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Capítulo 7: Não é fácil criar um filho

Amara encontrou no fundo do armário um pijama infantil em forma de Pikachu, algo que ela havia comprado durante um antigo trabalho de meio período. Pensou que serviria bem para Théo. Quanto a Pitter, a solução foi mais simples: o irmão mais novo dela, Pietro, tinha deixado algumas peças de roupa durante uma visita.

Enquanto procurava por roupas, Amara se lembrou brevemente de seus pais adotivos e do irmão mais novo, Lorenzo Anbrósio. Desde que havia se reconciliado com seus pais biológicos, o contato com a família adotiva havia diminuído. Era uma memória dolorosa, mas rapidamente ela a deixou de lado.

Com as roupas encontradas, Amara voltou ao quarto e pegou um conjunto novo de lençóis e fronhas. O sofá da sala não era grande o suficiente para Pitter se deitar confortavelmente, então ela improvisou, usando um banquinho para estender o espaço.

Théo, por sua vez, era independente para a idade. Depois de se lavar e vestir o pijama de Pikachu, foi direto para a cama. Ele parecia um coelhinho fofo e tranquilo, já acomodado como se estivesse em casa.

Depois de tomar banho, Amara optou por um pijama conservador e prendeu o cabelo em um coque despretensioso. Ao sair do quarto, certificou-se de que sua aparência era decente.

— Isso... Sr. Pitter, vou me deitar. Se precisar de algo, pode me chamar.

— Claro. — Pitter respondeu, seus olhos seguindo-a por um breve momento, enquanto uma sombra de emoção passava pelo seu rosto.

A simplicidade de Amara, vestida em seu pijama e com o rosto fresco após o banho, parecia acender algo dentro de Pitter. Ele desviou o olhar, tentando afastar pensamentos inoportunos.

Amara entrou no quarto e foi recebida pela visão de Théo já acomodado. Não conseguiu conter um sorriso diante da cena adorável. Apagou a luz do teto, deixando apenas o abajur ligado, e deitou-se ao lado dele.

Théo, no entanto, não parecia disposto a dormir. Seus olhinhos brilhavam no escuro, deixando claro que ele esperava algo.

— Não sei contar histórias... Que tal uma música? — propôs Amara, tentando encontrar uma solução.

Era o que ele queria, Théo ficou animado.

Amara começou a cantar uma melodia suave:

"Nos dias quentes e frios do outono,

Ficar perto de você,

Observando o tempo passar silenciosamente..."

De repente, ela parou. O próximo verso era absolutamente impróprio para uma criança. Sentindo-se um pouco constrangida, ela tossiu levemente.

— Esqueci o resto da letra! Vou cantar outra, ok? — improvisou.

Théo, sempre obediente, concordou.

Dessa vez, ela escolheu uma canção infantil:

"João e Maria subiram a colina

Para buscar um balde de água.

Maria caiu e quebrou sua coroa,

E João veio caindo atrás..."

Amara cantou a música três vezes, até que os suaves roncos de Théo a fizeram sorrir.

— Não é fácil criar filhos... — murmurou para si mesma, admirando Pitter em silêncio.

Ela se perguntou sobre o passado de Pitter. Quem era a mãe de Théo? Por que ela teria deixado uma criança tão adorável e o pai sozinho? Seria uma questão de status? Ou algo mais complicado?

Essas perguntas dançavam na mente de Amara enquanto ela se entregava ao sono, perdida em devaneios.

No meio da noite, porém, ela foi acordada de repente por um som abafado vindo da sala de estar. Algo havia acontecido...

Amara saiu cuidadosamente da cama, para não acordar Théo, que dormia profundamente. O som abafado vindo da sala de estar chamou sua atenção.

Ao abrir a porta do quarto, viu Pitter inclinado sobre o balcão da cozinha, despejando um pouco de água em um copo. Sua expressão estava pálida, e uma de suas mãos repousava sobre o estômago.

