A noite caiu sobre a praia particular da casa dos Orsini, e a festa estava a todo vapor. A areia fina, iluminada pelas luzes âmbar penduradas em cordas ao redor, brilhava sob o céu estrelado. Uma grande fogueira estava acesa no centro, com cadeiras de madeira e sofás de tecido branco espalhados ao redor, criando um ambiente aconchegante para os convidados. O som das ondas ao fundo se misturava à música suave que tocava, enquanto parentes e amigos dos Orsini se reuniam, rindo e conversando em pequenos grupos. Era uma cena de filme, de perfeição orquestrada, mas para mim, tudo parecia estranhamente fora de lugar.Bernardo e eu chegamos juntos, de mãos dadas, mas desde que descemos do quarto para a festa, havia um desconforto crescente entre nós. Aqueles últimos dias tinham sido carregado de pequenas discussões e silêncios desconfortáveis. Cada olhar que trocávamos estava recheado de palavras não ditas. E eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, a tempestade viria.A praia estava repleta d
~BERNARDO~A brisa do mar era agradável, mas não fazia nada para aliviar a frustração que pulsava dentro de mim. A briga com Alice tinha deixado um gosto amargo persistente, que nada conseguia dissipar. Eu podia sentir os olhares dos convidados e da minha própria família, cada um tentando adivinhar o que havia se passado. Era como se cada sussurro ao meu redor aumentasse minha irritação, e o peso das especulações começava a me sufocar. Cada passo que eu dava me fazia sentir ainda mais exposto, e o incômodo crescia, queimando em silêncio.Renato se aproximou, com o desconforto estampado em seu rosto. Ele hesitava, claramente escolhendo com cuidado o que diria, enquanto eu me dirigia ao bar com passos pesados. Seus olhos me acompanhavam, incertos, como se ele soubesse que qualquer coisa dita naquele momento poderia piorar a situação. Sem saber como agir, ele optou pelo caminho mais simples: me seguir em silêncio, talvez esperando que o ambiente do bar facilitasse uma conversa menos carr
Cheguei à casa de Liz no meio da madrugada, depois de ter conseguido convencer um dos pilotos do helicóptero a me trazer de volta para o Rio. Meu corpo estava exausto, mas a mente ainda a mil, revivendo cada palavra da briga com Bernardo. A sensação de sufocamento ainda apertava meu peito, como se eu estivesse presa em um pesadelo sem fim. Liz me recebeu com um olhar preocupado, mas não tentei explicar nada. Não queria conversar. Não naquele momento. Essa era a melhor parte do meu relacionamento com a minha irmã: a gente se entendia no olhar e se respeitava.— Não precisa dizer nada, Alice — ela sussurrou, vendo o estado em que eu estava.Eu balancei a cabeça, agradecida por não ter que colocar em palavras o que estava sentindo. Assim que vi Ian no berço, me olhando com seus grandes olhinhos curiosos, foi como se o mundo ao meu redor se desfizesse. Aquele pequeno ser era tudo o que me restava de estabilidade, e eu precisava dele mais do que nunca. Sem hesitar, peguei-o nos braços, bus
~ BERNARDO ~A vida, ultimamente, parecia ter dado uma volta completa e me jogado de volta em um padrão que eu jurava ter deixado para trás. Era como se eu tivesse voltado alguns anos no tempo, revivendo as mesmas noites intermináveis de jantares luxuosos, festas extravagantes e eventos sociais. A diferença agora? Eu tinha Valentina ao meu lado na maioria desses momentos. Para quem olhava de fora, nada parecia mais justo ou natural. Ela sempre fora uma presença constante em minha vida antes de Alice e Ian, e agora, as pessoas simplesmente presumiam que as coisas tinham voltado ao normal.Eu não me surpreendia com o julgamento deles. Valentina sempre fora uma mulher de presença forte, o tipo de pessoa que as pessoas observam e assumem que está no controle. E, de fato, ela sempre estava. Independente dos métodos que tivesse que usar para isso.Depois de uma longa conversa com meu pai, ficamos claros sobre o que deveria ser feito. Não havia como tirar Valentina do cargo de CEO da Orsini
