~BERNARDO~Alice estava tomando banho no chuveiro do hotel enquanto eu estava sentado em um sofá no banheiro, repassava o áudio da conversa dela gravada com Charles. O som da voz dele se misturava ao barulho da água caindo, mas, na verdade, era difícil me concentrar no que realmente importava. A imagem de Alice esfregando o corpo, quase como se estivesse tentando apagar o toque daquele homem, dominava meus pensamentos. Era impossível não notar o desconforto evidente dela, e isso me deixava ainda mais irritado.Ela estava ali, tomando um banho mais longo que o normal, esfregando a pele com uma força que parecia desnecessária, mas eu sabia o motivo. A situação com Charles havia passado dos limites, e vê-la se esforçando para manter a compostura durante a conversa foi doloroso. Agora, ali no chuveiro, ela parecia querer livrar-se de cada vestígio daquele momento, e só de pensar nisso, o sangue me fervia.Aumentei o volume do áudio, tentando me concentrar. Charles havia sido seduzido por
Bernardo tinha se mostrado irredutível em relação ao encontro com Charles, e, depois de refletir, decidi ceder e encerrar de vez aquela ideia. Parte de mim se sentia aliviada. Nunca fui o tipo de mulher que usava a sedução como uma ferramenta, diferente de Valentina, que parecia dominar essa arte com maestria. Só os toques sutis de Charles em meu corpo já haviam me causado um desconforto horrível. Não queria nem imaginar como teria sido se eu me encontrasse com ele em um quarto de hotel. A simples ideia me deixava nauseada. Mas, por outro lado, a frustração era inevitável. Não tínhamos conseguido provas concretas contra Valentina, e a sensação de estar deixando algo importante escapar me corroía.Bernardo disse que o advogado achou as informações que obtivemos de Charles úteis para compor um processo maior. Porém, sozinhas, não eram o suficiente para garantir nada. Cada vez mais, meus pensamentos voltavam ao sequestro de Ian e à necessidade de ver Valentina pagar por isso. A polícia p
Depois de uma noite inesquecível na London Eye, acordei com a mente ainda presa aos momentos que compartilhamos. A luz suave da manhã atravessava as cortinas, criando um contraste delicado com o calor dos instantes íntimos que me envolviam. Bernardo estava ao meu lado, deitado tranquilamente, o corpo relaxado em um sono profundo. Seus traços endurecidos pelo cotidiano de CEO agora pareciam mais suaves, quase vulneráveis, e por um instante, permiti-me admirar aquela cena. No entanto, mesmo envolta nesse momento de tranquilidade, a inquietação já começava a se instalar em meu peito.Nosso último dia em Londres se aproximava, e a realidade do retorno ao Brasil era como uma sombra que se aproximava, lenta, mas implacável. Tentei afastar os pensamentos que me traziam à tona as incertezas que ainda pairavam sobre nós, principalmente quando o nome de Valentina surgia em minha mente, como uma ameaça constante. Mesmo com todas as tentativas de Bernardo de me tranquilizar, a verdade era que ela
~BERNARDO~O som ambiente do aeroporto de Heathrow era uma sinfonia caótica de diferentes idiomas anunciados pelos alto-falantes, o barulho constante das rodinhas de malas deslizando pelo piso liso, e o murmúrio abafado de conversas apressadas misturadas a risadas ocasionais. A atmosfera era um turbilhão de partidas e chegadas, mas nós caminhávamos de maneira quase serena, em contraste com a pressa ao nosso redor. Atravessávamos o terminal lentamente, como se quiséssemos prolongar o momento, absorvendo o último resquício de Londres. Não era uma surpresa para mim o fato de que Alice havia se apaixonado pela cidade. Cada vez que olhava para ela, via como seus olhos capturavam com fascínio os detalhes ao redor.Enquanto andávamos, segurei sua mão com firmeza, o toque suave de seus dedos entrelaçados aos meus transmitindo uma calma à qual eu não estava habituado. Havia algo reconfortante e ao mesmo tempo perturbador nessa intimidade silenciosa. Nunca fui o tipo de homem que se deixava aca
