Chelsea
Escapo para fora da cama, sentindo uma dor de cabeça intensa.
Não me recordo muito bem do que aconteceu depois que me debulhei em lágrimas na frente daquele homem. Ele foi gentil, me colocou em seu carro e me trouxe até a minha casa sem fazer perguntas.
Eu sou louca, deixei que um homem estranho me trouxesse em casa.
Mas sem a ajuda dele, teria passado quanto tempo mais chorando naquele banco?
Tiro a blusa larga vendo o meu reflexo no espelho. A médica não mentiu quando disse que eu tenho um crescimento notável em meu abdômen. Meus dois brotinhos precisam de muito espaço para crescerem bem.
Ignorando as pontadas insistentes na minha cabeça, caminho para perto do berço onde Melissa dorme calmamente. Ela é uma garota tão boa, assim como a sua mãe era. Um sorriso estranho se forma em meu rosto, já que meus olhos ardem, anunciando que estou prestes a chorar de novo.
É impossível ignorar o choro constante.
Tenho tantos motivos para chorar que é difícil saber qual o pior deles.
— Oi, meu brotinho — digo, pegando a menina nos braços quando seus olhos claros em um tom de verde reluzente me encaram. — Está com fome, certo?
Seu sonzinho de bebê pode ter outro significado, mas considero como uma resposta positiva para mim. Dormiu bastante, deve estar faminta agora. Também quero comer algo quentinho.
Com algumas tarefas em mente, sigo todas elas depois de dar a mamadeira para Melissa. Eu ainda não tenho leite, então não posso amamentá-la. Pelo menos ainda tenho dinheiro para comprar a fórmula láctea.
Mas quanto tempo mais eu consigo durar?
Se aquele merda não tivesse nos roubado! Porra!
Com meu sangue fervendo e com um pão feito na chapa com quanto queijo ainda tinha na geladeira, desço para o primeiro andar. Preciso organizar tudo para que o evento para o qual fomos contratados dê certo, é a única maneira de contornar o rombo feito por aquele maldito.
Quanto azar eu tenho?
Colocando Melissa na cadeirinha de bebê ao meu lado, começo a organizar os arranjos florais para o evento. Ainda tenho que fazer pelo menos trinta deles, mas o tempo é curto. Também tenho que cuidar da recepção da floricultura.
Toda essa merda está acontecendo por causa dele.
Se eu vê-lo, posso acabar matando-o.
— Ei, meu brotinho, acho que terei que carregar essas coisas lá para baixo se quiser dar conta de tudo — falo com a bebê, que não tem ideia de que é um dos poucos motivos para continuar me esforçando para sair da cama. — Se eu descansar poucos minutos entre um arranjo e outro, deve dar tempo de terminá-los.
É a única forma de receber. Se eu ainda pudesse pagar algum funcionário, seria bem mais fácil. Poderia me focar neles, mas sem ajuda tenho que me dividir em funções demais.
— Não tenho tempo para descansar — murmuro, admirando os olhinhos da bebê mais fofa do mundo. Minha irmã devia ser assim quando era um bebê. Tenho que proteger a parte dela que ficou comigo.
Depois de um tempo considerável indo e voltando com o que preciso para fazer os arranjos, consigo me sentar no chão na frente da recepção depois de virar a placa mostrando que estamos abertos.
Apoio uma mão em cima da minha barriga protuberante por um momento e respiro fundo. Mesmo que tenha comido, a minha dor de cabeça não se foi. É um problema trabalhar assim.
No entanto, não posso reclamar. Agradeço pela floricultura ser conhecida pelo seu ótimo serviço. Minha irmã criou uma boa reputação para seu negócio, então, mesmo que eu não seja tão boa quanto ela em organizar tudo, consigo vender o bastante para me sustentar, desde que elimine gastos menos importantes.
— Bem-vindo a Belas flores — cumprimento, começando a me erguer do chão, mas meus joelhos cedem assim que vejo o rosto dele. Sei que o dia está bem ruim, mas tinha que piorar. — O que está fazendo aqui? — pergunto, ajeitando minhas pernas para voltar a me sentar.
— Precisamos conversar — me diz o meu ex, e ainda me surpreendo com a sua cara de pau. Como pode falar sobre conversar depois do que fez? Acha que eu sou idiota? Pensa que terá uma nova chance de me manipular?
— Vai embora, Marshall, eu não tenho tempo para lidar com as suas desculpas — profiro as palavras, querendo uma única chance de dar um soco na sua cara. Não é a primeira vez que vem atrás de mim, mas é irritante insistir quando sabe que eu sei de tudo, mesmo que não possa provar.
— Chelsea, você vai mesmo me tratar desse modo quando eu sou o pai das crianças que está carregando? — questiona e entendo quem diz que amar alguém faz com que fiquemos cegos. Porque eu nunca percebi o quanto Marshall era idiota até me trair de formas diferentes.