Liz e eu estávamos sentadas na confeitaria mais charmosa da cidade, rodeadas por bandejas de bolos delicados e docinhos que pareciam pequenas obras de arte. As vitrines brilhavam sob a luz suave, destacando cada detalhe das criações cuidadosamente decoradas. O aroma doce de chocolate e baunilha preenchia o ar, tornando impossível não se sentir envolvida pela atmosfera acolhedora. As paredes, pintadas em tons pastéis e decoradas com quadros delicados, completavam a sensação de tranquilidade e elegância do lugar. Eu observava a mesa à nossa frente, repleta de opções que pareciam até bonitas demais para comer, e me sentia um pouco perdida com tantas escolhas. Mas Liz, com seu jeito prático e decidido, já fazia uma lista mental de tudo o que deveríamos provar, como se estivesse pronta para uma missão importante. Ela sorria animada, enquanto eu tentava me concentrar, pensando em como cada uma daquelas delícias seria perfeita para o aniversário de Ian.— Esse aqui parece incrível — Liz diss
~ BERNARDO ~O vento noturno soprou suavemente quando Valentina e eu saímos do restaurante, onde tínhamos acabado de participar de mais uma dessas reuniões intermináveis com investidores. A lua estava alta no céu, iluminando as ruas tranquilas, enquanto os carros de luxo estacionados ao redor brilhavam sob a luz prateada. Por um momento, respirei fundo, tentando aproveitar a serenidade da noite. No entanto, o peso daquela rotina repetitiva ainda latejava em meu peito. Jantares intermináveis, sorrisos falsos, conversas sobre números e lucros... Era como reviver um ciclo que eu havia vivido inúmeras vezes antes, com apenas rostos diferentes. Tudo parecia uma coreografia cansativa.À medida que nos aproximávamos do prédio de Valentina, sabia que a noite estava longe de acabar. Ela, como sempre, irradiava uma energia que não permitia que as coisas terminassem sem um toque final, e eu reconhecia aquele brilho em seus olhos. Para ela, as reuniões não eram apenas sobre negócios, eram oportun
Acordei com uma sensação quente e familiar deslizando suavemente pela minha pele. Meus sentidos despertaram lentamente, ainda envoltos pelo calor do sono, mas logo senti o toque inconfundível de lábios roçando levemente meu pescoço. O arrepio que percorreu minha coluna foi imediato, e meu corpo respondeu antes que minha mente pudesse processar. Era como se soubesse exatamente quem era.Ainda assim, o instinto me fez despertar de verdade. Meus olhos se abriram de repente, e eu me virei na cama, pronta para reagir a qualquer intruso. Mas, assim que vi os olhos de Bernardo me encarando, meu coração desacelerou. Ele estava ali, tão próximo, com um sorriso suave nos lábios.— Oi — ele sussurrou, sua voz baixa e carregada de intimidade.Meu susto se transformou em algo muito mais profundo, e antes que eu pudesse pensar, me inclinei sobre ele, capturando seus lábios nos meus em um beijo que falava tudo o que as palavras não podiam. Havia uma mistura de saudade e desejo naquele gesto, como se
~ BERNARDO ~Ainda me recuperava do calor do momento, os lençóis macios contra minha pele e o som de nossas respirações pesadas preenchendo o quarto, quando Alice, deitada ao meu lado, de repente virou a cabeça na minha direção, seus olhos brilhando com uma intensidade focada.— O plano funcionou? — Ela perguntou, sua voz firme.Fiquei surpreso com a mudança abrupta de tom. Um minuto antes, estávamos envolvidos em um momento íntimo, e agora, ela já estava de volta ao modo estratégico. Deixei escapar uma risada curta e balancei a cabeça, ainda tentando absorver a rapidez com que ela trocava de papel.— Você consegue mudar de marcha tão rápido assim? — Perguntei, ainda tentando normalizar minha respiração. — Estava completamente rendida há segundos, e agora já está no modo negócios?Alice deu de ombros, um sorriso suave brincando em seus lábios. Seus olhos, no entanto, mantinham-se atentos, fixos em mim, claramente esperando uma resposta.— Porque eu sei que deu certo — ela disse com se