Capítulo Cinco

Thiago Cavalcante

Mais que mulher insolente, ninguém me trata dessa maneira a muito tempo, mas ela está certa? Eu ignoro meu filho desde que a mãe dele se foi, acho que é por que ele me lembra Jessy. Respirei fundo e fui até o seu quarto.

— Oi campeão, o que está fazendo? – Pergunto me sentando na beirada da cama.

— Oi pai, estou assistindo o vídeo que a Bebel e eu fizemos, ela é muito legal. – Peguei o celular de sua mão e vi uma cena ridícula, a cuidadora do meu filho  estava dançando algum ritmo que não conheço.

— É isso que vocês ficam fazendo o dia todo? E os seus compromissos? – Pergunto passando a mão pelo cabelo irritado.

— Isso foi durante um intervalo entre as coisas que o senhor me mandou fazer, a Bebel é legal e é a primeira cuidadora que realmente fica comigo ao invés de querer ficar correndo atrás do senhor. – Ele me diz e eu pondero.

— Por hora, vou deixar isso de lado, mas amanhã eu irei conversar com ela, não quero ver você dançando e sim fazendo os esportes e as aulas de música que eu pago para você. – Ele olhou para mim e desligou o celular. — Vem, vou ler a sua história favorita.

— Não, tudo bem, estou um pouco cansado e preciso descansar, boa noite pai.

Pietro virou para o lado e dormiu, sai de seu quarto cansado e fui para a cozinha procurar algo para comer, assim Roberta ainda estava acordada.

— Por que ainda não foi dormir? – Perguntei a ela.

— Estava preparando um bolo e pães para o dia seguinte e você meu filho porque não está descansando? – Roberta, me conhece desde moleque, quando os meus pais cismaram que iriam viver em Nova Iorque tentaram levá-la, mas ela preferiu ficar comigo.

— Estava no quarto de Pietro e aproveitei para vim fazer um lanchinho.

— Senta meu filho, eu preparo para você.

— Não quero incomodá-la, vá descansar e eu darei o meu jeito aqui.

— Nem pensar, vá sentar e eu te servirei anda logo. – Me sentei como ela mandou e não demorou muito ela pôs o prato em minha frente e uma xícara de chocolate quente. – Sorvi um pouco do líquido e me deliciei com o chocolate igual quando era criança.

— Você fez a mesma coisa que fazia quando era pequeno. – Ela sorriu para mim. — Você percebeu que Pietro está um pouquinho mais aberto? – Olhei para ela sem entender.

— Pietro é tão fechado para uma criança da sua idade, nesse pouco tempo com Bebel, ele me parece mais contente, outro dia ele voltou a dançar, uma coisa que não fazia a muito tempo, tinha que ver como eles estavam fofos. – Nesse momento endureci o semblante.

— Isso é a terapia começando a fazer efeito, não tem nada haver com Isabel, até porque ela é uma simples professora.

— Sim, uma professora formada em psicologia infantil e pedagogia, você não leu o currículo? – Roberta pergunta e eu nego.

— Leonardo me entregou o envelope a pedido da irmã dele e eu dei a você para analisar, como me disse que ela era qualificada a contratei, simples.

— Você está igual ao seu pai, sem tirar e nem por. Meu filho, você precisa esquecer um pouco o trabalho e voltar a viver. Sei que o seu mundo girava em torno da Jessylene, mas infelizmente ela se foi, se passaram cinco anos que você vive esse luto metido apenas em trabalhando e negligenciando o filho de vocês. – Falar de Jessy ainda é difícil para mim, me levantei e fui para o quarto me preparar para dormir.

Em partes a Rô está certa, mas eu não tenho forças para seguir em frente, pelo menos não sozinho.

No dia seguinte Isabel conversava animadamente com Roberta e Luana, assim que entrei na sala Luana correu para começar a limpeza, olhei para cena sem entender nada, mas deixei de lado, chamei Isabel ao meu escritório e pedi para que ela se sentasse.

— Bom dia senhor. – Ela me cumprimentou e eu apenas balancei a cabeça.

— Vou direto ao assunto com você, quando a contratei eu disse exatamente o que faria não foi? – Ela balançou a cabeça afirmativamente. — Pois então, preciso que pare de distrair meu filho de suas rotinas. Acabei vendo um vídeo de vocês dançando ontem e não achei nada engraçado, nos intervalos dos afazeres do meu filho quero que ele descanse e não que fique o tempo fazendo certas coisas que não acrescentam em nada.

