Camila narrando :Olhei para trás e vi Gabi sentada na cadeirinha, balançando as perninhas com um sorriso enorme no rosto. O jeito que ela olhava para Guilherme, cheia de admiração, me dava um nó na garganta. Eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, esse momento chegaria, mas vê-los juntos assim, como pai e filha, ainda era algo que mexia muito comigo.— Tá feliz, filha? — perguntei, sorrindo para ela pelo retrovisor.— Muito! Eu vou comer camarão de verdade, mamãe! O papai disse que eu posso comer quantos eu quiser!Revirei os olhos, rindo baixinho.— Você vai acabar passando mal de tanto comer.— Nada! — ela retrucou, rindo. — Eu sou forte!Guilherme soltou uma risada ao meu lado, me lançando um olhar divertido.— Deixa ela aproveitar, Camila.Suspirei, cruzando os braços.— Você vai mimar essa menina, eu tô vendo.— Claro que vou! Eu perdi sete anos da vida dela, agora tenho que compensar.Engoli em seco, desviando o olhar pela janela. Ele sempre falava disso, e por mais que fosse ve
Camila narrandoChegamos ao shopping e, assim que entramos, Gabi começou a olhar tudo com os olhos brilhando. Para ela, aquilo era um parque de diversões.— Onde vende tablet, papai? — ela perguntou, segurando a mão de Guilherme e quase puxando ele pra frente.Ele riu, apertando os dedinhos dela.— Calma, princesa. Vamos primeiro ver um modelo legal, escolher direitinho.Gabi concordou, mas já estava cheia de energia, olhando as vitrines com curiosidade.Eu caminhava ao lado deles, um pouco em silêncio. Era estranho estar ali, como uma família, depois de tantos anos. As pessoas que olhassem de fora jamais imaginariam a bagunça que tinha sido a nossa história.Entramos em uma loja de eletrônicos, e um vendedor logo veio nos atender.— Boa tarde! Como posso ajudar?Gabi nem esperou a gente falar.— Eu quero um tablet!O vendedor riu, lançando um olhar divertido para nós.— E qual você quer, mocinha?— Um bem legal, que tenha joguinhos e dê pra ver vídeos!Guilherme se abaixou ao lado de
Camila narrando :Peguei a mão da Gabi e saí dali o mais rápido que pude, meu coração martelando no peito, minha visão embaçada pelas lágrimas que eu tentava segurar.— Camila, espera! Vamos conversar! — Guilherme veio atrás de mim, sua voz carregada de desespero.Mas eu não parei. Eu não queria ouvir mais nada.— Mamãe, por que a gente tá correndo? — Gabi perguntou, tentando acompanhar meu passo apressado.Respirei fundo, tentando manter a calma para não assustá-la.— A gente só tá indo pra casa, filha — respondi, a voz embargada.— Camila, por favor! — Guilherme insistiu, me alcançando e segurando meu braço com delicadeza, mas firme.Parei no meio do estacionamento e virei para ele, sentindo o sangue ferver.— O que foi, Guilherme?! O que mais você quer? Me humilhar mais um pouco?!Ele passou a mão pelo cabelo, frustrado.— Eu ia te contar! Eu só... Eu só não sabia como!— Ah, que ótimo, né? — Ri sem humor. — Ia me contar quando? Depois que a gente já tivesse junto de novo? Depois q
Guilherme narrando:Saí do prédio da Camila sentindo um peso no peito, como se estivesse carregando o mundo nas costas. Entrei no carro e bati a porta com força, soltando um suspiro pesado.Minha cabeça estava uma confusão. Eu sabia que essa conversa ia ser difícil, mas ver o olhar da Camila, a decepção, a raiva… aquilo me destruiu.Dirigi até o hotel sem nem prestar atenção no caminho. Meus pensamentos estavam a mil. Camila precisava de tempo, e eu ia dar isso a ela, mas não ia desistir. Eu nunca desisti de nada na minha vida, e não seria agora que eu faria isso.Estacionei o carro no subsolo do hotel e fui direto para o meu quarto. Assim que entrei, joguei as chaves na mesa e passei as mãos pelo rosto, tentando controlar a raiva que começava a crescer dentro de mim.Jamile.Ela fez isso de propósito. Ela esperou o pior momento possível pra jogar aquela bomba na Camila, pra estragar tudo. Ela sabia o que estava fazendo.Tirei a camisa e joguei no chão, indo direto pro banheiro. Ligue
