Chelsea
— Eu sei, eu sei — murmuro, quase chorando com a menina. O que aconteceu naquele dia, quando Marshall veio aqui, deve ter mexido com ela. Sempre que ouve sons um pouco mais altos, fica assustada e também tem esse resfriado.
Deus, eu preciso fazer mais alguma coisa.
— A mamãe é horrível, sinto muito meu brotinho — balbucio, balançando-a enquanto caminho pela casa. O médico disse que ela ficaria bem, mas não vejo melhora. Com ela tão doente, nem consegui terminar o pedido e preciso entregá-lo amanhã. — Nós estamos fechados — digo vendo que o indivíduo continua entrando, mesmo depois do que disse.
— Os amigos precisam vir só quando a loja está aberta? — pergunta e quase choro, de verdade, porque me sinto aliviada vendo-o aqui. — O que aconteceu com a Melissa?
— É um resfriado forte — falo e ele deixa a sua bolsa imensa de lado para vir até mim. — Pensei que você precisaria de mais tempo treinando, já que seu time venceu os últimos jogos.
— Também tenho que descansar, sabia? — Pega a menina dos meus braços e deveria me sentir feliz pela agitação dela diminuir, mas me culpo pela minha incapacidade de cuidar bem dela.
— Como eu queria beber — murmuro e Yahya me acusa ligeiro com seus olhos. — São só palavras de alguém cansada — asseguro a ele. — Veja o tamanho da minha barriga, acha que sou doida?
— Se eu fosse um estranho, não teria certeza, mas como te conheço. — Yahya ri assim que percebe que estou rangendo os dentes. — Por que não descansa um pouco?
— Não tenho tempo para descansar — digo, indo na direção do estúdio de produção e ele me segue, fazendo a sua mágica para acalmar Melissa. O remédio deve estar finalmente funcionando.
— Você sabe que está grávida, certo? — Fica calado depois de receber um único olhar meu. — Eu deveria começar a vir aqui com mais frequência?
— Apenas se torne um grande jogador e fique podre de rico, volte depois disso — falo e ele ri bastante. Não posso tomar o tempo dele descuidadamente. Se eu pedisse, Yahya seria capaz de deixar tudo para ficar comigo, eu sei disso, porque ele se culpa de não ter ajudado minha irmã.
— Quando eu conseguir isso, vai escutar o que eu digo?
— Quem sabe, enriqueça primeiro — professo, reunindo os materiais que preciso para continuar a confecção dos arranjos. Se eu virar a noite trabalhando, posso conseguir. Vai ser bem em cima, mas dará certo.
É isso, virei tantas noites bebendo, não é difícil fazer algo assim mais uma vez para cumprir com o prazo de um trabalho. Aperto minha mandíbula quando sinto uma dor mais forte em minha cabeça. Esse não é o momento para ser derrubada.
— Sea, você deveria descansar, não deve ter dormido com a Mel desse jeito — fala, empurro a mão que coloca em meu ombro gentilmente. — Sea...
— Pode cuidar da floricultura para mim? Eu preciso mesmo terminar esse trabalho — digo e, com os seus olhos brilhando de preocupação, ele meneia a cabeça concordando. Deus ouviu todos os meus lamentos e mandou-o para me ajudar? Não estou usando mais sorte do que tenho?
— Não se esforce demais, Sea — me pede, saindo da sala com Melissa e, se ele continuar balançando-a desse jeito, vai conseguir fazer com que durma, afinal, esteve com ela nos seus primeiros momentos nesse mundo.
Foi o primeiro a vê-la sorrir.
Apoio meus cotovelos na mesa e aperto os meus olhos, ignorando a vontade de chorar. A gravidez está enlouquecendo minhas emoções. Sei que não sou uma pedra de gelo, mas posso contar nos dedos em quantos dias eu não choro.
— Se você tivesse escutado ele, as coisas teriam sido diferentes? — Pergunto para a minha irmã, vendo-a de pé do meu lado, mas nunca poderá me dar uma resposta. Seja para mim, ou para o cara lá fora que a ama tanto que é capaz de cuidar de mim. — Merda.
Preciso focar no meu trabalho. Se eu fizer as coisas bem, tudo dará certo.
Só preciso mandar todo o azar para longe. É isso! Seja forte.
Por mais que tenha implorado para que as coisas fossem como eu gostaria, assim que finalizei o primeiro arranjo, as lágrimas já estavam brigando comigo para saber quem controlaria o meu corpo.
Se eu fosse mais forte. Se eu pudesse tê-la ajudado mais.
Nossa situação seria outra agora?
Ao invés de ajudar a irmã enlutada da mulher que amava, Yahya seria o pai que Melissa merece. Minha irmã poderia ser amada de verdade por alguém. Ela merecia tanto.
— Porra — xingo. Já faz quase quatro meses desde que ela se foi, e mesmo assim ainda sinto a sua falta, como se ontem fosse o dia em que recebi a notícia de que a arrancaram desse mundo. — Pare de chorar — mando para mim.
