Chelsea
— Posso concluir que é algo para área interna da sua casa ou apartamento, certo? — pergunto depois de notar que ele assiste minha conversa solo com melissa com muito interesse. Provavelmente pensará que perdi meu juízo. — Aqui temos antúrios, eles precisam de poucas regas na semana.
Devo ser um pouco mais clara sobre os meios de cuidar delas?
Se estiver preocupado com o crescimento ou com a quantidade de vezes em que precisa regá-las. Não tenho tanta experiência de vendas quanto a minha irmã, apesar de nossos conhecimentos serem parecidos.
— É bonita — diz, e gostaria de que não estivesse me encarando tanto enquanto elogia as flores. — Essa também?
— São hortênsias, são ótimas para quem tem uma rotina corrida. Regá-la duas vezes na semana é o bastante para a manutenção dela, e como pode ver, elas são bem bonitas — profiro. Me arrependo de o olhar depois de seu silêncio, pois confunde um pouco do meu raciocínio, já que não disse nada de errado. — Violetas e Begônias também são opções para ambientes internos.
— Eu não sei muito sobre flores, se você me indicar o que acha melhor, vou aceitar com prazer — articula as palavras com tanta facilidade que minha cabeça dá um nó. Talvez a dor de cabeça chata esteja voltando para me irritar.
— Minha preferida seria a hortênsia, mas...
— Fico com as hortênsias — fala, me interrompendo antes que meu raciocínio fosse concluído. Eu poderia falar um pouco mais sobre elas antes de fazer a sua escolha. Decidir por minha causa é estranho.
— Certo, vou preparar para você. — Deixo as palavras saírem antes que todos esses pensamentos se acumulando em minha mente façam com que eu diga alguma bobagem.
As coisas voltaram ao normal depois que eu completar o seu pedido.
Uma pena que o restante das situações da minha vida não possam ser resolvidas desse modo. Os dias tranquilos que poderiam só ser aproveitados sumiram no dia em que a minha irmã se foi.
Merda! Passo a costa da mão em meu olho, empurrando a lágrima para longe da minha face. O que estou fazendo chorando na frente de um cliente que me ajudou? Perdi totalmente o controle das minhas emoções?
— Chelsea, precisa que eu te ajude? — questiona o homem e só queria pedir para que ele saia para que eu consiga chorar sem me sentir culpada, mas chorar não pagará minhas contas.
— Estou bem — minto descaradamente. Não preciso convencer ninguém acerca do meu estado. Creio que está obvio em todo o meu rosto sem que diga. As palavras apenas são ditas na intenção de que não continue perguntando sobre o meu estado. — Só preciso colocar a Melissa na sua cadeirinha.
— Se confiar em mim, eu posso segurá-la enquanto você faz o que precisa. Deve ser rápido, certo? — Bom, é verdade que será ligeiro, entretanto, ele ainda é um estranho, um que me ajudou. — Tudo bem, é aquilo que estava no chão com você, não é? — Meneio a cabeça, afirmando e ele se afasta e volta trazendo o que eu queria.
— Sinto que continuo tendo vontade de te agradecer quando nos encontramos — digo, preparando o vaso de hortênsias para que ele o leve enquanto Melissa assiste o que ocorre com atenção. Parece interessada pelo homem.
— Não precisa continuar agradecendo, apenas aceite — profere as palavras como se a parte mais importante delas tivesse sido ocultada. Ignoro os sentimentos estranhos se revirando dentro de mim e finalizo a sua compra o mais rápido que posso.
Quanto mais rápido ficarmos longe um do outro, menos terei vontade de encontrar as nuances por trás de suas palavras. Se seus olhos sumirem da minha frente, não precisarei me perguntar sobre o que podem esconder.
— Obrigada pela sua compra — digo, forçando o melhor sorriso que posso nessa situação, já que ele certamente deve ter notado que eu estava quase me derretendo em lágrimas há não muito tempo.
— Suas recomendações foram ótimas, vou voltar para ouvi-las outra vez — anuncia algo inesperado e vai embora sem permitir que eu tenha tempo de fazer qualquer réplica. O que foi isso? E por que seu cheiro continua aqui depois que se foi? Maldito perfume caro.
— Talvez eu deva só sumir? — pergunto a Melissa. — Acho que seria bom morarmos próximo à praia, o que acha, meu brotinho? — A menina somente se diverte com meu falatório sem saber o que minhas palavras significam. — Bom, se não fosse aquele escroto, eu poderia só abandonar tudo isso nas mãos de alguém mais capaz.
O que estou pensando? Minha irmã se reviraria no tumulo sem parar se eu escolhesse agir dessa maneira. Esse negócio era seu, mas nós o construímos juntas e tem tantas partes minhas aqui que é difícil considerar ir para longe.
Fugir não resolve os meus problemas.
Seria mais fácil se desse para resolvê-los dessa maneira.