Ela se aproximou rapidamente, a preocupação evidente no tom de sua voz.

— Senhor Pitter, você está bem?

— Nada demais — respondeu ele, evitando maiores explicações.

Amara estreitou os olhos, observando-o atentamente.

— Seu estômago está doendo, não está?

Pitter não respondeu, mas o silêncio foi suficiente para confirmar suas suspeitas.

Amara lembrou-se de algo que Melissa havia comentado uma vez: Pitter não tolerava bem alimentos picantes. "Mas por que ele insistiu em comer, então?", pensou. Sem perder tempo, ela foi buscar um remédio.

— Espere aqui, vou pegar algo para aliviar a dor. — Voltou momentos depois com dois comprimidos na mão. — Tome estes, vão ajudar.

Pitter pegou os comprimidos, seus dedos frios roçando levemente a palma de Amara. O toque inesperado a fez sentir um calor subir até as bochechas.

No silêncio da madrugada, com o vento zunindo lá fora, aquele pequeno contato parecia criar uma tensão palpável no ar. Amara tentou desviar os pensamentos, concentrando-se em algo trivial. "Pi, 3,14159..." repetiu mentalmente, tentando recuperar a compostura.

— Está se sentindo melhor? Quer que eu o leve ao hospital? — perguntou ela, tentando parecer calma. — Desculpe, eu não sabia que você não podia comer comidas apimentadas…

— Não é sua culpa — disse ele, com uma voz serena. — É só um problema antigo.

Por um instante, o silêncio entre eles foi preenchido apenas pelo som do vento. Então, Pitter falou novamente, dessa vez com um olhar mais suave.

— O motivo de invadirmos sua hospitalidade esta noite foi Théo. Ele queria vê-la.

Amara piscou, surpresa.

— Théo queria me ver?

— Ele ficou muito assustado no armazém e, desde então, depende muito de você. Afinal, foi você quem o salvou.

Ao ouvir isso, Amara notou algo curioso: sempre que o assunto era Théo, a aura fria e intimidante de Pitter parecia se dissipar. Ele ficava mais humano, quase vulnerável.

— Entendo… — Amara assentiu lentamente.

Aquela noite tinha um clima que deixava as pessoas mais propensas a baixar suas defesas. Talvez fosse isso que a levou a fazer a pergunta que a incomodava há tempos:

— Posso perguntar algo? Théo não fala?

Pitter hesitou antes de responder.

— Não é que ele não saiba falar… Ele simplesmente não quer.

Amara franziu a testa, refletindo.

— Então, é algo emocional?

— Sim. Théo é uma criança reservada. Ele tende a se isolar.

Amara assentiu, entendendo a situação, mas evitando tocar em questões mais profundas sobre a família. Sabia que era melhor não se intrometer em segredos tão pessoais.

— Senhorita Amara — Pitter a chamou de repente, com um olhar intenso. Seus olhos brilhavam, profundos como a noite lá fora, mas carregavam algo que parecia… distante.

— Sim? — respondeu ela, um pouco desconfortável sob aquele olhar.

— Já nos conhecemos antes?

Amara piscou, confusa. Se fosse outra pessoa, ela poderia pensar que era uma tentativa clichê de iniciar uma conversa, mas o tom sério de Pitter a desconcertou.

— Acho que não. Se tivesse encontrado o senhor antes, tenho certeza de que me lembraria. Por quê?

— Nada. — Pitter desviou o olhar para a janela. A luz fraca da lua iluminava seu rosto, que agora parecia mais solitário.

O silêncio entre eles ficou pesado. Amara sentiu que era hora de encerrar a conversa.

— Senhor Pitter, se não precisar de mais nada, acho que vou voltar para o meu quarto...

Pitter levantou a mão, interrompendo-a.

— Sem pressa. Sente-se.

"Sem pressa?! Estou com muita pressa!" pensou Amara, mas obedeceu, relutante.

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