A primeira coisa que Amara fez depois de voltar para casa foi tirar uma soneca para recuperar o sono perdido. Depois que acordou, ela foi ao supermercado, comprando ingredientes e acompanhamentos, incluindo cerveja, para preparar um ensopado picante. Com sua primeira missão vencida, ela estava pronta para comemorar com um ensopado em casa!
Comer ensopado sozinha era, sem dúvida, uma das experiências mais solitárias que alguém poderia enfrentar… Mas pelo menos ela já estava acostumada a essa solidão, depois de tantos momentos de isolamento.
Foi quando uma batida na porta a fez interromper seus pensamentos. Quem seria a essa hora?
Amara ficou atordoada, e ao abrir a porta, seus olhos se arregalaram ao ver quem estava ali.
Pitter estava parado à porta, vestindo um elegante terno ocidental e um casaco escuro. Em seus braços, ele carregava o pequeno Théo, enquanto o garoto segurava uma cesta de frutas coloridas.
Isso… Que tipo de combinação estranha era aquela?
“Sr. Pitter?” Amara engoliu em seco, surpresa, “Por que essa visita repentina a essa hora? Há algo de errado?”
Pitter, com sua postura imperturbável, deixou escapar duas palavras com um tom sério: “Visita médica.”
Visita de doente? Ele veio pessoalmente à sua casa, tão tarde da noite, trazendo até o pequeno filho?
“Er, você está sendo muito educado, Sr. Pitter. Desculpe pela bagunça, por favor, entre.” Amara não teve tempo de reagir. Sem saber o que fazer, ela rapidamente os convidou para dentro, lisonjeada, mas atordoada. Com pressa, começou a arrumar o quarto, jogando as roupas espalhadas debaixo da cama e limpando o lixo do sofá.
“Sente-se onde quiser, quer beber algo? Chá verde ou leite?” Enquanto se mantinha ocupada, Amara tentava adivinhar o motivo da visita de Pitter. Infelizmente, não conseguia entender nada, já que os pensamentos dele eram profundos e misteriosos.
“Claro.” Pitter respondeu com a frieza de um comandante respondendo a um soldado, sem demonstrar emoções.
Amara permaneceu confusa enquanto preparava o chá para Pitter e servia um copo de leite para Théo. O pequeno menino estava apertado e desajeitado no sofá, parecendo tão impassível quanto o próprio Pitter. Ambos, pai e filho, não só eram parecidos, mas suas expressões também pareciam gêmeas: inexpressivas e silenciosas.
A cena tornou-se desconfortável.
Amara se sentou, quase à beira das lágrimas, sem saber o que fazer com dois homens tão enigmáticos. O que exatamente estavam fazendo ali?
Nesse momento, a panela borbulhou, e o aroma picante e sedutor do ensopado começou a se espalhar pela sala. Para tentar quebrar o silêncio constrangedor, Amara fez uma pergunta casual: “Então, já jantaram? Eu estava prestes a comer um hot pot. Gostariam de se juntar a mim?”
Pitter: “Sim.”
Théo sorriu, e com a cabeça confirmou, igualmente silencioso.
Amara ficou um pouco surpresa. Ela estava apenas perguntando por educação, mas eles não hesitaram em aceitar? Como dois homens tão importantes — um CEO e um pequeno jovem mestre — poderiam estar dispostos a comer uma comida simples, feita por uma pessoa como ela?
Sentindo-se envergonhada pelas ofertas modestas, Amara engoliu em seco e convidou-os para a mesa, colocando mais dois pares de hashis.
“A base da sopa que preparei é bem picante, vocês conseguem comer comida apimentada?” Amara perguntou, um pouco preocupada.
Pitter: “Sim.”
Théo assentiu.
“Ok, então...” Amara sentiu-se aliviada e foi até a mesa com os ingredientes recém-lavados.
Pitter comeu pouco, preferindo se concentrar em cozinhar para eles, enquanto Théo, por outro lado, adorava comida apimentada, igual a ela. Ele continuava comendo, apesar de colocar a língua para fora devido ao tempero.
Amara, preocupada, questionou: “Será que faz mal para crianças comerem comida tão apimentada?”
“Não tão delicado.” Pitter respondeu, com a mesma tranquilidade de sempre.
Com isso, Amara não insistiu mais.
O silêncio entre eles continuou até que, finalmente, Pitter quebrou o gelo. “Como foi a audição?”
