Archie
O som da porta quando passo por ela traz certa calmaria para mim.
Talvez pelo lugar me lembrar dela. Apenas entrar nele mostra que tem um dedo seu nele. Também tem os quadros. Suas assinaturas estão em cada um deles, mas a expressão em seu rosto é muito diferente do que está exposto neles.
Caminho na direção da recepção e me surpreendo por ver um homem segurando Melissa com um único braço enquanto ela parece curiosa devido à mudança de expressão dele.
— Bem-vindo a Belas Flores — fala, mudando o seu semblante para algo mais agradável. Está ativando o seu modo de vendedor depois de ter deixado a sua surpresa clara.
— É um funcionário novo? — pergunto, já que não sabia que havia uma pessoa como ele em torno dela. Deixaram as informações dele de fora?
— Um amigo — responde, deixando a sua desconfiança à vista. Tudo bem que seja desconfiado, já que também não confio nele. — Conhece a Sea?
Demoro alguns segundos para processar que fala da Chelsea. Nunca ouvi ninguém a chamando desse modo antes. Porém, ele fala com muita familiaridade. Quem é esse cara?
— Sim, um pouco — digo, e seus olhos continuam me avaliando.
Ele está prestes a falar alguma coisa, sendo interrompido pela presença dela vindo da parte de trás do lugar, falando sem parar sobre um pedido e, no instante em que coloco os meus olhos nela, é perceptível o quanto está cansada. Tem bolsões fundos e escuros embaixo dos seus olhos.
— Terminei o pedido, só preciso fazer a entrega agora e... — É difícil dizer o que ela sente pela sua expressão. Se sente desconfortável por meu retorno, mesmo eu avisando que viria? — Bem-vindo. Procurando uma nova flor para sua casa?
O homem estranho se aproxima dela, baixa seu corpo e aproxima seu rosto do dela, sussurra algo em seu ouvido e ela força um sorriso depois de sibilar algo. Talvez eu devesse aprender a ler lábios.
— Se for o caso, o Yahya pode te ajudar, tenho uma entrega a fazer — profere as palavras rapidamente.
— Vai sair desse jeito? — pergunto e o olhar de ambos expressa sentimentos diferentes, visto que sou um estranho me metendo no assunto, mas não fazer nada me levou até onde? — Parece que não dormiu, pelo menos comeu?
— Comprei café da manhã para você, comeu pouco ontem à noite — fala Yahya e sinto meu estomago queimar. Estou ouvindo corretamente, certo? Ele quer que eu saiba que passou a noite aqui. — Precisa comer, está grávida.
— Eu sei, de verdade eu sei, mas preciso fazer essa entrega — discorre e obviamente o homem tem muito a dizer. — Prometo que comerei o que quiser depois que eu voltar.
— Sea, isso não é uma brincadeira, sair por aí sem comer sozinha é uma loucura — reclama o homem e a familiaridade da bebê com ele faz com que me sinta um pouco incomodado, ainda que saiba que é difícil para crianças discernir o que pode estar errado.
— Eu posso acompanhá-la — digo e Yahya vira-se para mim. Está me acusando com olhos inflamados de desconfianças. — Na verdade, a pessoa que fez o pedido é uma conhecida minha. É por isso que vim aqui, ela me pediu ajuda.
Uma mentira simples não causará problemas, certo?
— Faço ela comer alguma coisa no caminho e a trago inteira — profiro, mas nenhuma palavra deve ser o bastante para fazer com que ele se sinta mais calmo. Seu nervosismo é bem óbvio, se preocupa de verdade com ela.
Eu cheguei atrasado outra vez?
— Não, você não precisa — replica Chelsea, movendo os braços ligeiro.
Sua recusa foi tão rápida quanto o esperado.
— Deve ser um pedido muito importante para você. Não seria ruim se algo acontecesse? — pergunto, e sim, talvez eu esteja forçando um pouco demais, mas deixá-la sair nesse estado me impediria de me concentrar em qualquer coisa. — Já deve saber que não sou uma pessoa estranha.
— Nós nos encontramos duas vezes — fala ela, o que alarma Yahya.
Teria sido melhor se não tivesse exposto essa informação.
— Mas fui bem legal neles — profiro. Sua expressão enquanto me encara é muito dúbia. Seus pensamentos devem estar fervendo, mas o maior problema aqui com certeza é esse sujeito. Posso sentir o quanto quer fazer com que eu saia correndo daqui.
No entanto, ainda que esse seja o seu grande desejo, deixa que Chelsea escolha o que quer fazer. Confia muito nela. Me faz querer saber que tipo de relação os dois possuem.
Antes que esse seja outro motivo para que me preocupe com ela.
— Perder tempo brigando aqui é inútil — articula, apoiando uma mão na sua cintura. Ela parece um pouco mais magra do que a última vez em que nos vimos. — Vou aceitar sua ajuda dessa vez.
