Se a terra tivesse se aberto aos seus pés e tivesse tido a delicadeza de engoli-lo, Zack provavelmente teria se sentido melhor. Jamais havia visto tanta carência junta e a única coisa que podia pensar era que, pelo ritmo com que aquela mulher trabalhava e o esforço que colocava, aquela falta de... tudo, não podia ser culpa dela.Olhou ao redor e sentiu um nó no estômago. Nem sequer tinha uma cama, então nem precisava perguntar pelo resto. Agora entendia por que ela andava quarenta minutos do trabalho até em casa, porque certamente não tinha dinheiro pra pagar a passagem de ônibus.Não havia nada naquele espaço que não fosse absolutamente indispensável pra sobreviver, e o único brinquedo era um pequeno bicho de pelúcia desses que dão no hospital.—Por que você não me disse? —murmurou Zack com aquela voz rouca meio sufocada.—Dizer o quê? —murmurou Andrea, embalando seu bebê.—Que você estava em uma situação difícil! —replicou Zack.—Porque não era da sua conta. A gente não pode sa
No momento em que se separaram, o coração dos dois batia forte, mas por razões bem diferentes. Andrea ajeitou o despertador do celular pra meia hora mais cedo, e Zack pegou o seu pra ligar pro seu melhor amigo.—Ben, preciso te ver agora mesmo, é urgente.Dez horas depois, enquanto Andrea se apressava para chegar ao escritório, percebeu que o carro de seu chefe já estava lá desde cedo. Porém, ao chegar ao andar, notou que Zack não estava por ali. Pelo menos o escândalo ainda não tinha estourado, mas não se podia dizer o mesmo da ira de seu chefe.—Suma daqui! Você está demitida! —cuspiu Trembley, jogando sobre sua pequena mesa aquela carta de demissão carimbada pelo Recursos Humanos logo cedo.Andrea não pôde evitar que seus olhos se umedecessem e negou.—Não, o senhor não pode me demitir e muito menos... menos pelo que diz aqui! —exclamou desesperada—. Incompetência profissional? Eu não sou incompetente! Eu até estudei para um cargo melhor, mas o senhor não quis me avaliar!—Por
Andrea não conseguia explicar a sensação de tontura que tomou conta dela ao ficar cara a cara com Zack, ainda mais quando ele disse que era o dono da empresa. O costume era algo muito forte, porque seu primeiro pensamento foi:"Meu Deus, derramei vinte cafés em cima do dono da empresa! Ele vai me demitir!"...Mas então ele sorriu para ela. Sorriu, passou por ela e se dirigiu a todos os funcionários daquele andar. O espanto era generalizado, mas o mais impactado de todos era Peter Trembley, que não estava apenas surpreso, mas também vermelho de raiva, porque o dono da empresa havia se infiltrado como um funcionário disfarçado e ele nem sequer havia percebido. E por último, aquelas palavras: "Peter Trembley... você está demitido", ressoaram no ambiente como a sentença de um juiz.Trembley arregalou os olhos e seu peito se inflou como se estivesse prestes a explodir.—Você não pode me demitir! Eu sou o gerente desta empresa!—Quer dizer isso de novo, desta vez mais alto, para ver se
Andrea cambaleou atrás dele, entrando naquele escritório sem medo pela primeira vez em meses. Ben, o sócio de Zack, sorriu para ela com gentileza, guardando para si sua impressão de que era a mulher mais desleixada que já havia conhecido.— Você está bem? — perguntou Zack, e ela disse que sim com voz trêmula.— Parece que ultimamente você me pergunta muito isso... — murmurou. — Desculpe...! O senhor me pergunta! Não deveria estar te tratando informalmente... de qualquer forma... obrigada por não deixar que me demitissem... de verdade.Zack assentiu sorrindo porque se antes ela lhe parecia nervosa, agora parecia muito pior.— Eu disse para você confiar em mim, que eu ia resolver, e sou um homem de palavra —sentenciou. — Lamento não ter sido rápido o suficiente, mas eu precisava tirar aquele homem desta empresa de uma vez por todas, e me certificar de que ele não pudesse machucar mais ninguém da forma como queria machucar você. Você entende, não é?Andrea se abraçou, aquilo ainda pa