— Meu brotinho, a mamãe tem que parar de esperar que as coisas funcionem e fazer elas acontecerem, não acha?
É isso, não há nada mais a ser feito, preciso apenas trabalhar.
Se eu entregar esse pedido, teremos dinheiro para algum tempo. Quem sabe para um período que me permita encontrar alguém que queira o serviço oferecido. Mesmo que minhas mãos caiam, preciso fazer funcionar de alguma maneira.
Desistir é uma palavra que arranquei do meu vocabulário no dia em que percebi que somente eu e essa menina tínhamos restado no mundo. Parte da minha família se foi, mas ela ficou comigo. Mesmo quando quis vacilar, percebi que não poderia, porque nós duas não estávamos mais sozinhas.
Apoio uma mão em minha barriga e respiro profundamente.
Até que essas crianças nasçam, eu preciso conseguir um meio mais estável de ter dinheiro. Enquanto eu puder cuidar delas, terei forças para persistir, mesmo nos dias mais difíceis. Só preciso persistir.
Aliso minha barriga repetidamente enquanto tento me lembrar de tudo mais que devo fazer antes de voltar à tarefa de fazer os arranjos de flores. Eles precisam ser perfeitos. Todos os clientes precisam saber que, mesmo que minha irmã não esteja aqui, o serviço ainda é igual.
O legado dela vai ser mantido, farei com que seja assim.
Só preciso permanecer lutando.
Apenas um pouco mais.
Chelsea— Eu sei, eu sei — murmuro, quase chorando com a menina. O que aconteceu naquele dia, quando Marshall veio aqui, deve ter mexido com ela. Sempre que ouve sons um pouco mais altos, fica assustada e também tem esse resfriado.Deus, eu preciso fazer mais alguma coisa.— A mamãe é horrível, sinto muito meu brotinho — balbucio, balançando-a enquanto caminho pela casa. O médico disse que ela ficaria bem, mas não vejo melhora. Com ela tão doente, nem consegui terminar o pedido e preciso entregá-lo amanhã. — Nós estamos fechados — digo vendo que o indivíduo continua entrando, mesmo depois do que disse.— Os amigos precisam vir só quando a loja está aberta? — pergunta e quase choro, de verdade, porque me sinto aliviada vendo-o aqui. — O que aconteceu com a Melissa?— É um resfriado forte — falo e ele deixa a sua bolsa imensa de lado para vir até mim. — Pensei que você precisaria de mais tempo treinando, já que seu time venceu os últimos jogos.— Também tenho que descansar, sabia? — Peg
ArchieO som da porta quando passo por ela traz certa calmaria para mim.Talvez pelo lugar me lembrar dela. Apenas entrar nele mostra que tem um dedo seu nele. Também tem os quadros. Suas assinaturas estão em cada um deles, mas a expressão em seu rosto é muito diferente do que está exposto neles.Caminho na direção da recepção e me surpreendo por ver um homem segurando Melissa com um único braço enquanto ela parece curiosa devido à mudança de expressão dele.— Bem-vindo a Belas Flores — fala, mudando o seu semblante para algo mais agradável. Está ativando o seu modo de vendedor depois de ter deixado a sua surpresa clara.— É um funcionário novo? — pergunto, já que não sabia que havia uma pessoa como ele em torno dela. Deixaram as informações dele de fora?— Um amigo — responde, deixando a sua desconfiança à vista. Tudo bem que seja desconfiado, já que também não confio nele. — Conhece a Sea?Demoro alguns segundos para processar que fala da Chelsea. Nunca ouvi ninguém a chamando desse
Chelsea— Fico muito agradecida por estar me ajudando — falo e me olha de lado, parece estar ponderando sobre o que se passa na minha cabeça, e devo dizer que a minha mente se aquieta bastante na sua presença. — Apesar de sermos estranhos, você tem me ajudado desde a primeira vez que nos vimos.— É preciso elogiar alguém por fazer tão pouco? — me pergunta e sou aquela a questionar o que tem na sua cabeça. Em seus olhos carrega tanta coisa, mas eu não posso lê-las, não nesse momento.— Pode ser pouco para você, mas para mim, que vivi a maior parte da minha vida só tendo a minha irmã, é muito mais do que pensa — asseguro a ele, mas o olhar em sua face não muda.Talvez ser uma pessoa que tenha tanto faz com que ele continue acreditando que estou exagerando, mas não é verdade. Meu pai abandonou minha irmã e eu em um orfanato, esqueceu da nossa existência até que um dia voltou querendo dinheiro.Minha irmã tentou se livrar dele, mas foi um crápula persistente.Continuou fazendo estardalhaç
