Assim que chegamos à casa de praia dos pais de Bernardo, senti imediatamente o contraste entre o calor do sol e a frieza do ambiente familiar que nos aguardava. Era uma casa luxuosa, com grandes janelas de vidro que permitiam uma vista deslumbrante para o mar. Mas, para mim, aquele lugar parecia mais um campo minado, onde cada passo era dado com extremo cuidado.Bernardo me guiou pela casa, seus dedos entrelaçados aos meus, enquanto seus olhos brilhavam com uma certa nostalgia ao observar o lugar que claramente trazia boas memórias para ele. Mas, no fundo, ele sabia que essa visita seria complicada. Seus pais nunca esconderam o desprezo por mim, e cada vez que estávamos juntos, o ar se tornava mais denso.— Vamos deixar nossas coisas no quarto e descer para o almoço — disse ele, abrindo a porta do quarto que ocuparíamos.Era um quarto espaçoso, com uma varanda privativa de frente para o mar. A decoração era clean e elegante, mas nada naquele ambiente me fazia sentir confortável. A sen
A noite caiu sobre a praia particular da casa dos Orsini, e a festa estava a todo vapor. A areia fina, iluminada pelas luzes âmbar penduradas em cordas ao redor, brilhava sob o céu estrelado. Uma grande fogueira estava acesa no centro, com cadeiras de madeira e sofás de tecido branco espalhados ao redor, criando um ambiente aconchegante para os convidados. O som das ondas ao fundo se misturava à música suave que tocava, enquanto parentes e amigos dos Orsini se reuniam, rindo e conversando em pequenos grupos. Era uma cena de filme, de perfeição orquestrada, mas para mim, tudo parecia estranhamente fora de lugar.Bernardo e eu chegamos juntos, de mãos dadas, mas desde que descemos do quarto para a festa, havia um desconforto crescente entre nós. Aqueles últimos dias tinham sido carregado de pequenas discussões e silêncios desconfortáveis. Cada olhar que trocávamos estava recheado de palavras não ditas. E eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, a tempestade viria.A praia estava repleta d
~BERNARDO~A brisa do mar era agradável, mas não fazia nada para aliviar a frustração que pulsava dentro de mim. A briga com Alice tinha deixado um gosto amargo persistente, que nada conseguia dissipar. Eu podia sentir os olhares dos convidados e da minha própria família, cada um tentando adivinhar o que havia se passado. Era como se cada sussurro ao meu redor aumentasse minha irritação, e o peso das especulações começava a me sufocar. Cada passo que eu dava me fazia sentir ainda mais exposto, e o incômodo crescia, queimando em silêncio.Renato se aproximou, com o desconforto estampado em seu rosto. Ele hesitava, claramente escolhendo com cuidado o que diria, enquanto eu me dirigia ao bar com passos pesados. Seus olhos me acompanhavam, incertos, como se ele soubesse que qualquer coisa dita naquele momento poderia piorar a situação. Sem saber como agir, ele optou pelo caminho mais simples: me seguir em silêncio, talvez esperando que o ambiente do bar facilitasse uma conversa menos carr
Cheguei à casa de Liz no meio da madrugada, depois de ter conseguido convencer um dos pilotos do helicóptero a me trazer de volta para o Rio. Meu corpo estava exausto, mas a mente ainda a mil, revivendo cada palavra da briga com Bernardo. A sensação de sufocamento ainda apertava meu peito, como se eu estivesse presa em um pesadelo sem fim. Liz me recebeu com um olhar preocupado, mas não tentei explicar nada. Não queria conversar. Não naquele momento. Essa era a melhor parte do meu relacionamento com a minha irmã: a gente se entendia no olhar e se respeitava.— Não precisa dizer nada, Alice — ela sussurrou, vendo o estado em que eu estava.Eu balancei a cabeça, agradecida por não ter que colocar em palavras o que estava sentindo. Assim que vi Ian no berço, me olhando com seus grandes olhinhos curiosos, foi como se o mundo ao meu redor se desfizesse. Aquele pequeno ser era tudo o que me restava de estabilidade, e eu precisava dele mais do que nunca. Sem hesitar, peguei-o nos braços, bus
