PROMESSA VERMELHA.Capítulo 29. Uma famíliaNão podia tremer. Tinha sua filha nos braços então Ainara sabia que não podia tremer, e mesmo assim aquele sexto sentido a fez se agachar enquanto todos seus instintos disparavam, anunciando-lhe que aqueles que passavam correndo pela lateral da loja... essa gente estava procurando por ela.Se escondeu atrás de uns casacos enormes, esperando que a camuflassem porque sabia que não podia entrar em nenhum provador, alguém com um mínimo de inteligência procuraria ali em primeiro lugar.Não disse nem uma palavra, nem uma só apesar de ainda ter o viva-voz preso em uma orelha. A única coisa que saía de seus lábios era um chiado suave com o qual pretendia acalmar June, que ia e vinha do sono.Estava tão tensa que quando sentiu que puxavam ela seu peito se encheu para exalar um grito desesperado até que alguém cobriu sua boca.—Sou eu! Shshshshsh! Sou eu! —escutou a voz de Mauro em seu ouvido e ele a virou imediatamente, pegando a pequena de seus
PROMESSA VERMELHA.Capítulo 30. Inimigos ocultosViu-a levar as duas mãos à cabeça e negar com desespero. Era linda, mesmo tão angustiada como estava era a mulher mais linda que Mauro tinha conhecido em sua vida e nada podia mudar isso, como nada podia mudar o fato de que estava apaixonado por ela até os ossos, sempre tinha estado e sempre estaria.Puxou sua mão e a envolveu em um abraço poderoso, sentindo como começava a respirar mais devagar, como se seu calor pudesse tranquilizá-la ao menos por um momento.—Me diz você o que aconteceu, porque pra ser honesta, não entendo absolutamente nada —murmurou a moça e Mauro a levantou pelos quadris com um gesto firme para sentá-la sobre a ilha da cozinha.Depois abriu a geladeira e tirou uma garrafa de vinho fria, porque definitivamente os dois precisavam respirar depois de tudo o que tinha acontecido.—Para começar, a senhora Dorina é completamente inútil no que diz respeito à proteção da June. Não digo que não seja uma boa babá ou que
PROMESSA VERMELHA.Capítulo 31. TomaraJá era de madrugada, a temperatura estava baixando lá fora e Mauro sabia que Ainara estava angustiada. Nem sequer tinham conseguido trazer suas malas, porque tinham saído correndo no carro de Mauro, então foi buscar algumas coisas em um dos quartos e voltou com uma pequena muda de roupa como para June.—E isso? —perguntou ela franzindo a testa com curiosidade.—Isso é mais velho que Matusalém —riu ele em um sussurro—. Passei quase toda minha infância nesta casa, e minha mãe tem uma resistência especial em jogar fora qualquer coisa minha, então no armário do meu quarto você pode encontrar algumas roupas que podem servir para June, pelo menos por enquanto. Amanhã vou sair para comprar mais roupas para vocês.Ainara não queria incomodar, mas naquele momento estava nervosa demais para se fazer de difícil.—Está bem... agradeço —murmurou e viu que Mauro colocava outra muda maior.—Pijamas para você. Meus. Para que você não esqueça meu cheirinho
PROMESSA VERMELHA.Capítulo 32. Quando isso acabarEstava com medo e era natural, mas quando Ainara acordou no meio daquele silêncio foi como se tivessem dado um soco em seu estômago, devia ter amanhecido faz tempo, porque o sol estava forte, e era estranho que June não acordasse assim que amanhecesse.Desceu da cama com o coração na boca e foi até o quarto de Mauro para ver a caminha desarrumada. Por sorte o alívio a invadiu quando leu aquele bilhete sobre a ilha da cozinha:"Fomos buscar café da manhã porque o Senhor Pompita está com fome. Só siga a trilha até o final".Correu para colocar roupa de rua e jogou um casaco grande por cima antes de sair da casa e ver que de fato se desenhava uma trilha perfeita de cascalho entre a terra do bosque. Seguiu-a apressada e viu que mais abaixo na colina se delineava uma propriedade enorme e clássica, de pedras antigas e aspecto senhorial.O caminho levava a uma entrada traseira da casa e muito logo as risadas de June assaltaram seus ouvi
PROMESSA VERMELHA.Capítulo 33. O que forAinara esfregou os olhos com frustração, tentando manter a calma, mas sabia que seria impossível.—Você não está me colocando em nenhuma posição vulnerável, Mauro, pelo menos não em relação a você — sussurrou, exausta, enquanto se sentava em um dos sofás. Ele acendeu a lareira no meio da sala para aquecê-los. — Os dois sabemos o que aconteceu dez anos atrás, e eu... não te culpo por isso, você simplesmente escolheu em quem acreditar...—E eu deveria ter acreditado em você! Deveria ter confiado em você!—Eu sei, mas você não fez — respondeu ela, dando de ombros. — Você não fez, as coisas acabaram entre nós, e eu segui minha vida, minha filha... meus planos. Adianta agora você ficar nostálgico e fazer um show de arrependimento? Isso não vai mudar o que aconteceu.Mauro levou as mãos à cabeça, frustrado, porque infelizmente era verdade. Se quisesse reatar com Ainara, não poderia partir do passado e do arrependimento, mas da ação, do agora.
