RebeccaA solidão em São Paulo era esmagadora. Não tinha ninguém. Nem família, nem amigos. Apenas o vazio do apartamento e o silêncio. Depois de colocar um ponto final no que havia entre Aaron e eu, ele respeitou minha decisão e desapareceu, como eu havia pedido. Sabia que era o certo a se fazer, que não podia continuar naquele ciclo tóxico, mas viver com essa escolha estava sendo muito mais difícil do que eu imaginava.Eu tinha vindo para São Paulo com a cabeça cheia de sonhos. Queria ser artista, seguir o caminho que sempre me inspirou desde pequena. Mas agora, nem mesmo conseguia pintar. Minhas tintas estavam intactas, os pincéis jogados no canto do ateliê improvisado. Claro, eu podia culpar os enjoos que começaram a me consumir na última semana, mas a verdade era que minha cabeça estava longe de estar no lugar.Aaron não era parte da minha vida, e tenho um bebê estava crescendo dentro de mim, e eu não sabia como lidar com isso.Nos momentos em que a angústia apertava, tentava entr
RebeccaEu a encarei por alguns segundos, tentando processar o que estava acontecendo. Era um pouco surreal. Primeiro, porque eu me sentia como uma estranha em meu próprio corpo, e agora, estava sendo abordada por duas desconhecidas que pareciam estar vivendo uma vida bem mais tranquila e leve do que a minha. A mulher, Anneliese, parecia genuinamente simpática, o que me fez relaxar um pouco.— Ah, claro — respondi, ainda um pouco surpresa. — Posso tentar ajudar, sim.Anneliese deu um passo à frente, segurando um pequeno macacão nas mãos, azul-claro com detalhes bordados em branco. Ela o ergueu na minha direção.— O que você acha desse? — perguntou, com os olhos brilhando de expectativa. — Estamos escolhendo algo para o meu sobrinho, mas não temos muita certeza. Parece confortável?Observei o macacão por um momento, sentindo o tecido entre meus dedos. Era macio, certamente uma boa escolha para um bebê. Mas o simples fato de estar ali, sendo convidada a opinar em algo tão íntimo, me fez
RebeccaQuando recobrei a consciência, o teto branco e as luzes frias do shopping foram as primeiras coisas que vi. Minha cabeça latejava levemente, mas já estava começando a processar o que tinha acontecido. As duas mulheres que eu havia encontrado minutos antes, Pietra e Anneliese, estavam ao meu lado, seus rostos estampando preocupação genuína. Meus pensamentos ainda estavam um pouco embaralhados, mas eu conseguia ouvi-las claramente.— Ela está acordando — disse Anneliese com alívio na voz, se inclinando um pouco para me olhar melhor.— Já estou chamando a ambulância — Pietra informou, já com o telefone na mão, em uma postura firme. Havia algo em sua presença que transmitia controle, como se estivesse acostumada a gerenciar situações de crise.Tentei me sentar, mas minhas pernas estavam trêmulas, então me deixei relaxar novamente no chão frio. A sensação de fraqueza era assustadora, e meu coração batia acelerado. Não estava acostumada a me sentir tão vulnerável. Anneliese, com sua
Leonel BaumannConvidei meus netos e Ettore para um jantar na mansão. Já era hora de decidir o futuro das Indústrias Baumann, e eu precisava de todos presentes para essa ocasião. Berenice, minha querida esposa, estava ao meu lado, lançando-me olhares de apoio. A sala de jantar, com seu lustre imponente e móveis antigos, estava preparada para uma noite memorável.Enquanto nos acomodamos à mesa, observei os rostos tensos dos meus netos. Aaron, com sua postura rígida e terno impecável, claramente estava à espera de algo importante. Paola, ao seu lado, tentava disfarçar sua ansiedade, mas o brilho em seus olhos a traía. Axel, sempre desconfiado, mantinha uma expressão cerrada, enquanto Anton, despreocupado, mexia no telefone e Annelise ria de algo que ele disse.Ettore, filho de um antigo funcionário falecido e meu homem de confiança, estava presente também. Para mim, ele é como um filho. Suas ações sempre foram pautadas pela lealdade e integridade, algo raro nos dias de hoje.O jantar tr
