O som do despertador ecoava pelo apartamento, cortando o silêncio da manhã. Estendi a mão para desligá-lo, sentindo a exaustão familiar que parecia mais pesada a cada dia. Fiquei alguns segundos sentado na cama, com os cotovelos apoiados nos joelhos, observando a luz fraca do sol filtrando pelas cortinas. Outro dia de trabalho, outra reunião importante. Depois de um banho rápido e um café amargo mal preparado, vesti meu terno cinza. O projeto da Future Mind estava em uma fase crucial; o sucesso dele não era apenas mais um marco para a Orion. Era a chave para o acordo com a Elysium, um passo essencial para a consolidação da nossa presença no mercado europeu. Mais do que isso, era minha chance de consolidar minha posição como CEO definitivo. Ao chegar ao escritório, caminhei direto para a sala de reuniões, onde Simone já aguardava ao lado de Ronan e de outros membros da equipe. O ambiente estava carregado de seriedade, com gráficos e relatórios espalhados pela mesa de madeira. — Vamo
Fazia algumas horas que o Alex tinha ido para o escritório. Eu estava na sala de estar, relaxando e tentando pensar em quando voltaria a trabalhar. Sentia falta do restaurante, então peguei uma das revistas de paisagismo e comecei a folhear. Talvez eu encontrasse alguma inspiração para novos projetos, embora não tivesse o costume de pegar muitos trabalhos, já que preferia o restaurante. Estava absorta na leitura quando meu celular começou a tocar. Olhei para o número que estava piscando na tela e uma onda de nervosismo me atingiu. Era Damien. A tensão no meu peito aumentou instantaneamente. O que ele queria? Por que ele estava me ligando? Respirei fundo, tentando disfarçar o tremor na minha voz, antes de atender. — Onde está, Montenegro? — Ele perguntou, como se não tivesse ideia do quanto sua simples pergunta estava me deixando ansiosa. — Estou em casa… — eu disse, quase automaticamente, antes de me corrigir. — Quero dizer, no apartamento do Alex. Ele fez uma pausa, e por um mome
— Você realmente disse isso para ela? — Ronan questionou, sua voz carregando uma incredulidade que me fez questionar minhas próprias escolhas. Estávamos no meu escritório, logo após eu voltar do apartamento onde ela vivia. A tensão na sala estava palpável, e o olhar de Ronan sobre mim era implacável.— Eu fiz errado? — Perguntei, ainda tentando entender a profundidade de sua reação. Era uma pergunta sincera, embora eu soubesse que, no fundo, a resposta fosse óbvia. Eu não sabia mais onde estava me metendo.— E você ainda questiona isso? — Ronan olhou-me com uma expressão que misturava desdém e surpresa. Ele levantou-se abruptamente da cadeira, começando a andar pela sala, como se o simples ato de me ouvir tivesse causado-lhe uma dor física. — Você beijou ela por qual motivo? Quer dizer, você fez a proposta do casamento e disse que seria apenas um acordo, mas aí beija ela e quando ela questiona, você responde da maneira que respondeu? — Ele parecia incrédulo, como se estivesse tentando
Quando Damien foi embora, suas palavras continuavam ecoando em minha mente, como se tivessem se impregnado no silêncio do apartamento. Suspirei fundo, tentando afastar o peso do momento, mas a verdade é que não era tão fácil quanto eu gostaria. “Eu preciso parar de dar importância para coisas assim. Não sou mais uma adolescente”, pensei, tentando me convencer. Essa pequena repetição mental tinha se tornado meu mantra nos últimos momentos, uma espécie de lembrete constante de que minha vida havia mudado, e eu precisava mudar com ela.Levantei-me do sofá, sentindo o leve desconforto na perna engessada. Caminhar ainda era difícil, mas já conseguia me locomover sem as muletas. Era um progresso pequeno, mas ainda assim, um progresso. Fui até o quarto e peguei meu iPad. Precisava ocupar minha mente com algo produtivo, algo que me distraísse dos pensamentos insistentes que Damien havia deixado para trás.Comecei a rascunhar ideias para o projeto do Future Minds. Damien havia mencionado a ini
