RebeccaEu a encarei por alguns segundos, tentando processar o que estava acontecendo. Era um pouco surreal. Primeiro, porque eu me sentia como uma estranha em meu próprio corpo, e agora, estava sendo abordada por duas desconhecidas que pareciam estar vivendo uma vida bem mais tranquila e leve do que a minha. A mulher, Anneliese, parecia genuinamente simpática, o que me fez relaxar um pouco.— Ah, claro — respondi, ainda um pouco surpresa. — Posso tentar ajudar, sim.Anneliese deu um passo à frente, segurando um pequeno macacão nas mãos, azul-claro com detalhes bordados em branco. Ela o ergueu na minha direção.— O que você acha desse? — perguntou, com os olhos brilhando de expectativa. — Estamos escolhendo algo para o meu sobrinho, mas não temos muita certeza. Parece confortável?Observei o macacão por um momento, sentindo o tecido entre meus dedos. Era macio, certamente uma boa escolha para um bebê. Mas o simples fato de estar ali, sendo convidada a opinar em algo tão íntimo, me fez
RebeccaQuando recobrei a consciência, o teto branco e as luzes frias do shopping foram as primeiras coisas que vi. Minha cabeça latejava levemente, mas já estava começando a processar o que tinha acontecido. As duas mulheres que eu havia encontrado minutos antes, Pietra e Anneliese, estavam ao meu lado, seus rostos estampando preocupação genuína. Meus pensamentos ainda estavam um pouco embaralhados, mas eu conseguia ouvi-las claramente.— Ela está acordando — disse Anneliese com alívio na voz, se inclinando um pouco para me olhar melhor.— Já estou chamando a ambulância — Pietra informou, já com o telefone na mão, em uma postura firme. Havia algo em sua presença que transmitia controle, como se estivesse acostumada a gerenciar situações de crise.Tentei me sentar, mas minhas pernas estavam trêmulas, então me deixei relaxar novamente no chão frio. A sensação de fraqueza era assustadora, e meu coração batia acelerado. Não estava acostumada a me sentir tão vulnerável. Anneliese, com sua
AaronDesci do carro sentindo um desânimo que parecia cada vez mais difícil de esconder. Passei pelo hall sem realmente prestar atenção nos detalhes que me rodeavam — as obras de arte nas paredes, os móveis luxuosos, o som abafado dos passos ecoando no mármore. Não importava. Hoje, como em tantos outros dias, minha mente estava em outro lugar.Eu precisava de uma distração. Meus irmãos estavam reunidos na área de lazer, próximo à piscina, jogando sinuca. Axel e Anton eram competitivos demais, e isso sempre acabava em risos ou discussões acaloradas. Achei que assistir à disputa deles poderia me ajudar a tirar os pensamentos tumultuados de Rebecca da cabeça — pelo menos por um tempo.Mas ao me aproximar da mesa de sinuca, senti algo diferente no ar. As vozes não eram as habituais provocações entre meus irmãos. Além de Axel e Anton, Anneliese e Pietra também estavam lá, e todos falavam ao mesmo tempo, as palavras se sobrepondo em um tom carregado de agitação. Havia uma tensão curiosa que
RebeccaA enfermeira veio até o quarto para avisar que meu acompanhante já tinha chegado e após me despedir de Anneliese e Pietra, aguardei a chegada de Eric com certo receio. Deitada na cama do hospital, tentando me manter tranquila, quando a porta do quarto se abriu de maneira abrupta. Eric entrou, e imediatamente senti uma onda de tensão. Seu rosto estava carregado de contrariedade, os olhos fixos em mim como se estivesse esperando uma explicação que eu não sabia que devia dar. Meu coração acelerou, e meu corpo se enrijeceu automaticamente ao ver sua expressão dura.Ele não perdeu tempo.— Como você conheceu Anneliese? — Ele perguntou, sua voz carregada de uma rudeza que eu não esperava.Franzi o cenho, surpresa com a pergunta. A tensão no ar era palpável, mas eu não entendia por quê. Anneliese? O que ela tinha a ver com o comportamento agressivo de Eric? Tentei processar a situação, mas fiquei confusa. Ele me olhava como se estivesse esperando que eu confessasse algum grande segre
