Faltando um dia para as férias...
Era 7h; 20 min quando o celular toca e Derek Ferris desperta, após deparar-se com um pesadelo. Seu coração batia muito e a sua respiração estava intensamente ofegante. Logo que constatara que era apenas um sonho, observa o relógio, percebendo que estava atrasado para o trabalho. Salta de sua cama rapidamente e ainda se vestindo o mais depressa que podia. Enfim atende o celular que já havia tocado antes, enquanto dormia. Era seu amigo Paul Brant ao telefone;
_ E aí cara, qual é! Falei pra você que meu carro estava na oficina e você ficou de me dar uma carona lembra?
_ Está bem, me desculpe! Eu perdi a hora valeu. Estou chegando aí em vinte minutos.
_ Você está tendo insônias de novo? Derek ri apenas, depois desliga o telefone!
Derek Ferris é um rapaz de 31 anos solteiro que trabalha para uma empresa de pequenos transportes chamada “Express Route”. E atende a cidade inteira facilitando os serviços dos correios, e assim segue todos os dias da semana pelas ruas de São Francisco no estado da Califórnia. Todas as manhãs de segunda a sábado, a rotina é sempre a mesma: Derek acorda cedo; coloca seu uniforme, toma um café rápido, pega sua pick-up, segue o trajeto chegando à empresa, b**e o ponto e recebe a lista das encomendas. Alguns funcionários carregam o furgão e após conferir a carga, ruma para as entregas.
Sua rotina de vida basicamente tem apenas um padrão. De casa para o trabalho, do trabalho para a casa. A exceção dos fins de semana onde se reúne com seus amigos Paul Brant e Nickolas Palmer (Nick), geralmente quando não ocorre uma festa pela região, ou algum deles tem outra ideia mais animada, continuam com o lugar de costume. Um barzinho próximo à orla de uma praia muito frequentada.
Trabalhando na “Express Route”, desde que escolheu São Francisco para viver e morar, Derek procura se ocupar o máximo que pode, durante os dias úteis. Há seis anos havia largado outro emprego num hospital em San Diego como enfermeiro e que segundo ele, preferiu o serviço de entregas, porque tinha naquela atividade, um pouco da liberdade que tanto presava. A Empresa de transportes, não era nenhuma maravilha, mas segundo Ferris, lhe deixava menos estressado do que o antigo emprego arranjado por sua mãe, a Doutora Sarah Ferris, após trancar seu último ano da faculdade de medicina. Cansou de correr “pra lá e pra cá”, atendendo muitos doentes, optando por buscar alguma atividade que o deixasse de cabeça fria e a mente mais tranquila.
Nick trabalha numa revendedora de carros, qual o proprietário é seu pai. Apesar de o senhor Palmer ter uma vida social bem equilibrada e aos olhos de muitos, ser um empresário bem-sucedido, o filho, para usufruir de regalias, tem que se esforçar muito para convencer os clientes a adquirir um veículo novo.
Paul trabalha na mesma empresa que Derek, como ajudante. “Ou às vezes preenchendo a folga de alguém na ‘‘Express Route”. Ambos estão sempre querendo arranjar uma garota para Derek Ferris, já que nos últimos meses vêm tendo sonhos e visões com a “sua própria”, existente apenas em sua cabeça. E esta seria a então mulher da sua vida, que segundo Ferris, apareceria qualquer dia daqueles em algum lugar e ficariam juntos. A teórica história de Derek, quase sempre gera motivos para piada entre seus colegas e amigos. Incluindo alguns clientes da empresa onde ele trabalha.
Por conta deste sonho, Derek teve que fazer a pedido de sua mãe algumas sessões de psicanálise, mas depois de algumas semanas sem ver resultados, optou por desistir. O que aparentemente não vinha ajudando muito.
Já passara das 7h; 50 min quando Ferris para na frente da casa de Paul. Este que já o esperava na calçada. Imediatamente, entra em sua camionete Ford F-1000 modelo 94 azul-marinho com cinza e listras vermelhas, que foi de seu pai e que ele amava e zelava;
_ Pô cara, de novo! Estamos vinte minutos atrasados. Agora vou levar bronca do chefe também por sua causa. Reclama Paul Brant, com o amigo que estava bastante pensativo e naquele dia um pouco mais que o habitual, além de bastante estressado;
_ Fica frio, valeu. Deixa que eu me entenda com o chefe.
Apesar de ser um rapaz brincalhão, Paul estava ficando preocupado com o amigo; e por mais que às vezes zombava dele, queria vê-lo bem.
