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Capítulo 8: Quer dormir comigo e fugir da responsabilidade?

Amara sentou-se obedientemente na cadeira, como uma aluna envergonhada do ensino fundamental. Seu rosto transparecia um misto de desespero e resignação.

Pitter a observava, apoiando a cabeça com uma das mãos. Na penumbra da noite, ele parecia ainda mais enigmático e perigoso do que seu habitual comportamento austero durante o dia.

— Você está com medo de mim? — perguntou ele, sem rodeios.

Amara balançou a cabeça vigorosamente, depois assentiu de forma cuidadosa.

— Provavelmente ninguém na cidade deixaria de ter medo de você, certo?

Pitter sorriu de leve, mas seus dedos continuaram brincando com a xícara entre suas mãos. Com a mesma serenidade de antes, ele disparou outra pergunta:

— Então você tem medo de mim porque os outros têm? Nesse caso, por que não se casa comigo, já que tantas outras mulheres querem?

A pergunta fez Amara quase escorregar da cadeira. Ela achava que já havia escapado daquele tipo de conversa anteriormente, mas claramente tinha subestimado a determinação dele.

— Como... como posso responder isso? — gaguejou, com a voz entrecortada.

— Antes de responder, você pode fazer outra pergunta — disse Pitter, permitindo-a continuar.

Amara respirou fundo, tentando organizar as ideias.

— Por que eu? É por causa do Théo? Ele depende de mim agora, mas acredito que seja algo temporário. Quando as emoções dele se estabilizarem, ele ficará bem. Não acho que você precise... tomar uma decisão tão extrema por isso... — A tentativa de persuadi-lo parecia mais uma súplica para alguém prestes a tomar um caminho sem volta.

Pitter colocou a xícara sobre a mesa e a encarou, os olhos fixos como se fossem capazes de decifrá-la por inteiro.

— Achei que já tivesse deixado isso claro da primeira vez, Amara. Mas, se não entendeu, eu explico de novo: quero retribuir o que você fez pelo Théo com o meu próprio corpo.

Por um instante, Amara congelou. Seu coração parecia querer saltar do peito. Ela reuniu forças para protestar:

— É exatamente por isso que eu não posso aceitar!

Ao perceber que a conversa não progrediria de forma lógica, ela tentou desviar:

— Senhor Pitter, sou grata por sua gentileza, mas sou totalmente contra o casamento. Então...

Antes que pudesse concluir, Pitter arqueou uma sobrancelha e a interrompeu:

— Então você só quer dormir comigo? E depois fugir da responsabilidade de se casar?

Amara arregalou os olhos.

— Sim, é exatamente isso... Espere! Não! Não foi isso que eu quis dizer! — protestou, quase se levantando de tão atordoada.

Pitter continuou com o mesmo tom calmo, mas com um sorriso de canto nos lábios:

— Infelizmente, não aceito sexo antes do casamento.

— Quem acreditaria nisso? — Amara murmurou para si mesma, sem perceber que ele a ouvira.

Ele desviou o olhar, observando a noite escura pela janela. Sua expressão assumiu um ar distante.

— O Théo foi um acidente. Nem sei quem é a mãe dele.

A revelação pegou Amara de surpresa. Ela não conseguiu evitar franzir a testa, refletindo sobre a frase dita por ele.

— Então... você acha que isso importa para mim? — perguntou ela, sinceramente intrigada.

— Importa? — devolveu ele, quase como se estivesse testando sua reação.

— Claro que não! — respondeu Amara, firme. — Como você mesmo disse, qualquer mulher na cidade faria fila para ser madrasta do Théo.

Pitter a observou atentamente por um longo momento antes de perguntar, em um tom mais sério:

— Então por que você não aceita?

Amara suspirou profundamente, percebendo que ele não a deixaria em paz sem uma explicação satisfatória.

— Senhor Pitter, casamento não é um jogo. Nós mal nos conhecemos. Você sequer entende minha personalidade ou conhece meu passado. Como pode achar que isso funcionaria?

Pitter a interrompeu novamente, sua voz firme e cheia de autoridade:

— Não estou interessado no seu passado. Quero casar com você como você é agora.

A resposta, embora direta, incomodou Amara profundamente. Seu olhar esfriou enquanto ela dizia:

— Para mim, meu passado faz parte de quem sou. Não tenho como ignorá-lo ou fingir que ele não existe. Se não pode aceitar isso, então, sinceramente, sugiro que abandone essa ideia absurda.

Um silêncio constrangedor tomou conta do ambiente. Amara quase podia ouvir a respiração pesada dele. Ela se preparou para o pior, certa de que ele ficaria furioso com sua rejeição.

Para sua surpresa, Pitter respondeu em um tom calmo e quase resignado:

— Entendido.

O alívio foi instantâneo. Amara se levantou, já de costas para ele.

— Então vou dormir. Boa noite, senhor Pitter.

— Boa noite — respondeu ele, sua voz carregada de algo que ela não conseguiu decifrar.