— Ótimo, fico feliz em ajudar — garanto a ela, mesmo que os resquícios de sua desconfiança continuem me atacando sem parar. Posso entender que me veja desse modo, mas caso permita que me aproxime, mais vezes me compreenderá.
— Vou voltar logo, Yahya — assegura para ele.
Novamente, o sujeito se aproxima, sussurra algo e, enquanto escuta, Chelsea me encara. Força um sorriso que não combina em nada com a expressão cansada que tem no rosto. É claro que tem trabalhado demais.
— Cuide bem do meu brotinho — pede Chelsea caminhando para a entrada da floricultura. Acho que agora entendo porque tem um veículo com a logo da floricultura na frente dela. Vasculha os bolsos do seu macacão jeans e me olha de soslaio após ter as chaves em mãos.
Parece indecisa sobre o que fazer. Os cabelos escuros estão enrolados de um modo engraçado. Vários fios escapam do penteado descuidado. Ela está repensando o que escolheu?
— Quer dirigir?
— Achou que te deixaria dirigir? — pergunto estendendo a mão. Ela coloca as chaves na minha palma rapidamente. Quase como se não quisesse tocar em mim.
— Bom, você tem um segurança, deve ter um motorista também — profere suas conclusões rapidamente. — Dirigir para uma estranha é esquisito.
— Você não é uma estranha Chelsea — asseguro a ela.
Só não sabe o que eu sei, mas quando estiver pronta te direi.
Chelsea— Fico muito agradecida por estar me ajudando — falo e me olha de lado, parece estar ponderando sobre o que se passa na minha cabeça, e devo dizer que a minha mente se aquieta bastante na sua presença. — Apesar de sermos estranhos, você tem me ajudado desde a primeira vez que nos vimos.— É preciso elogiar alguém por fazer tão pouco? — me pergunta e sou aquela a questionar o que tem na sua cabeça. Em seus olhos carrega tanta coisa, mas eu não posso lê-las, não nesse momento.— Pode ser pouco para você, mas para mim, que vivi a maior parte da minha vida só tendo a minha irmã, é muito mais do que pensa — asseguro a ele, mas o olhar em sua face não muda.Talvez ser uma pessoa que tenha tanto faz com que ele continue acreditando que estou exagerando, mas não é verdade. Meu pai abandonou minha irmã e eu em um orfanato, esqueceu da nossa existência até que um dia voltou querendo dinheiro.Minha irmã tentou se livrar dele, mas foi um crápula persistente.Continuou fazendo estardalhaç
Chelsea— Archie, não esperava te ver aqui — diz a mulher assim que vê a minha companhia e é bem claro que o olhar no rosto dele se modificou. A sujeita o encara em silêncio por vários segundos antes de sorrir de um jeito estranho. — é mesmo, você me disse que viria, minha memória é horrível, você sabe.— Dê um jeito nisso antes que arruíne os seus negócios — responde Archie sem muito interesse a como ela reagirá aquilo que foi dito. — Onde estão os homens para descarregar sua encomenda?Antes que eu me mova para falar qualquer coisa, a mulher sai na minha frente.— Eles estão vindo — fala, mexendo em seu telefone rapidamente. — Minha secretaria disse que você é a melhor com esse tipo de trabalho manual.— Na verdade, minha irmã que era, mas você pode ver os produtos e averiguar a qualidade por conta própria — profiro, porque sei que quem conhecia o rosto da minha irmã saberá que não sou ela. Me ater à sua identidade me causaria um problema mais tarde.— Você tem um jeito interessante
Chelsea— Muito obrigada — digo para a mulher depois que ela me entrega a prancheta onde estão os papéis de confirmação de entrega. Saber que o dinheiro na minha conta está esperando para ser usado me deixa bem mais feliz.Tenho algumas questões que precisam ser resolvidas rapidamente, como a compra de produtos essenciais para Melissa. É tão pequena e é horrível quando não consigo comprar tudo o que necessita.— Foi um prazer. Eles ficaram tão bonitos quanto eu imaginava — articula a mulher chamada de Pamela. Entendo porque a sua chefe confia tanto nela. Desde a primeira vez que a vi, percebi que exala confiança.Não é diferente hoje. Em seus olhos, vejo o quanto se esforça para cumprir com o seu trabalho seguindo as melhores indicações, também não se recusa a encarar alguém que está em uma posição abaixo da dela, como eu.Me respeita pelo trabalho que posso cumprir em nome do que precisa.— Obrigada — agradeço mais uma vez, e espero que tenha sido o bastante para continuar procurando