Todo esse chororô com certeza não é bom para os meus filhos.
Se eu não puder me conter, serão eles que vão sofrer.
— Consigo passar por essa merda — afirmo para mim, outra vez vendo a imagem da minha irmã do meu lado e ela sorri largo, incentivando-me a continuar, porque não foi uma escolha dela que a tirou de mim.
Apenas uma pessoa foi a responsável.
— Sou forte, sou forte para caralho — digo, ignorando as lágrimas grossas descendo pelo meu rosto para continuar o meu trabalho. Apenas mais algumas horas. Somente mais alguns desses e terei a minha vitória. — Bea, você vai descansar, farei com que descanse.
São palavras inúteis, considerando que elas não mudarão o passado, muito menos o fato de que sua vida foi tomada, mas se ela puder ver que a sua filha está vivendo bem, poderá ficar tranquila, e vou fazer isso acontecer.
Da mesma maneira que cuidou de mim sempre que eu precisava, farei com que aquela garotinha tenha uma boa vida. Se eu tiver um objetivo em mente, posso persistir. Ela sempre me elogiava por cumprir com as minhas metas. Só tenho que realizar mais algumas e espero que após um tempo seja mais fácil.
Apenas um pouco de facilidade é mais do que suficiente para mim.
— Tudo vai ficar bem, certo? — A imagem translucida da minha irmã meneia a cabeça, afirmando, mesmo que meu coração diga o contrário.
ArchieO som da porta quando passo por ela traz certa calmaria para mim.Talvez pelo lugar me lembrar dela. Apenas entrar nele mostra que tem um dedo seu nele. Também tem os quadros. Suas assinaturas estão em cada um deles, mas a expressão em seu rosto é muito diferente do que está exposto neles.Caminho na direção da recepção e me surpreendo por ver um homem segurando Melissa com um único braço enquanto ela parece curiosa devido à mudança de expressão dele.— Bem-vindo a Belas Flores — fala, mudando o seu semblante para algo mais agradável. Está ativando o seu modo de vendedor depois de ter deixado a sua surpresa clara.— É um funcionário novo? — pergunto, já que não sabia que havia uma pessoa como ele em torno dela. Deixaram as informações dele de fora?— Um amigo — responde, deixando a sua desconfiança à vista. Tudo bem que seja desconfiado, já que também não confio nele. — Conhece a Sea?Demoro alguns segundos para processar que fala da Chelsea. Nunca ouvi ninguém a chamando desse
Chelsea— Fico muito agradecida por estar me ajudando — falo e me olha de lado, parece estar ponderando sobre o que se passa na minha cabeça, e devo dizer que a minha mente se aquieta bastante na sua presença. — Apesar de sermos estranhos, você tem me ajudado desde a primeira vez que nos vimos.— É preciso elogiar alguém por fazer tão pouco? — me pergunta e sou aquela a questionar o que tem na sua cabeça. Em seus olhos carrega tanta coisa, mas eu não posso lê-las, não nesse momento.— Pode ser pouco para você, mas para mim, que vivi a maior parte da minha vida só tendo a minha irmã, é muito mais do que pensa — asseguro a ele, mas o olhar em sua face não muda.Talvez ser uma pessoa que tenha tanto faz com que ele continue acreditando que estou exagerando, mas não é verdade. Meu pai abandonou minha irmã e eu em um orfanato, esqueceu da nossa existência até que um dia voltou querendo dinheiro.Minha irmã tentou se livrar dele, mas foi um crápula persistente.Continuou fazendo estardalhaç
Chelsea— Archie, não esperava te ver aqui — diz a mulher assim que vê a minha companhia e é bem claro que o olhar no rosto dele se modificou. A sujeita o encara em silêncio por vários segundos antes de sorrir de um jeito estranho. — é mesmo, você me disse que viria, minha memória é horrível, você sabe.— Dê um jeito nisso antes que arruíne os seus negócios — responde Archie sem muito interesse a como ela reagirá aquilo que foi dito. — Onde estão os homens para descarregar sua encomenda?Antes que eu me mova para falar qualquer coisa, a mulher sai na minha frente.— Eles estão vindo — fala, mexendo em seu telefone rapidamente. — Minha secretaria disse que você é a melhor com esse tipo de trabalho manual.— Na verdade, minha irmã que era, mas você pode ver os produtos e averiguar a qualidade por conta própria — profiro, porque sei que quem conhecia o rosto da minha irmã saberá que não sou ela. Me ater à sua identidade me causaria um problema mais tarde.— Você tem um jeito interessante