Amara congelou por um momento antes de reagir. Ela respondeu: “Foi bem tranquila. Por isso, fiz um ensopado para comemorar hoje!”
Pitter levantou sua xícara, com um leve sorriso. “Parabéns.”
Amara, surpresa, nunca imaginou que Pitter seria a primeira pessoa a parabenizá-la. A simples atitude dele, ainda que reservada, parecia imensamente significativa.
Amara levantou seu copo de cerveja e brindou, mostrando um sorriso que vinha das profundezas de seu coração.
"Obrigada!"O sorriso que iluminou seu rosto fez Pitter estremecer ligeiramente, embora ele mantivesse sua postura composta.
Amara então se voltou para Théo, que estava sentado ao seu lado, com os olhos brilhando de curiosidade.
"Sou especialmente grata a você, Théo. Eu não teria conseguido chegar à audição a tempo se não fosse por sua ajuda! Aqui, querido, este brinde é para você!"Théo olhou para sua xícara de leite, depois para a cerveja de Amara e a de Pitter. Embora relutante, ele ergueu sua xícara com toda a seriedade e brindou com Amara, antes de virar o leite em um gole só.
Amara soltou uma risada ao observar o gesto maduro. Era como se ele já soubesse como lidar com desgostos, bebendo como um adulto.
Enquanto eles terminavam a refeição, Pitter foi atender uma ligação na varanda. Aproveitando a oportunidade, Amara se inclinou para perto de Théo, com um brilho travesso nos olhos.
"Ei, posso experimentar? Mas só um gole pequeno, por favor? Rápido, antes que seu pai volte!"Os olhos de Théo brilharam como estrelas. Ele levantou a cabeça e entregou um pequeno gole a ela. O sabor a fez sorrir e o deixou extremamente satisfeito pelo gesto de bondade.
Assim que Pitter voltou para a sala, Amara já estava em seu lugar, fingindo que nada havia acontecido. Théo, por sua vez, manteve-se impecável, bebendo seu leite com uma calma exemplar.
Pitter pareceu não notar nada, embora houvesse um leve brilho de calor em seus olhos quando voltou a sentar.
A refeição seguiu animada, e eles conseguiram terminar todos os ingredientes que Amara havia comprado, apesar da quantidade generosa. Enquanto Amara pensava que era hora de seus visitantes irem embora, um relâmpago cruzou o céu, seguido por um trovão estrondoso. Logo, ventos fortes começaram a soprar, e a chuva caía torrencialmente.
"Eu vi na previsão do tempo que haveria uma tempestade forte hoje à noite..." Amara comentou, olhando pela janela com preocupação.
Ela então sentiu o olhar de Théo e Pitter sobre si. A dupla parecia estar esperando que ela dissesse algo. Amara hesitou, mas acabou oferecendo:
"Está tarde, e com esse clima, voltar com Théo seria perigoso. Talvez vocês possam... passar a noite aqui?"Ela ofereceu apenas por cortesia, acreditando que Pitter recusaria. Mas, para sua surpresa...
"Ok."
Théo animou-se com o convite, seu sorrido era entusiasmo puro.
O QUÊ? Por que eles concordaram tão rápido? Amara sentiu como se estivesse sendo manipulada. Era quase como se eles tivessem planejado tudo e estivessem esperando pelo convite.
Resignada, Amara suspirou.
"Bem, então... vamos organizar os lugares para dormir. Tenho apenas um quarto e a sala. Acho que posso dormir na sala, e você e Théo podem usar o quarto. Vou trocar os lençóis...""Não, eu durmo na sala. Você e Théo ficam no quarto." A voz firme de Pitter cortou qualquer possibilidade de discussão.
Amara mordeu o lábio, sentindo-se cada vez mais encurralada. Não era como se ela pudesse expulsar o CEO e seu filho sob aquele temporal. Ainda assim, era difícil processar como sua noite tranquila havia se transformado nisso.
Se fosse apenas Pitter, ela jamais teria feito o convite. Especialmente depois do que ele havia dito dias atrás. Mas com Théo presente, não havia como deixá-los ir embora. Certamente não era uma situação romântica... certo?
Suspirando, ela abriu o guarda-roupa para procurar roupas limpas que eles pudessem usar. Depois de muita busca, finalmente encontrou algo que pudesse servir.
