O apartamento estava limpo, muito limpo, mas isso era tudo o que se podia dizer a seu favor. Quando Andrea abriu a porta, a mulher alta e magra, com cerca de cinquenta anos, que estava ao seu lado, com um rosto severo e um olhar firme, fez um gesto momentâneo de surpresa. Ela carregava uma prancheta, e Andrea sentiu um arrepio ao vê-la anotar algo.— Eu pensei que você vinha para avaliar um apartamento... mas vejo que não há muito o que avaliar —disse com preocupação.Não havia tapetes, nem móveis, nem quadros, nada que suavizasse a crudeza do ambiente. As paredes estavam nuas, as janelas sem cortinas, o chão rachado e a luz fraca. Andrea sentiu uma onda de pânico. Sabia que era o tipo de lugar onde ninguém gostaria de ficar por muito tempo, e muito menos com uma criança.A mulher inspecionou o apartamento com um olhar crítico, anotando enquanto avançava. Andrea a seguiu, com o coração acelerado.— Há quanto tempo você vive assim? —perguntou, circulando pela sala e olhando os quartos,
—A mãe dele.—Desculpe? —Andrea não podia acreditar—. A mãe dele?—A senhora Stormhold é viúva e atua como representante do filho, nunca deixou que um agente se aproximasse —explicou Ben—. Portanto, ninguém conseguiu representá-lo até hoje.Andrea ficou pensando naquilo. A empresa oferecia bônus por conseguir atletas difíceis, mas ninguém parecia querer se arriscar com aquele em particular.Naquela noite, foi para casa pensando nisso, mas no dia seguinte esqueceu tudo assim que teve que se sentar na sala do tribunal. Estava nervosa, pois sabia que aquele dia poderia definir o futuro de sua filha. Respirou fundo e tentou lembrar que era uma mãe e que o estado deveria ajudá-la a criar sua filha, não tirá-la dela.O juiz chamou imediatamente os assistentes sociais para depor.O assistente social de Mason fez muitos elogios, dizendo que ele tinha todas as condições e comodidades para cuidar de sua filha, pois morava em uma área exclusiva da cidade.Depois, chamaram a assistente social de A
Zack olhou pela enorme janela de seu escritório no coração de Manhattan. Fazia dois dias que ele tinha tido aquela conversa telefônica com Andrea na qual ela só tinha feito uma pergunta e nem sabia se ela tinha ouvido a resposta porque tudo o que pôde ouvir depois foi Ben gritando para ela não ir embora. Ele gostaria de dizer que não tinha conseguido dormir desde aquele momento, mas a verdade era que não conseguia dormir desde o instante em que subiu naquele avião para deixar o Canadá. A imagem de Mason Lee parado na soleira da porta continuava voltando à sua mente repetidamente. A desagradável apresentação, as ameaças que não tinham significado nada para ele, e depois aquela declaração. —Você pode ignorar tudo, mas a realidade é que Andrea e eu nunca vamos nos separar, porque temos uma filha —Mason tinha sibilado com satisfação. —Uma filha que você abandonou! —Isso não importa, não muda o fato de que fui o marido de Andrea por anos enquanto você só esteve com ela por duas semanas.