Chelsea— Muito obrigada — digo para a mulher depois que ela me entrega a prancheta onde estão os papéis de confirmação de entrega. Saber que o dinheiro na minha conta está esperando para ser usado me deixa bem mais feliz.Tenho algumas questões que precisam ser resolvidas rapidamente, como a compra de produtos essenciais para Melissa. É tão pequena e é horrível quando não consigo comprar tudo o que necessita.— Foi um prazer. Eles ficaram tão bonitos quanto eu imaginava — articula a mulher chamada de Pamela. Entendo porque a sua chefe confia tanto nela. Desde a primeira vez que a vi, percebi que exala confiança.Não é diferente hoje. Em seus olhos, vejo o quanto se esforça para cumprir com o seu trabalho seguindo as melhores indicações, também não se recusa a encarar alguém que está em uma posição abaixo da dela, como eu.Me respeita pelo trabalho que posso cumprir em nome do que precisa.— Obrigada — agradeço mais uma vez, e espero que tenha sido o bastante para continuar procurando
Chelsea— A Mel gosta mesmo de mim, não é? — Yahya parece muito orgulhoso por sua conquista. O coração da menina é completamente derretido por ele e sabe disso. — Já a viu dormir tão fácil?— Ela normalmente dorme fácil — digo e ele faz uma expressão estranha, acusa-me de tomar a sua vitória a força, mas é verdade que Melissa não é uma criança difícil. Tenho sorte.Se ela fosse uma criança que fica facilmente doente ou que pudesse saber sobre a morte da sua mãe, como eu sei, poderíamos ser duas sofrendo sem parar. Melissa sente saudade da minha irmã, mas como é uma criança, também se adapta com mais facilidade.Depois de colocá-la no berço, Yahya deita-se do meu lado na cama e, após um tempo encarando o teto, vira-se, ficando de lado para encarar-me. O meu perfil queima enquanto seus olhos me vasculham.— Você está bem? — Me pergunta e viro meu rosto, observando os seus olhos e tenho vontade de sorrir, porque a sua preocupação é tão clara, sinceramente não entendo se minha irmã não a
Chelsea— Bem-vindo a... — O cumprimento morre em meus lábios assim que vejo o rosto de Archie. É tão brilhante que por um momento penso que deveria somente ignorar, mas isso seria horrível quando veio como um cliente. — Por acaso, mora aqui perto? — Pergunto.Ele deixa um sorriso largo tomar a sua face e se aproxima com muito cuidado até se curvar em cima do balcão. Estava fazendo alguns rascunhos para novos arranjos e Archie parece interessado em ver os esboços.— Na verdade, não, eu não moro perto — responde e eu deveria ter que tipo de reação à sua resposta? Não tenho certeza de qual seria a mais correta, mas a minha surpresa faz ele se divertir.Pensei que seria o tipo de homem que arranja uma desculpa, mas está sendo sincero. Costumo saber lidar com aqueles que querem somente fazer um jogo de gato e rato, mas é diferente quando olho para Archie.Suas intenções não são tão visíveis.— Mas aqui tem as melhores flores da cidade — fala e eu aceitaria o elogio de bom grado, se não pu
Chelsea— Você parece um pouco culpada — comenta Yahya e sim, talvez eu me sinta culpada pela maneira como respondi Archie ontem. Não é como se eu esperasse que ele voltaria, entretanto, eu claramente fui rude.Ainda que eu esteja uma bagunça emocionalmente devido à gravidez, nada justifica agir desse modo com uma pessoa que fez uma pergunta sem intenções ruins. Estava apenas conversando comigo e eu cortei o assunto daquele modo.— Me sinto péssima, eles estão brincando bastante — conto para Yahya que olha a minha barriga com bastante interesse. Sei que não é possível serem chutes, é provável serem gases, mas prefiro pensar que são os bebês chutando. — Não agora — falo antes que queira sentir o quão forte dois bebês podem mostrar que estão crescendo bem.— Só isso? Desde que te encontrei ontem com os esboços, você parecia estranha — articula, acho que é a melhor pessoa para dizer quando estou agindo estranhamente, já que é aquele quem mais me viu em momentos complicados. — Pensei que
Chelsea— Tudo bem, eu já entendi — digo esfregando a minha barriga, já que os gêmeos continuam me chutando - Nunca falarei que esses movimentos em minha barriga são gases, jamais. Nem mediante tortura. Melissa me baba inteira enquanto a seguro com cuidado, noto os olhares das pessoas.Eles podem ser por vários motivos. Críticas por verem uma mulher tão jovem com uma criança enquanto aguarda pelo nascimento da próxima. Pela minha aparência péssima, já que vomitei todo o café da manhã antes de ter uma vontade insana de comer iogurte grego e passas.Eu nem gosto de passas.Também podem me julgar pelas minhas roupas, já que, na minha pressa, não fiz questão de escolher as melhores. Ou quem sabe, avaliem o fato de estar aqui sozinha, sendo que é notável que preciso de ajuda. Este pode ser influenciado pela minha péssima expressão.Sempre fico horrorosa depois de vomitar minhas tripas.Os enjoos ficaram mais comuns depois do segundo mês. Pensei que eles estavam diminuindo, mas me enganei,