Seguindo seu curso para a empresa, Derek, que já se demonstrava perdido em pensamentos, dividia-se entre seu olhar fixo para as ruas e o que seu parceiro falava, evitando se irritar com o amigo de seis anos. Na visão de seus colegas, Derek não vinha sendo mais o mesmo, após ter voltado de sua última viagem à casa de seus pais á um ano. Antes ele era até visto pelos seus colegas como um homem do tipo conquistador, que chamava a atenção das mulheres só com o olhar. Sempre que ele tinha vontade saía com a primeira que ele se encantasse. Principalmente em festas e boates.
Com os sonhos a que vinha tendo, praticamente desde o mesmo período que voltou de sua última viagem, acabou por despertar preocupação em seus colegas. Como estes sonhos e visões tornaram-se constantes, eles, uma vez ou outra, procuravam estabelecer uma conversa para saber como o amigo se sentia e não o deixar que ficasse entediado;
_ Que está pegando cara? A garota deixou de aparecer nos teus sonhos agora.
_ Ao contrário, os sonhos têm sido mais nítidos ao longo do tempo, e não são claros. Entende?
_ Não, eu não entendo. Eu nunca tive estes tipos de sonhos. – Responde Paul – Acho que você deveria voltar ao psicólogo ou o psicanalista e tentar reverter isso.
Pego por vários questionamentos, o amigo de Paul busca em seu pensamento um sentido coerente para justificar as visões constantes em sua cabeça e às vezes até se lembrar de algo que o direcione para algum ponto esquecido em algum momento de sua vida. Como exemplo as crenças de ter vivido algo com alguém que ninguém de seu meio possa ter testemunhado, e por esta razão fica agitado, quando não pode conversar com alguém. Se já não bastassem os sonhos e visões, começaram a aparecer também os pesadelos, algo que ainda não havia acontecido. Todas as visões de Ferris com a mulher nas suas alucinações envolviam apenas troca de carinhos e flashes de momentos íntimos e felizes com ela, e justamente sobre os pesadelos ele dialoga com Paul que rebate;
_ Cara, isso não é bom, eu aconselho você tentar esquecer esta garota!
_ Não sei dizer se isso é bom ou ruim, mas recentemente em um destes pesadelos, eu bato o carro, e estava em companhia da mesma garota. Isso quer dizer alguma coisa. - Explica Derek ao amigo, insistindo que às vezes acredita que aquilo poderia ter acontecido nos dois anos que ele não lembrara, e que sua mãe, especialista em neurociência, também achava possível. Por outro lado, quando pesquisou sobre o assunto, cogitou a hipótese de vir acontecer. Previsões de algo que aconteceria um dia, que fariam parte de outro tipo de ciência, qual sua mãe abominava, pela sua profissão. Segundo Ferris. Porém, depois daquele último pesadelo, começa se voltar contra o pensamento profissional de Sarah. Concluindo, Derek ter visto a garota ferida gravemente socorrida por uma ambulância. Ambos haviam sidos levados a um hospital depois daquilo, o deixando extremamente preocupado, pois havia a crença de o que sonhou, poderia, estar perto de acontecer.
Ouvindo a história, Paul, achou por bem, sessar a conversa;
_ Acho melhor você ficar atento no trânsito.
_ Eu estou atento. Apenas estou descrevendo o meu pesadelo. Fica frio!
No meio do diálogo, Paul se nega a pensar na possibilidade que algo do gênero possa viesse acontecer, por outro lado, afirma que seu amigo jamais sofreu um acidente de carro. Quanto a possível garota, ele nunca havia mencionado para um dos amigos, no tempo qual ele se julga não lembrar; por não acreditar em previsões, acha pouco provável ser alguém que ele viesse encontrar um dia no futuro.
O assunto estendeu-se até chegar ao estacionamento da empresa e quando os dois adentraram o galpão, seu chefe foi logo dando uma bronca. Como era previsto;
_ Ferris. Eu vou descontar estas horas atrasada em suas férias; e lhe garanto que quando você voltar a trabalhar e chegar novamente atrasado, eu vou despedi-lo.
_ Ok chefe, prometo que isso não vai se repetir.
_ Não prometa se não vai cumprir garoto. Quer um conselho? - O Supervisor da empresa segura em seus braços; - Aproveita as férias, reflita. Seus pais são ricos, você ainda pode se formar ser um excelente médico ou pode arranjar um trabalho no escritório de uma grande empresa e ganhar dez vezes mais do que ganha aqui.
