Faz algumas horas que Ana foi embora, depois de passar parte da tarde comigo. Ela disse que precisava ir ao restaurante para verificar como as coisas estavam. Sozinha novamente, e com o silêncio se espalhando pela casa, decidi ir para o meu quarto. Não tinha intenção de incomodar Leila para me ajudar a subir as escadas. Eu já sabia que a ajuda dela, embora gentil, não me permitiria ter um momento de paz. Então, com esforço, decidi enfrentar o desafio sozinha. Dei passos lentos, com as muletas apoiadas ao lado. A cada degrau, o incômodo aumentava, mas algo dentro de mim insistia em continuar. Eu precisava fazer isso por mim mesma.Quando finalmente cheguei ao meu quarto, respirei fundo, aliviada. O pensamento de que amanhã seria o jantar na casa dos Carters ainda me causava desconforto. Eu não queria ir, mas sabia que fazer essa desfeita a senhora Celine não estava nos meus planos. Ela era uma mulher doce, e eu a respeitava demais para recusar um convite com o qual ela provavelmente ti
O silêncio entre mim e Olívia era peculiar. Não desconfortável, mas carregado de uma tensão que não conseguia nomear. Ela continuava com o olhar fixo na fonte, os dedos cruzados no colo, como se a dança das águas fosse a única coisa capaz de prender sua atenção. Por outro lado, meus olhos alternavam entre ela e o pôr-do-sol que coloria o céu com tons de laranja e dourado. Era uma cena calma, mas cheia de algo inominável.Finalmente, ela quebrou o silêncio, sua voz saindo suave, mas determinada:— Acho que já resolvemos tudo por hoje.Ergui uma sobrancelha e deixei um sorriso de canto surgir.— Está me expulsando, Montenegro?Ela virou-se para mim, mas desviou o olhar rapidamente. O rubor em suas bochechas denunciava algo que talvez nem ela entendesse.— Não… É que… — Sua voz hesitou, e ela pareceu se frustrar com a própria dificuldade de se explicar. Então, suspirou. — Quer saber? Fique o tempo que quiser.Não consegui evitar a provocação.— Você tem esse jeito de ser… interessante. A
Alex entrou na sala de estar com uma expressão visivelmente fechada. Não precisava dizer nada para que eu soubesse que estava irritado. O motivo era óbvio: Damien Carter. Desde que ele começou a aparecer mais na minha vida, a tensão entre os dois parecia palpável, e Alex nunca fez questão de esconder sua desaprovação. O silêncio que pairava na sala estava carregado, quase sufocante. Eu sabia que, se não quebrasse o gelo, Alex despejaria sua preocupação de forma explosiva. — Abra seu coração, Alex. Sei que tens algo a dizer, mas estás receoso de me magoar. — Sorri levemente, tentando desarmá-lo com um tom descontraído. Ele suspirou, esfregando a nuca — um hábito antigo, típico de quando lutava para conter sua irritação. Para mim, Alex era mais do que um irmão mais velho. Ele era minha rocha, meu porto seguro. Mesmo que às vezes sua proteção excessiva me irritasse, era reconfortante saber que ele se importava genuinamente comigo. — Não gosto dessa tua proximidade com o Damien, L
O caminho para casa foi tranquilo, sem congestionamento. Assim que estacionei o carro na garagem, observei a fachada imponente da mansão. O estilo clássico, com colunas brancas e janelas altas, exalava poder e tradição. Não era apenas uma casa; era uma declaração de status.Fiquei alguns minutos dentro do carro, contemplando as luzes acesas nas grandes janelas. Peguei o celular e liguei para Parks, avisando que não iria ao escritório amanhã. Assim que encerrei a chamada, saí do carro e segui em direção à entrada principal.O hall de entrada era amplo, com pisos de mármore polido que refletiam a luz do imenso lustre de cristal no teto. Uma escada em curva dominava o espaço, com um corrimão de ferro forjado delicadamente ornamentado. O cheiro suave de madeiras caras e flores frescas preenchia o ambiente, graças aos arranjos estrategicamente posicionados pelos corredores.Antes mesmo de abrir a porta da sala principal, ouvi vozes elevadas ecoando. Não precisei me esforçar muito para reco
