Eu dormi na casa de meu chefe.Mauro estava bêbado demais para me levar em casa. Rafael se propôs a me levar, mais recusei. Depois do que aconteceu no escritório de Rafael, dificilmente queria ficar perto dele de novo. O choque e a vergonha me atingiram ao recordar da maneira como agi. Meu corpo estremeceu com a lembrança e fecho os olhos.Poderia culpar a bebida, mas seria mentira. Eu estava sóbria, e sabia muito bem o que estava fazendo. Minhas pernas doíam, meu corpo estava sensível e a culpa era minha. Felizmente, era sábado e eu poderia relaxar assim que saísse. Arrumei os cabelos e saí do quarto.Era como a noite anterior. Todos estavam na sala de estar, conversando casualmente. Não pude parar de pensar que essas pessoas eram as mesmas de ontem. A atmosfera tranquila da noite anterior havia se transformado em uma tensão palpável. Deveriam estar falando algo bastante sério, por mais que não quisessem transparecer.- Bom dia. - Cumprimentei a todos, sentando na cadeira vazia.- Bo
O caminho de volta pra casa foi em completo silêncio da minha parte. Minha mente estava entorpecida, as conversas alegres de Erick e Vanessa estavam quase inaudíveis. Eu não sei porque fiquei surpresa, já deveria esperar que algo assim. Esperar algo assim de alguém inacessível como Rafael seria esperar demais.Isso não iria mais me afetar e depois do que aconteceu mais cedo, decidi que ele nunca mais tocaria em mim novamente. Não iria me sujeitar aos caprichos de Rafael, nem pedir migalhas por atenção. Sorte minha não ter assinado aquele contrato, caso contrário, poderia usar isso contra mim. Não devo satisfação a Rafael e a homem nenhum. Eu o faria sentir o gosto do próprio veneno.Mas agora, precisava me focar no presente.Olhei para Well ao meu lado e suspirei com a carranca que estava em seu rosto. O conhecia bem demais para saber que estava irritado com algo. Pensando bem, a formatura dele estava perto também. Possivelmente seu estresse seria por ele ser o responsável da escolha
A claridade da manhã atingiu o rosto de Rafael e ele resmungou, esfregando os olhos. Sua cabeça doía por conta da ressaca, sentou-se e olhou em volta. Sua mente ainda estava nublada, mas lembrava de ter discutido com Márcia sobre terminar o relacionamento. A situação estava sem tornando insustentável com ela ofendendo Juli por qualquer coisa e ele não podia deixar isso passar.Reparou que não estava na própria casa, mas em uma sala modesta e arrumada que ele entrou apenas uma vez. Seu olhar desceu para o chão e o coração de Rafael se afundou.A mulher que ele tanto queria dormia serenamente em cima de um tapete felpudo e sua gata dormia ao seu lado. Rafael se ajoelhou e estendeu a mão para tocar-lhe o rosto. A gata acordou e olhou-o com desconfiança. Ele suspirou, recolhendo a mesma. Até parecia que ela estava protegendo a dona.Ele sentou-se no chão e olhou para ela, resignada. O que ele estava fazendo aqui? Da última vez que se viram, não estavam em bons termos. Ele não soube lidar
Depois daquela conversa em minha casa, a dinâmica entre Rafael e eu começou a mudar. Eu não sei o que mudara de fato, mas o fato dele se declarar para mim fora algo que eu não esperava. Mas para ser sincera, sua declaração me fizeram muito feliz. Pela primeira vez me senti em um conto de fadas.O trabalho se tornaram mais amistoso, Rafael sempre passava em minha sala, e mesmo se eu não estivesse lá, ele deixava uma rosa em minha mesa. Cafona, eu sei, mas não pude deixar de achar fofo. Sônia fez piadinhas engraçadas sobre isso, que estava cansada de tanta melação de casal apaixonado. Mauro apenas assentiu enquanto jogava no celular. Claro, Márcia não aceitou bem a rejeição. Quando chegamos na casa de Rafael, ela estava lá, esperando por ele. Assim que o viu, ela se jogou em cima dele aos prantos, suplicando por uma chance. Era constrangedor de assistir e quando saí do carro, senti seu olhar fulminando minhas costas. Podia sentir a ameaça de retaliação chegando junto com seu olhar frio