"Bem, aqui estão algumas roupas. Não é nada de mais, mas espero que fiquem confortáveis."Enquanto Amara entregava as peças, ela se perguntou como sua vida havia se transformado em algo tão improvável. Entre o CEO de uma grande empresa dormindo em seu sofá e o pequeno Théo, com quem ela agora tinha uma conexão inesperada, a noite prometia ser longa.
Amara encontrou no fundo do armário um pijama infantil em forma de Pikachu, algo que ela havia comprado durante um antigo trabalho de meio período. Pensou que serviria bem para Théo. Quanto a Pitter, a solução foi mais simples: o irmão mais novo dela, Pietro, tinha deixado algumas peças de roupa durante uma visita.Enquanto procurava por roupas, Amara se lembrou brevemente de seus pais adotivos e do irmão mais novo, Lorenzo Anbrósio. Desde que havia se reconciliado com seus pais biológicos, o contato com a família adotiva havia diminuído. Era uma memória dolorosa, mas rapidamente ela a deixou de lado.Com as roupas encontradas, Amara voltou ao quarto e pegou um conjunto novo de lençóis e fronhas. O sofá da sala não era grande o suficiente para Pitter se deitar confortavelmente, então ela improvisou, usando um banquinho para estender o espaço.Théo, por sua vez, era independente para a idade. Depois de se lavar e vestir o pijama de Pikachu, foi direto para a cama. Ele parecia um coelhi
Amara sentou-se obedientemente na cadeira, como uma aluna envergonhada do ensino fundamental. Seu rosto transparecia um misto de desespero e resignação.Pitter a observava, apoiando a cabeça com uma das mãos. Na penumbra da noite, ele parecia ainda mais enigmático e perigoso do que seu habitual comportamento austero durante o dia.— Você está com medo de mim? — perguntou ele, sem rodeios.Amara balançou a cabeça vigorosamente, depois assentiu de forma cuidadosa.— Provavelmente ninguém na cidade deixaria de ter medo de você, certo?Pitter sorriu de leve, mas seus dedos continuaram brincando com a xícara entre suas mãos. Com a mesma serenidade de antes, ele disparou outra pergunta:— Então você tem medo de mim porque os outros têm? Nesse caso, por que não se casa comigo, já que tantas outras mulheres querem?A pergunta fez Amara quase escorregar da cadeira. Ela achava que já havia escapado daquele tipo de conversa anteriormente, mas claramente tinha subestimado a determinação dele.— C
Pillar estava furiosa no escritório:— Amara conseguiu o papel de protagonista feminina coadjuvante!— Protagonista feminina coadjuvante? — Melissa franziu a testa. — Ela não estava apenas interpretando um papel irrelevante em algum filme desconhecido? Como é que teve tempo para fazer o teste para a protagonista feminina coadjuvante?— Também achei estranho. Descobri algumas coisas sobre a audição de ontem — respondeu Pillar, pensativa. — Os jurados estavam prestes a sair quando viram Amara por acaso. Decidiram ali mesmo que ela era perfeita para o papel. Parece que sua intuição estava certa: essa garota é perigosa. As audições já tinham terminado, e ainda assim ela conseguiu influenciar os jurados. Quem sabe o que ela fez para convencê-los?Pillar hesitou antes de continuar. Sabia que a aparência de Amara era uma arma poderosa. Não seria surpresa se algum dos jurados tivesse se encantado com ela.Inicialmente, Pillar planejava moldar Amara cuidadosamente quando a contratou. Mas, entã
Amara hesitou enquanto encarava o número salvo em seu telefone. Por mais que tivesse tentado evitar o momento, finalmente decidiu discar.Desde o incidente de cinco anos atrás, a ideia de interagir com crianças fazia com que memórias dolorosas emergissem. Era impossível esquecer o que havia perdido... a criança que carregava suas maiores esperanças e que agora representava seu passado mais sombrio.Porém, havia algo diferente em Théo. Ele não trazia consigo o desconforto ou as lembranças ruins. Ao contrário, a presença dele parecia aquecer sua alma. Era como se houvesse algo inexplicavelmente reconfortante nele.— Alô? — A voz do outro lado era um silêncio tímido.Amara sorriu, compreendendo imediatamente. — Théo? É você, não é? Desculpe a demora para ligar. A tia acabou de terminar o trabalho e lembrou de você!Sem resposta, ela continuou, conversando com suavidade:— Você já comeu? Espero que esteja se alimentando bem. Está muito magrinho, sabia? Crianças precisam comer para crescer
