Isabel Ferreira
Quando cheguei cumprimentei Berta na cozinha, ela logo me sorriu com uma caneca fumegante daquele delicioso café.— Eu sabia que você não rejeitaria uma xícara dessa maravilha. – Ela sorriu para mim.— Está brincando? Esse café é maravilhoso.Terminei de tomar o meu café e como vi que ainda estava cedo, fiquei na cozinha conversando com Berta, uma menina que ajuda na arrumação da casa chegou e ficamos conversando até que Thiago chegou com a cara de quem chupou limão, rapidamente a menina correu e eu permaneci ali, já que não estava fazendo nada de errado. Ele me chamou e eu sabia que lá vinha bomba e estava certa.Conversei com senhor a respeito dos benefícios da dança, mas ele estava irredutível e ainda veio com uma conversa sobre dança clássica o que me fez perceber que ele não conhece o próprio filho, depois de deixar tudo acordado chamei Pietro que já estava se arrumando, desci novamente e fui pra cozinha pegar seu lache.— Por que está com essa cara? – Berta me pergunta quando viu o meu semblante.— Estou um pouco chateada, mas é como diz o ditado: “Manda quem pode, obedece quem tem juízo.” – Dei um longo suspiro e peguei a lancheira de Pietro.Subi mais uma vez atrás de Pietro, mas antes que eu chegasse ao seu quarto ele já estava descendo o deixei tomando seu café enquanto fui tirar o carro da garagem, não demorou muito ele apareceu e entrou. Durante o trajeto percebi que ele estava quieto e chamei a sua atenção.— Assim que sair da escola, nós iremos para a consulta no oftalmo – ele olhou para mim e não respondeu — meu amor, o que houve?— Bebel, eu não quero usar óculos. – Então era isso, dei um sorriso para ele.— Por que? Você vai ficar lindo e vai aparecer ainda mais inteligente – Pietro sorriu sem graça, ele é muito acanhado.— Mas e se eu só ficar com cara de nerd? Todo mundo vai rir da minha cara.— Eu assisto um canal no youtube chamado Dharman, lá tem muitas histórias legais e uma das frases que eles usam muito é: “Os nerds de hoje, são o maneiros de amanhã.” não me lembro muito bem de cabeça, mas é mais ou menos isso. – Ele sorriu. — E mais uma coisa, as meninas adoram garotos de óculos. Estacionei o carro em frente a porta da escola e toquei a ponta do seu nariz o fazendo rir, assim que constatei que ele entrou, voltei para a mansão do pai dele e só de saber que o senhor Thiago não está em casa já é um grande alívio, quando estava subindo para a sala de estudos de Pietro encontrei a menina que estava conversando comigo mais cedo e me lembrei o seu nome, como pude esquecer o nome da menina já que é semelhante ao da minha irmã.— Você, me parece cansada, está precisando de ajuda? – Perguntei a ela que sorriu sem jeito.— A senhora Josefa, não se sentiu bem hoje e precisou se ausentar, mas não se preocupe comigo eu darei conta da limpeza – mesmo ela dizendo que estava tudo bem percebi que ela estava sobrecarregada, então peguei o espanador e perguntei onde ela gostaria que eu espanasse.Assim que terminei de ajudá-la, estava na hora de buscar Pietro, cheguei a escola e ele perguntou se seus amigos poderiam ir jogar na sua casa, liguei para o meu chefe que atendeu rapidamente.— Aconteceu alguma coisa com o meu filho? – Ele perguntou e eu neguei, meu chefe é muito emocionado, nem esperou que eu dissesse o motivo da minha ligação, deixei ele se acalmar.— Pietro pediu permissão para levar alguns amigos para jogar mais tarde. – O senhor Thiago ficou mudo por alguns instantes.— E as tarefas? – Ele perguntou.— Após voltarmos do oftalmo, o ajudarei.— Tudo bem, mas fique atenta ao tipo de jogos que eles jogarão. – Disse a ele que tudo bem.Desliguei o celular e disse aos meninos que estava autorizado, falei com a mãe deles e acertamos o horário, antes de partirmos para o oftalmo, almoçamos em uma pensão e fomos para o exame como eu previa ele realmente está com um pequeno problema que poderá ser corrigido com a ajuda de óculos, Pietro escolheu a sua armação ele estava com vergonha, então para ajudá-lo, retirei as minhas lentes e peguei o meu óculos, ele olhou para mim sem entender e expliquei que uso óculos desde pequena.