NOVEMBROVANCOUVER— Andrea! Na minha sala! Agora!O grito de seu chefe, um gerente médio na empresa SportUnike, a fez pular na cadeira, angustiada, porque sabia que ele estava de muito mau-humor naquele dia.— Isso é uma maldita piada? — rosnou, jogando uma pasta de documentos em seu rosto. — Eu disse claramente que precisava dos relatórios de orçamento da divisão de esportes aquáticos do mês passado!Andrea arregalou os olhos.— Mas... senhor Trembley... tenho certeza de que o senhor me disse que queria os deste mês...— Não discuta comigo, sua inútil! — vociferou o chefe. Aos cinquenta anos, Peter Trembley era tão desagradável quanto sua barriga inchada, mas Andrea tinha que suportá-lo porque mal tinha conseguido um emprego como sua assistente e disso dependiam ela e sua filha para viver. — Você não percebe o que está acontecendo? A SportUnike desapareceu! Um suíço filho da mãe a comprou e agora seremos apenas uma filial da empresa dele! Sabe o que isso significa?Andrea sab
Mas se Zack achava que algo naquela empresa estava errado, seu instinto disparou quando desceu ao estacionamento e viu Andrea encostada em uma das paredes. Ela tentava trocar os sapatos de salto por tênis baixos, mas suas mãos tremiam.Ele ficou tentado a ir falar com ela, mas algo nele ainda resistia a se envolver nos problemas alheios. Tinha uma nova empresa para dirigir, e se queria que Andrea se sentisse melhor, só precisava consertar sua empresa, não a vida pessoal dela.Por fim, viu ela ajustar o casaco e sair para o frio da rua.Observou-a de longe e percebeu que ela não pegava um táxi nem um ônibus, então provavelmente morava perto. Mas Zack não fazia ideia de quão errado estava, porque Andrea não morava nem remotamente perto; simplesmente não podia se dar ao luxo de pagar nenhum tipo de transporte.Durante quarenta minutos, a moça caminhou no frio de um inverno canadense, e quando finalmente chegou ao seu prédio, já estava quase escurecendo.— Boa tarde, senhora Wilson —
O rosto de Trembley ficou visivelmente vermelho e a dureza em seus olhos permaneceu.— Esperando Andrea? — rosnou. — Você está brincando ou acabou de chegar e não sabe que relacionamentos interpessoais são proibidos nesta empresa?— Bom, sou de aprendizado lento, mas tendo a imitar — replicou Zack com sarcasmo. — Talvez eu tenha me confundido quando vi o senhor se agarrando a ela como uma iguana com falta de sol.O velho cerrou os dentes e soltou Andrea bruscamente antes de caminhar até ele.— Não se meta no meu caminho, moleque. Você é só um recém-chegado e eu posso...— O quê? Me demitir? — interrompeu Zack com voz gélida. — Bem... pode tentar, mas verá que meu trabalho aqui não depende do senhor. Faço parte da equipe dos sonhos desta companhia e só ele pode me demitir. Tenho certeza de que não veria com bons olhos o gerente de plantão tentando me demitir sem justa causa.Trembley cerrou os punhos e o encarou com uma expressão maldosa e desafiadora.— Talvez seu emprego esteja
Furioso... não, mas frustrado e muito. Ele não conseguia entender como Andrea podia ser tão submissa com um sujeito tão desprezível. Sabia que ele era o chefe, mas que um raio caísse direto na cabeça dele se algum dia tratasse seus funcionários daquela maneira!Andrea não só se esforçava ao máximo, como fazia um bom trabalho. Era preciso ser cego para não ver que o idiota do Trembley só a diminuía daquela forma para mantê-la sob controle. E Zack não sabia por que ficava irritado com ela por permitir isso, mas o incomodava vê-la tão dócil com o chefe.Assim que a viu menos vigiada, ele a seguiu até a sala de cópias e fechou a porta atrás de si.— Ei, você nasceu com algum problema no pescoço? — perguntou, fazendo-a parar. Andrea o olhou confusa.— Como? — murmurou sem entender.— É que sua cabeça só se move pra frente e pra trás, dizendo sim. Não vi você balançar nem uma vez para os lados pra dizer não! —sibilou Zack. A moça apertou os lábios, com as bochechas coradas.— Porque nã
