Chelsea
— Você vem atrás de mim enquanto deixa a sua amante esperando no seu apartamento? — Ergo uma mão, impedindo-o de falar antes que eu termine. — Você enche a boca para falar de filhos quando disse que eu deveria abortar? Faz isso com que interesse? Perdão? Eu te perdoo, enfie esse perdão no seu rabo e suma da minha frente.
O tom exagerado da minha voz faz Melissa ficar agitada. Apoiando-me em meus joelhos, a pego, balançando-a com cuidado, esperando que perceba que eu não tinha a intenção. Em nenhum momento quis que se assustasse, mas não consigo me controlar.
— Chelsea, você não pode me ignorar para sempre, eu sou o pai dessas crianças e... — Estava decidida a ignorar as suas palavras, mas fico ainda mais feliz por ele ter se calado.
No entanto, conter a surpresa é impossível quando vejo o porquê de ele ter se silenciado. O homem truculento segura seu rosto, apertando a sua mandíbula com força. O desconforto de Marshall é notável.
— Que ridículo, um homem adulto irritando uma mulher grávida — fala a voz desconhecida surgindo de trás do sujeito que segura Marshall. A vermelhidão tomando o rosto do meu ex somente deixa mais nítido o seu desconforto.
A intensidade natural expressa por seus olhos faz com que meu corpo recue um pouco enquanto protejo Melissa, apoiando em meu peito. O sorriso em sua face não diminui a força que seus olhos impõem.
Por que esse homem está aqui? Depois de ter me ajudado, pensei que nunca mais o veria. Fez a sua boa ação do dia e se foi. Nossos caminhos não deveriam se cruzar de novo.
Então, por que ele está aqui?
— Te assustei? — pergunta, estendendo a mão para mim depois de ter se abaixado para ficarmos em alturas semelhantes. — Sinto muito, mas fico nervoso quando vejo lixo falando.
— Não estou com medo — digo, ignorando a mão que continua elevada na minha frente. Parece perceber que não vou segurá-la, assim, a baixa. — Só fiquei um pouco surpresa.
— Meu segurança não tem muito jeito com as pessoas — fala, faz um sinal com a mão e o homem solta Marshall. — Todo mundo fica irritado quando vê lixo.
— Acho que sim — murmuro, analisando cuidadosamente a minha situação, já que o meu ex persiste em me encarar. Seus olhos me acusam de colocá-lo nessa situação, sendo que pedi que se fosse há tempos.
Decidiu que me ignoraria, é a consequência de sua escolha.
— Por que está trabalhando no chão? — questiona, e procurar suas intenções em seus olhos é uma tarefa complicada, visto que meu coração se agita de um modo estranho enquanto tento cumpri-la.
— É mais fácil manter a Melissa perto de mim e atender os clientes — respondo com franqueza demais, o que me faz sentir estranha. Não foi do mesmo jeito quando me ajudou no cemitério?
— Chelsea, você conhece esse homem? — inquire o meu ex, elevando o tom da sua voz e preciso balançar Melissa mais uma vez, impedindo-a de se assustar de novo.
— Por que eu teria que dizer qualquer coisa para você? — pergunto, irritada. — Sai e não me procura de novo — mando, mas ele está decidido a insistir.
O estranho olha para o seu segurança, faz um movimento de cabeça e, antes que Marshall consiga retrucar o que eu disse, é arrastado para fora sem poder lutar contra. O silêncio é muito bom. Me sinto bem melhor sem que esteja por perto.
— Melhor? — Ele consegue ver no meu rosto que me sinto aliviada? Sou uma pessoa tão transparente? Me pego analisando cada traço do seu rosto. Para além dos olhos marcantes, toda a masculinidade exalando dele é meio viciante. Faz com que queira continuar olhando.
— Veio porque precisa de que tipo de flores? — indago, ignorando o desejo da minha mente de observar um pouco mais para ver se será possível descobrir mais do motivo para minhas reações estranhas perto dele.
— Algo que seja simples de cuidar, que sobreviva mesmo se esquecer de regar — profere e suas palavras me levam a ter um sentimento estranho serpenteando por meu corpo. Quer dizer, que ele não entrou aqui ao acaso. Tinha algo em mente.
E o que mais o traria a esse lugar?
Posso estar sendo péssima no marketing, mas o caminho feito pela minha irmã ainda traz muitos clientes à floricultura todos os dias. Alguns clientes costumam brincar sobre ela ter um ótimo dedo para unir casais.
Talvez minha irmã tivesse essa habilidade, mas infelizmente não podia usar nela.
— Tenho algumas recomendações — digo, avaliando o meu arredor, procurando onde me apoiar, já que minhas pernas continuam estranhas. Devo ter ficado em cima delas por muito mais tempo do que deveria. — Hum, você poderia...
