03. Recomendação

Chelsea

— Você vem atrás de mim enquanto deixa a sua amante esperando no seu apartamento? — Ergo uma mão, impedindo-o de falar antes que eu termine. — Você enche a boca para falar de filhos quando disse que eu deveria abortar? Faz isso com que interesse? Perdão? Eu te perdoo, enfie esse perdão no seu rabo e suma da minha frente.

O tom exagerado da minha voz faz Melissa ficar agitada. Apoiando-me em meus joelhos, a pego, balançando-a com cuidado, esperando que perceba que eu não tinha a intenção. Em nenhum momento quis que se assustasse, mas não consigo me controlar.

— Chelsea, você não pode me ignorar para sempre, eu sou o pai dessas crianças e... — Estava decidida a ignorar as suas palavras, mas fico ainda mais feliz por ele ter se calado.

No entanto, conter a surpresa é impossível quando vejo o porquê de ele ter se silenciado. O homem truculento segura seu rosto, apertando a sua mandíbula com força. O desconforto de Marshall é notável.

— Que ridículo, um homem adulto irritando uma mulher grávida — fala a voz desconhecida surgindo de trás do sujeito que segura Marshall. A vermelhidão tomando o rosto do meu ex somente deixa mais nítido o seu desconforto.

A intensidade natural expressa por seus olhos faz com que meu corpo recue um pouco enquanto protejo Melissa, apoiando em meu peito. O sorriso em sua face não diminui a força que seus olhos impõem.

Por que esse homem está aqui? Depois de ter me ajudado, pensei que nunca mais o veria. Fez a sua boa ação do dia e se foi. Nossos caminhos não deveriam se cruzar de novo.

Então, por que ele está aqui?

— Te assustei? — pergunta, estendendo a mão para mim depois de ter se abaixado para ficarmos em alturas semelhantes. — Sinto muito, mas fico nervoso quando vejo lixo falando.

— Não estou com medo — digo, ignorando a mão que continua elevada na minha frente. Parece perceber que não vou segurá-la, assim, a baixa. — Só fiquei um pouco surpresa.

— Meu segurança não tem muito jeito com as pessoas — fala, faz um sinal com a mão e o homem solta Marshall. — Todo mundo fica irritado quando vê lixo.

— Acho que sim — murmuro, analisando cuidadosamente a minha situação, já que o meu ex persiste em me encarar. Seus olhos me acusam de colocá-lo nessa situação, sendo que pedi que se fosse há tempos.

Decidiu que me ignoraria, é a consequência de sua escolha.

— Por que está trabalhando no chão? — questiona, e procurar suas intenções em seus olhos é uma tarefa complicada, visto que meu coração se agita de um modo estranho enquanto tento cumpri-la.

— É mais fácil manter a Melissa perto de mim e atender os clientes — respondo com franqueza demais, o que me faz sentir estranha. Não foi do mesmo jeito quando me ajudou no cemitério?

— Chelsea, você conhece esse homem? — inquire o meu ex, elevando o tom da sua voz e preciso balançar Melissa mais uma vez, impedindo-a de se assustar de novo.

— Por que eu teria que dizer qualquer coisa para você? — pergunto, irritada. — Sai e não me procura de novo — mando, mas ele está decidido a insistir.

O estranho olha para o seu segurança, faz um movimento de cabeça e, antes que Marshall consiga retrucar o que eu disse, é arrastado para fora sem poder lutar contra. O silêncio é muito bom. Me sinto bem melhor sem que esteja por perto.

— Melhor? — Ele consegue ver no meu rosto que me sinto aliviada? Sou uma pessoa tão transparente? Me pego analisando cada traço do seu rosto. Para além dos olhos marcantes, toda a masculinidade exalando dele é meio viciante. Faz com que queira continuar olhando.

— Veio porque precisa de que tipo de flores? — indago, ignorando o desejo da minha mente de observar um pouco mais para ver se será possível descobrir mais do motivo para minhas reações estranhas perto dele.

— Algo que seja simples de cuidar, que sobreviva mesmo se esquecer de regar — profere e suas palavras me levam a ter um sentimento estranho serpenteando por meu corpo. Quer dizer, que ele não entrou aqui ao acaso. Tinha algo em mente.

E o que mais o traria a esse lugar?

Posso estar sendo péssima no marketing, mas o caminho feito pela minha irmã ainda traz muitos clientes à floricultura todos os dias. Alguns clientes costumam brincar sobre ela ter um ótimo dedo para unir casais.

Talvez minha irmã tivesse essa habilidade, mas infelizmente não podia usar nela.

— Tenho algumas recomendações — digo, avaliando o meu arredor, procurando onde me apoiar, já que minhas pernas continuam estranhas. Devo ter ficado em cima delas por muito mais tempo do que deveria. — Hum, você poderia...

Estende uma mão para mim e, após notar que eu a seguraria, age mais rápido, apoiando as mãos em minha cintura, erguendo-me com muita facilidade. O modo como isto fez com que ficássemos próximos desnorteia meus pensamentos.

Contudo, alheio à loucura em minha cabeça, ele mantém suas mãos em mim.

Tudo bem, foi só uma pequena ajuda, só preciso ter certeza de que consigo andar sozinha agora. Segurando Melissa com um braço, levo minha mão até a sua, empurrando-a gentilmente, enquanto faço a melhor expressão que posso.

Por que de repente aqui está quente?

— Obrigada — murmuro, andando o mais rápido que consigo depois de me distanciar dele. — Pode me acompanhar, vou te mostrar as opções — falo, e desvio o olhar após perceber que está sorrindo. Que merda! Devo ter feito com que notasse o meu desconcerto, mas o que mais faria?

Só tenho que vender o que ele precisa e pronto.

Depois que estivermos bem longe um do outro, as coisas vão ficar mais simples.

Esse dia não pode ficar pior, já que uma visitinha do escroto do meu ex aconteceu tão cedo. Meu azar deve dar uma trégua agora. É o que espero. Melissa faz uns sozinhos engraçados e acabo sorrindo, já que não consegue conter a baba escapando pela sua boca.

— Você é um brotinho bem regado, não é? — Encarando-me, ela parece querer afirmar que sim. Talvez eu tenha ficado louca de vez.

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