Chelsea
Respire Chelsea, você pode fazer isso.
Você consegue. Foco nessas palavras e observo o rostinho da bebê em meus braços e mordo a parte de dentro da boca, me forçando a manter as lágrimas rolando para o lado oposto. Preciso ser forte, não somente por mim, mas por eles.
Ignoro os olhares das pessoas em torno de mim, porque sei que devo estar parecendo louca, não preciso que ninguém me diga isso, entretanto, tive que sair correndo e quem não pensaria que é estranho que uma grávida aja de maneira absurda carregando um bebê e com uma barriga imensa?
Seria mais esquisito se me ignorassem.
Contudo, se eu continuasse lá dentro, sabia que conter as lágrimas seria impossível.
— Sinto muito, meu brotinho, mas eu não sou tão forte quanto pensei que seria — digo, com o gosto ferroso inundando a minha boca enquanto minhas pernas fraquejam sem que eu possa controlar.
O café da manhã não deve ter sido o bastante quando estou comendo por três.
Respire, respire, profiro as palavras, obrigando-as a correrem por minha mente.
— Porra! Caralho! — xingo, sentindo as lágrimas quentes descerem por meu rosto antes que eu consiga forçá-las para dentro. Devo estar enlouquecendo. Tem que ser. — Merda.
Viro-me rápido demais para conseguir fugir da sensação pesada que atinge o meu coração. Não pude ficar mais do que cinco minutos na frente do túmulo dela antes de tudo começar a desmoronar.
A rapidez do meu movimento fez com que minhas pernas bambas amolecessem ainda mais e com a visão embaçada por conta das lágrimas é difícil considerar o melhor meio de cair sem machucar a criança em meus braços ou aquelas na minha barriga.
Os pensamentos rápidos correndo pela minha mente são cessados quando sinto um calor abrasador em minhas costas, passando através das minhas roupas enquanto mexem com meu coração.
— Você está bem? — o tom rouco da voz do homem passa por meus ouvidos como um choque elétrico. Eu sei que deveria buscar uma maneira de me livrar dele, mas meu corpo está anestesiado pela dor comendo o meu coração.
— Acho que preciso me sentar — digo, vendo-o o seu rosto distorcido, já que as lágrimas continuam impedindo o foco da minha visão.
Mudando a posição que me amparava nas costas, ele circunda minha cintura, encaminhando-me devagar até o lugar mais próximo onde possa me sentar. Apoiada no banco frio, movo minha mão para cobrir a cabeça do bebê em meus braços, uso a outra para esfregar meus olhos, afastando o quanto posso delas.
— Merda — xingo mais uma vez esperando que esse sentimento se vá antes que me deixe ainda mais louca. Eu não posso fraquejar. Eles dependem de mim, preciso ser forte. Mesmo que não seja por mim, essas crianças merecem alguém forte para cuidar delas.
— Quer que eu consiga algo para você beber? — me pergunta o estranho e por alguns momentos esqueci que estava do meu lado, que não estou sozinha.
— Tá tudo bem, já me ajudou bastante — digo, sentindo um breve tremor correndo por meu corpo quando os olhos escuros me encaram. O tom amadeirado vivo carregado em suas íris é intenso.
Talvez eu esteja muito sensível devido à gravidez.
— Obrigada — falo após me acostumar minimamente à intensidade de seus olhos. O jeito como continua me encarando é estranho, diferente do que se espera de uma pessoa que ajuda alguém somente pela coincidência de a encontrar surtando na frente de um cemitério.
— É minha boa ação do dia — responde, com um tom terno demais para que eu considere uma brincadeira. É provável que também tenha vindo a este lugar para se despedir ou visitar alguém que perdeu, ainda assim, tirou um momento para me ajudar.
— Que bom homem — replico, e quem sabe por permanecer sendo atingida pelas ondas de dor, minhas palavras saem carregadas de sarcasmo. Daquele do pior tipo, que deixa o gosto amargo na ponta da língua depois.
— Nem tanto — profere, parece disposto a ignorar o meu tom. Deve se sentir comovido depois de ver o meu estado lamentável tão de perto. — Consegui o que eu queria vindo aqui.
— Devo te parabenizar? — pergunto e o olhar em seu rosto é indecifrável. Posso mesmo estar louca, já que mantenho uma conversa com um estranho como se fossemos amigos há muito tempo.
— Ainda não, no futuro seria bom — professa as palavras com muita certeza para que a sensação confusa me deixe. Suas intenções são bem mascaradas, mas duvido que tenha a ver comigo. Me lembraria se tivesse encontrado alguém como ele antes.
Levando em conta as roupas caras que veste, somos de mundos bem diferentes.
Ele cheira a dinheiro. Como se quisesse me permitir saber o quanto esse é um odor agradável, o estranho se aproxima e o cheiro amadeirado escapando de sua pele me lembra dos dias em que acampava com minha irmã.