—Bem, eu posso confirmar, mas não os tenho —murmurou preocupada—. Todos os backups estavam com Trembley ou estão na...!Os dois se olharam assustados.—Na sala dos servidores! —gritaram ao mesmo tempo e saíram correndo do escritório.Provavelmente ninguém esperava ver o novo dono e sua secretária correndo como crianças pelo andar e derrapando na frente do elevador, antes de subirem que nem loucos pro último andar, mas foi exatamente isso que aconteceu.—Me diz que jogaram o Trembley direto na rua! —exclamou Andrea.—Tomara que sim! —replicou Zack subindo os degraus de dois em dois.Chegaram ofegantes e nervosos, torcendo pra que Trembley não tivesse mexido nas cópias de segurança. O chefe dos servidores do prédio negou ter visto Trembley naquele dia e entregou pra eles as cópias dos arquivos de uma semana atrás.Com a mesma velocidade que subiram correndo, desceram e colocaram o disco rígido no computador de Zack pra verificar. Dois minutos depois, ele tava puxando os cabelos e
Zack sentiu um nó na garganta ao ouvir a voz da sua mãe, que tava chorosa e alterada, e logo sacou que era porque algo ruim tinha acontecido.—O que aconteceu com o papai? —perguntou enquanto se sentava, ou suas pernas falhariam.—Seu pai teve outra crise cardíaca, filho —disse sua mãe com voz trêmula—. Tivemos que trazê-lo às pressas para o hospital...—E como ele está?—Bem... estável por enquanto, mas o médico decidiu colocá-lo na lista de transplantes.Zack ficou mudo de choque. Não era que não esperassem por isso, seu pai estava doente do coração há muito tempo, mas ainda era um homem jovem que mal chegava aos sessenta anos.—Estou indo para aí... —disse, levantando-se imediatamente.—Não —sua mãe o deteve—. Vamos ficar aqui alguns dias e depois o levaremos para a cabana nos Alpes. Ele quer estar lá para o Natal, você sabe que é nossa tradição. Só peço que você venha. Venha e traga sua família para que seu pai a conheça de uma vez, filho. Ele quer que estejamos todos reunid
—Sim, aqui está... desculpe, não tem sido o melhor dia.—Tudo bem, é um prazer ajud... —atrás dela, ouviu-se aquele som característico e Zack escutou Andrea tentando acalmar o choro do seu bebê—. Desculpe, senhor Keller... O que o senhor estava dizendo?... Shshshsh, calma, meu amor...—Não, nada, me desculpe de novo por incomodar tão tarde e...—Claro, não tem proble... Sim, minha vida, já... mamãe vai te dar sua mamadeira, se acalme... vamos...Zack não conseguiu evitar sorrir sem querer pelo jeito que Andrea lidava com sua bebezinha. E aí aquela cabeça dele se iluminou que nem árvore de Natal!Ele se despediu apressadamente e desligou o telefone, depois se virou para Ben.—Você é um gênio! —gritou, e seu amigo o olhou assustado.—Isso eu já sei, mas continue alimentando meu ego e me explique por quê! —respondeu.—O que você me disse outro dia, sua piada de mau gosto é perfeita agora —exclamou Zack—. "Aviso urgente: Magnata aluga família para este Natal", parece uma loucura...—Porque
Andrea olhou ao redor, confusa, como se Zack tivesse acabado de bater nela com algo contundente.— O que você está procurando? — perguntou ele, franzindo a testa.— A câmera escondida... — respondeu ela. — Ou a camisa de força que deve estar por aí... porque não vejo você muito são neste momento.Ele respirou fundo, tentando se acalmar.— OK, desculpe se me expressei mal, é que estou nervoso...— E deveria estar! Não se pede algo assim a alguém, a ninguém na verdade! — sentenciou ela, arregalando os olhos.Zack se levantou e contornou sua mesa para sentar-se em frente a ela, numa cadeira mais próxima.— Escute, sei que isso pode parecer loucura, mas é realmente um favor importante para mim — declarou, olhando-a nos olhos. — Meu pai está doente, muito doente, e o médico disse que talvez seja o último Natal que ele passe conosco. Meus pais acreditam que tenho uma família, namorada e um bebê, e não quero chegar lá e ter que dizer que isso é mentira.A testa de Andrea se franziu e sua boca