Eu tinha vinte anos e estava lutando para me manter na faculdade de medicina. Cada mês era uma batalha para pagar a mensalidade e manter um teto sobre minha cabeça. Eu sempre soube que seria difícil, mas não imaginava que a pressão seria tão esmagadora.Foi então que Jonas, meu amigo da faculdade, mencionou uma forma de ganhar dinheiro rápido. “Alice, você já pensou em doar seus óvulos? Tem um estudo que paga muito bem por isso. Pode ser a solução que você está procurando”, ele sugeriu casualmente enquanto estudávamos na biblioteca.Eu não conseguia tirar a ideia da cabeça. A cada dia que passava, as contas se acumulavam e eu precisava de uma solução. A decisão não foi fácil, mas finalmente marquei uma consulta na clínica de fertilidade. O dinheiro que receberia pela doação me permitiria pagar as contas atrasadas e garantir alguns meses de tranquilidade financeira.Na manhã da consulta, sentei-me na sala de espera da clínica, segurando uma prancheta com o formulário de doação. Minhas
A noite estava quente e agradável, perfeita para relaxar após um dia exaustivo na residência. Saímos do hospital em grupo: eu, Jonas, minha colega de residência Clarice, e dois outros colegas, Ricardo e Paulo. Estávamos rindo e conversando, aliviados por termos sobrevivido a mais um dia caótico.— Acho que merecemos um brinde — disse Clarice, levantando sua garrafa de cerveja. — À nossa sanidade!— À nossa sanidade! — repetimos em coro, rindo.Eu estava cansada, mas a companhia dos meus amigos fazia todo o esforço valer a pena. Jonas, meu namorado, estava ao meu lado, seu braço envolvendo meus ombros. Ele era extremamente inteligente e ambicioso, mas seu ciúme constante era algo que eu preferia ignorar. Nos conhecemos na faculdade, e depois de alguns anos como amigos, acabamos evoluindo a relação.— Preciso ir para casa — disse, sentindo o cansaço se apoderar de mim. — Amanhã será outro dia difícil.Jonas me olhou com preocupação.— Eu te levo. Não quero que vá sozinha a essa hora.—
Acordei com a determinação de enfrentar Bernardo Orsini e descobrir a verdade sobre Ian. Após uma noite mal dormida, meus pensamentos estavam a mil, mas a necessidade de respostas era mais forte do que o cansaço. Pedi que minha irmã cuidasse do bebê, mesmo sem dar muitas explicações, e sai de casa bem cedinho. Eu sabia que seria difícil conseguir falar com um bilionário famoso e CEO de uma das maiores empresas de tecnologia do país, mas não tinha escolha.Cheguei ao imponente prédio da Orsini Tech, uma estrutura de vidro e aço que se erguia majestosa no centro da cidade. Do lado de fora, o movimento era constante, com pessoas entrando e saindo, todas com expressões sérias e focadas. Respirei fundo e entrei, meu coração batendo acelerado.O saguão era impressionante, com paredes de vidro que permitiam a entrada de luz natural, plantas exuberantes e uma fonte moderna no centro. A recepção era minimalista, com balcões de atendimento futuristas e robôs bonitos e ágeis circulando, entregan
Acordei com o som suave de risadas e gorgolejos vindo do berço improvisado ao lado da minha cama. Ian, o pequeno enigma que havia virado minha vida de cabeça para baixo, estava acordado e pronto para enfrentar o dia. Sentei-me na cama, sentindo o cansaço das últimas noites mal dormidas, mas também uma onda de carinho ao ver seu rosto sorridente.— Bom dia, pequeno — murmurei, pegando-o nos braços. Seus olhinhos curiosos me observaram enquanto eu o balançava levemente.Jonas ainda estava dormindo no sofá da sala, exausto depois de tanto reclamar que Ian não parava de chorar e que não conseguia ficar no quarto com a gente. Tivemos uma breve briga na qual o mandei para casa, mas o sofá acabou sendo um bom meio termo. Levantei-me com cuidado para não o acordar e levei Ian para a cozinha. Precisávamos de um café da manhã reforçado.Coloquei Ian no cercadinho que havia improvisado com almofadas no chão e comecei a preparar algo para nós. Ian me observava com seus olhos grandes, balbuciando