Capítulo 2

Dizem que quando a gente ama não vê os defeitos, posso garantir que isso é mentira. Eu vejo seus defeitos, mas o idiota do meu coração não. Minha cabeça tenta mandar os sinais de que ele nunca vai me respeitar, que ele só me vê como objeto, mas assim que ele vem me procurar, meu coração se enche de alegria. Burro, mil vezes burro.

Abandonada pela mãe, ignorada pelo pai, desprezada pela irmã e maltratada pela madrasta, seria um conto perfeito se soubesse que teria um final feliz. Sei que minha irmã é uma das suas amantes. Muitas vezes ela me manda vídeos deles nos momentos mais íntimos, momentos em que eu queria ser ela, só por um instante, ter ele sóbrio, sentir os seus beijos sem ter gosto horrível de bebida, ter o seu corpo sem vestígio de outra mulher. Mas isso é querer demais.

O meu casamento é um filme de terror, onde a mocinha já não tem esperança de ser feliz. Não digo isso só por deixar ser usada, pois eu mesma me coloco nessa situação. E sim, por meu sogro ser um homem desprezível. A mulher dele é a pessoa mais odiosa do que alguém poderia conhecer.

Por que ainda continuo nesse casamento?

Porque, nas minúsculas letras do contrato, uma das cláusulas estava escrita que, se eu pedir o divórcio antes de 3 anos, terei que pagar uma multa de 5 milhões de dólares. Onde é que eu vou tirar tudo isso? Ele sabe que nunca vou conseguir esse dinheiro. O que eu ganho na construtora Hermes, gasto o mínimo, pois quando esse contrato acabar e eu conseguir sair desse casamento, irei construir minha vida longe de todo esse pesadelo.

Sou formada em psicologia. Olha que ironia, como vou tentar ajudar alguém se não consigo ajudar nem a mim mesma?

Termino meu banho e me visto aqui mesmo. Vou para o quarto e ele não está mais lá. Suspiro aliviada por não ter que aguentar suas ofensas. Olho no canto da cama e mais uma vez vejo sua camisa com marcas de batom vermelho e aquele cheiro insuportável de perfume da minha irmã.

— É, talvez isso seja o que você mereça por aceitar passar a noite com ele. — Falo comigo mesma.

Visto meu terninho preto, uniforme da empresa onde trabalho. Troco os lençóis e coloco no cesto para Morgana vir buscar para lavar.

Por sorte, passo a maior parte do tempo no escritório. Sou secretária há 2 anos, desde que me casei. Por causa de Cecília, tive que sair do meu trabalho na clínica. Todos os meus anos de estudos, todos os meus cursos, não me serviram para nada. Por longos desses dois anos, procurei um trabalho nos consultórios, mas Cecília, a madrasta de Taylor, deu um jeito de manchar meu nome. Desde então, ninguém quer me contratar. Procurei em todos os lugares, mas como alguém irá contratar uma vadia, uma mulher antiética que fica com os chefes em troca de dinheiro? Ah, tem também a louca suicida. Esses são alguns dos elogios que recebo de Cecília. Ela diz isso e muito mais para as pessoas da alta sociedade que ela frequenta.

Meu chefe até tentou me ajudar. Ele disse que eu merecia mais do que marcar reuniões e servir café, claro que faço muito mais do que isso, porém entendi o que ele quis dizer.

Desde que se casou com Gerson, meu odioso sogro, ela se sente dona de tudo. Quem diria que a amada enfermeira da mãe de Taylor iria se tornar esse ser tão desprezível? Todos sempre gostavam dela, apesar de que ela nunca me enganou. Eu via os olhares dela para o pai de Taylor, e confesso que cheguei a pensar que Cecília assassinou minha sogra para ocupar seu lugar. Já alertei meu marido sobre isso, mas a única coisa que consegui foi seus dedos marcando meu rosto e me ameaçando para nunca mais falar sobre sua mãe.

A mãe dele era a única pessoa boa dessa família. Eu a adorava desde pequena, quando ela ia buscar ele na escola. Naquele tempo, eles tinham uma vida simples. Com dona Vivian, tive o único contato materno que senti de uma mulher.

Sinto falta desse contato. Minha vida sempre foi tentar ser aceita pelas pessoas, mas acredito que fracassei.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo