PEQUENA AMADA MINHA. CAPÍTULO 2. Sem pudores tolosGigi não tinha pulado de alegria ao conseguir aquele trabalho, primeiro porque doía não ser capaz de aspirar a mais do que ser a garota das cópias, porque não tinha dinheiro para continuar seus estudos; e segundo porque desde criança tinha aprendido muito bem a guardar seus sentimentos, bons e ruins.Então quando o senhor Hommver lhe disse que por alguns dias seria a secretária do dono da empresa, nem sequer tinha entendido o que acontecia. Simplesmente tinha ido ao escritório dele e, é claro, aquela cadeia de acontecimentos desafortunados que sempre a perseguia não demorou a aparecer; principalmente porque os sapatos que usava tinham sido "herdados" da sua mãe e eram dois números maiores.Assim, quando, para completar sua desgraça, aquela cafeteira caiu em cima dela, fazendo-a sufocar um gemido de dor, já parecia um animalzinho encurralado no chão contra um dos móveis, e o que parecia ser o dono rugia como um leão faminto.—Não fale b
PEQUENA AMADA MINHA. CAPÍTULO 3. Uma garota bonitaOs dedos de Niko pararam instantaneamente, como se uma pequena corrente elétrica o tivesse paralisado. Ao longo de sua vida, e com trinta e seis anos e muita experiência nas costas, tinha escutado a falsa modéstia das mulheres muitas vezes; talvez por isso pudesse colocar suas mãos no fogo (ou no café fervente), apostando que aquele não era o caso.A garota de verdade não acreditava que fosse bonita; e ele teve aquela estranha necessidade de querer comprovar isso.Seus dedos pressionaram um pouco mais sobre a pele dela, arrancando-lhe uma leve e silenciosa careta: tinha a boca pequena e triste, ou talvez fosse apenas a dor. Seus olhos eram grandes e castanhos, nariz arrebitado e traços finos, cabelo longo, acinzentado e sem brilho, preso em um rabo de cavalo na altura da nuca.Seus dedos seguiram mais abaixo, sobre a borda do sutiã, que enquadrava um seio cheinho e firme, que mal lhe encheria a palma da mão. Não podia ver o resto do co
PEQUENA AMADA MINHA. CAPÍTULO 4. SobrevivendoOs lábios de Gigi se abriam e se fechavam, mas nenhum som saía deles. Era evidente que estava um pouco atordoada, mas essa era uma condição que sua mãe havia encorajado particularmente ao longo de sua curta vida.—Querida, nós duas sabemos que você precisa seguir seu próprio caminho. Já te trouxe até aqui e você sabe tudo o que sacrifiquei por você, mas já é hora de me deixar ser feliz. Você não quer que a mamãe seja feliz? —perguntou-lhe, e isso era exatamente como dizer que ela não deveria agradecer pelas roupas velhas que lhe dava e que obviamente o corpo da garota, ainda sem qualquer curva voluptuosa, era incapaz de preencher.—Mãe... esta noite não tenho para onde ir. Se você me desse até amanhã...—Amanhã, amanhã...! Gigi, pelo amor de Deus, você não pode viver agarrada às minhas saias a vida toda! —exclamou sua mãe com impaciência, mas evidentemente não esperava que uma voz muito diferente lhe respondesse.—O que você está fazendo? —
PEQUENA AMADA MINHA. CAPÍTULO 5. Uma ordem nem tão ruim—Ai, meu Deus! —exclamou Gigi soltando trêmula a manga da camisa e Niko apertou os olhos com curiosidade.—Duvido que você teria cheirado a túnica sagrada com tanta emoção, senhorita Gigi —replicou entre dentes—. Agora, pode me explicar que diabos está fazendo no meu banheiro?—Bem, é que... é que... —A moça pegou o creme para queimaduras que tinha ficado sobre a pia e mostrou para ele—. Desculpe, passei para ver se podia pegar um pouco disso e depois... bem, é que pensei que tenho que devolver sua camisa mas não sabia do que você gosta que ela cheire porque ontem... bem... tudo cheirava a café e...Niko virou-se sem deixá-la terminar sequer e a moça saiu apressada atrás dele.—Não me devolva, por favor, tenho mais —resmungou ele, porque perder uma camisa de setecentos francos não o incomodava—. Agora, se já está se sentindo melhor, pode me dizer como vai o andamento do trabalho que te mandei.—Claro, senhor Keller, com certeza, i
