Thiago Cavalcante
Mais que mulher insolente, ninguém me trata dessa maneira a muito tempo, mas ela está certa? Eu ignoro meu filho desde que a mãe dele se foi, acho que é por que ele me lembra Jessy. Respirei fundo e fui até o seu quarto.— Oi campeão, o que está fazendo? – Pergunto me sentando na beirada da cama.— Oi pai, estou assistindo o vídeo que a Bebel e eu fizemos, ela é muito legal. – Peguei o celular de sua mão e vi uma cena ridícula, a cuidadora do meu filho estava dançando algum ritmo que não conheço.— É isso que vocês ficam fazendo o dia todo? E os seus compromissos? – Pergunto passando a mão pelo cabelo irritado.— Isso foi durante um intervalo entre as coisas que o senhor me mandou fazer, a Bebel é legal e é a primeira cuidadora que realmente fica comigo ao invés de querer ficar correndo atrás do senhor. – Ele me diz e eu pondero.— Por hora, vou deixar isso de lado, mas amanhã eu irei conversar com ela, não quero ver você dançando e sim fazendo os esportes e as aulas de música que eu pago para você. – Ele olhou para mim e desligou o celular. — Vem, vou ler a sua história favorita.— Não, tudo bem, estou um pouco cansado e preciso descansar, boa noite pai.Pietro virou para o lado e dormiu, sai de seu quarto cansado e fui para a cozinha procurar algo para comer, assim Roberta ainda estava acordada.— Por que ainda não foi dormir? – Perguntei a ela.— Estava preparando um bolo e pães para o dia seguinte e você meu filho porque não está descansando? – Roberta, me conhece desde moleque, quando os meus pais cismaram que iriam viver em Nova Iorque tentaram levá-la, mas ela preferiu ficar comigo.— Estava no quarto de Pietro e aproveitei para vim fazer um lanchinho.— Senta meu filho, eu preparo para você.— Não quero incomodá-la, vá descansar e eu darei o meu jeito aqui.— Nem pensar, vá sentar e eu te servirei anda logo. – Me sentei como ela mandou e não demorou muito ela pôs o prato em minha frente e uma xícara de chocolate quente. – Sorvi um pouco do líquido e me deliciei com o chocolate igual quando era criança.— Você fez a mesma coisa que fazia quando era pequeno. – Ela sorriu para mim. — Você percebeu que Pietro está um pouquinho mais aberto? – Olhei para ela sem entender.— Pietro é tão fechado para uma criança da sua idade, nesse pouco tempo com Bebel, ele me parece mais contente, outro dia ele voltou a dançar, uma coisa que não fazia a muito tempo, tinha que ver como eles estavam fofos. – Nesse momento endureci o semblante.— Isso é a terapia começando a fazer efeito, não tem nada haver com Isabel, até porque ela é uma simples professora.— Sim, uma professora formada em psicologia infantil e pedagogia, você não leu o currículo? – Roberta pergunta e eu nego.— Leonardo me entregou o envelope a pedido da irmã dele e eu dei a você para analisar, como me disse que ela era qualificada a contratei, simples.— Você está igual ao seu pai, sem tirar e nem por. Meu filho, você precisa esquecer um pouco o trabalho e voltar a viver. Sei que o seu mundo girava em torno da Jessylene, mas infelizmente ela se foi, se passaram cinco anos que você vive esse luto metido apenas em trabalhando e negligenciando o filho de vocês. – Falar de Jessy ainda é difícil para mim, me levantei e fui para o quarto me preparar para dormir.Em partes a Rô está certa, mas eu não tenho forças para seguir em frente, pelo menos não sozinho.No dia seguinte Isabel conversava animadamente com Roberta e Luana, assim que entrei na sala Luana correu para começar a limpeza, olhei para cena sem entender nada, mas deixei de lado, chamei Isabel ao meu escritório e pedi para que ela se sentasse.— Bom dia senhor. – Ela me cumprimentou e eu apenas balancei a cabeça.— Vou direto ao assunto com você, quando a contratei eu disse exatamente o que faria não foi? – Ela balançou a cabeça afirmativamente. — Pois então, preciso que pare de distrair meu filho de suas rotinas. Acabei vendo um vídeo de vocês dançando ontem e não achei nada engraçado, nos intervalos dos afazeres do meu filho quero que ele descanse e não que fique o tempo fazendo certas coisas que não acrescentam em nada.