Camila narrando :A cena na minha frente me desarmou por completo.Gabi, com aquele jeitinho doce e puro, abraçada com força na dona Lúcia a mãe do Guilherme, que chorava como se tivesse reencontrado um pedaço perdido da vida dela… Aquilo foi demais pro meu coração aguentar.Eu tava ali, em pé na entrada da cozinha, com a mão ainda entrelaçada na de Gabi quando ela deu os passinhos e foi pro colo da vó que ela nem sabia que tinha.— Entao eu tenho duas vó… — ela disse com aquela voz baixinha e sincera que sempre me desmonta.E quando Dona Lucia apertou ela no peito, como se quisesse proteger do mundo, eu senti minhas pernas fraquejarem.Aquela mulher tava ali de verdade. E o jeito como olhava pra Gabi… era amor. Amor daqueles que a gente não ensina, que só nasce, sangue reconhecendo sangue.Senti Guilherme se aproximar e me puxar pela cintura, me colando no corpo dele. A mão dele pousou no meu quadril, firme, quente, como quem diz “tô aqui”, sem precisar falar nada.— Obrigada por iss
Camila narrando :Aquele domingo foi diferente de todos os que eu já vivi. Desde o momento que Dona Lúcia entrou na nossa casa e se ajoelhou na frente da Gabi, parecia que alguma coisa dentro dela tinha se desbloqueado. E dali em diante… ela não desgrudou mais da minha filha.Foi bonito de ver. Emocionante, de verdade.Ela e Gabi pareciam duas amigas que se reencontraram depois de anos. Dona Lúcia sentou no chão da sala, mesmo com idade e joelho reclamando, só pra colorir com a Gabi. Pegou os lápis de cor, ajudou a pintar um castelo torto e elogiou como se fosse uma obra de arte premiada.— Olha esse sol que você fez, menina… tá mais bonito que o da televisão!Gabi dava risada, jogava o corpinho pra trás, e a gargalhada ecoava pela casa, leve, livre.Depois foram pra cozinha. As duas de avental, com Dona Maria de olho só pra garantir que não virassem o fogão. Fizeram bolo de cenoura com cobertura de chocolate e Gabi, claro, enfiou o dedo na tigela de massa quando achou que ninguém tav
Camila narrando :Acordei com o som suave da água caindo, aquele barulhinho constante que vinha do banheiro. Ainda sonolenta, virei pro lado e senti o espaço vazio na cama. Abri os olhos devagar, deixando a luz entrar, e sorri ao perceber que o Guilherme já tava de pé.Me espreguicei, com o corpo ainda relaxado da noite anterior ou melhor, da madrugada intensa que a gente teve. Sorri de canto só de lembrar da gente ali no chuveiro, da entrega, do amor, da conexão.Levantei, prendi o cabelo num coque bagunçado e fui direto pro banheiro. O espelho tava todo embaçado e o vapor tomava conta do ambiente, de novo. Abri a porta do box devagar, e lá estava ele, de costas pra mim, a água escorrendo pelo corpo forte, os ombros largos relaxados sob o jato morno.— Bom dia, amor… — sussurrei, entrando no box sem fazer muito alarde.Ele se virou na mesma hora, com um sorriso preguiçoso no rosto e os olhos brilhando.— Olha quem acordou… minha mulher.— Minha cama ficou vazia sem você — murmurei, e
Guilherme narrando:Terminamos o café com aquele clima gostoso de manhã em família. Camila ainda ria das histórias que Gabi contava toda empolgada, enquanto Dona Lúcia ouvia como se fosse a maior fã da neta. Dona Maria, sentada mais quieta, observava tudo com aquele olhar de quem carrega sabedoria no silêncio.Levantei primeiro e comecei a recolher as xícaras da mesa. Camila logo se levantou também, pegou a mochila da Gabi e chamou ela com um carinho na voz que só ela tinha.— Vamos, princesa, senão a gente se atrasa.Gabi se despediu da Dona Maria com um abraço apertado e depois correu até a minha mãe.— Tchau, vó Maria! Tchau, vó Lúcia!— Vai com Deus, minha filha — Dona Maria respondeu, sorrindo com os olhos.— Se comporta, hein? E depois quero saber como foi a aula! — Dona Lúcia disse, ajeitando a gola do uniforme da Gabi como se ainda não estivesse perfeita.Camila deu um beijo na bochecha das duas. Eu também me aproximei, abracei minha mãe de leve e dei um beijo rápido na testa