JANEIROSEATTLE— Como você foi capaz de fazer isso?! — O rugido furioso de Zack Keller deteve sua namorada na porta de casa assim que a viu chegar.Giselle viu um papel em sua mão e nem sabia do que ele estava falando, mas nunca o tinha visto tão alterado como naquele momento.— Não sei do que você está falando...— Claro que sabe! Você abortou meu filho! Você o perdeu de propósito! — ele a acusou com raiva. — Você ao menos tinha a maldita intenção de me contar alguma coisa?!A mulher à sua frente ficou pálida.— Como... como você sabe...?Zack jogou aquele papel na direção dela e a olhou com decepção.— Você esquece que está no plano de saúde da minha empresa? — ele cuspiu, aproximando-se dela. — Assim que seu sobrenome apareceu nos registros de pagamento, me avisaram. Imagine minha alegria quando soube que o seguro tinha pago por um teste de gravidez e depois por uma ultrassonografia!Giselle se afastou dele com o rosto vermelho de vergonha, mas Zack não era do tipo que da
NOVEMBROVANCOUVER— Andrea! Na minha sala! Agora!O grito de seu chefe, um gerente médio na empresa SportUnike, a fez pular na cadeira, angustiada, porque sabia que ele estava de muito mau-humor naquele dia.— Isso é uma maldita piada? — rosnou, jogando uma pasta de documentos em seu rosto. — Eu disse claramente que precisava dos relatórios de orçamento da divisão de esportes aquáticos do mês passado!Andrea arregalou os olhos.— Mas... senhor Trembley... tenho certeza de que o senhor me disse que queria os deste mês...— Não discuta comigo, sua inútil! — vociferou o chefe. Aos cinquenta anos, Peter Trembley era tão desagradável quanto sua barriga inchada, mas Andrea tinha que suportá-lo porque mal tinha conseguido um emprego como sua assistente e disso dependiam ela e sua filha para viver. — Você não percebe o que está acontecendo? A SportUnike desapareceu! Um suíço filho da mãe a comprou e agora seremos apenas uma filial da empresa dele! Sabe o que isso significa?Andrea sab
Mas se Zack achava que algo naquela empresa estava errado, seu instinto disparou quando desceu ao estacionamento e viu Andrea encostada em uma das paredes. Ela tentava trocar os sapatos de salto por tênis baixos, mas suas mãos tremiam.Ele ficou tentado a ir falar com ela, mas algo nele ainda resistia a se envolver nos problemas alheios. Tinha uma nova empresa para dirigir, e se queria que Andrea se sentisse melhor, só precisava consertar sua empresa, não a vida pessoal dela.Por fim, viu ela ajustar o casaco e sair para o frio da rua.Observou-a de longe e percebeu que ela não pegava um táxi nem um ônibus, então provavelmente morava perto. Mas Zack não fazia ideia de quão errado estava, porque Andrea não morava nem remotamente perto; simplesmente não podia se dar ao luxo de pagar nenhum tipo de transporte.Durante quarenta minutos, a moça caminhou no frio de um inverno canadense, e quando finalmente chegou ao seu prédio, já estava quase escurecendo.— Boa tarde, senhora Wilson —