Sento na frente da penteadeira e fico olhando no espelho. Vejo meu reflexo e percebo que há muito tempo deixei de me cuidar. Sempre fui muito vaidosa, gostava de pentear meus cabelos, que sempre foram muito lisos. Hoje mal passo um batom. Fico me perguntando por que minha vida é assim. Sempre sonhei em ter um amor, me dar bem com minha irmã, até mesmo com minha madrasta. Como cheguei a esse ponto de ficar feliz por tão pouco? Sei que parece loucura, mas eu queria ter tido pelo menos um pouco da atenção que minha irmã tem.
Eduarda é dois anos mais velha. Ela tem um rosto lindo. Seus olhos passam uma inocência. Sua voz é calma, como se estivesse em sintonia com o momento, apesar de sermos filhas do mesmo pai, não nos parecemos em nada. Eduarda é alta, seus olhos são azuis como o céu, seus cabelos loiros brilham com a luz. Mas não se engane com essa carinha de boa moça, ela fez e faz da minha vida um inferno.Minha madrasta, se pudesse, certamente me envenenaria ou me sufocaria com o travesseiro novamente, como fez quando eu tinha dois anos. Naquela época, lembro vagamente que tinha uma babá. Ela não era a melhor pessoa do mundo, mas nunca me maltratou ou negou algo para comer, como a mulher do meu pai fazia. Talvez seja porque eu seja fruto de uma traição.Não cheguei a conhecer minha mãe, mas creio que me pareço com ela, pois meu pai também é loiro. Tenho 1,65 de altura, minha cintura é fina, tenho pouco busto e um quadril um pouco mais avantajado. Meus longos fios de cabelo são negros como a escuridão, meus olhos têm tom de mel e tenho lábios bem desenhados. Um dia me achei bonita, mas hoje já não presto tanta atenção nesses detalhes.Meu pai disse que só ficou comigo porque minha mãe me deixou no hospital. Desde então, passei a ser a Cinderela, mas acho que nessa história nunca vou encontrar meu príncipe encantado. Sempre recebi os restos da Eduarda. Quando digo "resto", é porque eu nunca tive nada que fosse meu. Nunca ganhei um brinquedo. Quando ganhava de algum coleguinha da escola, minha madrasta tomava e dava para Eduarda, ou simplesmente jogava fora.Nunca ganhei um vestido ou uma sapatilha. Ficava somente com o que Eduarda havia usado e desgastado. Claro que eu era grata por ter tido um teto, uma roupa para vestir e, às vezes, comida na mesa. Mas será que eu merecia tudo o que fizeram comigo?Lembro que quando era pequena, tinha muita vontade de ter uma boneca daquelas gigantes, com aquele cabelo longo e aquela roupinha bonita. Ela era simplesmente o meu sonho. Me lembro de ter ficado doente de tanto que eu queria aquela boneca. E adivinha? Meu pai ficou sabendo e comprou, mas não foi para mim, foi para a Eduarda. Eu via ela brincar de longe, não podia chegar perto. Tinha que me contentar com as bonecas que a Eduarda não queria e jogava fora. Muitas delas estavam sem braços, riscadas, e confesso que algumas até me davam medo.Com o passar dos anos, não me importava mais. Comecei a cuidar da filha da vizinha para ela poder ir trabalhar. Com 10 anos, já sabia fazer de tudo: cozinhar, lavar, passar, limpar uma casa como ninguém. Minha vizinha era casada com um homem mais novo. Achava tão bonita a relação dos dois. Havia tanto amor entre eles. Mas foi aí que as coisas saíram do controle. Minha madrasta, vendo o quanto eles gostavam de mim, falou que eu estava me insinuando para o marido dela e que ele ficava comigo às escondidas. Caramba, eu tinha 12 anos. O que passava na cabeça dela?No fim, minha vizinha começou a enxergar coisas onde não tinha. Seu marido era muito correto. Ele dizia que me via como sua irmã mais nova. Não tínhamos muito contato. Meu único interesse era a bebê. Eu amava aquela pequena. Mas fui demitida ouvindo um monte de coisas, ofensas que sei que eu não merecia. Mas confesso que doeu igualmente. A partir daí, as coisas só pioraram. O tal boato se espalhou e toda a vizinhança passou a me chamar de "vadiazinha rouba macho".Tudo isso era muito doentio. Não conseguia acreditar em tudo que vivi.Mas mesmo com todos me julgando, apontando o dedo na minha cara, me xingando de nomes que nem sei se existem, eu continuei com o meu único objetivo: trabalhar para conseguir ser alguém.Com 18 anos, saí da casa do meu pai e conheci Jonas. Ele era absurdamente incrível, muito carinhoso. Acho que foi a minha