- Não pode ser! – exclamei, levando as mãos até a boca. - Por favor, diga que está brincando comigo.- Eu queria dizer que sim, Juli. Mas não é. – seu suspiro era audível. – Sinto muito. Quem fez isso sabia muito bem o que estava fazendo.Fechei os olhos, a culpa me consumindo. Eu demorei demais para encontrá-lo e agora, a pista mais confiável que eu tinha desapareceu. Rafael tomou o celular de minhas mãos e colocou no viva voz.- Tem certeza de que foi assassinato? Sim, patrão. Mas no início pensaram que tinha sido um acidente domestico. Encontraram ele caído sobre a própria comida na mesa da cozinha. – meus olhos encontraram os de Rafael. – Mas as coisas mudaram quando o legista o examinou.- Qual a causa da morte?- Asfixia, senhor.Fiquei entorpecida com os detalhes. Aquilo não podia está acontecendo de verdade.- Mauro, há quanto tempo Jorge está morto? – perguntei, temendo a resposta.Ele suspirou novamente, mas respondeu:- Há quatro dias.Minha mente começou a trabalhar. Eu n
Juli estava estranha.Desde que soubera da morte do tal Jorge, seu semblante alegre desapareceu. Era como se algo tivesse morrido dentro dela e Rafael não sabia mais o que fazer. Por que ela estava tão preocupada em descobrir a verdade? Será que queria tanto assim que ele partisse? A reação natural seria ela ficar feliz dele permanecer na cidade por mais tempo, certo? Mas, considerando como falou com ela naquela época, dava para entender sua posição.Estava lendo em seu escritório quando Mauro entrou. Para um homem de meia idade, era bem ágil, discreto e confiável, um dos melhores funcionários que encontrou desde que descobri os problemas da empresa. Seu treinamento militar era excelente. Quem melhor que ele para desenterrar algumas coisas?- Mandou me chamar, senhor?Rafael o olhou por um tempo, juntando as mãos em frente ao corpo.- Como Juliana soube sobre você? – questionou.- Eu contei para ela. – arqueou a sobrancelha. - Algum problema?Ele suspirou. Ele não queria envolver ela
Estava prestes a sair da casa de Rafael quando ele me chamou. Senti que algo estava errado e quando voltei-me para ele, percebi que estava certa. O olhar caloroso de minutos atrás fora substituído por uma frieza que eu nunca vira antes. Me mantive quieta. Talvez algo tivesse acontecido depois que saí. Algo dera errado, não sei. Mas aquele olhar estava me assustando. Quando ele parou a minha frente, pude ver veias saltando de seu pescoço em um esforço para conter a raiva. Não pude deixar de me preocupar com o que ele tinha. Estava prestes a perguntar quando ele agarrou minha bolsa e a jogou no chão. Um grito de pavor saiu de meus lábios e Rafael deu uma risada fria.- O que está fazendo? – perguntei em pânico.Tudo parecia tranquilo depois que saí do escritório dele. Por que estava desse jeito.- Achou divertido me enganar, Juliana? Eu sou um completo idiota para você?Com voz fria, ele avançou sobre mim, agarrando meu braço rudemente. Reagi, puxando meu braço e o empurrando para long
Os dias que se seguiram foram os mais difíceis que enfrentei durante muito tempo. Passava os dias transitando entre a raiva, a mágoa e o rancor. Não tinha ninguém para conversar, já que meu celular fora destruído por Rafael e não tinha previsão para comprar um novo. Não depois de ser acusada desse jeito.Em nenhum momento demonstrei meus reais sentimentos para as pessoas que tive contato. Não verdade, abria um sorriso e seguia em frente, como se nada tivesse acontecido. Porém, quando voltava pra casa, todas as lágrimas não derramadas corriam livremente por meu rosto. Mimi sempre vinha em meu apoio, batendo a cabeça em meu braço e lambia o mesmo carinhosamente. Mesmo nesses momentos, não podia deixar de sorrir e afagar minha pequena bola de pelo.Olhei para seu pote, vendo que estava sem comida. Fui com ela para a cozinha dar-lhe comida. Notei com pesar que a sua ração estava acabando e suspirei. Não importa como me sentia no momento, minha gata precisava de mim para alimentá-la. Poder