O apartamento de Liz sempre tinha aquele toque aconchegante que me fazia sentir em casa. A luz suave que entrava pelas cortinas, o cheiro familiar de café recém passado e o tapete fofo na sala, onde Ian agora brincava, davam ao lugar uma sensação de conforto que eu desejava poder levar comigo. Coloquei Ian no chão, e ele começou a balbuciar alegremente enquanto pegava os blocos de madeira que Liz mantinha ali especialmente para ele.— Tem certeza de que quer deixar o Ian aqui o fim de semana? — Liz perguntou, segurando uma taça de vinho e me estendendo outra.Suspirei, observando Ian com um sorriso suave. Era difícil, sempre era, mas eu sabia que não tinha escolha.— Tenho, Liz. Você sabe que odeio me separar dele, mas... para aquele ninho de cobras? — Balançava a cabeça em desgosto, ainda me incomodando com a ideia de passar um fim de semana na casa dos pais de Bernardo. — Quero mantê-lo bem longe daquela gente, especialmente com Valentina lá. Vamos hoje e voltamos amanhã. À noite já
Bernardo chegou à casa de Liz com aquele sorriso descontraído que eu tanto gostava de ver em seus lábios, mas havia algo em seus olhos que denunciava um cansaço mais profundo. Ele entrou, cumprimentando Liz rapidamente, e logo pegou minha mala. Ian ainda estava brincando no chão da sala, alheio ao fato de que eu estava prestes a deixá-lo para trás.— Você está mesmo bem com isso de deixar Ian aqui? — Bernardo perguntou, enquanto eu dava um beijo de despedida na testa de nosso filho.— Sim, vai ser difícil ficar longe dele, mas é o melhor a fazer — murmurei, tentando esconder o aperto no peito. — Eu não gosto da ideia de deixá-lo, mas levar Ian para um lugar como aquele... — Suspirei, pegando minha bolsa e endireitando os ombros. — Sei que são seus pais, mas...— Mas você tem carta branca para reclamar... — Bernardo ri, me fazendo rir de volta.Liz, que estava observando em silêncio, se aproximou de mim com uma expressão preocupada. Ela sempre foi mais intuitiva, sabia quando eu estava
Assim que chegamos à casa de praia dos pais de Bernardo, senti imediatamente o contraste entre o calor do sol e a frieza do ambiente familiar que nos aguardava. Era uma casa luxuosa, com grandes janelas de vidro que permitiam uma vista deslumbrante para o mar. Mas, para mim, aquele lugar parecia mais um campo minado, onde cada passo era dado com extremo cuidado.Bernardo me guiou pela casa, seus dedos entrelaçados aos meus, enquanto seus olhos brilhavam com uma certa nostalgia ao observar o lugar que claramente trazia boas memórias para ele. Mas, no fundo, ele sabia que essa visita seria complicada. Seus pais nunca esconderam o desprezo por mim, e cada vez que estávamos juntos, o ar se tornava mais denso.— Vamos deixar nossas coisas no quarto e descer para o almoço — disse ele, abrindo a porta do quarto que ocuparíamos.Era um quarto espaçoso, com uma varanda privativa de frente para o mar. A decoração era clean e elegante, mas nada naquele ambiente me fazia sentir confortável. A sen
A noite caiu sobre a praia particular da casa dos Orsini, e a festa estava a todo vapor. A areia fina, iluminada pelas luzes âmbar penduradas em cordas ao redor, brilhava sob o céu estrelado. Uma grande fogueira estava acesa no centro, com cadeiras de madeira e sofás de tecido branco espalhados ao redor, criando um ambiente aconchegante para os convidados. O som das ondas ao fundo se misturava à música suave que tocava, enquanto parentes e amigos dos Orsini se reuniam, rindo e conversando em pequenos grupos. Era uma cena de filme, de perfeição orquestrada, mas para mim, tudo parecia estranhamente fora de lugar.Bernardo e eu chegamos juntos, de mãos dadas, mas desde que descemos do quarto para a festa, havia um desconforto crescente entre nós. Aqueles últimos dias tinham sido carregado de pequenas discussões e silêncios desconfortáveis. Cada olhar que trocávamos estava recheado de palavras não ditas. E eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, a tempestade viria.A praia estava repleta d