Recebe “duas tapinhas” nas costas e segue sacudindo a cabeça para os lados. Depois de alguns minutos, foi conferir a carga como era de praxe, além dos papéis e notas referentes às encomendas; os pacotes, caixas e malotes que iria transportar. Como havia muito que entregar naquele dia, de sábado, Paul Brant, que já vinha sendo seu ajudante algum tempo, seguiu com ele para acelerar as entregas, antes que passasse do horário previsto.
Por ter no sábado, horas mais curtas. O que seria meio período e se as encomendas não estivessem em seus destinos até o fim daquele expediente, ainda assim teriam que continuar às entregas. A menos que seus respectivos donos não estivessem nos locais para o recebimento. Então elas voltariam para a empresa e seus clientes receberiam um telefonema avisando que seus pacotes estariam no depósito, aguardando seus donos a vir buscá-las, caso isso não acontecesse, depois de 30 dias, à mercadoria retornaria ao seu local de origem e destinatário.
Aproximava-se o feriado de Quatro de julho e parecia que a “Express Route”, tinha muito que fazer nas semanas seguintes, porém, por nenhum momento, Ferris preocupou-se, já que aquele seria seu último dia antes das férias. Enquanto rodava com destino aos endereços marcados, Paul o amigo, e durante o trabalho, seu ajudante também, volta ao assunto da garota qual seu parceiro vivia sonhando. Paul sugere a Ferris começar sair novamente com alguém, como fazia costumeiramente, durante o tempo em que era tido como um grande conquistador. Brant acreditava que aquelas visões, estavam o deixando paranoico. Mesmo com as manifestações contrárias ao seu pensamento, Derek, insistindo com suas teorias devaneia, explica ao colega que tinha a sensação que um dia iria encontrar a tal garota, por que aqueles sonhos e as visões eram muito reais para ele, e que talvez as férias o ajudassem a refletir melhor.
Eles param no primeiro endereço. Despacham com um cliente sua primeira entrega; que seriam duas caixas e passam a prancheta e a caneta ao cliente;
_ Bom dia. Assine aqui, por favor, Senhor Willians.
_ E aí Ferris! Como vai? Já estou sabendo que amanhã começam suas férias. Vai visitar seus pais?
_ É! Como todo ano faço. É o tempo que tenho, já que raramente eles me visitam. Tenha um bom dia Senhor Willians. E o senhor, Willians também se despede;
_ Você também Ferris!
Durante o curso, Paul lembra ao amigo, que ele e Nick programaram uma noite de despedida para o amigo, e esperava que o parceiro se divertisse como nos velhos tempos. Então Derek ri desconfiado;
_ Está rindo de quê? Vai ser bom pra você e nem precisa sair com ninguém se não quiser. Bebemos um pouco, aí vamos para a casa. E então amigão... O que me diz?
_ Cara, até parece que não vou voltar mais! Bem! Se vocês insistem, vamos nessa. E eles seguem o trajeto.
A noite na boate...
Naquele sábado à noite reuniram-se os três amigos numa boate de streeper para comemorar o último dia de trabalho de Derek. Sentaram no sofá em corvino vermelho beberam vodca, uísque e algumas cervejas. Uma bela de uma mulher de tanga fio dental, com decotes avantajados, traz um balde com gelo e algumas cervejas para os rapazes. À noite mais do que descontraída, vira uma nostálgica folia, com músicas, mulheres se despindo no palco e muito mais. Aproveitando o momento, Paul coloca umas notas na cintura da dançarina, depois volta ao sofá, onde se encontrava sentado com os amigos; rodeados de belas e ousadas mulheres. Embora estivesse como pingentes em pulseiras e correntes, adornando os pescoços dos festivos rapazes, o assunto ressurgia em meio as insinuantes escorregadas das mãos de Nick, que apalpava os seios de uma ruiva sentada em seu colo;
_ Olha só Derek. Isso, sim, é real. Se vou ter que ejacular que seja ao vivo e não sonhando com alguém; e acordando com minha cueca enlambuzada.
Mesmo com a ironia do amigo Derek devolve com uma falsa gargalhada cínica, inclinando-se para pegar no balde de gelo outra longnec. Entre uma dose de bebida e outra de bom humor, a morena sentou entre Paul e Derek, olha para Brant e pergunta;
_ O que há com seu amigo? Ele é tímido ou é casado?
_ Nenhum dos dois, ele é padre. Rá! Rá! Rá! Brincadeira.