— Como o senhor quiser, mas se me permite dizer acrescentar algo, Pietro gosta de dançar e acho que essa é uma atividade que o estimula.— Ele gosta de dançar essas porcarias de músicas sem nexo, se ainda fosse algo classico eu daria apoio, espero que estejamos conversados e que as coisas estejam claras para você.— Cristalinas como água, agora se me der licença vou ver se o seu filho já se levantou – ela deu ênfase desnecessariamente à palavra, seu filho. Fiz um gesto para ela que se retirou, estava prestes a sair da sala quando meu celular tocou.— Bom dia, Thiago está se preparando para fechar negócio com os Franceses hoje? – Leonardo perguntou, ele e eu somos amigos de infância, mas um pouco opostos em muitas coisas.— Não estou agitado como você, mas estou confiante que as coisas darão certo para nós.— Você é um cara que não consegue se animar com mais nada. Você está pior que o tio Fernando.— Vou desligar, pois tenho coisas a fazer, nos vemos mais tarde e não se atrase. – Desliguei e fui me arrumar.Quando desci a mesa já estava posta, me sentei e perguntei onde estava o meu filho, fui informado por Isabel que ele estava terminando de se aprontar, ela rapidamente partiu para a cozinha. Roberta dificilmente conversava com as antigas babás de Pietro, mas parece que Isabel a conquistou, assim como o meu filho.A morte da Jessylene foi difícil para todos nós, mas ela me devastou muito mais, nós éramos namorados de infância, muitos diziam que era uma coisa de crianças e que não daria em nada, mas nosso relacionamento sobreviveu ao ensino médio e a faculdade. Nós éramos unidos e achávamos que o nosso amor superaria tudo até que a pandemia aconteceu e Jessy contraiu covid em seu auge onde ainda não haviam tratamentos corretos. Fizemos tudo que estava ao seu alcance e infelizmente nada deu certo e ela veio a óbito. Depois disso passei a viver apenas para o trabalho.Tentei seguir o conselho dos meus pais e amigos e retomar a minha vida, mas não consegui voltar a me relacionar, acho que a ideia de ter alguém ao meu lado que não seja Jessy me deixa de uma forma que não sei explicar.Deixei esses pensamentos de lado e me preparei para trabalhar, pois o dia hoje será longo. Cheguei à empresa e meu amigo já surgiu em minha sala.— Por que está com esse sorrisinho na cara? – Pergunto enquanto analiso alguns documentos.— Thiago, ontem sai com uma mulher maravilhosa, mano, você precisa voltar para o mercado, ela tem umas amigas que é um pitelzinho. – Fernando fala de um jeito que não gosto muito.— Você sabe muito bem que eu tenho muita vontade de me relacionar com ninguém. – Meu amigo tomou os documentos que estavam em minhas mãos o que me deixou muito irritado.— Preciso desses documentos assinados daqui a meia hora, você pode por favor, me entregar isso e ir caçar o que fazer. – Fernando me devolveu com memo sorriso idiota na cara. — E faça o favor de tirar esse sorriso da cara.— Você está muito azedo meu amigo, já te falei que o seu problema é falta de mulher, você tem uma mulher em casa que é uma gata, por que não aproveita e sai com ela. – Olhei para ele com uma cara nada boa.— Não acredito que está sugerindo que eu flerte com a cuidadora do meu filho? Melhor, nem falar mais nada, apenas vá para a sua sala antes que eu contrate alguém que realmente queira trabalhar. – Rapidamente ele se foi e eu consegui terminar o meu trabalho em paz.Fui para a minha reunião e quando terminei estava muito feliz por mais um contrato fechado com sucesso, meu amigo me convidou para comemorar a noite, mas eu recusei em um primeiro momento, só que Fernando é um cara que não sabe ouvir não como resposta, insistiu tanto que eu acabei aceitando e agora quem vou pedir para olhar Pietro? Liguei para Roberta e pedi a ela.