Estende uma mão para mim e, após notar que eu a seguraria, age mais rápido, apoiando as mãos em minha cintura, erguendo-me com muita facilidade. O modo como isto fez com que ficássemos próximos desnorteia meus pensamentos.
Contudo, alheio à loucura em minha cabeça, ele mantém suas mãos em mim.
Tudo bem, foi só uma pequena ajuda, só preciso ter certeza de que consigo andar sozinha agora. Segurando Melissa com um braço, levo minha mão até a sua, empurrando-a gentilmente, enquanto faço a melhor expressão que posso.
Por que de repente aqui está quente?
— Obrigada — murmuro, andando o mais rápido que consigo depois de me distanciar dele. — Pode me acompanhar, vou te mostrar as opções — falo, e desvio o olhar após perceber que está sorrindo. Que merda! Devo ter feito com que notasse o meu desconcerto, mas o que mais faria?
Só tenho que vender o que ele precisa e pronto.
Depois que estivermos bem longe um do outro, as coisas vão ficar mais simples.
Esse dia não pode ficar pior, já que uma visitinha do escroto do meu ex aconteceu tão cedo. Meu azar deve dar uma trégua agora. É o que espero. Melissa faz uns sozinhos engraçados e acabo sorrindo, já que não consegue conter a baba escapando pela sua boca.
— Você é um brotinho bem regado, não é? — Encarando-me, ela parece querer afirmar que sim. Talvez eu tenha ficado louca de vez.
Chelsea— Posso concluir que é algo para área interna da sua casa ou apartamento, certo? — pergunto depois de notar que ele assiste minha conversa solo com melissa com muito interesse. Provavelmente pensará que perdi meu juízo. — Aqui temos antúrios, eles precisam de poucas regas na semana.Devo ser um pouco mais clara sobre os meios de cuidar delas?Se estiver preocupado com o crescimento ou com a quantidade de vezes em que precisa regá-las. Não tenho tanta experiência de vendas quanto a minha irmã, apesar de nossos conhecimentos serem parecidos.— É bonita — diz, e gostaria de que não estivesse me encarando tanto enquanto elogia as flores. — Essa também?— São hortênsias, são ótimas para quem tem uma rotina corrida. Regá-la duas vezes na semana é o bastante para a manutenção dela, e como pode ver, elas são bem bonitas — profiro. Me arrependo de o olhar depois de seu silêncio, pois confunde um pouco do meu raciocínio, já que não disse nada de errado. — Violetas e Begônias também são
Chelsea— Eu sei, eu sei — murmuro, quase chorando com a menina. O que aconteceu naquele dia, quando Marshall veio aqui, deve ter mexido com ela. Sempre que ouve sons um pouco mais altos, fica assustada e também tem esse resfriado.Deus, eu preciso fazer mais alguma coisa.— A mamãe é horrível, sinto muito meu brotinho — balbucio, balançando-a enquanto caminho pela casa. O médico disse que ela ficaria bem, mas não vejo melhora. Com ela tão doente, nem consegui terminar o pedido e preciso entregá-lo amanhã. — Nós estamos fechados — digo vendo que o indivíduo continua entrando, mesmo depois do que disse.— Os amigos precisam vir só quando a loja está aberta? — pergunta e quase choro, de verdade, porque me sinto aliviada vendo-o aqui. — O que aconteceu com a Melissa?— É um resfriado forte — falo e ele deixa a sua bolsa imensa de lado para vir até mim. — Pensei que você precisaria de mais tempo treinando, já que seu time venceu os últimos jogos.— Também tenho que descansar, sabia? — Peg
ArchieO som da porta quando passo por ela traz certa calmaria para mim.Talvez pelo lugar me lembrar dela. Apenas entrar nele mostra que tem um dedo seu nele. Também tem os quadros. Suas assinaturas estão em cada um deles, mas a expressão em seu rosto é muito diferente do que está exposto neles.Caminho na direção da recepção e me surpreendo por ver um homem segurando Melissa com um único braço enquanto ela parece curiosa devido à mudança de expressão dele.— Bem-vindo a Belas Flores — fala, mudando o seu semblante para algo mais agradável. Está ativando o seu modo de vendedor depois de ter deixado a sua surpresa clara.— É um funcionário novo? — pergunto, já que não sabia que havia uma pessoa como ele em torno dela. Deixaram as informações dele de fora?— Um amigo — responde, deixando a sua desconfiança à vista. Tudo bem que seja desconfiado, já que também não confio nele. — Conhece a Sea?Demoro alguns segundos para processar que fala da Chelsea. Nunca ouvi ninguém a chamando desse
