— Exame? Faça-me o favor! Você é só mais uma entre tantas secretárias inúteis que passam por aqui com sonhos impossíveis. Seja realista! — disparou com desprezo. — Você realmente acha que alguém como você pode chegar tão longe? Isso é absurdo!Andrea sentiu o chão sumir, não imaginava que aquilo pudesse ser tão doloroso.— Por que é absurdo? — perguntou com uma voz que tentava parecer firme, embora saísse um pouco estridente. — Sou uma mulher inteligente, fui professora...— Você é uma secretária! O que você entende de esporte? — zombou Trembley. — Você é inútil e idealista. Acha que só porque assistiu alguns jogos vai se tornar a próxima estrela da representação esportiva?Andrea não entendia o que estava acontecendo. Trembley nem sequer queria aplicar o exame. Não podia acreditar na injustiça daquilo, mas sabia que não podia enfrentá-lo.— Não me faça perder tempo com essas bobagens, Andrea! — sibilou o gordo enquanto devolvia a pasta.—Nem precisa! — ecoou uma voz atrás dela.
— Não... não quero ser esse tipo de pessoa — gaguejou, sem conseguir mais conter as lágrimas.— Então vou demiti-la — sentenciou Trembley, sem um pingo de compaixão. — São essas as opções. Ou você dorme comigo e pode ter certeza de que terá um futuro promissor aqui, ou recusa e essa carta de demissão entra em vigor a partir de amanhã... e depois de amanhã, prepare-se para perder sua filha.Andrea estava entre a cruz e a espada; a promoção não importava, mas se recusasse a oferta de Trembley, perderia seu emprego. Como se precisasse de um empurrão, Trembley se inclinou e começou a assinar a carta de demissão.—Espere... — murmurou Andrea, e era tudo o que o velho precisava. Pegou uma folha, escreveu um endereço e passou para a moça. — Te espero aqui esta noite. Agora saia do meu escritório.Com a mão trêmula e sabendo que não tinha outra saída, Andrea pegou o papel e saiu dali. Tentou que ninguém a visse chorando, mas infelizmente a maldita empresa não tinha as paredes mais gros
Andrea abraçou o próprio corpo, tentando espantar o frio enquanto chorava ao se ver entre a cruz e a espada. Seu coração batia aceleradamente, sua mente estava confusa em muitas coisas, menos na principal: não podia perder sua filha.Olhou para Adriana, adormecida em seu berço naquele colchão, e soluçou desesperada ao perceber que não havia outra saída. Podia denunciar Trembley por assédio, mas enquanto o processo se concretizasse, ela já estaria demitida e sem um centavo. Além disso, aquilo constaria em seu histórico profissional, e custaria muito encontrar um novo emprego onde não tivessem medo de uma ação judicial.Com mão trêmula, bateu novamente na porta de sua vizinha.— Senhora Wilson... sei que isso é pedir demais, mas tenho uma emergência no trabalho. Por favor, poderia cuidar de Adriana por mais algumas horas?A senhora Wilson percebeu que algo estava acontecendo, então ficou com o bebê de bom grado.— Lamento que esteja passando por um momento difícil, Andrea. Nem você
— Essa é uma mulher! Uma que não quer dormir com você! Ou esse copo de vômito não te disse nada? — replicou Zack com sarcasmo, porque Andrea tinha tido a reação mais honesta do mundo.— Ela quer subir de cargo! As promoções custam, isso não é novidade. Ela veio por vontade própria, então pode muito bem arcar com as consequências de sua decisão — cuspiu Trembley, com desprezo. — É o que têm as vadias oportunistas; se quer subir, quem sou eu para negar?Zack cerrou os dentes com raiva.— Você acha que sou estúpido? — sibilou Zack com nojo. — Andrea não veio aqui porque quer uma promoção, veio porque você a demitiu. — Trembley apertou os dentes com incredulidade. — É isso mesmo. Entrei no seu escritório e vi a carta de demissão. Você trocou um trabalho do qual ela depende por dormir com você...— Você está demitido! — gritou Trembley descontrolado. — Não pode entrar no escritório de um gerente! Eu sou o chefe nessa empresa e você é só mais um empregadinho! Amanhã, na primeira hora, vo