_ Aí... Não da bola pra eles não. São dois babacas. Comenta Derek Ferris ao ouvir a piada do amigo com a morena de lábios vermelhos e sensuais. Que depois se aproxima de Ferris e troca uns carinhos, alisando sua perna.
Assim acabou sendo a noite que ameaçara se estender pela madrugada, porém, interrompida quando o já “não tão jovem” galante decide ir descansar. E antes de se levantar, avisa aos amigos que teria de acordar mais cedo para comprar uns presentes e levar aos pais na sua viagem, que aconteceria naquele domingo à noite:
_ Tem que ir mesmo? Pergunta Paul;
_ Sim, eu quero aproveitar passar naquela feira de antiguidades pela manhã, ver se encontro alguma coisa para meu pai. Eu já lhe falei do seu gosto por antiguidades. Declarou Ferris e o amigo lembrou-o que sim, concluindo que seu pai era um cara “muito gente boa”. Segundo as palavras de Paul;
_ E aí! Você disse que talvez fosse comigo até lá. Mas se não der, não precisa se preocupar, eu vou só.
_ Não... Tranquilo! Eu acho que daqui a alguns minutos eu também já vou para a casa também. E você sabe, minha irmã vai encher-me o saco! Já viu como é né. Só me ligar e me chamar em casa.
E despedindo-se dos companheiros e colegas, Nick e Paul; o amigo sai abraçado com a morena ignorando as piadinhas dos colegas;
_ Vai lá parceiro. Esta morena vai ser um remédio para teus pesadelos. (risos)
Saindo da boate, Derek decide pernoitar num pequeno motel ali pelas redondezas. E claro, levando à morena com ele.
Três horas depois de uma “relação amorosa” e um curto período de sono, obviamente, já que teria o outro compromisso pela manhã. O sol já se fazia radiante perto das 8h; 30 min, Ferris se levanta torcendo a cara, por conta do gosto da bebida ainda em sua boca, em virtude das horas anteriores, vai para dentro do banheiro, toma um banho. Após a ducha, se enxuga, coloca a roupa e fechando os botões da camisa, pega seu celular e relógio da mesa de cabeceira, abre sua carteira e retira algumas notas; colocando na outra mesa, ao lado esquerdo de onde estava, a garota com quem tinha passado a noite, que se encontrava nua, dormindo, emaranhada ao lençol. Em seguida deixa o motel, dando uma rápida passada em casa, troca de roupas, liga para o amigo após passar num bar, tomar um café e segue para casa de Paul uma hora depois.
Paul, que morava com sua irmã e cunhado Nancy e Peet, demorou acordar, mas Nancy fez questão de chamá-lo ao seu estilo, puxando o lençol sobre ele;
_ Levanta seu beberrão! Seu amigo já ligou várias vezes! Está lhe esperando lá fora.
Sem delongas, ele levanta, tomara um rápido banho para despertar o sono e o porre da noite anterior, em meia hora estava vestido e sai embarcando em sua pick-up; cheio de ressaca;
_ E aí quer desistir? Fica aí que eu vou só. Comenta Derek segurando em seu ombro.
_ Não, eu estou de boa! Apenas toca para frente, e se você encontrar uma farmácia aberta estaciona, para eu tomar um analgésico, que estou morrendo de dor de cabeça.
Seriam oito quilômetros dali até chegar a tal feira de antiguidades, qual aconteciam tradicionalmente todos os domingos. Na zona sul de São Francisco. Como citado por Ferris, antes, seu pai fazia coleções antiguidades e por iniciativa e indicação do outro colega de trabalho, resolveu fazer uma visita à famosa feira, na intenção de comprar algo do qual gostasse, levando de presente aos pais.
Após passar na farmácia, depois no posto e pegar um café para o amigo, rumaram pela avenida. Menos de doze minutos, chegam enfim a feira livre.
Enquanto escolhe algo em meio a tantas barraquinhas, Paul inicia uma conversa sobre os pais de Derek;
_ Cara, por que seus pais gostam tanto destas coisas? Seu pai até entendo que é bem mais velho que ela, mas sua mãe. Isso é o quê? Vontade de viver no passado!