primeira demonstração de amor que recebi na vida. Sempre fui muito carente em relação a carinho, e quando recebia, me apegava à pessoa e já não queria vê-la partindo ou me deixando.Jonas sempre dava um jeito de mostrar para todo mundo que ele estava comigo. Mesmo sendo tão rico, ele não tinha vergonha de namorar a zeladora da faculdade. Muito pelo contrário, ele me ajudava com a limpeza. Era o playboy mais fofo que conheci. O único problema era que nunca me apaixonei por ele. Mesmo ele sendo carinhoso e sempre demonstrando para todos o quanto gostava de mim, fui amar um idiota que nunca me olhou nos olhos, somente como um objeto sexual.Dou uma última olhada no espelho e me apresso para ir aonde mais gosto de ir. Amo o meu trabalho. Lá as coisas são leves e as pessoas são alegres. Sair dessa casa é o momento mais gostoso do meu dia.— Força, garota, você consegue!Coloco um sorriso nada sincero no rosto e desço os inúmeros degraus da escada dessa casa e vou em direção à sala de jantar para tomar café. Na mesa estão Gerson, Cecília e Taylor. Todos param de comer quando me aproximo.— Olha se não é a vadia da casa. — Cecília fala destilando seu veneno.— Bom dia para você também. Logo cedo se rastejando? Poxa, até as cobras não são tão peçonhentas assim. — Falo a encarando.— Dá um jeito nessa vadia, Taylor!— Chega dessa discussão. Estou indo trabalhar, filho. Depois passo no escritório. — Gerson fala sem tirar os olhos do celular e, graças a Deus, esse maldito sai, como sempre fingindo ser um homem respeitado.— Senta para comer, já que está contaminando o ar com sua presença de vadia imunda. — Cecília fala rindo.— É
— Amiga! Não é possível isso! Por que aceitar tão pouco se você pode ter tudo? Ive, você merece um amor tão lindo quanto o seu coração. — Dani fala segurando minha mão por cima da mesa. Mesmo falando calma, percebo que ela está tentando se controlar para não me xingar. Abaixo a cabeça pensando no que ela disse.— Isso eu concordo. — Levanto rápido com a entrada do meu chefe. Com as pontas dos dedos, limpo minhas lágrimas que só agora percebi que voltaram a cair.— Bom dia, chefe! Desculpe, hoje o dia não começou muito fácil!— Sinto muito, Ive. Você não merece passar por isso. — Olho em seus olhos. Ele é tão bom comigo, sempre me aconselha a lutar pela minha felicidade. — Já disse, não uma, mas várias vezes, você é incrível demais para receber migalhas. A partir do momento que você conseguir enxergar como realmente é, não aceitará menos do que merece ter.Concordo com a cabeça e fico em silêncio, olhando para ele. Todos sabem que sou casada, mas não sabem que o meu adorável marido é o
Estou a uns minutos tentando pensar em algo para que ele desista dessa ideia, Taylor e eu na mesma mesa, será uma tragédia.— Mas.— Tento argumentar, mas sou interrompida.— Ive por favor.— respiro fundo em sinal de derrota.— Tudo bem senhor.— Ah! Ja fiz as reservas, o restaurante é o linonios.— Não brinca com coisa séria.Era tudo que eu precisava, Linonios é o restaurante mais caro e sofisticado da cidade, uma simples secretaria será barrada na porta, até as vestimentas tem que estar impecável. Percorro meus olhos em meu uniforme, ele é bonito, mas não é algo apropriado para o local que estou sendo obrigada a ir.— A Dani já está encarregada de arrumar o vestido, provavelmente ela já chegou, é só ir se trocar, vamos sair daqui uma hora.— Tem certeza? Eu acho que vou estar com dor de barriga, não vai querer ouvir os dragões brigando dentro de mim!— Você não vai escapar de almoçar comigo Senhora Thompson!— Dor de cabeça?— Nãoo!— Ataque cardíaco?— Vai trabalhar kkkkk.— Acho q
Coloco ele com cuidado, é um vestido muito caro, mesmo que eu não entenda de roupas caras, só pelo tecido da pra saber que dois mêses do meu salário ficou nesse vestido. Me olho no espelho e realmente gostei muito de como ficou no corpo, a muito tempo não me vejo assim, sempre estou com os termos da empresa, ou quando Renan tem alguma reunião e precisa de mim, ele sempre compra roupas para a ocasião, mas nunca algo como esse.Dani entra com uma maleta de maquiagem me olha com um sorriso enorme.— Aí como está linda minha amiga. — Graças a você que tem um exelente gosto para roupas. — Olho nas suas mãos e fico curiosa de onde saiu tanta maquiagem.— Amiga, de onde tirou tudo isso?— Uma boa amiga sempre anda preparada, nunca se sabe quando o chefe bonitão vai te convidar pra sair.— aí aí aí, você com suas ideias malucas.— Bora dar um jeito nessas olheiras, e nesse cabelão todo.Foram longos 40 minutos, ela passou uma arga massa na minha cara, acho que nunca levei tanta pancada no ros