A sala da terapeuta era um refúgio silencioso e discreto, muito diferente da opulência e das tensões que costumavam cercar minha vida. O piso de madeira clara rangia levemente sob meus passos, e o cheiro suave de lavanda vinha de um difusor posicionado em uma prateleira ao lado de livros bem organizados. O espaço era pequeno, mas acolhedor: um sofá cinza com almofadas macias, uma poltrona de couro caramelo para a terapeuta, uma mesinha de centro com uma jarra de água e dois copos. As paredes eram decoradas com quadros abstratos em tons pastéis, transmitindo uma calma que parecia quase ilusória.Sentei-me no sofá, cruzando os braços e os tornozelos, tentando encontrar uma postura confortável, mesmo sabendo que isso era mais um esforço para mascarar meu desconforto interno e físico por causa do gesso na minha perna. Fiquei quieta por um momento, olhando para as almofadas, tentando evitar a sensação de que estava sendo observada.— Você parece pensativa hoje. — A voz da terapeuta, Dra. M
O sol acabava de nascer, lançando tons alaranjados e dourados sobre o jardim imaculadamente cuidado. A brisa da manhã carregava o cheiro fresco de grama recém-cortada. Eu já estava sentado à mesa do pátio, cercado por papéis, anotações e relatórios. Trabalhar aqui, ao ar livre, era uma mudança em relação ao meu habitual escritório frio e impessoal. Talvez fosse o frescor da manhã ou apenas uma desculpa para me manter longe de tudo. Passei a mão pelos cabelos enquanto revisava os documentos do Future Mind Fund. Tudo estava bem alinhado, mas ainda havia algo fora do lugar. Sempre havia algo. Levantei os olhos ao ouvir o som de passos no cascalho. A movimentação ao redor da casa era mais agitada que o normal. Os funcionários iam e vinham com arranjos de flores, toalhas de mesa e caixas de porcelana fina, enquanto minha mãe coordenava tudo com a eficiência de um general. — Damien? — A voz firme dela interrompeu meus pensamentos. Ela apareceu no pátio, impecável como sempre. Usava um
— Olivia — a terapeuta começou, com o tom calmo e firme que ela sempre usava —, lembre-se de que as respostas que você procura não virão de um único momento. Elas são o resultado de uma jornada. Não tenha medo de ouvir o que sua intuição lhe diz. Assenti, um pouco distante. Suas palavras ressoavam, mas a ideia de “ouvir minha intuição” parecia mais assustadora do que reconfortante. O que ela me diria, afinal? Quando a sessão terminou, levantei-me devagar, ajustando as muletas com cuidado. Cada movimento parecia mais pesado hoje. No corredor, Alex estava à minha espera. Ele não disse nada, mas seu olhar preocupado me envolveu, como se quisesse carregar parte do peso que eu sentia. Antes que eu pudesse falar, ele me envolveu em um abraço firme, longo, daqueles que dizem muito sem palavras. — Vamos? — ele murmurou contra meu cabelo. Assenti, permitindo-me relaxar por um breve momento. Juntos, saímos do consultório e seguimos para o clube de hipismo. No carro, o silêncio nos acompanh
A noite já havia caído quando terminei de ajeitar a gravata, observando meu reflexo no espelho com uma leve sensação de desconforto. Desci as escadas, e o som de vozes preenchia o salão. Quando entrei na sala, a primeira coisa que percebi foi que todos já estavam ali: Orlando Montenegro, sempre com sua postura confiante; meu pai, com aquele carisma irresistível; e, claro, Olivia, que imediatamente capturou minha atenção. Ela estava linda, como sempre, mas algo em sua expressão me chamou a atenção. Havia um cansaço evidente em seus olhos, uma distância que não conseguia ignorar. Seus olhos evitavam os meus, o que só aumentava minha inquietação. — Damien — a voz de minha mãe, me tirou do transe. Ela se aproximou com aquele sorriso elegante, o mesmo sorriso que fazia todos ao redor se sentirem especiais. — Pensei que fosse nos deixar esperando para sempre. — Eu jamais faria isso, mãe — respondi, depositando um beijo suave em sua bochecha, tentando disfarçar a apreensão. Antes de cons