Chelsea— A Mel gosta mesmo de mim, não é? — Yahya parece muito orgulhoso por sua conquista. O coração da menina é completamente derretido por ele e sabe disso. — Já a viu dormir tão fácil?— Ela normalmente dorme fácil — digo e ele faz uma expressão estranha, acusa-me de tomar a sua vitória a força, mas é verdade que Melissa não é uma criança difícil. Tenho sorte.Se ela fosse uma criança que fica facilmente doente ou que pudesse saber sobre a morte da sua mãe, como eu sei, poderíamos ser duas sofrendo sem parar. Melissa sente saudade da minha irmã, mas como é uma criança, também se adapta com mais facilidade.Depois de colocá-la no berço, Yahya deita-se do meu lado na cama e, após um tempo encarando o teto, vira-se, ficando de lado para encarar-me. O meu perfil queima enquanto seus olhos me vasculham.— Você está bem? — Me pergunta e viro meu rosto, observando os seus olhos e tenho vontade de sorrir, porque a sua preocupação é tão clara, sinceramente não entendo se minha irmã não a
Chelsea— Bem-vindo a... — O cumprimento morre em meus lábios assim que vejo o rosto de Archie. É tão brilhante que por um momento penso que deveria somente ignorar, mas isso seria horrível quando veio como um cliente. — Por acaso, mora aqui perto? — Pergunto.Ele deixa um sorriso largo tomar a sua face e se aproxima com muito cuidado até se curvar em cima do balcão. Estava fazendo alguns rascunhos para novos arranjos e Archie parece interessado em ver os esboços.— Na verdade, não, eu não moro perto — responde e eu deveria ter que tipo de reação à sua resposta? Não tenho certeza de qual seria a mais correta, mas a minha surpresa faz ele se divertir.Pensei que seria o tipo de homem que arranja uma desculpa, mas está sendo sincero. Costumo saber lidar com aqueles que querem somente fazer um jogo de gato e rato, mas é diferente quando olho para Archie.Suas intenções não são tão visíveis.— Mas aqui tem as melhores flores da cidade — fala e eu aceitaria o elogio de bom grado, se não pu
Chelsea— Você parece um pouco culpada — comenta Yahya e sim, talvez eu me sinta culpada pela maneira como respondi Archie ontem. Não é como se eu esperasse que ele voltaria, entretanto, eu claramente fui rude.Ainda que eu esteja uma bagunça emocionalmente devido à gravidez, nada justifica agir desse modo com uma pessoa que fez uma pergunta sem intenções ruins. Estava apenas conversando comigo e eu cortei o assunto daquele modo.— Me sinto péssima, eles estão brincando bastante — conto para Yahya que olha a minha barriga com bastante interesse. Sei que não é possível serem chutes, é provável serem gases, mas prefiro pensar que são os bebês chutando. — Não agora — falo antes que queira sentir o quão forte dois bebês podem mostrar que estão crescendo bem.— Só isso? Desde que te encontrei ontem com os esboços, você parecia estranha — articula, acho que é a melhor pessoa para dizer quando estou agindo estranhamente, já que é aquele quem mais me viu em momentos complicados. — Pensei que
Chelsea— Tudo bem, eu já entendi — digo esfregando a minha barriga, já que os gêmeos continuam me chutando - Nunca falarei que esses movimentos em minha barriga são gases, jamais. Nem mediante tortura. Melissa me baba inteira enquanto a seguro com cuidado, noto os olhares das pessoas.Eles podem ser por vários motivos. Críticas por verem uma mulher tão jovem com uma criança enquanto aguarda pelo nascimento da próxima. Pela minha aparência péssima, já que vomitei todo o café da manhã antes de ter uma vontade insana de comer iogurte grego e passas.Eu nem gosto de passas.Também podem me julgar pelas minhas roupas, já que, na minha pressa, não fiz questão de escolher as melhores. Ou quem sabe, avaliem o fato de estar aqui sozinha, sendo que é notável que preciso de ajuda. Este pode ser influenciado pela minha péssima expressão.Sempre fico horrorosa depois de vomitar minhas tripas.Os enjoos ficaram mais comuns depois do segundo mês. Pensei que eles estavam diminuindo, mas me enganei,
ChelseaAceitar uma carona dele parecia o certo a fazer depois que me ajudou, mas não esperei que no meio do caminho fosse convencida a conhecer a sua casa. Como a localidade da floricultura é boa, sabia que em volta tinha bons lugares para se morar, mas não tinha ideia de que um complexo de apartamentos tão grandioso também estava na redondeza.Fora que leva quase duas horas para chegar naquele mercado. Mesmo com o trânsito não estando tão complicado a essa hora da manhã, então, por que Archie foi fazer as suas compras ali?Após termos acesso ao local, ele rapidamente me enganou com alguns sorrisos para que o acompanhasse no elevador. Talvez eu realmente tenha um fraco por rostos bonitos.— Ela não é tão difícil de segurar — fala, e sinto que estou sendo acusada, entretanto, Melissa já reagiu de modos bem alarmantes depois de ficar nos braços de outras pessoas, até com a pediatra.— Acho que você a conquistou com seu rosto bonito — digo, mas queria ter a capacidade de voltar no tempo