PEQUENA AMADA MINHA. CAPÍTULO 6. Um chefe sem tatoEra como uma arma de destruição acidental, como essas bombas que ficam enterradas por muito tempo e de repente começam a explodir em cadeia. Era exatamente isso que Gigi era, Niko soube disso quando passou à noite pela sua escrivaninha e a viu sorrir gentilmente, e mesmo assim os cabelos de sua nuca se arrepiaram.Claro que ele não tinha ideia de que por trás daquele sorriso a garota estava tentando não arrancar os próprios cabelos, porque havia conseguido reservar a suíte presidencial para seu chefe, mas já não havia quartos executivos disponíveis para ela. Então o hotel mais próximo que encontrou ficava a oito quarteirões daquele.—Droga, vou ter que correr como se a Interpol estivesse me perseguindo... —suspirou com cansaço, mas mesmo assim criou coragem e se levantou para passar pela sala do banco americano, porque afinal, precisava comer se quisesse ter forças para correr.Os rapazes a receberam com alegria e desta vez deram-lhe o
PEQUENA AMADA MINHA. CAPÍTULO 7. Um Christian Grey desobedecidoHavia uma razão para Nikko parar de repente e era que, por algo que nem mesmo entendia, estava mais que certo de que Gigi jamais lhe diria se houvesse algum problema.Então pigarreou devagar, abotoou o paletó e se aproximou dela, inclinando-se sobre seu ouvido e sentindo a forma como ela se encolhia sobre si mesma enquanto aquelas palavras saíam baixas e ameaçadoras de sua boca.—Gigi, eu te fiz uma pergunta. Qual é o número do seu quarto? —sibilou e ouviu o modo tenso como ela continha a respiração antes de responder.—Bem... senhor Keller, é que não havia... bem... não havia quartos executivos para mim, quer dizer... não havia nenhum simples...—E onde exatamente você pensava em dormir? —interpelou Niko.—Reservei em outro! —disse a moça apressada tirando o papel de sua própria reserva—. Está muito perto, posso ir e vir sempre que o senhor precisar de mim, não tem problema!Niko tirou-o de suas mãos e estendeu para o mor
PEQUENA AMADA MINHA. CAPÍTULO 8: O vulcão da má sorteQueria pular sobre os móveis, sobre a cama, sobre o tapete ou aquela coisa fofa que havia aos pés da cama... Como é que se chamava?Não fazia ideia! Não importava!Só queria pular! E gritar! E rir!—Gigi!Aquele grito fatídico do seu chefe a desequilibrou, porque para ser clara, quando Niko Keller se irritava sua voz podia desequilibrar até um mamute sem joelhos, e Gigi acabou quase engolindo a língua e caindo de bunda naquela cama em que estava pulando até quase chegar ao teto.—Senhor Keller!Niko ficou mudo olhando para ela. A única coisa que vestia era aquela camisa dele que lhe chegava quase aos joelhos, e provavelmente alguma daquelas calcinhas da Hello Kitty porque ele podia jurar que era capaz de ver os contornos rosados sob o tecido branco. O cabelo não podia estar mais desarrumado nem o sorriso mais luminoso... pelo menos até que ele tinha entrado.—Você tem ideia do volume em que está a televi...?! —tentou repreendê-la po
PEQUENA AMADA MINHA. CAPÍTULO 9. Um casteloNiko Keller não era um homem impressionável. Depois de tantas mulheres que tinham passado por sua vida sem causar impacto, desde modelos até atrizes, não havia muito que o emudecesse... mas o que tinham diante era outra coisa.Gigi tinha razão, não era bonita. Tinha as curvas certas para uma garota de dezoito anos, zero maquiagem e traços finos. Era a primeira vez que a via com uma roupa que não fosse três vezes seu tamanho ou ao menos com as panturrilhas de fora, e aquela roupa executiva e sapatos altos gritava por todos os lados que Gigi não pertencia a ela.Gigi pertencia a vestidos de flores com mangas bufantes, a macacões jeans com tênis baixos, a saia colegial, a tranças e a risos. Não era uma mulher bonita, sofisticada e elegante. Gigi era inocência pura, da bonita, da verdadeira. Daquela que dava vontade de sair correndo para conseguir uma redoma de cristal onde colocá-la com todas as suas borboletas, sua música de fundo e seu brilho