Chelsea— Fico muito agradecida por estar me ajudando — falo e me olha de lado, parece estar ponderando sobre o que se passa na minha cabeça, e devo dizer que a minha mente se aquieta bastante na sua presença. — Apesar de sermos estranhos, você tem me ajudado desde a primeira vez que nos vimos.— É preciso elogiar alguém por fazer tão pouco? — me pergunta e sou aquela a questionar o que tem na sua cabeça. Em seus olhos carrega tanta coisa, mas eu não posso lê-las, não nesse momento.— Pode ser pouco para você, mas para mim, que vivi a maior parte da minha vida só tendo a minha irmã, é muito mais do que pensa — asseguro a ele, mas o olhar em sua face não muda.Talvez ser uma pessoa que tenha tanto faz com que ele continue acreditando que estou exagerando, mas não é verdade. Meu pai abandonou minha irmã e eu em um orfanato, esqueceu da nossa existência até que um dia voltou querendo dinheiro.Minha irmã tentou se livrar dele, mas foi um crápula persistente.Continuou fazendo estardalhaç
Chelsea— Archie, não esperava te ver aqui — diz a mulher assim que vê a minha companhia e é bem claro que o olhar no rosto dele se modificou. A sujeita o encara em silêncio por vários segundos antes de sorrir de um jeito estranho. — é mesmo, você me disse que viria, minha memória é horrível, você sabe.— Dê um jeito nisso antes que arruíne os seus negócios — responde Archie sem muito interesse a como ela reagirá aquilo que foi dito. — Onde estão os homens para descarregar sua encomenda?Antes que eu me mova para falar qualquer coisa, a mulher sai na minha frente.— Eles estão vindo — fala, mexendo em seu telefone rapidamente. — Minha secretaria disse que você é a melhor com esse tipo de trabalho manual.— Na verdade, minha irmã que era, mas você pode ver os produtos e averiguar a qualidade por conta própria — profiro, porque sei que quem conhecia o rosto da minha irmã saberá que não sou ela. Me ater à sua identidade me causaria um problema mais tarde.— Você tem um jeito interessante
Chelsea— Muito obrigada — digo para a mulher depois que ela me entrega a prancheta onde estão os papéis de confirmação de entrega. Saber que o dinheiro na minha conta está esperando para ser usado me deixa bem mais feliz.Tenho algumas questões que precisam ser resolvidas rapidamente, como a compra de produtos essenciais para Melissa. É tão pequena e é horrível quando não consigo comprar tudo o que necessita.— Foi um prazer. Eles ficaram tão bonitos quanto eu imaginava — articula a mulher chamada de Pamela. Entendo porque a sua chefe confia tanto nela. Desde a primeira vez que a vi, percebi que exala confiança.Não é diferente hoje. Em seus olhos, vejo o quanto se esforça para cumprir com o seu trabalho seguindo as melhores indicações, também não se recusa a encarar alguém que está em uma posição abaixo da dela, como eu.Me respeita pelo trabalho que posso cumprir em nome do que precisa.— Obrigada — agradeço mais uma vez, e espero que tenha sido o bastante para continuar procurando
Chelsea— A Mel gosta mesmo de mim, não é? — Yahya parece muito orgulhoso por sua conquista. O coração da menina é completamente derretido por ele e sabe disso. — Já a viu dormir tão fácil?— Ela normalmente dorme fácil — digo e ele faz uma expressão estranha, acusa-me de tomar a sua vitória a força, mas é verdade que Melissa não é uma criança difícil. Tenho sorte.Se ela fosse uma criança que fica facilmente doente ou que pudesse saber sobre a morte da sua mãe, como eu sei, poderíamos ser duas sofrendo sem parar. Melissa sente saudade da minha irmã, mas como é uma criança, também se adapta com mais facilidade.Depois de colocá-la no berço, Yahya deita-se do meu lado na cama e, após um tempo encarando o teto, vira-se, ficando de lado para encarar-me. O meu perfil queima enquanto seus olhos me vasculham.— Você está bem? — Me pergunta e viro meu rosto, observando os seus olhos e tenho vontade de sorrir, porque a sua preocupação é tão clara, sinceramente não entendo se minha irmã não a
Chelsea— Bem-vindo a... — O cumprimento morre em meus lábios assim que vejo o rosto de Archie. É tão brilhante que por um momento penso que deveria somente ignorar, mas isso seria horrível quando veio como um cliente. — Por acaso, mora aqui perto? — Pergunto.Ele deixa um sorriso largo tomar a sua face e se aproxima com muito cuidado até se curvar em cima do balcão. Estava fazendo alguns rascunhos para novos arranjos e Archie parece interessado em ver os esboços.— Na verdade, não, eu não moro perto — responde e eu deveria ter que tipo de reação à sua resposta? Não tenho certeza de qual seria a mais correta, mas a minha surpresa faz ele se divertir.Pensei que seria o tipo de homem que arranja uma desculpa, mas está sendo sincero. Costumo saber lidar com aqueles que querem somente fazer um jogo de gato e rato, mas é diferente quando olho para Archie.Suas intenções não são tão visíveis.— Mas aqui tem as melhores flores da cidade — fala e eu aceitaria o elogio de bom grado, se não pu