Théo amava o silêncio. Normalmente, depois de jantar, ele se retirava para seu quarto, isolando-se do restante da casa. Todos os funcionários precisavam finalizar suas tarefas e ir para seus próprios aposentos em silêncio absoluto. Qualquer som que perturbasse o ambiente o deixava irritado, ou pior, fora de controle.Certa vez, Madame Kléo enviou alguns lanches ao quarto dele, preocupada com a possibilidade de que não estivesse comendo o suficiente. Mas Théo, em resposta, simplesmente se trancou no sótão. Era um espaço onde ninguém ousava incomodá-lo.Apesar de todo o amor e preocupação de Pitter e Pietro, ninguém na casa se atrevia a forçar interações desnecessárias com Théo. Contudo, naquela noite, o inesperado aconteceu. O garoto, que sempre evitava companhia, tomou a iniciativa de sair do quarto. Mais surpreendente ainda: correu diretamente até Pitter, agarrando-se à perna do pai com determinação.Pietro não pôde conter o riso."Théo, o que está fazendo? Tentando me comprar com su
Amara estava vestida com calças de couro preto que destacavam suas curvas, uma escolha prática para pilotar sua moto. Quando chegou ao destino, arrancou o capacete e as luvas, revelando cabelos longos que caíam como uma cascata sobre os ombros. Sua aparência desenfreada e imponente parecia saída de um quadro.Pietro quase soltou um assobio ao vê-la entrar, mas conteve-se para evitar problemas.No entanto, a tensão reinava na sala. Pitter estava parado, firme e inabalável, enquanto segurava Théo, que lutava como uma fera enfurecida, seus pequenos braços agitavam-se desesperadamente, tentando escapar do aperto firme.“Pitter, você não pode fazer isso com ele!” Amara entrou rapidamente na sala e, em um movimento ágil, tirou o pequeno Théo dos braços do pai. O garotinho ficou atordoado por um segundo, mas assim que reconheceu Amara, seus olhos se encheram de lágrimas. Ele abraçou-a com força, como se ela fosse seu porto seguro, escondendo o rosto em seu ombro.Amara sentiu o coração apert
"Sim."Amara coçou a cabeça, sentindo-se estranha. “Isso... não é um pouco inapropriado? Posso vir a qualquer hora se Théo quiser me ver!”Pitter massageou a testa com cansaço. “Há muitos fatores desconhecidos, especialmente à noite. Seria perigoso se tivéssemos uma situação de emergência e você viesse aqui em alta velocidade na sua moto novamente. Com minha identidade, não é conveniente trazer Théo para visitar você com frequência. Sei que esse pedido pode parecer um incômodo, mas, como pai de Théo, estou sinceramente pedindo. Espero que possa considerar.”Amara sentiu uma dor de cabeça chegando.Ela teria recusado imediatamente se Pitter estivesse usando sua autoridade para forçá-la. Mas ele estava sendo honesto, quase implorando, e era difícil dizer não diante daquele rosto tão extraordinariamente bonito.Pietro, que assistia de canto, olhava para seu irmão com admiração.Incrível! Não esperava que Pitter usasse uma técnica tão refinada. Ele transformou uma desvantagem em uma oport
No canto da sala de estar, o velho mordomo observava atentamente a interação entre Amara e Théo. Ele notou que, durante toda a manhã, Amara não fez qualquer esforço para se aproximar deliberadamente de Théo. Em vez disso, manteve-se concentrada em seus roteiros, enquanto o garoto seguia sua rotina habitual, lendo livros ou desenhando.Apesar da aparente normalidade, o mordomo percebeu um detalhe: ocasionalmente, Théo lançava olhares discretos na direção de Amara. Havia uma expressão de serenidade e animação em seu rosto, algo raro de se ver.Embora essas interações trouxessem certa tranquilidade, o mordomo não conseguia afastar suas preocupações. Desde que soubera da confiança que Pitter depositava em Amara e da aparente aprovação de Pietro, o irmão de Pitter, ele mantinha sua guarda alta. Lembrava-se bem de como, há dois anos, um incidente terrível quase levou o pequeno Théo ao extremo. Desde então, tornou-se extremamente cauteloso com qualquer pessoa que tentasse se aproximar do men