Deitada sobre o peito de Matteo, consigo ouvir o ritmo constante do seu coração, cada batida soando como um lembrete de que estou aqui, viva, segura. Suas mãos percorrem preguiçosamente minhas costas nuas, o toque é tão leve, tão carinhoso, que me sinto como se pudesse me dissolver a qualquer momento, me tornando parte dele.As janelas deixam entrever a escuridão da noite lá fora, as luzes suaves da cidade desenhando sombras tênues pelo quarto. Tudo parece distante, irrelevante, como se o mundo tivesse parado para nós dois. Pela primeira vez em anos, sinto que não preciso me preocupar com o amanhã. Não há medo, não há incertezas. Apenas nós, neste momento.Ele beija o topo da minha cabeça, seus lábios pressionando suavemente contra meu cabelo, e sinto meu peito se aquecer ainda mais.— Está tudo bem? — Sua
As árvores passavam rápido pela janela enquanto eu apertava o tecido do meu vestido entre os dedos. A estrada sinuosa que levava ao condomínio parecia interminável, e o silêncio dentro do carro era pesado, mesmo com Matteo ao meu lado. Ele dirigia com uma expressão tranquila, como se esse momento não fosse importante, mas eu sabia que ele estava atento a cada movimento meu.— Não acho que essa seja uma boa ideia — murmurei, sem desviar os olhos da paisagem. Meu reflexo no vidro parecia tão ansioso quanto eu me sentia.— Stella... — Matteo começou, com aquele tom calmo que às vezes me deixava mais irritada do que confortada. — Isso precisa acontecer. Fiorella já sabe sobre nós.— Isso não significa que ela precise me conhecer agora, Matteo. — Meu tom saiu mais afiado do que eu pretendia, mas ele não pareceu se importar.
Entramos em casa, e o silêncio acolhedor nos envolveu assim que fechei a porta. Stella estava ao meu lado, tirando os sapatos enquanto eu pendurava as chaves no gancho. A noite tinha sido longa, mas, para mim, havia algo reconfortante em ver como ela e Fiorella se deram bem.Seguimos para o quarto, e Stella foi direto para o closet, mexendo na barra do vestido enquanto eu tirava o blazer. O ambiente era iluminado por uma luz suave, refletida no grande espelho da parede.Deixei o blazer sobre a poltrona em frente ao espelho e comecei a desabotoar a camisa.— Tudo correu bem, não acha?Ela assentiu, tirando os brincos e os colocando no pequeno porta-joias.— Fiorella me fez sentir... parte da família.Havia algo na forma como ela disse aquilo, um toque de emoção que me fez parar o que estava fazendo. Caminhei até ela, envolvendo sua cintura com meus braços e puxando-a para mais perto.
As portas do elevador se fecham com um leve sibilo, isolando-nos temporariamente do mundo exterior. Olho para Stella, parada ao meu lado, as mãos inquietas acariciando a barriga em um gesto que mistura nervosismo e proteção. Ela tenta parecer calma, mas eu conheço cada detalhe de sua expressão, e o leve tremor em seus dedos denuncia o turbilhão de pensamentos que deve estar atravessando sua mente.— Ei... — murmuro, deslizando minha mão sobre a dela, envolvendo-a com firmeza. — Tudo vai dar certo. Eu prometo. — Minha voz sai baixa, mas segura, como se eu pudesse, de alguma forma, fazer aquelas palavras se tornarem uma verdade absoluta.Ela finalmente me olha, e por um breve momento, vejo uma fagulha de esperança se misturar ao medo em seus olhos.— E se ele não puder nos ajudar? — ela pergunta, quase num sussurro.— Ele vai. — respondo com convicção, mesmo que no fundo eu não tenha todas as respostas. — Bernardo é advogado da minha família há anos. Não vamos deixar nada nem ninguém at
A despedida no escritório do advogado foi breve, mas carregada de significados. Matteo manteve sua mão em minha cintura enquanto caminhávamos pelo estacionamento em direção ao carro. Quando finalmente paramos ao lado da porta, ele se virou para mim, me surpreendendo. Suas mãos firmes deslizaram até minhas costas, pressionando-me gentilmente contra o metal frio do veículo.— Tudo vai correr bem, Stella. — ele disse, sua voz carregada de uma convicção que aquecia meu coração. Seus dedos acariciaram minha barriga com cuidado, como se ele pudesse se comunicar diretamente com o bebê através daquele gesto.Coloquei minhas mãos sobre as dele, absorvendo a força e o carinho que ele transmitia. Por um momento, parecia que o mundo havia parado ao n
O quarto estava iluminado pela luz dourada do entardecer, e o som baixo de uma música qualquer preenchia o espaço. O cheiro doce das uvas congeladas que ela comia parecia se misturar ao aroma suave do perfume que ainda pairava no ar desde que Stella saiu do banho. Eu me movia pelo quarto, dobrando cada roupa com a precisão de um perfeccionista, encaixando-as nas malas como se estivesse resolvendo um quebra-cabeça.Ela estava sentada na cama, com as pernas cruzadas, segurando o potinho de uvas na palma da mão e usando os dedos para escolher uma de cada vez. Um gesto tão simples, mas que para mim parecia carregar toda a suavidade do mundo. Stella nem imaginava o quanto eu gostava de observá-la assim, nos momentos em que ela achava que ninguém estava olhando.Cada movimento dela era como um detalhe perfeito de uma obra de arte, algo que não se devia apressar para entender.Dois meses. Era inacreditável pensar que, há apenas dois meses, eu havia desembarcado no Brasil com um coração vazio
A chuva encharca meus sapatos enquanto caminho pela calçada de uma das avenidas mais movimentadas da cidade, rezando para que, desta vez, eu não chegue atrasada. O som do meu estômago roncando me faz soltar uma das mãos da sombrinha e apertar o próprio corpo.Lidar com a chuva até que é fácil — eu poderia tentar secar o cabelo no secador de mãos do banheiro de novo. Mas hoje trabalhar será difícil, porque não conseguirei passar na padaria e gastar minhas últimas moedas. Nem chegamos à metade do mês, e meu salário já foi quase todo embora.Paro em frente ao semáforo e espero abrir para atravessar em direção ao prédio da Fiori Security, uma das filiais da maior empresa de segurança italiana. Por um milagre, depois de ter sido demitida do meu último emprego de babá, consegui uma vaga de secretária.Deus abençoe minha mãe no dia em que me obrigou a fazer aquele curso.Meu pé desliza dentro do salto molhado ao entrar no saguão de mármore branco e dourado. Chamo o elevador e subo para o vig