Dizer que Andrea tinha trabalhado duro para se preparar e conseguir uma promoção como aprendiz de representante era pouco.Trembley estava mais do que irritado por vê-la com Zack tanto tempo, mas sua primeira tentativa de demiti-lo também tinha sido a última.— Mas ele está se envolvendo com uma de suas colegas! Isso não é permitido nesta empresa! —ele gritou para o responsável de Recursos Humanos.— Pois já enviei sua carta de demissão para o corporativo e me devolveram com um aviso de NEGADO —disse o homem. — Você não pode demiti-lo.Trembley saiu dali mais do que furioso, porque em quatro meses Andrea só tinha escapado dele, mas agora parecia que tinha alguém para ajudá-la a fazê-lo. E aquele idiota parecia intocável.Andrea, por sua vez, continuava evitando-o tanto quanto podia e, embora Trembley não lhe desse trégua com o trabalho, aproveitava cada segundo para estudar os materiais que Zack lhe entregava.Ela tinha deixado todo o resto em segundo plano para estudar. Assim qu
— Exame? Faça-me o favor! Você é só mais uma entre tantas secretárias inúteis que passam por aqui com sonhos impossíveis. Seja realista! — disparou com desprezo. — Você realmente acha que alguém como você pode chegar tão longe? Isso é absurdo!Andrea sentiu o chão sumir, não imaginava que aquilo pudesse ser tão doloroso.— Por que é absurdo? — perguntou com uma voz que tentava parecer firme, embora saísse um pouco estridente. — Sou uma mulher inteligente, fui professora...— Você é uma secretária! O que você entende de esporte? — zombou Trembley. — Você é inútil e idealista. Acha que só porque assistiu alguns jogos vai se tornar a próxima estrela da representação esportiva?Andrea não entendia o que estava acontecendo. Trembley nem sequer queria aplicar o exame. Não podia acreditar na injustiça daquilo, mas sabia que não podia enfrentá-lo.— Não me faça perder tempo com essas bobagens, Andrea! — sibilou o gordo enquanto devolvia a pasta.—Nem precisa! — ecoou uma voz atrás dela.
— Não... não quero ser esse tipo de pessoa — gaguejou, sem conseguir mais conter as lágrimas.— Então vou demiti-la — sentenciou Trembley, sem um pingo de compaixão. — São essas as opções. Ou você dorme comigo e pode ter certeza de que terá um futuro promissor aqui, ou recusa e essa carta de demissão entra em vigor a partir de amanhã... e depois de amanhã, prepare-se para perder sua filha.Andrea estava entre a cruz e a espada; a promoção não importava, mas se recusasse a oferta de Trembley, perderia seu emprego. Como se precisasse de um empurrão, Trembley se inclinou e começou a assinar a carta de demissão.—Espere... — murmurou Andrea, e era tudo o que o velho precisava. Pegou uma folha, escreveu um endereço e passou para a moça. — Te espero aqui esta noite. Agora saia do meu escritório.Com a mão trêmula e sabendo que não tinha outra saída, Andrea pegou o papel e saiu dali. Tentou que ninguém a visse chorando, mas infelizmente a maldita empresa não tinha as paredes mais gros
Andrea abraçou o próprio corpo, tentando espantar o frio enquanto chorava ao se ver entre a cruz e a espada. Seu coração batia aceleradamente, sua mente estava confusa em muitas coisas, menos na principal: não podia perder sua filha.Olhou para Adriana, adormecida em seu berço naquele colchão, e soluçou desesperada ao perceber que não havia outra saída. Podia denunciar Trembley por assédio, mas enquanto o processo se concretizasse, ela já estaria demitida e sem um centavo. Além disso, aquilo constaria em seu histórico profissional, e custaria muito encontrar um novo emprego onde não tivessem medo de uma ação judicial.Com mão trêmula, bateu novamente na porta de sua vizinha.— Senhora Wilson... sei que isso é pedir demais, mas tenho uma emergência no trabalho. Por favor, poderia cuidar de Adriana por mais algumas horas?A senhora Wilson percebeu que algo estava acontecendo, então ficou com o bebê de bom grado.— Lamento que esteja passando por um momento difícil, Andrea. Nem você