Se a terra tivesse se aberto aos seus pés e tivesse tido a delicadeza de engoli-lo, Zack provavelmente teria se sentido melhor. Jamais havia visto tanta carência junta e a única coisa que podia pensar era que, pelo ritmo com que aquela mulher trabalhava e o esforço que colocava, aquela falta de... tudo, não podia ser culpa dela.Olhou ao redor e sentiu um nó no estômago. Nem sequer tinha uma cama, então nem precisava perguntar pelo resto. Agora entendia por que ela andava quarenta minutos do trabalho até em casa, porque certamente não tinha dinheiro pra pagar a passagem de ônibus.Não havia nada naquele espaço que não fosse absolutamente indispensável pra sobreviver, e o único brinquedo era um pequeno bicho de pelúcia desses que dão no hospital.—Por que você não me disse? —murmurou Zack com aquela voz rouca meio sufocada.—Dizer o quê? —murmurou Andrea, embalando seu bebê.—Que você estava em uma situação difícil! —replicou Zack.—Porque não era da sua conta. A gente não pode sa
No momento em que se separaram, o coração dos dois batia forte, mas por razões bem diferentes. Andrea ajeitou o despertador do celular pra meia hora mais cedo, e Zack pegou o seu pra ligar pro seu melhor amigo.—Ben, preciso te ver agora mesmo, é urgente.Dez horas depois, enquanto Andrea se apressava para chegar ao escritório, percebeu que o carro de seu chefe já estava lá desde cedo. Porém, ao chegar ao andar, notou que Zack não estava por ali. Pelo menos o escândalo ainda não tinha estourado, mas não se podia dizer o mesmo da ira de seu chefe.—Suma daqui! Você está demitida! —cuspiu Trembley, jogando sobre sua pequena mesa aquela carta de demissão carimbada pelo Recursos Humanos logo cedo.Andrea não pôde evitar que seus olhos se umedecessem e negou.—Não, o senhor não pode me demitir e muito menos... menos pelo que diz aqui! —exclamou desesperada—. Incompetência profissional? Eu não sou incompetente! Eu até estudei para um cargo melhor, mas o senhor não quis me avaliar!—Por
Andrea não conseguia explicar a sensação de tontura que tomou conta dela ao ficar cara a cara com Zack, ainda mais quando ele disse que era o dono da empresa. O costume era algo muito forte, porque seu primeiro pensamento foi:"Meu Deus, derramei vinte cafés em cima do dono da empresa! Ele vai me demitir!"...Mas então ele sorriu para ela. Sorriu, passou por ela e se dirigiu a todos os funcionários daquele andar. O espanto era generalizado, mas o mais impactado de todos era Peter Trembley, que não estava apenas surpreso, mas também vermelho de raiva, porque o dono da empresa havia se infiltrado como um funcionário disfarçado e ele nem sequer havia percebido. E por último, aquelas palavras: "Peter Trembley... você está demitido", ressoaram no ambiente como a sentença de um juiz.Trembley arregalou os olhos e seu peito se inflou como se estivesse prestes a explodir.—Você não pode me demitir! Eu sou o gerente desta empresa!—Quer dizer isso de novo, desta vez mais alto, para ver se
Andrea cambaleou atrás dele, entrando naquele escritório sem medo pela primeira vez em meses. Ben, o sócio de Zack, sorriu para ela com gentileza, guardando para si sua impressão de que era a mulher mais desleixada que já havia conhecido.— Você está bem? — perguntou Zack, e ela disse que sim com voz trêmula.— Parece que ultimamente você me pergunta muito isso... — murmurou. — Desculpe...! O senhor me pergunta! Não deveria estar te tratando informalmente... de qualquer forma... obrigada por não deixar que me demitissem... de verdade.Zack assentiu sorrindo porque se antes ela lhe parecia nervosa, agora parecia muito pior.— Eu disse para você confiar em mim, que eu ia resolver, e sou um homem de palavra —sentenciou. — Lamento não ter sido rápido o suficiente, mas eu precisava tirar aquele homem desta empresa de uma vez por todas, e me certificar de que ele não pudesse machucar mais ninguém da forma como queria machucar você. Você entende, não é?Andrea se abraçou, aquilo ainda pa