Estava prestes a sair da casa de Rafael quando ele me chamou. Senti que algo estava errado e quando voltei-me para ele, percebi que estava certa. O olhar caloroso de minutos atrás fora substituído por uma frieza que eu nunca vira antes. Me mantive quieta. Talvez algo tivesse acontecido depois que saí. Algo dera errado, não sei. Mas aquele olhar estava me assustando. Quando ele parou a minha frente, pude ver veias saltando de seu pescoço em um esforço para conter a raiva. Não pude deixar de me preocupar com o que ele tinha. Estava prestes a perguntar quando ele agarrou minha bolsa e a jogou no chão. Um grito de pavor saiu de meus lábios e Rafael deu uma risada fria.- O que está fazendo? – perguntei em pânico.Tudo parecia tranquilo depois que saí do escritório dele. Por que estava desse jeito.- Achou divertido me enganar, Juliana? Eu sou um completo idiota para você?Com voz fria, ele avançou sobre mim, agarrando meu braço rudemente. Reagi, puxando meu braço e o empurrando para long
Os dias que se seguiram foram os mais difíceis que enfrentei durante muito tempo. Passava os dias transitando entre a raiva, a mágoa e o rancor. Não tinha ninguém para conversar, já que meu celular fora destruído por Rafael e não tinha previsão para comprar um novo. Não depois de ser acusada desse jeito.Em nenhum momento demonstrei meus reais sentimentos para as pessoas que tive contato. Não verdade, abria um sorriso e seguia em frente, como se nada tivesse acontecido. Porém, quando voltava pra casa, todas as lágrimas não derramadas corriam livremente por meu rosto. Mimi sempre vinha em meu apoio, batendo a cabeça em meu braço e lambia o mesmo carinhosamente. Mesmo nesses momentos, não podia deixar de sorrir e afagar minha pequena bola de pelo.Olhei para seu pote, vendo que estava sem comida. Fui com ela para a cozinha dar-lhe comida. Notei com pesar que a sua ração estava acabando e suspirei. Não importa como me sentia no momento, minha gata precisava de mim para alimentá-la. Poder
Depois que desabafei com Emília, as coisas de tornaram mais fáceis de suportar.Fiquei em meus trabalhos na lanchonete e como a formatura de Well estava perto, participei mais ativamente dos ensaios. Se tornou um alivio necessário, precisava admitir, quase como se as coisas voltassem ao normal de novo. Claro, não conseguia esquecer Rafael: o que passamos juntos e a situação do roubo, mas estava a um nível em que não me importava mais.Estava preparada para tudo, mas nenhuma intimação chegou até mim, mesmo depois de tantas semanas. Talvez a razão finalmente o atingiu e Rafael deve ter visto que não tinha motivos de me acusar por algo tão surreal. Mauro pode ter feito aqueles idiota enxergar a razão, mas não tenho como saber, já que encontrei Mauro poucas vezes desde o incidente.Pensei comigo mesma: de eu fosse tão descarada a ponto de roubar um valor exorbitante desses, já teria fugindo para muito longe e gastado todo o dinheiro, certo?Felizmente, aquilo não era mais problema meu.-
- Espera! Rafael exclamou e senti sua mão agarrar meu braço com insistência, obrigando me a parar. Ofeguei em surpresa e ao me virar, vi seu olhar frio, porem determinado. Eu não podia acreditar que aquilo estava acontecendo de novo. Tentei me soltar de seu aperto, mas dessa vez ele não me deixou ir. Sua mão estava firme e minhas tentativas de me libertar fizeram meu braço doer. Podia sentir sua frustração, o fato de não ceder às suas exigências o estavam enlouquecendo. Essa atitude, porém, estava me deixando irritada. Disse friamente. - Me solta! Rafael me olhava, sem dizer nada. Continuou segurando meu braço e no impulso me puxou contra ele. Meu corpo se chocou contra o seu e aquela faísca familiar que pensei estar adormecida voltou a se acender entre nós. O ar parecia mais pesado e a tensão entre nós era muito evidente. Levantei a cabeça e o olhei por um momento. Aquilo era insano e ele sabia disso, mas Rafael parecia não se importar. As pessoas que estavam no ensaio e os t