Todos os homens que entram no meu caminho são podres.
Seja ele, seja o meu pai, seja o meu cunhado.
Todos são um monte de merda.
Tem apenas uma exceção.
— Tem sorte de eu estar gravida, senão socaria tanto a sua cara que ninguém te reconheceria — falo, mas mesmo que tente, não consigo me focar no meu trabalho anterior. O que caralho se passa na mente dele para pensar que tem o direito de vir aqui falar comigo?
— Chelsea, se o problema é o dinheiro, eu posso te dar, te dou tudo o que recebi pelos quadros, eu faço o que você quiser, mas você não pode parar de pintar — discorre as palavras, e sinto meus olhos arderem pelo desejo de chorar. Eu devia saber que havia um motivo para apoiar tanto meu trabalho como artista. — Agora que...
— Quer que eu te dê um novo quadro? Está com medo de não poder mais vender os meus trabalhos? — pergunto, com minha voz soando esganiçada e sequer tenho força para me levantar. Odeio ter que olhar para cima para discutir com ele. — Essa fonte secou para você, Marshall, vai embora. Some da minha frente.
— Não posso sumir, Chelsea, você é a mãe dos meus filhos, você...
A risada escapando de mim entre os soluços causados pelo choro é horrível.
— Como você se atreve?
Chelsea— Você vem atrás de mim enquanto deixa a sua amante esperando no seu apartamento? — Ergo uma mão, impedindo-o de falar antes que eu termine. — Você enche a boca para falar de filhos quando disse que eu deveria abortar? Faz isso com que interesse? Perdão? Eu te perdoo, enfie esse perdão no seu rabo e suma da minha frente.O tom exagerado da minha voz faz Melissa ficar agitada. Apoiando-me em meus joelhos, a pego, balançando-a com cuidado, esperando que perceba que eu não tinha a intenção. Em nenhum momento quis que se assustasse, mas não consigo me controlar.— Chelsea, você não pode me ignorar para sempre, eu sou o pai dessas crianças e... — Estava decidida a ignorar as suas palavras, mas fico ainda mais feliz por ele ter se calado.No entanto, conter a surpresa é impossível quando vejo o porquê de ele ter se silenciado. O homem truculento segura seu rosto, apertando a sua mandíbula com força. O desconforto de Marshall é notável.— Que ridículo, um homem adulto irritando uma m
Chelsea— Posso concluir que é algo para área interna da sua casa ou apartamento, certo? — pergunto depois de notar que ele assiste minha conversa solo com melissa com muito interesse. Provavelmente pensará que perdi meu juízo. — Aqui temos antúrios, eles precisam de poucas regas na semana.Devo ser um pouco mais clara sobre os meios de cuidar delas?Se estiver preocupado com o crescimento ou com a quantidade de vezes em que precisa regá-las. Não tenho tanta experiência de vendas quanto a minha irmã, apesar de nossos conhecimentos serem parecidos.— É bonita — diz, e gostaria de que não estivesse me encarando tanto enquanto elogia as flores. — Essa também?— São hortênsias, são ótimas para quem tem uma rotina corrida. Regá-la duas vezes na semana é o bastante para a manutenção dela, e como pode ver, elas são bem bonitas — profiro. Me arrependo de o olhar depois de seu silêncio, pois confunde um pouco do meu raciocínio, já que não disse nada de errado. — Violetas e Begônias também são
Chelsea— Eu sei, eu sei — murmuro, quase chorando com a menina. O que aconteceu naquele dia, quando Marshall veio aqui, deve ter mexido com ela. Sempre que ouve sons um pouco mais altos, fica assustada e também tem esse resfriado.Deus, eu preciso fazer mais alguma coisa.— A mamãe é horrível, sinto muito meu brotinho — balbucio, balançando-a enquanto caminho pela casa. O médico disse que ela ficaria bem, mas não vejo melhora. Com ela tão doente, nem consegui terminar o pedido e preciso entregá-lo amanhã. — Nós estamos fechados — digo vendo que o indivíduo continua entrando, mesmo depois do que disse.— Os amigos precisam vir só quando a loja está aberta? — pergunta e quase choro, de verdade, porque me sinto aliviada vendo-o aqui. — O que aconteceu com a Melissa?— É um resfriado forte — falo e ele deixa a sua bolsa imensa de lado para vir até mim. — Pensei que você precisaria de mais tempo treinando, já que seu time venceu os últimos jogos.— Também tenho que descansar, sabia? — Peg