— Desculpa meu filho, eu já tenho planos, mas você pode pedir a Isabel, tenho certeza que ela não recusará. – Ela mal começou a trabalhar e eu já vou ter que pedir favor a ela?Isabel FerreiraQuando cheguei cumprimentei Berta na cozinha, ela logo me sorriu com uma caneca fumegante daquele delicioso café.— Eu sabia que você não rejeitaria uma xícara dessa maravilha. – Ela sorriu para mim.— Está brincando? Esse café é maravilhoso.Terminei de tomar o meu café e como vi que ainda estava cedo, fiquei na cozinha conversando com Berta, uma menina que ajuda na arrumação da casa chegou e ficamos conversando até que Thiago chegou com a cara de quem chupou limão, rapidamente a menina correu e eu permaneci ali, já que não estava fazendo nada de errado. Ele me chamou e eu sabia que lá vinha bomba e estava certa.Conversei com senhor a respeito dos benefícios da dança, mas ele estava irredutível e ainda veio com uma conversa sobre dança clássica o que me fez perceber que ele não conhece o próprio filho, depois de deixar tudo acordado chamei Pietro que já estava se arrumando, desci novamente e fui pra cozinha pegar seu lache.— Por que está com essa cara? – Berta me pe
cinquenta minutos depois um carro parou atrás de mim e como já estava escurecendo eu fiquei apreensiva, mas logo relaxei quando vi que era o meu patrão, logo vinha outro homem que não reconheci.— Oi Isabel, esse aqui é o meu motorista Gabriel e ele irá trocar o seu pneu. – Não sei porque fantasiei que o senhor Thiago me ajudaria com a troca pneu, Gabriel pediu para que eu abrisse o porta malas e eu fiquei próximo ao meu chefe, mas logo a minha atenção se voltou para aquele homem maravilhoso sem camisa, Gabriel tinha o corpo definido e eu estava literalmente babando nele quando meu chefe estalou os dedos na minha frente.— Está me ouvindo? – Fiquem sem graça na hora.— Desculpa senhor, falou comigo? – Perguntei e ele afirmou.— Estava dizendo que está na hora de trocar essa lata velha que você chama de carro.— Essa lata a qual o senhor se refere é a única coisa que tenho dos meus pais. - Nesse momento ele não sabia onde enfiar a cara.— Desculpe, eu não sabia. – Ele realmente estava
Quando terminei de contar a minha história ela estava chorando e me envolveu em um abraço o que acabou me fazendo chorar, pois ela tinha o mesmo abraço quentinho igual da minha mãe.— Então esse é o recomeço? – Ela perguntou e eu assenti. — Sei que não sou a sua mãe e nem poderia ocupar o lugar dela, mas saiba que sempre que precisar de mim, estarei a sua disposição. – Agradeci a ela por isso e sequei as minhas lágrimas.Olhamos para a porta e vimos o senhor Thiago nos observando, ele olhou para mim e me chamou para conversar e eu sabia que ele iria querer falar da noite passada, chegamos em seu escritório, ele sentou e pediu para me sentar.— Antes de mais nada eu gostaria de te pedir desculpa pelo o meu comportamento de ontem a noite eu não deveria…— Está tudo bem senhor, entendo a dor de perder alguém e não se preocupe. – Digo a ele que me encarou.— Se fosse outra pessoa me denunciaria por assédio e se quiser fazer isso não vejo problema. – Ele olhou para mim ainda cabisbaixo. —
Quando cheguei à sala o clima estava tenso entre Pietro e Thiago, pus a vasilha na frente de Pietro e voltei para cozinha novamente.Thiago saiu e antes que eu levasse Pietro para escola, tirei a mesa para ajudar Berta que me agradeceu. Deixei o menino na escola e liguei para o senhor Thiago avisando que iria em minha casa arrumar uma bagagem e ele concordou. Fui para casa, fiz o que tinha que fazer e coloquei a mala no carro e fui para escola pegar Pietro, que estava um pouco cabisbaixo.— O que houve, Pietro? – Perguntei preocupada.— Sou muito burro Bebel, meu pai vai ficar com raiva quando souber que a minha nota de matemática foi péssima.Passei a mão no rosto dele e disse que estava tudo bem que iríamos trabalhar nisso e ele sorriu, voltamos para casa, tirei a minha mala do carro e levei para o quarto que seria meu enquanto estivesse trabalhando ali.Pedi a Pietro para tirar as suas roupas e tomar banho enquanto ajudo Berta na cozinha, enquanto a ajudava íamos conversando animad
