Capítulo 3

Sento na frente da penteadeira e fico olhando no espelho. Vejo meu reflexo e percebo que há muito tempo deixei de me cuidar. Sempre fui muito vaidosa, gostava de pentear meus cabelos, que sempre foram muito lisos. Hoje mal passo um batom. Fico me perguntando por que minha vida é assim. Sempre sonhei em ter um amor, me dar bem com minha irmã, até mesmo com minha madrasta. Como cheguei a esse ponto de ficar feliz por tão pouco? Sei que parece loucura, mas eu queria ter tido pelo menos um pouco da atenção que minha irmã tem.

Eduarda é dois anos mais velha. Ela tem um rosto lindo. Seus olhos passam uma inocência. Sua voz é calma, como se estivesse em sintonia com o momento, apesar de sermos filhas do mesmo pai, não nos parecemos em nada. Eduarda é alta, seus olhos são azuis como o céu, seus cabelos loiros brilham com a luz. Mas não se engane com essa carinha de boa moça, ela fez e faz da minha vida um inferno.

Minha madrasta, se pudesse, certamente me envenenaria ou me sufocaria com o travesseiro novamente, como fez quando eu tinha dois anos. Naquela época, lembro vagamente que tinha uma babá. Ela não era a melhor pessoa do mundo, mas nunca me maltratou ou negou algo para comer, como a mulher do meu pai fazia. Talvez seja porque eu seja fruto de uma traição.

Não cheguei a conhecer minha mãe, mas creio que me pareço com ela, pois meu pai também é loiro. Tenho 1,65 de altura, minha cintura é fina, tenho pouco busto e um quadril um pouco mais avantajado. Meus longos fios de cabelo são negros como a escuridão, meus olhos têm tom de mel e tenho lábios bem desenhados. Um dia me achei bonita, mas hoje já não presto tanta atenção nesses detalhes.

Meu pai disse que só ficou comigo porque minha mãe me deixou no hospital. Desde então, passei a ser a Cinderela, mas acho que nessa história nunca vou encontrar meu príncipe encantado. Sempre recebi os restos da Eduarda. Quando digo "resto", é porque eu nunca tive nada que fosse meu. Nunca ganhei um brinquedo. Quando ganhava de algum coleguinha da escola, minha madrasta tomava e dava para Eduarda, ou simplesmente jogava fora.

Nunca ganhei um vestido ou uma sapatilha. Ficava somente com o que Eduarda havia usado e desgastado. Claro que eu era grata por ter tido um teto, uma roupa para vestir e, às vezes, comida na mesa. Mas será que eu merecia tudo o que fizeram comigo?

Lembro que quando era pequena, tinha muita vontade de ter uma boneca daquelas gigantes, com aquele cabelo longo e aquela roupinha bonita. Ela era simplesmente o meu sonho. Me lembro de ter ficado doente de tanto que eu queria aquela boneca. E adivinha? Meu pai ficou sabendo e comprou, mas não foi para mim, foi para a Eduarda. Eu via ela brincar de longe, não podia chegar perto. Tinha que me contentar com as bonecas que a Eduarda não queria e jogava fora. Muitas delas estavam sem braços, riscadas, e confesso que algumas até me davam medo.

Com o passar dos anos, não me importava mais. Comecei a cuidar da filha da vizinha para ela poder ir trabalhar. Com 10 anos, já sabia fazer de tudo: cozinhar, lavar, passar, limpar uma casa como ninguém. Minha vizinha era casada com um homem mais novo. Achava tão bonita a relação dos dois. Havia tanto amor entre eles. Mas foi aí que as coisas saíram do controle. Minha madrasta, vendo o quanto eles gostavam de mim, falou que eu estava me insinuando para o marido dela e que ele ficava comigo às escondidas. Caramba, eu tinha 12 anos. O que passava na cabeça dela?

No fim, minha vizinha começou a enxergar coisas onde não tinha. Seu marido era muito correto. Ele dizia que me via como sua irmã mais nova. Não tínhamos muito contato. Meu único interesse era a bebê. Eu amava aquela pequena. Mas fui demitida ouvindo um monte de coisas, ofensas que sei que eu não merecia. Mas confesso que doeu igualmente. A partir daí, as coisas só pioraram. O tal boato se espalhou e toda a vizinhança passou a me chamar de "vadiazinha rouba macho".

Tudo isso era muito doentio. Não conseguia acreditar em tudo que vivi.

Mas mesmo com todos me julgando, apontando o dedo na minha cara, me xingando de nomes que nem sei se existem, eu continuei com o meu único objetivo: trabalhar para conseguir ser alguém.

Com 18 anos, saí da casa do meu pai e conheci Jonas. Ele era absurdamente incrível, muito carinhoso. Acho que foi a minha primeira demonstração de amor que recebi na vida. Sempre fui muito carente em relação a carinho, e quando recebia, me apegava à pessoa e já não queria vê-la partindo ou me deixando.

Jonas sempre dava um jeito de mostrar para todo mundo que ele estava comigo. Mesmo sendo tão rico, ele não tinha vergonha de namorar a zeladora da faculdade. Muito pelo contrário, ele me ajudava com a limpeza. Era o playboy mais fofo que conheci. O único problema era que nunca me apaixonei por ele. Mesmo ele sendo carinhoso e sempre demonstrando para todos o quanto gostava de mim, fui amar um idiota que nunca me olhou nos olhos, somente como um objeto sexual.

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