Assim que chego na Orion, percebo que o caos outrora formado por jornalistas e paparazzi já não existe, o que, de algum modo, traz um certo alívio. Desço do carro e caminho em direção ao elevador após estacioná-lo na minha vaga. Ao entrar, vou direto para minha sala, onde me sento na cadeira e fecho os olhos por alguns segundos. O silêncio domina cada centímetro da sala, até que ouço duas batidas na porta.— Pode entrar. — Digo, recompondo minha postura. Quando vejo quem é, a surpresa rapidamente dá lugar à irritação. Easton Royal. — Você tem que ser muito corajoso para vir até aqui.Ele entra com aquele mesmo olhar confiante de sempre e se senta à minha frente, como se eu tivesse permitido.— Acredite, eu não viria se não fosse algo importante.— E o que seria essa "coisa importante"? Aproveite que estou com paciência.— A Olívia. — Arqueio a sobrancelha, esperando. — Quero saber quais são as suas intenções com ela.— Que tipo de intenções você acha que eu teria com a minha noiva? —
— Bom dia. — Digo animada assim que vejo meu pai e Alex descendo as escadas. Eu havia acordado mais cedo que o normal. — Bom dia, princesa. — Eles respondem em uníssono, como sempre fazem.Antes de se sentarem à mesa, meu pai e Alex depositam um beijo na minha testa. Esse pequeno gesto é um hábito que eles mantêm há anos, e, por mais simples que pareça, sempre me aquece o coração. Pequenas demonstrações como essas me fazem sentir amada e protegida, algo que valorizo profundamente, especialmente quando o resto da minha vida parece tão incerto.O pequeno-almoço transcorre de forma habitual. Conversamos sobre trivialidades até que meu pai menciona o jantar na casa dos Carters. No mesmo instante, sinto um nó no estômago.— O pai confirmou que vamos? — Tento soar casual, mas a tensão em minha voz é perceptível.— Sim, filha. E acho que vai ser bom para você sair um pouco de casa. — Meu pai sorri, mas sinto o peso por trás de suas palavras.Se ele soubesse...Tento manter um sorriso educad
Faz pouco mais de alguns minutos que estou no Sinners, observando Ronan descarregar sua raiva no saco de pancadas. Cada golpe é mais pesado que o anterior, ecoando pelo espaço. Reed e Levi estão encostados em uma das colunas de suporte, discutindo baixinho, provavelmente sobre quanto tempo ele vai continuar assim. Quando cheguei, perguntei o que havia acontecido, mas nenhum dos dois sabia ao certo. Agora, vendo Ronan desse jeito, a curiosidade só aumenta.— Mulheres são complicadas. — Ronan para de repente, largando os punhos e caminhando até o bebedouro, onde bebe água em grandes goles, tentando recuperar o fôlego.— Então é por isso que está assim? — Levi levanta uma sobrancelha com um sorriso debochado. — Uma mulher conseguiu te deixar fora de si?— Nunca vi o Ronan assim antes. — Reed se junta à provocação. — Essa mulher deve ter cometido um crime gravíssimo.— O que aconteceu? — Pergunto, mais por curiosidade do que por preocupação. — Aliás, parabéns para ela. Pelo visto, hoje nã
Faz algumas horas que Ana foi embora, depois de passar parte da tarde comigo. Ela disse que precisava ir ao restaurante para verificar como as coisas estavam. Sozinha novamente, e com o silêncio se espalhando pela casa, decidi ir para o meu quarto. Não tinha intenção de incomodar Leila para me ajudar a subir as escadas. Eu já sabia que a ajuda dela, embora gentil, não me permitiria ter um momento de paz. Então, com esforço, decidi enfrentar o desafio sozinha. Dei passos lentos, com as muletas apoiadas ao lado. A cada degrau, o incômodo aumentava, mas algo dentro de mim insistia em continuar. Eu precisava fazer isso por mim mesma.Quando finalmente cheguei ao meu quarto, respirei fundo, aliviada. O pensamento de que amanhã seria o jantar na casa dos Carters ainda me causava desconforto. Eu não queria ir, mas sabia que fazer essa desfeita a senhora Celine não estava nos meus planos. Ela era uma mulher doce, e eu a respeitava demais para recusar um convite com o qual ela provavelmente ti