— Nossa, tia! Seus óculos são maneiros. – Agradeci a ele com um sorriso.— Se você me prometer que usará seu óculos direitinho, eu usarei os meus – ele concordou e me ensinou o seu toque secreto.Já em casa preparei tudo o que precisava para que os meninos estivessem confortáveis durante o jogo, antes que eles pudessem começar a jogar os adverti a respeito de algumas regras e depois dei liberdade para eles ficarem em paz.Antes que eu chegasse a cozinha minha irmã Camila ligou me convidando para jantar com a sua namorada, tentei recusar, mas ela disse que não aceitava não como resposta.— Tudo bem Cami, eu vou, agora me deixe trabalhar.— Te espero as oito irmãzinha, beijos minha linda. – Desliguei o celular e fui para a cozinha pegar o lanche das crianças.Cheguei a cozinha e Roberta me entregou uma bandeja repleta de guloseimas e a agradeci, levei as comidinhas para eles e me sentei para observar os três jogando, minha amiga Aly iria adorar, já eu sou uma negação com jogos, eles usavam uns termos estranhos que não entendo absolutamente nada, um tempo depois olhei para o relógio e vi que estava perto da mãe deles chegarem, então ficamos na sala conversando até que a campainha tocou e os levei até a porta.— Obrigado Bebel, o meu pai não gosta que eu traga amigos para casa e hoje foi muito legal. – Pietro estava muito animado e eu acabei sorrindo.— Que bom que está contente agora, vá tomar banho, em breve seu pai chegará.— Estou indo agora. – Ele subiu e eu me aprontei para ir para casa.Lembrei que preciso lavar roupas, pois estou quase sem roupas, tenho certeza que se Luana visse a minha bagunça ela iria ficar possessa, Lua tem obsessão por limpeza, ela inclusive começou um tratamento psicológico, para tentar amenizar a sua mania. Senhor Thiago chega e eu vou para casa, no meio do caminho o pneu de Moniquete resolveu estourar, estava prestes a ligar para o meu cunhado que é meu salvador quando meu celular tocou.— Alô! Quem fala? – Atendi sem verificar o visor.— Isabel é o Thiago, desculpa te ligar assim, mas eu preciso muito de você. – Acho engraçado isso, quando a pessoa precisa da outra até o timbre de voz modifica.— Senhor Thiago, infelizmente não terei como atendê-lo estou no meio da estrada com a Moniquete, ela furou o pneu e vou ligar para o meu cunhado, mas diga o que precisa se for algo que eu possa fazer a distância para o senhor eu farei. – O telefone ficou mudo por alguns instantes.— Na verdade eu preciso muito da sua ajuda, meu amigo me convidou para darmos uma saída e eu não tenho ninguém para poder ficar com Pietro, será que você não poderia me fazer esse favor, como será fora do seu expediente eu te pago a hora extra. – Quando ele diz isso eu fico pensativa, não pelo dinheiro em si, mas porque as meninas me contaram que ele vive recluso em casa e a sua única diversão é jantar de negócios o que deve ser uma coisa muito entediante.— Olha senhor, vou tentar resolver meu problema aqui e retorno, tudo bem?— Eu irei ajudá- la, me dê a sua localização – assim que o informei onde estava e desligamos, entrei em meu carro e fiquei esperando por ele.'Você está esquecendo de algo' meu subconsciente meio que ralhava comigo e eu não sabia o motivo.cinquenta minutos depois um carro parou atrás de mim e como já estava escurecendo eu fiquei apreensiva, mas logo relaxei quando vi que era o meu patrão, logo vinha outro homem que não reconheci.