O cheiro de terra depois de uma chuva forte sempre evidencia o quanto a natureza é primorosa. Passamos tantos momentos agradáveis em uma tenda de qualidade duvidosa que é estranho pensar que esses dias se foram para sempre.
Balanço o bebê em meus braços no segundo em que percebo que sente o quanto estou emocionalmente instável. Não sente só a falta da sua mãe, mas vê o quanto eu sou incompetente para cuidar dela.
Antes que eu pense em morder minha língua para impedir as lágrimas, elas já estão rolando para fora de mim sem controle. O que eu deveria fazer com esses sentimentos? Preciso enterrá-los ainda mais fundo? Se eu conseguir, poderei cuidar bem deles?
Meu corpo recua automaticamente quando o polegar do homem desliza embaixo do meu olho, arrastando as lágrimas descontroladas escapando de mim. Com a visão embaçada, não consigo ver a expressão que faz, e apenas choro mais, como se seu toque me permitisse expressar todas as partes escondidas dentro de mim.
Merda! Eu preciso me controlar.
Mas a única coisa que consegui foi nadar na corrente de dor se espalhando pelo meu corpo sem que eu desse permissão. Talvez eu não devesse ter vindo aqui hoje. Ainda não estou pronta para enfrentá-la.
ChelseaEscapo para fora da cama, sentindo uma dor de cabeça intensa.Não me recordo muito bem do que aconteceu depois que me debulhei em lágrimas na frente daquele homem. Ele foi gentil, me colocou em seu carro e me trouxe até a minha casa sem fazer perguntas.Eu sou louca, deixei que um homem estranho me trouxesse em casa.Mas sem a ajuda dele, teria passado quanto tempo mais chorando naquele banco?Tiro a blusa larga vendo o meu reflexo no espelho. A médica não mentiu quando disse que eu tenho um crescimento notável em meu abdômen. Meus dois brotinhos precisam de muito espaço para crescerem bem.Ignorando as pontadas insistentes na minha cabeça, caminho para perto do berço onde Melissa dorme calmamente. Ela é uma garota tão boa, assim como a sua mãe era. Um sorriso estranho se forma em meu rosto, já que meus olhos ardem, anunciando que estou prestes a chorar de novo.É impossível ignorar o choro constante.Tenho tantos motivos para chorar que é difícil saber qual o pior deles.— Oi
Chelsea— Você vem atrás de mim enquanto deixa a sua amante esperando no seu apartamento? — Ergo uma mão, impedindo-o de falar antes que eu termine. — Você enche a boca para falar de filhos quando disse que eu deveria abortar? Faz isso com que interesse? Perdão? Eu te perdoo, enfie esse perdão no seu rabo e suma da minha frente.O tom exagerado da minha voz faz Melissa ficar agitada. Apoiando-me em meus joelhos, a pego, balançando-a com cuidado, esperando que perceba que eu não tinha a intenção. Em nenhum momento quis que se assustasse, mas não consigo me controlar.— Chelsea, você não pode me ignorar para sempre, eu sou o pai dessas crianças e... — Estava decidida a ignorar as suas palavras, mas fico ainda mais feliz por ele ter se calado.No entanto, conter a surpresa é impossível quando vejo o porquê de ele ter se silenciado. O homem truculento segura seu rosto, apertando a sua mandíbula com força. O desconforto de Marshall é notável.— Que ridículo, um homem adulto irritando uma m
Chelsea— Posso concluir que é algo para área interna da sua casa ou apartamento, certo? — pergunto depois de notar que ele assiste minha conversa solo com melissa com muito interesse. Provavelmente pensará que perdi meu juízo. — Aqui temos antúrios, eles precisam de poucas regas na semana.Devo ser um pouco mais clara sobre os meios de cuidar delas?Se estiver preocupado com o crescimento ou com a quantidade de vezes em que precisa regá-las. Não tenho tanta experiência de vendas quanto a minha irmã, apesar de nossos conhecimentos serem parecidos.— É bonita — diz, e gostaria de que não estivesse me encarando tanto enquanto elogia as flores. — Essa também?— São hortênsias, são ótimas para quem tem uma rotina corrida. Regá-la duas vezes na semana é o bastante para a manutenção dela, e como pode ver, elas são bem bonitas — profiro. Me arrependo de o olhar depois de seu silêncio, pois confunde um pouco do meu raciocínio, já que não disse nada de errado. — Violetas e Begônias também são