— Como o senhor quiser, mas se me permite dizer acrescentar algo, Pietro gosta de dançar e acho que essa é uma atividade que o estimula.

— Ele gosta de dançar essas porcarias de músicas sem nexo, se ainda fosse algo classico eu daria apoio, espero que estejamos conversados e que as coisas estejam claras para você.

— Cristalinas como água, agora se me der licença vou ver se o seu filho já se levantou – ela deu ênfase desnecessariamente à palavra, seu filho. Fiz um gesto para ela que se retirou, estava prestes a sair da sala quando meu celular tocou.

— Bom dia, Thiago está se preparando para fechar negócio com os Franceses hoje? – Leonardo perguntou, ele e eu somos amigos de infância, mas um pouco opostos em muitas coisas.

— Não estou agitado como você, mas estou confiante que as coisas darão certo para nós.

— Você é um cara que não consegue se animar com mais nada. Você está pior que o tio Fernando.

— Vou desligar, pois tenho coisas a fazer, nos vemos mais tarde e não se atrase. – Desliguei e fui me arrumar.

Quando desci a mesa já estava posta, me sentei e perguntei onde estava o meu filho, fui informado por Isabel que ele estava terminando de se aprontar, ela rapidamente partiu para a cozinha. Roberta dificilmente conversava com as antigas babás de Pietro, mas parece que Isabel a conquistou, assim como o meu filho.

A morte da Jessylene foi difícil para todos nós, mas ela me devastou muito mais, nós éramos namorados de infância, muitos diziam que era uma coisa de crianças e que não daria em nada, mas nosso relacionamento sobreviveu ao ensino médio e a faculdade. Nós éramos unidos e achávamos que o nosso amor superaria tudo até que a pandemia aconteceu e Jessy contraiu covid em seu auge onde ainda não haviam tratamentos corretos. Fizemos tudo que estava ao seu alcance e infelizmente nada deu certo e ela veio a óbito. Depois disso passei a viver apenas para o trabalho.

Tentei seguir o conselho dos meus pais e amigos e retomar a minha vida, mas não consegui voltar a me relacionar, acho que a ideia de ter alguém ao meu lado que não seja Jessy me deixa de uma forma que não sei explicar.

Deixei esses pensamentos de lado e me preparei para trabalhar, pois o dia hoje será longo. Cheguei à empresa e meu amigo já surgiu em minha sala.

— Por que está com esse sorrisinho na cara? – Pergunto enquanto analiso alguns documentos.

— Thiago, ontem sai com uma mulher maravilhosa, mano, você precisa voltar para o mercado, ela tem umas amigas que é um pitelzinho. – Fernando fala de um jeito que não gosto muito.

— Você sabe muito bem que eu tenho muita vontade de me relacionar com ninguém. – Meu amigo tomou os documentos que estavam em minhas mãos o que me deixou muito irritado.

— Preciso desses documentos assinados daqui a meia hora, você pode por favor, me entregar isso e ir caçar o que fazer. – Fernando me devolveu com memo sorriso idiota na cara. — E faça o favor de tirar esse sorriso da cara.

— Você está muito azedo meu amigo, já te falei que o seu problema é falta de mulher, você tem uma mulher em casa que é uma gata, por que não aproveita e sai com ela. – Olhei para ele com uma cara nada boa.

— Não acredito que está sugerindo que eu flerte com a cuidadora do meu filho? Melhor, nem falar mais nada, apenas vá para a sua sala antes que eu contrate alguém que realmente queira trabalhar.  – Rapidamente ele se foi e eu consegui terminar o meu trabalho em paz.

Fui para a minha reunião e quando terminei estava muito feliz por mais um contrato fechado com sucesso, meu amigo me convidou para comemorar a noite, mas eu recusei em um primeiro momento, só que Fernando é um cara que não sabe ouvir não como resposta, insistiu tanto que eu acabei aceitando e agora quem vou pedir para olhar Pietro? Liguei para Roberta e pedi a ela.

— Desculpa meu filho, eu já tenho planos, mas você pode pedir a Isabel, tenho certeza que ela não recusará. – Ela mal começou a trabalhar e eu já vou ter que pedir favor a ela?

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