05. Força

Chelsea

— Eu sei, eu sei — murmuro, quase chorando com a menina. O que aconteceu naquele dia, quando Marshall veio aqui, deve ter mexido com ela. Sempre que ouve sons um pouco mais altos, fica assustada e também tem esse resfriado.

Deus, eu preciso fazer mais alguma coisa.

— A mamãe é horrível, sinto muito meu brotinho — balbucio, balançando-a enquanto caminho pela casa. O médico disse que ela ficaria bem, mas não vejo melhora. Com ela tão doente, nem consegui terminar o pedido e preciso entregá-lo amanhã. — Nós estamos fechados — digo vendo que o indivíduo continua entrando, mesmo depois do que disse.

— Os amigos precisam vir só quando a loja está aberta? — pergunta e quase choro, de verdade, porque me sinto aliviada vendo-o aqui. — O que aconteceu com a Melissa?

— É um resfriado forte — falo e ele deixa a sua bolsa imensa de lado para vir até mim. — Pensei que você precisaria de mais tempo treinando, já que seu time venceu os últimos jogos.

— Também tenho que descansar, sabia? — Pega a menina dos meus braços e deveria me sentir feliz pela agitação dela diminuir, mas me culpo pela minha incapacidade de cuidar bem dela.

— Como eu queria beber — murmuro e Yahya me acusa ligeiro com seus olhos. — São só palavras de alguém cansada — asseguro a ele. — Veja o tamanho da minha barriga, acha que sou doida?

— Se eu fosse um estranho, não teria certeza, mas como te conheço. — Yahya ri assim que percebe que estou rangendo os dentes. — Por que não descansa um pouco?

— Não tenho tempo para descansar — digo, indo na direção do estúdio de produção e ele me segue, fazendo a sua mágica para acalmar Melissa. O remédio deve estar finalmente funcionando.

— Você sabe que está grávida, certo? — Fica calado depois de receber um único olhar meu. — Eu deveria começar a vir aqui com mais frequência?

— Apenas se torne um grande jogador e fique podre de rico, volte depois disso — falo e ele ri bastante. Não posso tomar o tempo dele descuidadamente. Se eu pedisse, Yahya seria capaz de deixar tudo para ficar comigo, eu sei disso, porque ele se culpa de não ter ajudado minha irmã.

— Quando eu conseguir isso, vai escutar o que eu digo?

— Quem sabe, enriqueça primeiro — professo, reunindo os materiais que preciso para continuar a confecção dos arranjos. Se eu virar a noite trabalhando, posso conseguir. Vai ser bem em cima, mas dará certo.

É isso, virei tantas noites bebendo, não é difícil fazer algo assim mais uma vez para cumprir com o prazo de um trabalho. Aperto minha mandíbula quando sinto uma dor mais forte em minha cabeça. Esse não é o momento para ser derrubada.

— Sea, você deveria descansar, não deve ter dormido com a Mel desse jeito — fala, empurro a mão que coloca em meu ombro gentilmente. — Sea...

— Pode cuidar da floricultura para mim? Eu preciso mesmo terminar esse trabalho — digo e, com os seus olhos brilhando de preocupação, ele meneia a cabeça concordando. Deus ouviu todos os meus lamentos e mandou-o para me ajudar? Não estou usando mais sorte do que tenho?

— Não se esforce demais, Sea — me pede, saindo da sala com Melissa e, se ele continuar balançando-a desse jeito, vai conseguir fazer com que durma, afinal, esteve com ela nos seus primeiros momentos nesse mundo.

Foi o primeiro a vê-la sorrir.

Apoio meus cotovelos na mesa e aperto os meus olhos, ignorando a vontade de chorar. A gravidez está enlouquecendo minhas emoções. Sei que não sou uma pedra de gelo, mas posso contar nos dedos em quantos dias eu não choro.

— Se você tivesse escutado ele, as coisas teriam sido diferentes? — Pergunto para a minha irmã, vendo-a de pé do meu lado, mas nunca poderá me dar uma resposta. Seja para mim, ou para o cara lá fora que a ama tanto que é capaz de cuidar de mim. — Merda.

Preciso focar no meu trabalho. Se eu fizer as coisas bem, tudo dará certo.

Só preciso mandar todo o azar para longe. É isso! Seja forte.

Por mais que tenha implorado para que as coisas fossem como eu gostaria, assim que finalizei o primeiro arranjo, as lágrimas já estavam brigando comigo para saber quem controlaria o meu corpo.

Se eu fosse mais forte. Se eu pudesse tê-la ajudado mais.

Nossa situação seria outra agora?

Ao invés de ajudar a irmã enlutada da mulher que amava, Yahya seria o pai que Melissa merece. Minha irmã poderia ser amada de verdade por alguém. Ela merecia tanto.

— Porra — xingo. Já faz quase quatro meses desde que ela se foi, e mesmo assim ainda sinto a sua falta, como se ontem fosse o dia em que recebi a notícia de que a arrancaram desse mundo. — Pare de chorar — mando para mim.

Todo esse chororô com certeza não é bom para os meus filhos.

Se eu não puder me conter, serão eles que vão sofrer.

— Consigo passar por essa merda — afirmo para mim, outra vez vendo a imagem da minha irmã do meu lado e ela sorri largo, incentivando-me a continuar, porque não foi uma escolha dela que a tirou de mim.

Apenas uma pessoa foi a responsável.

— Sou forte, sou forte para caralho — digo, ignorando as lágrimas grossas descendo pelo meu rosto para continuar o meu trabalho. Apenas mais algumas horas. Somente mais alguns desses e terei a minha vitória. — Bea, você vai descansar, farei com que descanse.

São palavras inúteis, considerando que elas não mudarão o passado, muito menos o fato de que sua vida foi tomada, mas se ela puder ver que a sua filha está vivendo bem, poderá ficar tranquila, e vou fazer isso acontecer.

Da mesma maneira que cuidou de mim sempre que eu precisava, farei com que aquela garotinha tenha uma boa vida. Se eu tiver um objetivo em mente, posso persistir. Ela sempre me elogiava por cumprir com as minhas metas. Só tenho que realizar mais algumas e espero que após um tempo seja mais fácil.

Apenas um pouco de facilidade é mais do que suficiente para mim.

— Tudo vai ficar bem, certo? — A imagem translucida da minha irmã meneia a cabeça, afirmando, mesmo que meu coração diga o contrário.

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