AaronQuando cheguei ao hospital, eu estava tentando manter a calma, mas meu coração batia rápido. Mas sabia que Rebecca estava ali, e precisava vê-la. Após me informar sobre onde ela estava internada, caminhei apressado na direção indicada. Mas ao me aproximar do quarto onde ela estava, uma enfermeira me interceptou, bloqueando a entrada com um sorriso profissional.— Desculpe, senhor, mas a paciente já tem um acompanhante. Você vai precisar de autorização para entrar.Respirei fundo, tentando processar a informação. Eu sabia que Eric estava com ela, mas ouvir aquilo — que ele já estava ao lado dela, enquanto eu estava aqui, preso do lado de fora — só fez a raiva crescer. Sentia meu sangue ferver ao pensar nele ali, ao lado de Rebecca, como se estivesse no controle de tudo.Mas eu precisava manter a compostura. A última coisa que eu queria era causar uma cena. Olhei para a enfermeira e, com toda a calma que consegui reunir, disse:— Então, por favor, avise a ela que estou aqui e peça
AaronDiante das minhas palavras, vi uma mudança sutil no rosto de Rebecca. Seus olhos se iluminaram, e ela abriu um sorriso suave, um gesto tímido, mas verdadeiro. Era como se uma nova vida surgisse em sua expressão, trazendo uma leveza que parecia impossível minutos antes.— Não esperava que você fosse aparecer aqui, Aaron — disse ela, sua voz suave e carregada de emoção. — Mas estou feliz que você esteja aqui... Eu senti tanto medo de perder o nosso bebê.As palavras dela me atingiram como uma onda, enchendo-me de um sentimento que eu mal sabia descrever. Segurei sua mão, levando-a aos meus lábios e depositando ali um beijo leve, como se aquela fosse a única forma de pedir desculpas por ter falhado.— Rebecca... desculpe pelo grande idiota que eu sou — sussurrei, o peso de tudo o que eu estou fazendo recaindo sobre mim. — Mas eu prometo que não vou sair do seu lado. Ficarei aqui até que você tenha alta e possamos sair juntos deste hospital.Ela arregalou os olhos, surpresa com a de
AaronSaí do hospital sentindo como se estivesse em um estado de torpor, incapaz de digerir o que havia acabado de acontecer. As palavras de Rebecca ainda ecoavam na minha mente, sua determinação fria em me afastar... e Eric, com aquele sorriso quase satisfeito, reforçando tudo o que eu queria ignorar. Entrei no carro, tentando acalmar meus pensamentos, mas minhas mãos estavam trêmulas no volante. O trânsito de São Paulo estava lento, como sempre, mas minha mente era uma avalanche de emoções. Passei por uma série de sinais vermelhos, mal registrando onde estava. De repente, senti um impacto e me dei conta de que havia batido na traseira do carro à minha frente. O motorista saiu do carro rapidamente, a expressão dele pura fúria. Já estava se aproximando, gritando algo que mal conseguia ouvir. Minha raiva e frustração estavam tão intensas que, ao invés de me acalmar, tudo em mim explodiu.— Presta atenção, você! — gritei de volta, saindo do carro, a voz elevada e descontrolada. — Não
PaollaA raiva fervia dentro de mim. Eric tinha acabado de me contar sobre os últimos acontecimentos, e eu mal podia acreditar no que estava ouvindo. Aaron só podia ter perdido o juízo. Ele estava prestes a jogar fora tudo o que construímos, todo o plano meticuloso que havíamos elaborado, tudo isso por causa daquela garota insípida, insossa, Rebecca.Senti um calor subindo pelo meu corpo e explodindo em uma mistura de frustração e indignação. A imagem de Rebecca, frágil e sem graça, dançando na mente de Aaron era quase insuportável. E agora, havia a possibilidade de ela perder o bebê, o único objetivo prático por trás dessa confusão. Sem o bebê, tudo iria por água abaixo, e eu não permitira que tudo o que planejamos fosse destruído por algo assim. Como Aaron podia não perceber o risco de estragar o futuro de ambos por um capricho?— Isso é inadmissível! — gritei, a fúria transbordando.— Paolla, eu preciso que você se acalme — disse ele, a voz baixa e controlada pelo telefone. — Eu ac