~BERNARDO~A brisa do mar era agradável, mas não fazia nada para aliviar a frustração que pulsava dentro de mim. A briga com Alice tinha deixado um gosto amargo persistente, que nada conseguia dissipar. Eu podia sentir os olhares dos convidados e da minha própria família, cada um tentando adivinhar o que havia se passado. Era como se cada sussurro ao meu redor aumentasse minha irritação, e o peso das especulações começava a me sufocar. Cada passo que eu dava me fazia sentir ainda mais exposto, e o incômodo crescia, queimando em silêncio.Renato se aproximou, com o desconforto estampado em seu rosto. Ele hesitava, claramente escolhendo com cuidado o que diria, enquanto eu me dirigia ao bar com passos pesados. Seus olhos me acompanhavam, incertos, como se ele soubesse que qualquer coisa dita naquele momento poderia piorar a situação. Sem saber como agir, ele optou pelo caminho mais simples: me seguir em silêncio, talvez esperando que o ambiente do bar facilitasse uma conversa menos carr
Cheguei à casa de Liz no meio da madrugada, depois de ter conseguido convencer um dos pilotos do helicóptero a me trazer de volta para o Rio. Meu corpo estava exausto, mas a mente ainda a mil, revivendo cada palavra da briga com Bernardo. A sensação de sufocamento ainda apertava meu peito, como se eu estivesse presa em um pesadelo sem fim. Liz me recebeu com um olhar preocupado, mas não tentei explicar nada. Não queria conversar. Não naquele momento. Essa era a melhor parte do meu relacionamento com a minha irmã: a gente se entendia no olhar e se respeitava.— Não precisa dizer nada, Alice — ela sussurrou, vendo o estado em que eu estava.Eu balancei a cabeça, agradecida por não ter que colocar em palavras o que estava sentindo. Assim que vi Ian no berço, me olhando com seus grandes olhinhos curiosos, foi como se o mundo ao meu redor se desfizesse. Aquele pequeno ser era tudo o que me restava de estabilidade, e eu precisava dele mais do que nunca. Sem hesitar, peguei-o nos braços, bus
~ BERNARDO ~A vida, ultimamente, parecia ter dado uma volta completa e me jogado de volta em um padrão que eu jurava ter deixado para trás. Era como se eu tivesse voltado alguns anos no tempo, revivendo as mesmas noites intermináveis de jantares luxuosos, festas extravagantes e eventos sociais. A diferença agora? Eu tinha Valentina ao meu lado na maioria desses momentos. Para quem olhava de fora, nada parecia mais justo ou natural. Ela sempre fora uma presença constante em minha vida antes de Alice e Ian, e agora, as pessoas simplesmente presumiam que as coisas tinham voltado ao normal.Eu não me surpreendia com o julgamento deles. Valentina sempre fora uma mulher de presença forte, o tipo de pessoa que as pessoas observam e assumem que está no controle. E, de fato, ela sempre estava. Independente dos métodos que tivesse que usar para isso.Depois de uma longa conversa com meu pai, ficamos claros sobre o que deveria ser feito. Não havia como tirar Valentina do cargo de CEO da Orsini
Liz e eu estávamos sentadas na confeitaria mais charmosa da cidade, rodeadas por bandejas de bolos delicados e docinhos que pareciam pequenas obras de arte. As vitrines brilhavam sob a luz suave, destacando cada detalhe das criações cuidadosamente decoradas. O aroma doce de chocolate e baunilha preenchia o ar, tornando impossível não se sentir envolvida pela atmosfera acolhedora. As paredes, pintadas em tons pastéis e decoradas com quadros delicados, completavam a sensação de tranquilidade e elegância do lugar. Eu observava a mesa à nossa frente, repleta de opções que pareciam até bonitas demais para comer, e me sentia um pouco perdida com tantas escolhas. Mas Liz, com seu jeito prático e decidido, já fazia uma lista mental de tudo o que deveríamos provar, como se estivesse pronta para uma missão importante. Ela sorria animada, enquanto eu tentava me concentrar, pensando em como cada uma daquelas delícias seria perfeita para o aniversário de Ian.— Esse aqui parece incrível — Liz diss