— Oi Isabel, esse aqui é o meu motorista Gabriel e ele irá trocar o seu pneu. – Não sei porque fantasiei que o senhor Thiago me ajudaria com a troca pneu, Gabriel pediu para que eu abrisse o porta malas e eu fiquei próximo ao meu chefe, mas logo a minha atenção se voltou para aquele homem maravilhoso sem camisa, Gabriel tinha o corpo definido e eu estava literalmente babando nele quando meu chefe estalou os dedos na minha frente.— Está me ouvindo? – Fiquem sem graça na hora.— Desculpa senhor, falou comigo? – Perguntei e ele afirmou.— Estava dizendo que está na hora de trocar essa lata velha que você chama de carro.— Essa lata a qual o senhor se refere é a única coisa que tenho dos meus pais. - Nesse momento ele não sabia onde enfiar a cara.— Desculpe, eu não sabia. – Ele realmente estava
Quando terminei de contar a minha história ela estava chorando e me envolveu em um abraço o que acabou me fazendo chorar, pois ela tinha o mesmo abraço quentinho igual da minha mãe.— Então esse é o recomeço? – Ela perguntou e eu assenti. — Sei que não sou a sua mãe e nem poderia ocupar o lugar dela, mas saiba que sempre que precisar de mim, estarei a sua disposição. – Agradeci a ela por isso e sequei as minhas lágrimas.Olhamos para a porta e vimos o senhor Thiago nos observando, ele olhou para mim e me chamou para conversar e eu sabia que ele iria querer falar da noite passada, chegamos em seu escritório, ele sentou e pediu para me sentar.— Antes de mais nada eu gostaria de te pedir desculpa pelo o meu comportamento de ontem a noite eu não deveria…— Está tudo bem senhor, entendo a dor de perder alguém e não se preocupe. – Digo a ele que me encarou.— Se fosse outra pessoa me denunciaria por assédio e se quiser fazer isso não vejo problema. – Ele olhou para mim ainda cabisbaixo. —
Quando cheguei à sala o clima estava tenso entre Pietro e Thiago, pus a vasilha na frente de Pietro e voltei para cozinha novamente.Thiago saiu e antes que eu levasse Pietro para escola, tirei a mesa para ajudar Berta que me agradeceu. Deixei o menino na escola e liguei para o senhor Thiago avisando que iria em minha casa arrumar uma bagagem e ele concordou. Fui para casa, fiz o que tinha que fazer e coloquei a mala no carro e fui para escola pegar Pietro, que estava um pouco cabisbaixo.— O que houve, Pietro? – Perguntei preocupada.— Sou muito burro Bebel, meu pai vai ficar com raiva quando souber que a minha nota de matemática foi péssima.Passei a mão no rosto dele e disse que estava tudo bem que iríamos trabalhar nisso e ele sorriu, voltamos para casa, tirei a minha mala do carro e levei para o quarto que seria meu enquanto estivesse trabalhando ali.Pedi a Pietro para tirar as suas roupas e tomar banho enquanto ajudo Berta na cozinha, enquanto a ajudava íamos conversando animad
Antes de me deitar passei no quarto de Pietro para saber como ele estava, assim que cheguei o peguei fitando o teto, me aproximei lentamente e pedi permissão para me sentar, ele chegou um pouco mais para o lado e me sentei.— O que houve meu bem? – Perguntei a ele que suspirou.— Meu pai, como sempre, está brigando comigo porque eu não fui bem nas aulas de matemática. Aí ele ficou gritando comigo e me mandou estudar muito mais. A matemática não entra na minha cabeça Bebel e eu só consegui estudar um pouco mais por que você me ajudou. – Ele falava com a voz embargada enquanto secava as lágrimas. — Seu pai só quer o melhor para você, sei que agora pode parecer difícil de entender, mas quando você tiver os seus próprios filhos irá entendê-lo. – Ele me agradeceu. Me preparei para levantar, mas ele pediu para que eu terminasse de ler para ele e foi o que fiz, quando constatei que ele dormiu fui para o meu quarto e dei de cara com Thiago, devo admitir que ele está maravilhoso com sua roupa