ArchieO som da porta quando passo por ela traz certa calmaria para mim.Talvez pelo lugar me lembrar dela. Apenas entrar nele mostra que tem um dedo seu nele. Também tem os quadros. Suas assinaturas estão em cada um deles, mas a expressão em seu rosto é muito diferente do que está exposto neles.Caminho na direção da recepção e me surpreendo por ver um homem segurando Melissa com um único braço enquanto ela parece curiosa devido à mudança de expressão dele.— Bem-vindo a Belas Flores — fala, mudando o seu semblante para algo mais agradável. Está ativando o seu modo de vendedor depois de ter deixado a sua surpresa clara.— É um funcionário novo? — pergunto, já que não sabia que havia uma pessoa como ele em torno dela. Deixaram as informações dele de fora?— Um amigo — responde, deixando a sua desconfiança à vista. Tudo bem que seja desconfiado, já que também não confio nele. — Conhece a Sea?Demoro alguns segundos para processar que fala da Chelsea. Nunca ouvi ninguém a chamando desse
Chelsea— Fico muito agradecida por estar me ajudando — falo e me olha de lado, parece estar ponderando sobre o que se passa na minha cabeça, e devo dizer que a minha mente se aquieta bastante na sua presença. — Apesar de sermos estranhos, você tem me ajudado desde a primeira vez que nos vimos.— É preciso elogiar alguém por fazer tão pouco? — me pergunta e sou aquela a questionar o que tem na sua cabeça. Em seus olhos carrega tanta coisa, mas eu não posso lê-las, não nesse momento.— Pode ser pouco para você, mas para mim, que vivi a maior parte da minha vida só tendo a minha irmã, é muito mais do que pensa — asseguro a ele, mas o olhar em sua face não muda.Talvez ser uma pessoa que tenha tanto faz com que ele continue acreditando que estou exagerando, mas não é verdade. Meu pai abandonou minha irmã e eu em um orfanato, esqueceu da nossa existência até que um dia voltou querendo dinheiro.Minha irmã tentou se livrar dele, mas foi um crápula persistente.Continuou fazendo estardalhaç
Chelsea— Archie, não esperava te ver aqui — diz a mulher assim que vê a minha companhia e é bem claro que o olhar no rosto dele se modificou. A sujeita o encara em silêncio por vários segundos antes de sorrir de um jeito estranho. — é mesmo, você me disse que viria, minha memória é horrível, você sabe.— Dê um jeito nisso antes que arruíne os seus negócios — responde Archie sem muito interesse a como ela reagirá aquilo que foi dito. — Onde estão os homens para descarregar sua encomenda?Antes que eu me mova para falar qualquer coisa, a mulher sai na minha frente.— Eles estão vindo — fala, mexendo em seu telefone rapidamente. — Minha secretaria disse que você é a melhor com esse tipo de trabalho manual.— Na verdade, minha irmã que era, mas você pode ver os produtos e averiguar a qualidade por conta própria — profiro, porque sei que quem conhecia o rosto da minha irmã saberá que não sou ela. Me ater à sua identidade me causaria um problema mais tarde.— Você tem um jeito interessante
Chelsea— Muito obrigada — digo para a mulher depois que ela me entrega a prancheta onde estão os papéis de confirmação de entrega. Saber que o dinheiro na minha conta está esperando para ser usado me deixa bem mais feliz.Tenho algumas questões que precisam ser resolvidas rapidamente, como a compra de produtos essenciais para Melissa. É tão pequena e é horrível quando não consigo comprar tudo o que necessita.— Foi um prazer. Eles ficaram tão bonitos quanto eu imaginava — articula a mulher chamada de Pamela. Entendo porque a sua chefe confia tanto nela. Desde a primeira vez que a vi, percebi que exala confiança.Não é diferente hoje. Em seus olhos, vejo o quanto se esforça para cumprir com o seu trabalho seguindo as melhores indicações, também não se recusa a encarar alguém que está em uma posição abaixo da dela, como eu.Me respeita pelo trabalho que posso cumprir em nome do que precisa.— Obrigada — agradeço mais uma vez, e espero que tenha sido o bastante para continuar procurando
Chelsea— A Mel gosta mesmo de mim, não é? — Yahya parece muito orgulhoso por sua conquista. O coração da menina é completamente derretido por ele e sabe disso. — Já a viu dormir tão fácil?— Ela normalmente dorme fácil — digo e ele faz uma expressão estranha, acusa-me de tomar a sua vitória a força, mas é verdade que Melissa não é uma criança difícil. Tenho sorte.Se ela fosse uma criança que fica facilmente doente ou que pudesse saber sobre a morte da sua mãe, como eu sei, poderíamos ser duas sofrendo sem parar. Melissa sente saudade da minha irmã, mas como é uma criança, também se adapta com mais facilidade.Depois de colocá-la no berço, Yahya deita-se do meu lado na cama e, após um tempo encarando o teto, vira-se, ficando de lado para encarar-me. O meu perfil queima enquanto seus olhos me vasculham.— Você está bem? — Me pergunta e viro meu rosto, observando os seus olhos e tenho vontade de sorrir, porque a sua preocupação é tão clara, sinceramente não entendo se minha irmã não a