Um mês havia se passado. Durante esse tempo, minha relação com Olivia manteve-se limitada ao acordo. Diante dos outros, éramos o casal perfeito; longe dos olhares curiosos, éramos apenas dois estranhos. Desde o dia em que discutimos sobre o beijo, ela parece cada vez mais distante. Sua presença tornou-se um misto de silêncio calculado e ausência constante. Quando vinha à Orion para tratar do projeto da Future Minds, limitava-se ao essencial: falava apenas o necessário, mantinha-se profissional, educada, mas fria. Era uma barreira invisível que ela parecia empenhada em construir entre nós, e por mais que tentasse, eu não conseguia ignorar como aquilo me incomodava mesmo quando fui eu que gerei isso. Durante esse período, Ronan e Ana começaram a namorar, o que trouxe uma proximidade natural entre ele e Olivia. Era frequente vê-los juntos, saindo com Ana, rindo de algo que só eles entendiam. Essa amizade florescente era algo que eu não esperava. Não que houvesse algo errado, mas… Oliv
— Tentar acostumar-me a caminhar sem o gesso parece tão estranho. — Proferi, enquanto segurava a mão de Ana, caminhando pelas ruas movimentadas. As sacolas em nossas mãos eram carregadas pelos seguranças que nos acompanhavam discretamente. Não me lembrava da última vez que tinha feito tantas compras, mas, de alguma forma, aquilo me fazia sentir um pouco mais leve, como se estivesse começando a voltar à normalidade. — Deve ser o tempo que passaste com o gesso — Ana disse, observando-me com um sorriso brincalhão. — E, sinceramente, que bom que estás bem. Não aguentava mais ver-te com aquilo, só estragava o teu look. — Hey! — Eu a belisquei no braço, fingindo indignação, mas a verdade é que ela tinha razão. O gesso realmente havia me limitado, não apenas fisicamente, mas até no estilo. Eu sentia que não podia ser eu mesma enquanto o usava. — É verdade, Liv. — Ela riu, sem se importar com a minha reação. As palavras dela me fizeram sorrir. Já se passava um mês desde o leilão, desde qu
O relógio no painel do carro marcava 19h42. Não dava tempo de voltar para casa e me trocar. O dia havia sido um caos completo no escritório, com reuniões intermináveis e problemas que exigiam minha atenção. Mas, mesmo exausto e atrasado, eu sabia que não poderia aparecer de mãos vazias. Estacionei em uma floricultura no caminho. O lugar era pequeno e simples, mas tinha algo que me chamou atenção: tulipas brancas. Não eram perfeitas, mas eram delicadas, e isso era o suficiente. Além disso, Olivia era alérgica a rosas. Pagar pela compra foi rápido, mas o peso na minha pasta parecia dobrar a cada minuto. O contrato e o anel estavam lá, junto com o fardo de um acordo que, racionalmente, fazia sentido, mas que emocionalmente parecia cada vez mais errado. Cheguei ao restaurante às 20h15. O maître me guiou até a mesa que havia reservado — uma área isolada, longe de olhares curiosos. O ambiente era acolhedor, mas também íntimo demais, com velas acesas e uma luz suave. Por um momento, me per
Eu inclinei a cabeça e sorri diante da questão. Respirei fundo antes de responder, mantendo o tom firme: — Não estou chateada, mas claramente temos um problema, e eu não sou adepta de falta de comunicação. Damien arqueou uma sobrancelha, mas permaneceu em silêncio. Ele era um excelente ouvinte, mas não no sentido positivo. Esperava, calculava, analisava cada palavra dita antes de decidir como reagir, como se toda interação fosse uma negociação. — Sobre o que exatamente? — perguntou, sua voz neutra, impassível como sempre. — Sobre isso. — Girei o anel no meu dedo, apontando para ele. — Sobre nós. Eu observei enquanto ele cruzava os braços, um gesto quase automático que revelava o desconforto que sentia. Ele não estava acostumado a conversas como essa. — Achei que tivéssemos deixado tudo claro. Os limites foram definidos. Limites. Essa palavra ecoava na minha cabeça como uma barreira constante entre nós dois. Respirei fundo, tentando conter a frustração que crescia dentro de mim.