— Wouu, onde tomaram banho de perfume? O cheiro de vocês da pra sentir do outro lado do escritório, e vocês estão lindos.— Fábio chega chamando nossa atenção, falando alto como sempre, ele também está muito bem vestido, com um terno azul, sobre medida, seus cabelos estão penteados de lado, olho para os lindos olhos azuis da minha amiga, que estão hipnotizados nele.— haha, depois diz que eu sou lenta.— Dou um sorriso para chamar a atenção dela, que me olha com os olhos fuzilando de raiva. Finjo de desentendida e volto a falar com Fábio.— O senhor também não fica atrás, está muito perfumado, né Dani? rsrsrs— É, está muito elegante.— Tive que caprichar, porquê a última vez que fui nesse restaurante, tive que voltar com minha acompanhante trocar de vestido.— Meus olhos desviam para a Dani, que abaixa o olhar com o que ele diz.Fábio é o melhor amigo do Renan, eles fizeram faculdade juntos, e desde então estão em primeiro lugar no ramo empresarial.Taylor é ótimo em tudo que faz, mas el
— sim, claro— Fábio fala sem jeito, pelo tom provocativo de Eduarda — quer escolher Ive? Renan fala puxando a cadeira para eu sentar, ele fala perto do meu ouvido me fazendo arrepiar, meus olhos vão para o Taylor que parece não se importar.— O que o senhor pedir, para mim está perfeito.Entre algumas falas sobre negócios, começamos a comer até que reparo que Eduarda está se mexendo de mais na cadeira.— Ahha...— Ela solta um gemido abafado e só aí percebo o que está acontecendo, Taylor esta com a mão dentro do seu vestido a tocando.— Meu Deus.— Sussurro desapontada com a situação. Meu peito se afunda em uma dor indescritível, meus olhos começam a arder formando minhas lágrimas que forço para não derramar. O celular do pai do Taylor toca e o maldito do Gerson atende logo em seguida ele teve que sair, pelo menos Isso. Me aproximo do ouvido de Renan e falo baixinho, minha voz está embargada pelo choro.— Senhor Renan, se me der licença, vou ao banheiro.— Ele coloca meu cabelo que esta
Estamos no estacionamento, estou louca pra ir embora.— Ive, vamos te deixo em casa. —Renan fala percebendo minha frustração — Se puder me levar para a empresa, meu uniforme ficou lá.— Amanhã você pega.— Por favorzinho.— Falo com carinha de cachorrinho abandonado, ele abre um largo sorriso — Vamos, não tem como dizer não a você.— Obrigado pelo almoço, estava tudo exelente.— Fábio fala apertando a mão do Taylor em despedida.— Obrigado! Vi que é vocês que vão levar a senhorita, se não for incômodo, deixa que eu levo sua secretária.— Não! Obrigada! Não costumo entrar no carro de estranho senhor Jolins.Fecho a cara percebendo o quanto idiota ele é. Taylor continua fingindo que não me conhece, ele diz secretária com um ar de deboche, miserável. Eduarda o abraça e ele beija ela, um beijo longo que parecia estar levando minha alma junto. Eles terminam de se beijar e continua insistindo em levar a "secretaria" embora.— Hoje ela não está como secretária, e sim como minha convidada e a
Desço do carro e vou em direção para meu quarto, des do casamento durmo em quarto separado do Taylor, apesar de que a maioria das vezes eu acordo com ele do meu lado.A casa está um silêncio, minha conversa com Renan foi até escurecer, cada palavra que ele disse foi como se tivessem me dado um choque de realidade, eu sei de tudo isso, mas enquanto estiver nesse casamento ele vai continuar me procurando quando quer, e me dispensar pela manhã, eu queria ser forte e manter o meu "não" mas ele me tem em suas mãos quando quer, e ele sabe disso.Abro a porta do meu quarto e o que tem nele me surpreende.— Taylor? O que faz aqui?— Boa noite, você demorou.— Ele está calmo, de banho tomado, cigarro na mão sentado na poltrona que tem perto da janela me olhando.— O que quer? — Falo de forma seca, sem muita emoção.— Você.— Já não foi o suficiente o que me fez hoje? Por que falou aquilo para meu Chefe? Ficou louco, qual seu problema comigo hem?— Eu não tive a intensão! E você não me deu escol