Camila narrando :Eu sabia que, em algum momento, esse encontro ia acontecer. Mas nem nos meus piores pensamentos eu imaginei que seria assim… na frente da empresa, com a Jamile parada ali feito uma tempestade prestes a desabar, e eu no meio do fogo cruzado.Quando ouvi a voz dela chamando o Guilherme, meu corpo enrijeceu. E quando ela me olhou daquele jeito, como se eu fosse um erro, uma ameaça, foi como levar um soco seco no peito.Mas eu fiquei. Firme. Calada.Não era por medo, nem por submissão. Era por escolha. Porque eu sabia que qualquer palavra minha seria usada contra mim. E porque eu confiava no Guilherme. Confiava que ele ia me proteger.E ele fez.— Essa aí é minha mulher. Então você respeita ela.Quando ele falou aquilo, com o olhar firme, a postura reta, senti algo dentro de mim se acalmar. Não era só defesa. Era posicionamento. Era amor sendo posto pra fora.Fiquei quieta enquanto ela debochava, provocava, jogava farpas. Quando ela disse que era a mãe do filho dele, por
Camila narrando:A manhã foi puxada. Depois de toda aquela situação com a Jamile, eu tentei me concentrar no trabalho, fingir que tava tudo normal, mesmo com o coração ainda um pouco acelerado.Almoçamos em um restaurante com a Gabi e depois levamos ela pra casa. Guilherme teve que sair depois do almoço pra resolver umas coisas no cartório, algo sobre documentos da empresa, transferência de contrato, essas coisas mais burocráticas. Antes de sair, ele me deu um beijo rápido na testa e disse que voltava em no máximo duas horas.— Qualquer coisa, me liga. E não se estressa — ele disse, antes de sair.Assenti, com um sorriso discreto.Fiquei ali na sala dele, organizando a agenda da semana, respondendo e-mails, dando uma geral nos compromissos que ele tinha deixado pendente. O silêncio da sala até me ajudava a focar… até a porta se abrir de repente.Quando levantei os olhos, era o Eduardo.Ele entrou com aquele ar confiante demais, camisa meio aberta no colarinho, um sorriso de canto que
Guilherme narrando :No cartório, eu tava resolvendo algumas pendências da empresa, assinatura de contrato, atualização de procurações, aquela burocracia toda que ninguém gosta, mas que faz parte de manter tudo nos trilhos.Enquanto o funcionário carimbava os documentos, minha cabeça tava longe. Pensava na Camila, na forma como ela ficou quieta depois do encontro com a Jamile. Pensava também na Jamile, no exame que eu sabia que precisava fazer, e em como tudo tinha virado de cabeça pra baixo em tão pouco tempo.Mas, no meio dessa bagunça, uma coisa era clara pra mim: eu queria a Camila. E nada, nem ninguém, ia mudar isso.Saí do cartório e fui direto pra empresa. O sol já tava forte, e o movimento na rua parecia mais acelerado que o normal. Estacionei, entrei no prédio e cumprimentei um ou outro funcionário no caminho, mas nem prestei muita atenção. Tudo que eu queria era voltar pra minha sala, ver a Camila, me reconectar com ela depois daquela manhã intensa.Subi os andares com press
Guilherme narrando :— Respeitar? Você engravida minha filha e depois tá agarrado com outra como se fosse normal? Acha que é o quê, moleque?— Não, eu acho que sou um homem que não vive mais com a sua filha, que terminou com ela antes mesmo dessa gravidez surgir — falei firme, mantendo a postura. — E que, inclusive, tem direito de refazer a vida.— Acha mesmo que vai fugir dessa responsabilidade? Porque tá se iludindo com uma assistentezinha metida a primeira-dama de empresa?Meu sangue ferveu, mas respirei fundo. Eu não ia perder a cabeça. Ele queria isso. Queria o meu descontrole pra usar contra mim.— Eu nunca disse que não assumiria responsabilidade nenhuma. Mas eu também não sou otário. E essa gravidez… ainda tá mal contada.Ele me encarou com um misto de surpresa e indignação.— Você tá dizendo que minha filha tá mentindo?— Tô dizendo que os fatos não batem. Que o tempo não bate. E que, sim, vou fazer um exame de DNA antes de assumir qualquer coisa.Ele riu com desprezo.— Você