Antes de me deitar passei no quarto de Pietro para saber como ele estava, assim que cheguei o peguei fitando o teto, me aproximei lentamente e pedi permissão para me sentar, ele chegou um pouco mais para o lado e me sentei.— O que houve meu bem? – Perguntei a ele que suspirou.— Meu pai, como sempre, está brigando comigo porque eu não fui bem nas aulas de matemática. Aí ele ficou gritando comigo e me mandou estudar muito mais. A matemática não entra na minha cabeça Bebel e eu só consegui estudar um pouco mais por que você me ajudou. – Ele falava com a voz embargada enquanto secava as lágrimas. — Seu pai só quer o melhor para você, sei que agora pode parecer difícil de entender, mas quando você tiver os seus próprios filhos irá entendê-lo. – Ele me agradeceu. Me preparei para levantar, mas ele pediu para que eu terminasse de ler para ele e foi o que fiz, quando constatei que ele dormiu fui para o meu quarto e dei de cara com Thiago, devo admitir que ele está maravilhoso com sua roupa
Não consegui segurar a gargalhada e ela me acompanhou até que olhei para a porta e vi o nosso chefe nos olhando.— Acho que está na hora de vocês começarem a trabalhar, não acham? – Rapidamente nos levantamos, eu fui ao encontro de Pietro e o levei para escola, quando retornei para a mansão Thiago já havia ido o que foi um alívio, espero que ele não tenha ouvido seus apelidos "carinhosos".Após a escola o levei para o xadrez e o menino não fazia questão alguma de jogar direito e perdeu todas as partidas, ele me disse que odeia esse jogo, se bem que nem precisava ele dizer isso, pois está escrito em sua face, nunca entendi esse negocio de obrigar criança a fazer o que não gosta, mas eu não devo me meter em nada. Assim que chegamos, Pietro tomou banho e fizemos as atividades, chamei ele para fazer alguma coisa, mas o menino só queria ficar sozinho, então dei o espaço que ele precisava. Peguei meu celular e fui para a cozinha e vi os stories que minha amiga Ally estava fazendo no shoppi
— Calma Isabel, sou eu. – Aperto os olhos e mesmo na escuridão vejo Thiago, ele falava algumas coisas e eu nem conseguia prestar atenção, só tentava secar as lágrimas para que ele não me achasse uma pessoa fraca.— Você está bem? – Ele me pergunta e eu assenti. — Me desculpa, estava com medo,pois sabia que estava sozinha. – Mas na verdade eu não queria contar a ele que tenho medo de fantasmas.— Por um momento achei que você tinha medo de fantasmas. – Ele olhou para mim zombeteiro e não respondi. — Sempre que não consigo dormir, entro naquela sala, pois ali está repleto de boas recordações. – Thiago me diz e o entendo muito bem.— Sei como é, quando tenho saudades da minha mãe, eu vou para a sua sala de costura e fico por lá imaginando ela arrumando algum vestido para nós. – Respirei fundo para que as lágrimas não caíssem.— Somos duas pessoas saudosas. – O microondas apita e vou até a cozinha sendo seguida por Thiago, e pego a refeição para comer.— Acho que vou te acompanhar. – Th
Pietro CavalcanteJá perdi as contas de quantas babás eu tive desde que minha mãe morreu. Geralmente elas não ligam para mim; apenas cumprem todas as regras chatas que meu pai manda e depois ficam atrás dele. Os pais dos meus amigos são legais. Eles me contam que soltam pipa, jogam bola, vão a parques com os pais, mas meu pai só trabalha e dá ordens. A minha última cuidadora fingia que eu nem existia até que meu pai chegasse, aí ela mudava completamente. Uma vez tentei conversar com ele sobre ela, e ele me disse que eu estava agindo muito mal por ficar inventando histórias e que já sabia que eu não queria mais ter uma babá, por isso iria dizer coisas ruins a respeito dela. Meu pai nunca me escuta, e como todo o mundo tem medo dele, não fazem nada. A pessoa mais legal aqui é a tia Roberta. Ela sempre me dá doces escondidos, conversa comigo explicando que meu pai está passando por um longo processo e que em breve ele vai melhorar.Um dia depois dele demitir a cuidadora antiga, me chamou