Durante todo o trajeto até sua casa o silêncio era sufocante. Em nenhum momento olhei para o homem que dirigia ao meu lado. Ele tentava puxar conversas comigo, mas suas perguntas eram respondidas com monossílabas e frases curtas. Meu silêncio o incomodava, eu sabia disso e notei pelo canto do olho como Rafael apertava o volante com força. Eu não estava interessada em seus sentimentos, já que protagonizou uma cena vergonhosa minutos atrás.Nem mesmo a musica que preenchia o silencio do carro estava me acalmando. De alguma forma, me deixava mais irritada. Playlist de amor e perdão estavam me tirando do sério. Eu suspirei alto, apoiando minha cabeça no vidro do carro. Emoções contidas, o cansaço do meu corpo e o pensamento em meu amigo inundaram minha mente.Será que Well estava bem? O soco que Rafael deram nele o pegou desprevenido. Lembrei de seu hematoma e a culpa me atingiu. Se eu apenas tivesse concordado e ido com Rafael, talvez aquele lindo rosto de bebê não teria uma imperfeição
Rafael a analisava e viu algo mudar em sua expressão. Ele a reconhecia pois fazia o mesmo quando estava determinado a encontrar a verdade. Fora cego em não perceber as reais intenções de Márcia, odiava a mulher à minha frente e não se conformava por ter sido trocada por alguém que pensava ser inferior.Por mais que quisesse revelar quem a acusou, sabia que nada seria resolvido. Não queria que ela se machucasse. Ela apenas suspirou, endireitando os ombros. Ele poderia ver seu cansaço e se ressentia do que tinha feito.- Ficou feliz que, agora, minha reputação está limpa novamente. – era impossível não notar a ironia em sua voz. – Agradeço por se esforçar tanto para me contar, assim posso andar de cabeça erguida, já que a historia se espalhou. – só então olhou para ele. – Espero que encontre seu fraudador o quanto antes.Juliana apenas acenou com a cabeça e se afastou. Seus passos eram lentos, mas preencheram a sala em meio ao silêncio.Observando-a partir, Rafael percebeu o quão cansad
Era o dia das formatura.Os formandos estavam eufóricos e corriam pelo espaço para que tudo saísse perfeito. Eu não podia ficar mais orgulhosa deles. Emília tinha me dado uma semana de folga, então aproveitei para ajudá-los nos últimos detalhes. Era um sonho que lutaram muito para alcançar e fiquei ainda mais honrada por poder fazer parte do fim desse ciclo. Minhas intenções eram ir para casa e me preparar para a tarde, mas meus planos foram frustrados quando fui arrastada à força e trancada em uma sala com a desculpa que eu fugiria. Isso me fez rir.Não verdade, era por uma questão de logística. Todos os formandos estavam reunidos ali e como eu os ajudei, não queriam me deixar ir impondo a regra que eu deveria ficar com eles até o fim. Não não perderia esse momento por nada, mas não precisei dizer a eles. Apenas me olhei no espelho por um tempo. Minhas roupas estavam folgadas, mas não muito. Era óbvio que eu estava perdendo peso, mas não me preocupei muito com isso. Porém, meu rosto
Nada como viver um dia de cada vez.Eu não tinha muito que reclamar da minha vida, já que a mesma realmente era uma droga. Sempre mantive a cabeça no lugar e procurava resolver meus problemas da melhor forma possível, apesar de muitas vezes ser feita de trouxa. Nessa hora, deveria estar trabalhando em meu projeto, mas ao contrário do que eu queria, vim ajudar uma amiga na lanchonete onde trabalha. Ficar devendo favores aos outros é uma droga. O favor em questão era em uma pequena lanchonete gerenciada pela carismática Emília Souza, uma senhora de idade que sofre de artrite reumatoide, uma doença inflamatória crônica que afetou as articulações de suas mãos e pés, causando um inchaço doloroso. Comovi-me com essa senhora, principalmente por ter que lidar com pessoas sem responsabilidades. Deixei-a anotando os pedidos enquanto eu preparava e entregava os mesmos para os clientes.Depois de lavar mais uma remessa de louça suja, apoiei o rosto em uma das mãos com um suspiro. As chances de s