Não consegui segurar a gargalhada e ela me acompanhou até que olhei para a porta e vi o nosso chefe nos olhando.— Acho que está na hora de vocês começarem a trabalhar, não acham? – Rapidamente nos levantamos, eu fui ao encontro de Pietro e o levei para escola, quando retornei para a mansão Thiago já havia ido o que foi um alívio, espero que ele não tenha ouvido seus apelidos "carinhosos".Após a escola o levei para o xadrez e o menino não fazia questão alguma de jogar direito e perdeu todas as partidas, ele me disse que odeia esse jogo, se bem que nem precisava ele dizer isso, pois está escrito em sua face, nunca entendi esse negocio de obrigar criança a fazer o que não gosta, mas eu não devo me meter em nada. Assim que chegamos, Pietro tomou banho e fizemos as atividades, chamei ele para fazer alguma coisa, mas o menino só queria ficar sozinho, então dei o espaço que ele precisava. Peguei meu celular e fui para a cozinha e vi os stories que minha amiga Ally estava fazendo no shoppi
— Calma Isabel, sou eu. – Aperto os olhos e mesmo na escuridão vejo Thiago, ele falava algumas coisas e eu nem conseguia prestar atenção, só tentava secar as lágrimas para que ele não me achasse uma pessoa fraca.— Você está bem? – Ele me pergunta e eu assenti. — Me desculpa, estava com medo,pois sabia que estava sozinha. – Mas na verdade eu não queria contar a ele que tenho medo de fantasmas.— Por um momento achei que você tinha medo de fantasmas. – Ele olhou para mim zombeteiro e não respondi. — Sempre que não consigo dormir, entro naquela sala, pois ali está repleto de boas recordações. – Thiago me diz e o entendo muito bem.— Sei como é, quando tenho saudades da minha mãe, eu vou para a sua sala de costura e fico por lá imaginando ela arrumando algum vestido para nós. – Respirei fundo para que as lágrimas não caíssem.— Somos duas pessoas saudosas. – O microondas apita e vou até a cozinha sendo seguida por Thiago, e pego a refeição para comer.— Acho que vou te acompanhar. – Th
Pietro CavalcanteJá perdi as contas de quantas babás eu tive desde que minha mãe morreu. Geralmente elas não ligam para mim; apenas cumprem todas as regras chatas que meu pai manda e depois ficam atrás dele. Os pais dos meus amigos são legais. Eles me contam que soltam pipa, jogam bola, vão a parques com os pais, mas meu pai só trabalha e dá ordens. A minha última cuidadora fingia que eu nem existia até que meu pai chegasse, aí ela mudava completamente. Uma vez tentei conversar com ele sobre ela, e ele me disse que eu estava agindo muito mal por ficar inventando histórias e que já sabia que eu não queria mais ter uma babá, por isso iria dizer coisas ruins a respeito dela. Meu pai nunca me escuta, e como todo o mundo tem medo dele, não fazem nada. A pessoa mais legal aqui é a tia Roberta. Ela sempre me dá doces escondidos, conversa comigo explicando que meu pai está passando por um longo processo e que em breve ele vai melhorar.Um dia depois dele demitir a cuidadora antiga, me chamou
Isabel FerreiraQuando fui buscar Pietro na escola eu logo percebi que havia algo errado, ele estava um pouco distante, pensativo e não conversava como de costume, ele me pediu para ir para casa e quando o librei sobre o xadrez, Pietro me disse que não estava se sentindo bem e mesmo saindo que não era verdade o levei para casa. Ao chegarmos, ele subiu correndo e se trancou no quarto, fiquei ali parada por alguns segundos, pensando, não queria ser invasiva, então decidi que esperaria. Chegando a cozinha havia um verdadeiro caos, Berta estava toda enrolada com as compras e me ofereci para ajudá-la. — Menina, hoje foi uma correria, dia de compras é um verdadeiro caos. – Ela diz e eu assinto.— Eu também não curto o dia de compras, sempre é corrido e quanto mais você guarda compras, mas aparece coisa para guardar. — Nem me fale, Thiago é uma pessoa muito rigorosa e sempre quer garantir que tenha as coisas que Pietro gosta.— Por falar em Pietro, hoje o senti mais triste que o comum, te