É uma manhã ensolarada de sexta-feira, e Marina está em frente ao espelho, ajustando os últimos detalhes de sua roupa. Embora esteja exausta com a rotina dos últimos dias, há uma segurança tranquila em seus movimentos. Desde que chegou à cidade para ficar com a avó, ela, os pais e um primo têm se revezado para garantir que a idosa nunca fique sozinha no hospital. O avô, apesar de se esforçar para ajudar, é um homem de idade avançada e não pode passar muito tempo fora de casa, tornando a responsabilidade ainda maior para os demais. Marina prende os cabelos em um coque simples e verifica se a bolsa está organizada com os itens de que pode precisar, dentre eles, um livro para ler enquanto acompanha a avó é essencial. — Estou indo, nos vemos à noite — diz ela, se aproximando do avô e dando um beijo no rosto dele. — Vai com Deus, meu amor, dê um beijo na Lurdes por mim — Seu avô, Antônio, responde. Daniela aparece próximo à porta da cozinha e se despede da filha. — Nos deixe informados
Na noite de sexta-feira, Joana se senta sozinha à mesa de jantar, o silêncio da casa amplifica o da solidão que sente. Rodrigo e Valentina haviam saído desde a manhã para o novo apartamento, empolgados com os preparativos da mudança definitiva, e Xavier havia embarcado na madrugada para os Estados Unidos, deixando-a com a habitual sensação de vazio. Uma das funcionárias da casa, impecável como sempre, aproxima-se para servir-lhe o jantar sofisticado em uma bandeja de prata. — O Victor já chegou em casa? — pergunta Joana, num tom casual, enquanto morde um pedaço do seu bife mal passado. — Sim, senhora — a funcionária responde. — Chame-o para o jantar, diga que estou sozinha. A funcionária hesita por um momento, antes de apontar discretamente para o corredor. — Não precisarei chamá-lo, senhora — diz, direcionando o olhar para Victor, que surge no final do corredor, ajustando os punhos da camisa despreocupadamente. — Estava falando de mim? — pergunta ele, com um sorriso contido, enq
Ao notar a firmeza com que Marina declara suas palavras, Victor a puxa para um abraço mais apertado, como se quisesse fundir seus corpos em um só. Ele respira fundo, sentindo a confiança dela como algo quase sensível.— Não acredito que esteja começando a ficar ousada — brinca, afastando-se levemente, mas ainda com as mãos nos ombros dela. Marina cora as bochechas imediatamente enquanto o encara com um sorriso tímido.— Foi você quem disse que eu devia perder a vergonha, não foi? — ela provoca, com a voz suave, mas cheia de confiança.Victor ri baixo, surpreso e encantado com a resposta.— Sim, eu disse… — afirma, deslizando sua mão até a dela, entrelaçando seus dedos. — Está indo para a casa da sua avó? — pergunta, enquanto começam a caminhar de mãos dadas.Marina aperta levemente a mão dele, sem desviar o olhar.— Eu estava… — responde, hesitando por um momento antes de soltar um sorriso decidido. — Mas agora que você está aqui, quero ficar com você.Ele para por um instante, deixand
Enquanto observa Marina desaparecer no corredor em direção ao quarto, Daniela começa a andar de um lado para o outro na sala, claramente inquieta. Seus passos são rápidos, e as mãos mexem nervosamente na barra do vestido.— Você ouviu o que ela me disse, José? — pergunta, cheia de indignação. — Como pode falar comigo daquele jeito? Sou a mãe dela!José, que está sentado no sofá com uma expressão calma, porém séria, observa os movimentos da esposa antes de responder.— Sim, eu ouvi — diz, num tom tranquilo. — E, para ser honesto, não a culpo.Daniela para de repente, virando-se para encará-lo com incredulidade.— Como assim? Não a culpa? Ela jogou na minha cara que confia mais em um homem que mal conhece do que em mim!José suspira, levantando-se do sofá para ficar de frente para a esposa. Ele coloca as mãos nos bolsos, num gesto que sempre fazia quando tentava manter a paciência.— Daniela, a nossa filha tem razão — começa, num tom firme, mas sem agressividade.— Como pode dizer isso?