Camila narrando:Cheguei em casa com a cabeça a mil, e logo vi a dona Maria vindo pra sala, me olhando com aquele olhar de quem já sabia que algo tinha acontecido.— E a Gabi? — perguntei, tentando desviar o foco.— Já troquei ela e já se deitou pra dormir — ela respondeu, me analisando. — Agora me diz, o que aconteceu, Camila?Soltei um suspiro pesado e me joguei no sofá, sentindo o peso do dia nas minhas costas.— Eu e o Guilherme… a gente tinha se acertado. Ficamos a manhã juntos, foi tudo tão bom… — minha voz foi ficando mais baixa. — E agora à tarde, a gente foi passear com a Gabi. Ela tava tão feliz… Mas quando estávamos saindo do shopping, aquela doida da namorada dele apareceu e jogou na minha cara que tá grávida dele.Dona Maria arregalou os olhos, levando a mão à boca.— Minha nossa…Assenti, sentindo um nó na garganta.— Eu não sei o que fazer. Não sei como lidar com isso. Achei que depois de tudo, finalmente ia dar certo entre a gente… mas agora tem outra criança na histór
Jamile narrando :Entrei no meu quarto e fechei a porta com força, meu coração disparado. Minhas mãos tremiam enquanto eu procurava alguma coisa no armário para vestir. Eu precisava sair dali antes que Guilherme me obrigasse a ir naquele médico.Meu Deus… o que eu fui fazer?Joguei algumas roupas na cama e tentei respirar fundo, mas o desespero só aumentava. Eu não estava grávida. Nunca estive.Eu paguei uma mulher na minha cidade pra fazer o exame no meu nome. Uma mulher qualquer, que precisava de dinheiro, e aceitou me ajudar nessa mentira. Foi tudo tão fácil… fácil até agora.Guilherme nunca quis ficar comigo de verdade, eu sabia disso. Ele sempre amou aquela vadia da Camila. Mas quando eu soube que ela tinha aparecido de novo, que ele tinha uma filha com ela, eu surtei!Eu precisava segurá-lo de alguma forma.E foi aí que tive a ideia. Se eu tivesse um filho dele, ele nunca me deixaria.Mas agora… agora tudo estava desmoronando. Ele quer me levar num médico. Como vou sair dessa?S
Guilherme narrando :Eu fiquei ali, parado, olhando para a tela do ultrassom, ouvindo aquele som acelerado e ritmado. O coração do bebê. Meu filho.Senti algo estranho dentro de mim. Era um misto de surpresa, responsabilidade e, acima de tudo, confusão. Eu ia ser pai de novo.— Sete semanas… — murmurei, tentando calcular mentalmente.O tempo bateu certinho com os últimos meses que passei com a Jamile. Eu não tinha dúvidas de que esse bebê era meu. Ou pelo menos, era isso que eu pensava.— O bebê está bem? — perguntei ao médico, sem tirar os olhos da tela.— Sim, tudo indica que está se desenvolvendo perfeitamente — ele respondeu, ajustando o som para que pudéssemos ouvir o coração batendo.Aquele som me pegou de jeito. Me trouxe de volta pro momento em que descobri sobre a Gabi, minha filha com a Camila. Me fez lembrar de tudo que perdi, do tempo que nunca mais voltaria. E eu não queria cometer os mesmos erros.Olhei para Jamile. Ela estava pálida, como se tivesse acabado de receber a
Jamile narrando : Desci do carro dele e subi pro meu apartamento, minhas mãos tremiam enquanto eu apertava o botão do elevador. Minha cabeça girava. Como isso aconteceu? Como deixei chegar nesse ponto? A porta do elevador se abriu, e eu entrei rápido, apertando o andar do meu apartamento. Encostei na parede fria, tentando recuperar o fôlego. Guilherme quer o exame. — Droga… — murmurei baixinho, passando as mãos pelo rosto. Ele nunca duvidou de mim antes, sempre confiou no que eu dizia. Mas agora… agora ele tava determinado a descobrir a verdade. E eu não podia deixar isso acontecer. Quando cheguei no meu andar, saí apressada, abri a porta do apartamento e joguei minha bolsa no sofá. Andei de um lado pro outro, tentando pensar em alguma solução. Eu precisava tirar essa ideia da cabeça dele. Peguei meu celular e disquei rápido o número de uma pessoa que devia um favor pra mim e pra minha sorte ela poderia me ajudar, já que também estava aqui no rio. — Oi, é a Luísa… – Sim