceber que é Victor Ferraz, o semblante de José se suaviza. Ele não havia reconhecido de imediato o carro de onde a filha havia des
— Mari!A voz de Andressa interrompe os pensamentos de Marina, que está prestes a entrar em casa. Ela se vira e vê a amiga saindo do portão da casa ao lado. Andressa está impecavelmente bem-vestida, como se estivesse prestes a sair de casa para um encontro.— Boa noite, Andressa. Nossa! Você está linda. Vai a algum lugar especial? — pergunta Marina, admirando o visual da amiga.— Eu ia, mas acabei cancelando — confessa Andressa, com um toque de decepção.— Sério? Mas você já está toda arrumada — observa Marina, percebendo a produção meticulosa da amiga.— Pois é, mas esse tempo me deixa indisposta, e minha cabeça começou a doer.— Que desperdício, aposto que você ficou horas na frente do espelho se maquiando.— Isso é verdade, mas não me importo, vou tirar algumas fotos para postar nas redes sociais — responde Andressa, agora mais próxima.Ela lança um olhar curioso para a casa de Marina.— Estava com visitas?— Estava sim. O Victor Ferraz, para ser mais exata — revela Marina, notando