Enquanto o carro de aplicativo percorre as ruas iluminadas pela noite, Marina observa a cidade passar pela janela, mas sua mente está longe dali. Suas mãos repousam no colo, inquietas, enquanto seus dedos ficam entrelaçados num gesto que não consegue esconder o nervosismo que sente. Ela respira fundo algumas vezes, tentando acalmar o coração acelerado, não só por querer ver Victor, mas pela conversa que teve com os pais.“Será que fiz certo ao enfrentar minha mãe daquele jeito?” pensa, mordendo levemente o lábio inferior. Embora tenha saído de casa decidida, uma ponta de dúvida e culpa começa, ainda mais sabendo que os pais estão passando por um momento delicado com a avó. Ao mesmo tempo, a ideia de ver Victor novamente, de sentir o calor do abraço dele, faz um sorriso tímido surgir em seus lábios. Ela ajeita a bolsa no colo e olha para o celular, onde uma mensagem recente dele aparece na tela:“Parece que o relógio para quando sabe que irei te ver.”Ao reler a mensagem, suas mãos para
Já é manhã e o quarto está iluminado por uma luz suave que entra pelas cortinas parcialmente fechadas. Victor está acordado, mas permanece deitado, enquanto observa Marina dormir com a cabeça apoiada em seu peito. A respiração dela é tranquila e ritmada, como uma melodia que acalma qualquer tumulto interno. Seus cabelos estão espalhados pelo seu braço e o rosto sereno transmite uma paz que ele raramente encontra.Ele se lembra de ontem à noite e das palavras dela: Victor, eu te amo.A declaração o pegou completamente de surpresa, fazendo com que paralisasse no mesmo instante.Ao longo de sua vida, já havia conhecido muitas mulheres. Algumas eram atraentes e confiantes, outras mais tímidas, mas todas pareciam seguir um padrão previsível. Palavras como aquelas ditas por Marina já haviam sido usadas contra ele antes, geralmente como desculpas ou artifícios para garantir que ele permanecesse ao lado delas, mesmo sem um verdadeiro compromisso emocional. Contudo, dessa vez, foi algo diferent
A revelação pega Victor de surpresa, congelando-o por um momento enquanto absorve a informação. Ele ouve atentamente enquanto o detetive continua.— Tirei fotos de tudo, senhor, e já as enviei com outras evidências para o seu e-mail — informa Fausto, num tom profissional e meticuloso.— Obrigado pela informação, Fausto. Quero que descubra quem é esse homem e qual é a relação dele com Andressa. Não poupe esforços — ordena, frio e autoritário, mas deixando claro um misto de ansiedade.— Sim, senhor. Vou cuidar disso — responde o detetive, pronto para cumprir a tarefa.Após encerrar a ligação, Victor solta um suspiro profundo e desvia o olhar para o lado. Marina continua sentada ao seu lado, observando-o em silêncio. Sua expressão carrega um misto de curiosidade e preocupação, enquanto seus olhos fixam-se nos dele, como se tentassem decifrar o que havia acontecido naquela ligação misteriosa.— Algum problema? — ela pergunta, com voz suave, mas cheia de apreensão.Ele sorri, mas não um sor
Em Nova York, Xavier sai do banho com uma toalha amarrada na cintura, enquanto Andressa organiza as roupas que ele deve usar. O quarto de hotel é luxuoso, com uma decoração moderna e minimalista, mas o ambiente parece carregado pelo nervosismo evidente entre os dois. — Não acredito que terei que comparecer naquela conferência — diz Xavier, num tom cansado, passando a mão pelos cabelos ainda úmidos. — Lembre-se de que é para manter as aparências — responde Andressa, num tom compreensivo, mas firme, enquanto escolhe uma gravata para combinar com o terno. — Sim, eu sei, mas não aguento mais essas coisas — comenta ele, sentando-se na beirada da cama, com os ombros curvados em um gesto de exaustão. Observando o estresse estampado no rosto do amante, Andressa decide se aproximar. Ela se senta em seu colo com naturalidade, envolvendo o pescoço dele com os braços. Seus olhos encontram os dele e, por alguns segundos, há um silêncio antes que ela fale. — Se não aguenta mais, por que não aca