Chelsea— Eu sei, eu sei — murmuro, quase chorando com a menina. O que aconteceu naquele dia, quando Marshall veio aqui, deve ter mexido com ela. Sempre que ouve sons um pouco mais altos, fica assustada e também tem esse resfriado.Deus, eu preciso fazer mais alguma coisa.— A mamãe é horrível, sinto muito meu brotinho — balbucio, balançando-a enquanto caminho pela casa. O médico disse que ela ficaria bem, mas não vejo melhora. Com ela tão doente, nem consegui terminar o pedido e preciso entregá-lo amanhã. — Nós estamos fechados — digo vendo que o indivíduo continua entrando, mesmo depois do que disse.— Os amigos precisam vir só quando a loja está aberta? — pergunta e quase choro, de verdade, porque me sinto aliviada vendo-o aqui. — O que aconteceu com a Melissa?— É um resfriado forte — falo e ele deixa a sua bolsa imensa de lado para vir até mim. — Pensei que você precisaria de mais tempo treinando, já que seu time venceu os últimos jogos.— Também tenho que descansar, sabia? — Peg
ArchieO som da porta quando passo por ela traz certa calmaria para mim.Talvez pelo lugar me lembrar dela. Apenas entrar nele mostra que tem um dedo seu nele. Também tem os quadros. Suas assinaturas estão em cada um deles, mas a expressão em seu rosto é muito diferente do que está exposto neles.Caminho na direção da recepção e me surpreendo por ver um homem segurando Melissa com um único braço enquanto ela parece curiosa devido à mudança de expressão dele.— Bem-vindo a Belas Flores — fala, mudando o seu semblante para algo mais agradável. Está ativando o seu modo de vendedor depois de ter deixado a sua surpresa clara.— É um funcionário novo? — pergunto, já que não sabia que havia uma pessoa como ele em torno dela. Deixaram as informações dele de fora?— Um amigo — responde, deixando a sua desconfiança à vista. Tudo bem que seja desconfiado, já que também não confio nele. — Conhece a Sea?Demoro alguns segundos para processar que fala da Chelsea. Nunca ouvi ninguém a chamando desse
Chelsea— Fico muito agradecida por estar me ajudando — falo e me olha de lado, parece estar ponderando sobre o que se passa na minha cabeça, e devo dizer que a minha mente se aquieta bastante na sua presença. — Apesar de sermos estranhos, você tem me ajudado desde a primeira vez que nos vimos.— É preciso elogiar alguém por fazer tão pouco? — me pergunta e sou aquela a questionar o que tem na sua cabeça. Em seus olhos carrega tanta coisa, mas eu não posso lê-las, não nesse momento.— Pode ser pouco para você, mas para mim, que vivi a maior parte da minha vida só tendo a minha irmã, é muito mais do que pensa — asseguro a ele, mas o olhar em sua face não muda.Talvez ser uma pessoa que tenha tanto faz com que ele continue acreditando que estou exagerando, mas não é verdade. Meu pai abandonou minha irmã e eu em um orfanato, esqueceu da nossa existência até que um dia voltou querendo dinheiro.Minha irmã tentou se livrar dele, mas foi um crápula persistente.Continuou fazendo estardalhaç
Chelsea— Archie, não esperava te ver aqui — diz a mulher assim que vê a minha companhia e é bem claro que o olhar no rosto dele se modificou. A sujeita o encara em silêncio por vários segundos antes de sorrir de um jeito estranho. — é mesmo, você me disse que viria, minha memória é horrível, você sabe.— Dê um jeito nisso antes que arruíne os seus negócios — responde Archie sem muito interesse a como ela reagirá aquilo que foi dito. — Onde estão os homens para descarregar sua encomenda?Antes que eu me mova para falar qualquer coisa, a mulher sai na minha frente.— Eles estão vindo — fala, mexendo em seu telefone rapidamente. — Minha secretaria disse que você é a melhor com esse tipo de trabalho manual.— Na verdade, minha irmã que era, mas você pode ver os produtos e averiguar a qualidade por conta própria — profiro, porque sei que quem conhecia o rosto da minha irmã saberá que não sou ela. Me ater à sua identidade me causaria um problema mais tarde.— Você tem um jeito interessante
Chelsea— Muito obrigada — digo para a mulher depois que ela me entrega a prancheta onde estão os papéis de confirmação de entrega. Saber que o dinheiro na minha conta está esperando para ser usado me deixa bem mais feliz.Tenho algumas questões que precisam ser resolvidas rapidamente, como a compra de produtos essenciais para Melissa. É tão pequena e é horrível quando não consigo comprar tudo o que necessita.— Foi um prazer. Eles ficaram tão bonitos quanto eu imaginava — articula a mulher chamada de Pamela. Entendo porque a sua chefe confia tanto nela. Desde a primeira vez que a vi, percebi que exala confiança.Não é diferente hoje. Em seus olhos, vejo o quanto se esforça para cumprir com o seu trabalho seguindo as melhores indicações, também não se recusa a encarar alguém que está em uma posição abaixo da dela, como eu.Me respeita pelo trabalho que posso cumprir em nome do que precisa.— Obrigada — agradeço mais uma vez, e espero que tenha sido o bastante para continuar procurando