O ambiente frio e impessoal da delegacia era opressor. As luzes brancas refletiam o brilho áspero nas paredes de concreto, sem uma única janela por onde pudesse escapar, nem que fosse por um instante, daquela atmosfera sufocante. Eu estava sentada em uma cadeira de metal, com as mãos trêmulas apoiadas no colo. Mesmo com os ombros tensos, o cansaço físico me invadia, mas a adrenalina era maior. Cada fibra do meu corpo estava alerta, revivendo as últimas horas como um filme que passava rápido demais para que eu pudesse entender.Lembranças de Bernardo no aeroporto ainda me assombravam, sua voz tentando me alcançar enquanto os policiais me levavam à força. Eu sentia o pânico me dominar a cada vez que olhava para ele, mas as palavras dele ainda ecoavam na minha mente: “Não diga nada sem os advogados presentes.”Agora, aqui estava eu, na sala de interrogatório, esperando o inevitável confronto. As paredes pareciam se fechar sobre mim enquanto dois policiais entravam, e a porta se fechava a
Depois de passar pelo interrogatório, fui levada até uma cela que nada mais era do que um cubículo apertado, sem janelas, mergulhado em um cheiro úmido e azedo, como se o mofo fosse parte inseparável das paredes de concreto. O chão de cimento era frio e irregular, e o banco duro de metal, fixo na lateral, parecia mais uma tábua de tortura do que um lugar onde alguém pudesse repousar. O ar ali dentro era denso, sufocante, impregnado com o odor acre de suor velho e desespero, como se as emoções dos prisioneiros anteriores tivessem sido absorvidas pela própria estrutura. Cada respiração trazia uma nova onda de desconforto.Meus pulsos latejavam. A dor, que nunca era completamente ausente, pulsava de forma constante, aguda, como se as articulações estivessem sendo apertadas por dentro. Meus remédios estavam na minha bolsa, mas ali, naquele buraco, era como se eu estivesse isolada de qualquer ajuda. Por várias vezes, tentei chamar os policiais, implorar pelos medicamentos que poderiam aliv
~BERNARDO~Eu nunca me senti tão impotente na vida quanto naquela noite. Mesmo quando Ian fora sequestrado, eu ainda tinha algo a fazer, um plano a considerar. Agora, eu só podia observar Alice sendo levada de mim. Segui o carro de polícia com Alice dentro desde o aeroporto, tentando me manter calmo, mesmo quando o desespero crescia a cada quilômetro que percorríamos. Tudo dentro de mim gritava que aquilo era um erro, uma injustiça, e eu faria qualquer coisa para tirá-la daquela situação. Mas, assim que chegamos à delegacia, fui impedido de vê-la. Tentei de todas as formas: falei com os oficiais, implorei, até tentei usar minha influência. A resposta, no entanto, foi sempre a mesma: não.A frustração se acumulava em meu peito, me deixando cego de raiva. Mas não adiantava bater de frente com eles. Cada tentativa mal sucedida só me fazia perceber que eu estaria sendo mais útil de outra maneira. Forçar a barra com os policiais não ajudaria Alice. O que ela precisava naquele momento era d
O tribunal estava frio, não pelo ar-condicionado ou por uma brisa externa, mas pelo peso do ambiente em si. A sala era uma espécie de cápsula de silêncio e tensão. Cada detalhe parecia amplificado: o som de páginas sendo viradas, os sussurros ocasionais dos advogados, o leve estalar de uma cadeira. Eu estava sentada entre meus defensores, mas, ainda assim, me sentia incrivelmente só, desejando que Bernardo pudesse estar ali ao meu lado. O juiz, com o semblante austero e inabalável, ocupava sua posição elevada, observando tudo com um olhar analítico. Era como se estivesse decidindo o meu destino com uma única análise.Minhas mãos estavam suadas e trêmulas. O cansaço acumulado da noite anterior ainda pesava sobre mim, mas o que me mantinha acordada era a pura adrenalina, misturada com o pavor do desconhecido. Meu advogado se levantou, ajeitou seu terno e se dirigiu ao juiz com uma confiança que me trouxe um pequeno conforto momentâneo.— Meritíssimo, estamos aqui hoje para provar que mi