AaronVi meu avô sair da sala com passos firmes, deixando para trás um misto de incredulidade e choque em nossos rostos. Não era possível que ele realmente estivesse impondo tal condição para passar o controle das Indústrias Baumann. Um bisneto? Era isso que ele queria em troca do poder?Olhei para Paola, minha esposa, sentada ao meu lado. Ela estava linda como sempre, sua postura perfeita e seu rosto inexpressivo. Paola sempre foi a esposa troféu ideal, vinda de uma família tradicional paulistana. Elegante, educada, exatamente o que eu precisava para manter as aparências. Mas filhos? Esse era um assunto que nunca tínhamos discutido seriamente.Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, Axel se dirigiu ao luxuoso bar no canto da sala. Pegou uma garrafa de uísque e serviu-se de uma dose generosa.— Alguém mais quer? — ele perguntou, sua voz carregada de sarcasmo e desdém. Ele nos olhou, sabendo que as chances de aceitar sua oferta eram poucas.Annelise foi a primeira a se levantar, ain
RebeccaDeixar minha cidade natal não foi uma decisão fácil, mas foi necessário. Minha paixão pela pintura sempre foi uma constante em minha vida. Meus pais, devotos fervorosos de uma vida simples e religiosa, nunca compreenderam essa paixão. Para eles, minha arte era uma distração tola."Você precisa se concentrar nas coisas importantes, Rebecca. Deus tem planos para você, mas a pintura não é um deles," meu pai dizia sempre, seu tom severo e inflexível. Minha mãe, embora mais compreensiva, também não conseguia enxergar além do horizonte limitado da nossa pequena cidade no interior de São Paulo.Quando finalmente tomei a decisão de ir embora, estava assustada, mas determinada. Juntei todas as minhas economias, coloquei minhas poucas roupas e meus materiais de pintura em uma mochila e deixei uma carta para meus pais, explicando minha partida. Peguei o primeiro ônibus para São Paulo, minha cabeça cheia de planos e expectativas. Quando finalmente desci na estação de metrô mais moviment
AaronNão consigo acreditar no que estou prestes a fazer. Meu coração bate descompassado dentro do peito, uma mistura de excitação e nervosismo. Mas não vou recuar. Tenho um objetivo em mente e farei qualquer coisa para alcançá-lo.Chego ao apartamento indicado por Eric e paro em frente ao número na porta. Demoro um momento antes de tocar a campainha, meu dedo hesitante sobre o botão. Mas logo decidi seguir em frente. Não há espaço para dúvidas agora. Preciso concluir isso o mais rápido possível.A porta se abre lentamente e Eric está lá, com um sorriso de satisfação no rosto, totalmente impróprio para o momento. Ele me dá um aceno de cabeça e me deixa entrar, fechando a porta atrás de mim.— Que bom que chegou. Pensei que tinha desistido. Eu permaneço no mesmo lugar e deixo-lhe saber os meus pensamentos.— Confesso que essa ideia passou pela minha cabeça — Digo, sentindo a tensão aumentar sobre os meus ombros.— Mentalize aquela velha e importante frase de Maquiavel: Os fins justifi
RebeccaO choque da revelação de Aaron me atinge como uma onda gelada, paralisando-me no lugar. Eric já havia passado aquelas informações para mim, mas era como se eu estivesse ouvindo pela primeira vez. A forma como Aaron falou, sua frieza ao tratar do assunto, assustou-me profundamente.Levantei-me abruptamente, incapaz de permanecer tão perto dele. Aaron era um homem cuja determinação era tão intensa que me deixava arrepiada. Percebo que minha respiração está acelerada, meu coração batendo descontroladamente dentro do peito. Encaro Aaron com uma mistura de medo e desconfiança. Ele era a chave para minha liberdade. A decisão que tomei ao aceitar essa proposta parecia cada vez mais insensata, mas não aceitar não era uma opção sábia naquele momento. Aos vinte anos, ainda era virgem, apesar de alguns encontros inocentes com rapazes da igreja que frequentava com meus pais. Não havia compartilhado esse detalhe com Eric. Além da vergonha em falar sobre algo tão íntimo com alguém que hav