Chelsea— Archie, não esperava te ver aqui — diz a mulher assim que vê a minha companhia e é bem claro que o olhar no rosto dele se modificou. A sujeita o encara em silêncio por vários segundos antes de sorrir de um jeito estranho. — é mesmo, você me disse que viria, minha memória é horrível, você sabe.— Dê um jeito nisso antes que arruíne os seus negócios — responde Archie sem muito interesse a como ela reagirá aquilo que foi dito. — Onde estão os homens para descarregar sua encomenda?Antes que eu me mova para falar qualquer coisa, a mulher sai na minha frente.— Eles estão vindo — fala, mexendo em seu telefone rapidamente. — Minha secretaria disse que você é a melhor com esse tipo de trabalho manual.— Na verdade, minha irmã que era, mas você pode ver os produtos e averiguar a qualidade por conta própria — profiro, porque sei que quem conhecia o rosto da minha irmã saberá que não sou ela. Me ater à sua identidade me causaria um problema mais tarde.— Você tem um jeito interessante
Chelsea— Muito obrigada — digo para a mulher depois que ela me entrega a prancheta onde estão os papéis de confirmação de entrega. Saber que o dinheiro na minha conta está esperando para ser usado me deixa bem mais feliz.Tenho algumas questões que precisam ser resolvidas rapidamente, como a compra de produtos essenciais para Melissa. É tão pequena e é horrível quando não consigo comprar tudo o que necessita.— Foi um prazer. Eles ficaram tão bonitos quanto eu imaginava — articula a mulher chamada de Pamela. Entendo porque a sua chefe confia tanto nela. Desde a primeira vez que a vi, percebi que exala confiança.Não é diferente hoje. Em seus olhos, vejo o quanto se esforça para cumprir com o seu trabalho seguindo as melhores indicações, também não se recusa a encarar alguém que está em uma posição abaixo da dela, como eu.Me respeita pelo trabalho que posso cumprir em nome do que precisa.— Obrigada — agradeço mais uma vez, e espero que tenha sido o bastante para continuar procurando
Chelsea— A Mel gosta mesmo de mim, não é? — Yahya parece muito orgulhoso por sua conquista. O coração da menina é completamente derretido por ele e sabe disso. — Já a viu dormir tão fácil?— Ela normalmente dorme fácil — digo e ele faz uma expressão estranha, acusa-me de tomar a sua vitória a força, mas é verdade que Melissa não é uma criança difícil. Tenho sorte.Se ela fosse uma criança que fica facilmente doente ou que pudesse saber sobre a morte da sua mãe, como eu sei, poderíamos ser duas sofrendo sem parar. Melissa sente saudade da minha irmã, mas como é uma criança, também se adapta com mais facilidade.Depois de colocá-la no berço, Yahya deita-se do meu lado na cama e, após um tempo encarando o teto, vira-se, ficando de lado para encarar-me. O meu perfil queima enquanto seus olhos me vasculham.— Você está bem? — Me pergunta e viro meu rosto, observando os seus olhos e tenho vontade de sorrir, porque a sua preocupação é tão clara, sinceramente não entendo se minha irmã não a
Chelsea— Bem-vindo a... — O cumprimento morre em meus lábios assim que vejo o rosto de Archie. É tão brilhante que por um momento penso que deveria somente ignorar, mas isso seria horrível quando veio como um cliente. — Por acaso, mora aqui perto? — Pergunto.Ele deixa um sorriso largo tomar a sua face e se aproxima com muito cuidado até se curvar em cima do balcão. Estava fazendo alguns rascunhos para novos arranjos e Archie parece interessado em ver os esboços.— Na verdade, não, eu não moro perto — responde e eu deveria ter que tipo de reação à sua resposta? Não tenho certeza de qual seria a mais correta, mas a minha surpresa faz ele se divertir.Pensei que seria o tipo de homem que arranja uma desculpa, mas está sendo sincero. Costumo saber lidar com aqueles que querem somente fazer um jogo de gato e rato, mas é diferente quando olho para Archie.Suas intenções não são tão visíveis.— Mas aqui tem as melhores flores da cidade — fala e eu aceitaria o elogio de bom grado, se não pu
Chelsea— Você parece um pouco culpada — comenta Yahya e sim, talvez eu me sinta culpada pela maneira como respondi Archie ontem. Não é como se eu esperasse que ele voltaria, entretanto, eu claramente fui rude.Ainda que eu esteja uma bagunça emocionalmente devido à gravidez, nada justifica agir desse modo com uma pessoa que fez uma pergunta sem intenções ruins. Estava apenas conversando comigo e eu cortei o assunto daquele modo.— Me sinto péssima, eles estão brincando bastante — conto para Yahya que olha a minha barriga com bastante interesse. Sei que não é possível serem chutes, é provável serem gases, mas prefiro pensar que são os bebês chutando. — Não agora — falo antes que queira sentir o quão forte dois bebês podem mostrar que estão crescendo bem.— Só isso? Desde que te encontrei ontem com os esboços, você parecia estranha — articula, acho que é a melhor pessoa para dizer quando estou agindo estranhamente, já que é aquele quem mais me viu em momentos complicados. — Pensei que