—Mas menos doente que o do seu pai —explicou sua mãe—. Fariam duas cirurgias em uma, o transplante e o reparo de uma válvula do novo coração... Sei que é complicado, mas o médico dele diz que é nossa única possibilidade de que ele fique conosco por mais alguns anos... —explicou Luana—. Por favor, você tem que vir. Ele já estará na sala de cirurgia quando você chegar, mas preciso da família reunida. Por favor. Zack respirou fundo, qualquer possibilidade que lhe desse mais tempo com seu pai ele aceitaria sem hesitar, então apenas assentiu. —Estou saindo imediatamente para aí, mãe. Uma hora depois voava para Zurique, e de fato quando chegou seu pai estava em plena operação. A preocupação e a ansiedade da operação fizeram com que fosse mais simples evitar as perguntas sobre Andrea e o bebê com um simples: "estão bem", mas no fundo sabia que cedo ou tarde teria que enfrentar aquela conversa com seu pai. Passaram-se ainda horas até que um médico saiu. —Ele está delicado —disse-lhes—, ma
As pessoas podiam se dar um dia para chorar, mas Andrea não se deu nem um minuto, não podia, porque a única coisa que queria era recuperar sua filha. A assistente social os acompanhou à residência de Mason naquela tarde e Andrea sentiu vontade de vomitar ao ver a mansão em que ele morava e o carro que tinha enquanto ela só tinha um berço para sua filha. É claro que a assistente social não deixou passar despercebido aquele impacto, nem a dor de ter que deixar sua filha nos braços da enfermeira de Mason, porque assim que ele a pegou a menina começou a chorar desesperadamente. Naquela noite Andrea sentiu que morria sem sua filha. Só conseguia pensar em como ela estaria, provavelmente sem poder dormir porque estava com estranhos. No dia seguinte não conseguiu nem tomar um café enquanto esperava ansiosa na porta do prédio até que Mason apareceu em sua Mercedes e a enfermeira, com olheiras e cansada, entregou-lhe o bebê. Andrea abraçou e beijou sua filha como se não a tivesse visto em mes
—Não tenho cartões, senhora Stormhold, não sou tão importante. E se eu tivesse, a senhora também não me ligaria, só está tentando se livrar de mim como a pessoa educada que é. Mas nós duas sabemos que não me ligaria, por isso pedi cinco minutos do seu tempo. A mulher ficou olhando para ela em silêncio por um longo minuto, mas depois olhou para a pista, onde seu filho treinava e assentiu. —Vamos lá fora, não quero distraí-lo —declarou. Andrea a seguiu para fora das arquibancadas e a senhora Stormhold parou na frente dela em um dos corredores desertos. —Bem, o que queria me dizer? —Senhora Stormhold, sou aprendiz de um representante da Nexa Sport Representation, é uma empresa americana nova no país, embora já represente muitos esportistas canadenses —disse Andrea com firmeza—. Estou aqui para oferecer meus serviços, gostaria de ser a agente do seu filho. A mulher na frente dela parecia muito educada, então apenas negou com delicadeza. —Agradeço, mas meu filho não tem outro repres
Andrea sentiu seu coração parar por um segundo ao vê-lo ali. Ele usava um sobretudo longo e preto, uma blusa de gola alta e o cabelo tão impecável como sempre. Sua expressão estava cansada, como se fosse um grande peso estar ali. Ele continuava sedutor, continuava atraente... e de repente foi como se todas aquelas borboletas que ela tinha sentido por ele tivessem se transformado em ratos tentando devorar seu estômago por dentro.Durante dias, Andrea tinha desejado vê-lo aparecer naquela porta, mas agora... agora era muito diferente.Zack olhou discretamente para dentro e se surpreendeu que absolutamente nada tinha mudado ali, mas se absteve de dizer isso. Àquela altura, ele esperava que Mason tivesse voltado a morar no apartamento e ter que negociar com os dois.— Oi — disse ele com a mesma suavidade de sempre.— Oi — murmurou Andrea, mas sua mão não se moveu da maçaneta e seu corpo não deixou de bloquear a porta.Durante um longo minuto, nenhum dos dois abriu a boca, ela o olhava com
Andrea suspirou e passou a mão pelo cabelo. Sentia-se exausta, perdida e um pouco insensível.— O advogado dele disse que este lugar, do jeito que está, não era apropriado para criar uma criança, que não era um ambiente saudável, e o juiz concordou com ele — murmurou.— E o que disse o seu advogado? Não alegou nada sobre isso?Andrea mordeu o lábio, sentindo a dor profunda que esse tipo de conversa trazia consigo, especialmente por estar tendo-a com ele.— Por que você não me responde, Andrea? — insistiu Zack.— Porque estou fazendo um esforço tremendo para não te chamar de "idiota"! — replicou, e ele conteve a respiração. — Eu nem tenho uma cama para dormir, Zack! De onde diabos eu ia tirar dinheiro para um advogado?! Mason entrou com um processo pela custódia e em menos de duas semanas já tinha levado minha filha sem que eu pudesse fazer nada!Os olhos de Zack se encheram de lágrimas e ele rugiu de frustração. Não cabia na sua cabeça que Mason tivesse sido tão cruel com Andrea e o be