Assim que ela saiu, Pitter permaneceu sentado, seus olhos seguindo as costas dela até desaparecerem pela porta. Ele parecia imerso em pensamentos, e a profundidade de seu olhar refletia algo insondável, como as águas escuras de um oceano que guarda segredos jamais revelados.

Amara foi acordada pelo som grave e baixo da voz de um homem na sala de estar. Era manhã, e ela ainda sentia o calor dos cobertores enquanto ouvia o som abafado de uma conversa encerrada abruptamente.

Pitter desligou o telefone ao perceber os passos atrás dele. Ele se virou e, com um tom caloroso e educado, perguntou:

— Eu te acordei?

Ao levantar os olhos para ele, Amara ficou estática. Pitter estava sem camisa, e sua presença imponente parecia preencher toda a sala. A pele nua refletia a luz suave que entrava pela janela, criando um contraste marcante.

Ela piscou, esfregando o nariz levemente. "Controle-se, Amara," pensou, aliviada por não ter feito nada embaraçoso.

Sem dar sinais de que notara sua reação, Pitter calmamente pegou sua camisa que estava dobrada no sofá e começou a vesti-la. Enquanto abotoava os primeiros botões, explicou:

— Surgiu uma emergência no trabalho, e preciso sair agora. Posso incomodá-la para acordar Théo?

— Ah, claro! — respondeu Amara, quase engasgando com a própria pressa enquanto se virava para chamar o menino.

Mas, ao invés de encontrar Théo dormindo, ela deu de cara com algo inesperado: um pijama de Pikachu, um sorriso sonolento e um olhar fixo no pai. Théo estava em pé, observando Pitter com uma expressão abertamente desafiadora.

— Théo, vá trocar de roupa. — Pitter ordenou com firmeza, colocando o casaco.

A resposta veio na forma de um sonoro bang! A porta do quarto de Théo se fechou bruscamente.

Pitter ficou em silêncio por um instante, encarando a porta fechada, antes de respirar fundo.

— Théo... — Ele tentou girar a maçaneta, mas estava trancada. — Amara, por acaso você tem a chave?

Amara sacudiu a cabeça, constrangida.

— Sim, mas ela está... no quarto dele.

Pitter suspirou profundamente e, com um tom mais sério, chamou:

— Théo, você tem três minutos. Se não abrir a porta, não pense que voltará para cá tão cedo.

Do outro lado, silêncio absoluto.

— Théo, se você me forçar a abrir essa porta, não será tão fácil lidar comigo depois.

Nada. Nenhum movimento.

Amara, que observava a cena à distância, segurou o riso com dificuldade.

— Por que você não o deixa ficar mais um pouco? Ainda tenho tempo antes de ir trabalhar.

Pitter, visivelmente impaciente, ignorou a sugestão e pegou o celular. Para surpresa de Amara, ele estava ligando para um psiquiatra.

— Ei! — Amara interrompeu, quase indignada. — Não acha que isso é um pouco exagerado?

Ele hesitou, mas antes que pudesse responder, ela se ofereceu:

— Deixe-me tentar.

Ele a analisou por um momento, depois fez um leve aceno de cabeça.

Amara se inclinou contra a porta e, com uma voz calma e carinhosa, começou:

— Théo, querido, eu preciso ir trabalhar daqui a pouco. Não vou poder cuidar de você. Que tal você ir para casa com seu pai?

O silêncio permaneceu, mas ela continuou:

— Vamos fazer assim, trocamos números de telefone! Podemos nos falar o tempo todo. Até videochamadas, o que acha?

De dentro, o som de passos hesitantes começou a ecoar.

— Meu diretor é muito bravo, sabe? Se eu me atrasar, ele vai me repreender... Eu sou tão azarada, wuuuuu...

A porta abriu lentamente.

Pitter, que estava preparado para uma longa batalha, ficou visivelmente surpreso. Ele lançou um olhar intrigado para Amara, como se ela tivesse acabado de realizar uma façanha impossível.

Para ele, era quase inacreditável. Na última vez que Théo se trancara, toda a família fora mobilizada, incluindo mordomos, psiquiatras e até especialistas em negociação. Após horas de tentativas frustradas, o resultado final fora derrubar a porta — e um mês inteiro de silêncio por parte do menino.

Mas Amara parecia alheia à dimensão do ocorrido. Para ela, Théo era apenas uma criança obediente. Sorrindo, ela se agachou para ficar na altura dele e acariciou seu cabelo suavemente.

— Que bom menino você é, Théo! Muito obrigado, querido!

O garoto, visivelmente satisfeito com o elogio, entregou um pedaço de papel a ela com números rabiscados.

— Oh! — exclamou Amara, animada. — É seu número? Vou salvar agora! Prometo ligar quando estiver livre.

Ao observar a cena, Pitter sentiu que algo estava estranho. Théo não tinha um telefone, então de onde ele teria tirado aquele número? Ele deu uma olhada rápida por cima do ombro de Amara e viu a sequência de números.

Era o número dele.

Um sorriso quase imperceptível surgiu em seus lábios.

"Nada mal," pensou. "Como esperado de meu filho."

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