O silêncio entre mim e Olívia era peculiar. Não desconfortável, mas carregado de uma tensão que não conseguia nomear. Ela continuava com o olhar fixo na fonte, os dedos cruzados no colo, como se a dança das águas fosse a única coisa capaz de prender sua atenção. Por outro lado, meus olhos alternavam entre ela e o pôr-do-sol que coloria o céu com tons de laranja e dourado. Era uma cena calma, mas cheia de algo inominável.Finalmente, ela quebrou o silêncio, sua voz saindo suave, mas determinada:— Acho que já resolvemos tudo por hoje.Ergui uma sobrancelha e deixei um sorriso de canto surgir.— Está me expulsando, Montenegro?Ela virou-se para mim, mas desviou o olhar rapidamente. O rubor em suas bochechas denunciava algo que talvez nem ela entendesse.— Não… É que… — Sua voz hesitou, e ela pareceu se frustrar com a própria dificuldade de se explicar. Então, suspirou. — Quer saber? Fique o tempo que quiser.Não consegui evitar a provocação.— Você tem esse jeito de ser… interessante. A
Alex entrou na sala de estar com uma expressão visivelmente fechada. Não precisava dizer nada para que eu soubesse que estava irritado. O motivo era óbvio: Damien Carter. Desde que ele começou a aparecer mais na minha vida, a tensão entre os dois parecia palpável, e Alex nunca fez questão de esconder sua desaprovação. O silêncio que pairava na sala estava carregado, quase sufocante. Eu sabia que, se não quebrasse o gelo, Alex despejaria sua preocupação de forma explosiva. — Abra seu coração, Alex. Sei que tens algo a dizer, mas estás receoso de me magoar. — Sorri levemente, tentando desarmá-lo com um tom descontraído. Ele suspirou, esfregando a nuca — um hábito antigo, típico de quando lutava para conter sua irritação. Para mim, Alex era mais do que um irmão mais velho. Ele era minha rocha, meu porto seguro. Mesmo que às vezes sua proteção excessiva me irritasse, era reconfortante saber que ele se importava genuinamente comigo. — Não gosto dessa tua proximidade com o Damien, L
O caminho para casa foi tranquilo, sem congestionamento. Assim que estacionei o carro na garagem, observei a fachada imponente da mansão. O estilo clássico, com colunas brancas e janelas altas, exalava poder e tradição. Não era apenas uma casa; era uma declaração de status.Fiquei alguns minutos dentro do carro, contemplando as luzes acesas nas grandes janelas. Peguei o celular e liguei para Parks, avisando que não iria ao escritório amanhã. Assim que encerrei a chamada, saí do carro e segui em direção à entrada principal.O hall de entrada era amplo, com pisos de mármore polido que refletiam a luz do imenso lustre de cristal no teto. Uma escada em curva dominava o espaço, com um corrimão de ferro forjado delicadamente ornamentado. O cheiro suave de madeiras caras e flores frescas preenchia o ambiente, graças aos arranjos estrategicamente posicionados pelos corredores.Antes mesmo de abrir a porta da sala principal, ouvi vozes elevadas ecoando. Não precisei me esforçar muito para reco
A sala da terapeuta era um refúgio silencioso e discreto, muito diferente da opulência e das tensões que costumavam cercar minha vida. O piso de madeira clara rangia levemente sob meus passos, e o cheiro suave de lavanda vinha de um difusor posicionado em uma prateleira ao lado de livros bem organizados. O espaço era pequeno, mas acolhedor: um sofá cinza com almofadas macias, uma poltrona de couro caramelo para a terapeuta, uma mesinha de centro com uma jarra de água e dois copos. As paredes eram decoradas com quadros abstratos em tons pastéis, transmitindo uma calma que parecia quase ilusória.Sentei-me no sofá, cruzando os braços e os tornozelos, tentando encontrar uma postura confortável, mesmo sabendo que isso era mais um esforço para mascarar meu desconforto interno e físico por causa do gesso na minha perna. Fiquei quieta por um momento, olhando para as almofadas, tentando evitar a sensação de que estava sendo observada.— Você parece pensativa hoje. — A voz da terapeuta, Dra. M