_ Acho difícil de explicar! Talvez tenha a ver com os meus avós. Meu pai perdeu os pais cedo e minha mãe também. Não tiveram irmãos e talvez isso fizesse com que eles se identificassem. Assim unindo os dois. - Declarou com orgulho e complementou – As coleções do meu pai se transformaram em fonte de distração para eles;
_ Deve ser bem estranho crescer sem avós, sem tios, sem sobrinhos. Eu moro com a minha irmã mais velha e meu cunhado você sabe. Tenho um sobrinho de sete anos, meus pais moram na Carolina do Norte. Os vejo quando dá e a vida que segue.
_ Por isso chamamos de família. Nossos pais se apaixonam e de repente, cá estamos nós;
_ Eu não consigo entender como sua mãe veio se apaixonar por um homem muito mais velho que ela. Ele podia ser o seu avô.
Ferris conta que o amor é inexplicável.
Segundo sua mãe, ela teria ficado órfã aos 12 anos de seus avós e seu pai trabalhava como motorista dos pais dela. Com o falecimento deles, acabou virando tutor legal de sua mãe. Toben, seu pai também tinha outras tarefas na casa e por estarem muitos anos na família era considerado, mais do que um empregado, tanto que no testamento deixado pelos patrões e avós de Ferris, seu pai também foi beneficiário. Esta teria sido a principal razão de ela ficar na casa aos cuidados do então empregado, tendo o consentimento do juizado de menores e não precisar ir para um orfanato. Sendo assim a garota havia crescido, acabou se apaixonando pelo homem que a adotou, casando-se com ele e do relacionamento Derek nasceu;
_ Cara, isso é bizarro! Se o Juiz soubesse disto, não deixaria jamais ele cuidar de sua mãe. Ela era apenas uma menina e seu pai tem o que... , trinta anos a mais que ela?
_ Trinta e dois, na verdade, e a minha mãe já estava adulta. Além disso, foi ela que se declarou para ele. Vamos logo achar os presentes que eu quero fazer as malas ainda hoje para rumar a San Diego.
Os dois circulam em meio às barraquinhas de acessórios, que vão desde relógios antigos a chapeis. Os dois se divertem um pouco e Paul coloca um chapéu na Cabeça de Ferris, estilo ao que Chaplin usava no filme “O Vagabundo” (The Trump- 1915). Ele aproveita pega uma bengala de outra banca e faz os passinhos, girando num dos braços como no filme. Depois é a vez de Ferris, que coloca uma capa nas costas de Paul e encontra uma espada e um escudo colocando em suas mãos e os dois caem na gargalhada.
Nenhum dos dois havia visitado aquela parte da cidade no domingo, eles acharam muito interessantes. A feira continha coisas variáveis que qualquer colecionador ficaria encantado, mas havia também acessórios de estilos e épocas diferentes ou baseadas nestas épocas propositalmente, com intenção de compor um traje ou até mesmo uma fantasia que levaria a combinar com qualquer coisa moderna e elegante, como as próprias joias de um período qualquer. E ali certamente Ferris, encontraria algo para sua mãe.
Em meio a tantas barraquinhas e bancas ao ar livre, algo chama a atenção dos rapazes. Ao fundo, bem perto da calçada, quase saindo para rua, um furgão colorido com um letreiro escrito, “Discos Antigos”. Uma bela moça, aparentemente já recolhendo sua mercadoria na traseira do veículo para ir embora. Aparentemente seu furgão representava uma loja de discos e CDs antigos, ambulante;
_ Ei, olha lá! Assinala apontando Paul. Chamando a atenção do amigo Derek, que se vira no momento em que Paul sinaliza com a Cabeça.
_ Boa ideia! Discos... Meu pai adora discos antigos. Sabia que ele tem uma vitrola? Desde os anos seten...
_ Cara, eu não estou falando de discos. – Exclama Paul interrompendo – É a garota. Comenta-o admirando a senhorita “extremamente” sexy. Vestindo camiseta, colete e bermuda jeans curto. A camiseta branca decotada; tinha em sua estampa, aquela tradicional “boca grande” com uma língua de fora, como num clássico álbum dos “Rolling Stones”. - Ela é muito gostosa! E é bonita também; - Paul comenta, enquanto o amigo fica observando em passos curtos e lentos indo em direção ao furgão, mas Brant ainda insiste;
_ Ela tem seus olhos! Você reparou? Se eu não lhe conhecesse, podia jurar que ela seria sua irmã! Neste caso, eu seria seu cunhado com certeza.
_ Ó! Cala sua boca! Vamos ver os discos. Dá pra ser?
Ao aproximar-se da banca, os amigos começam a vasculhar alguns vinis entre a pilha, dentro de uma das caixas que ainda estavam sobre ela. Enquanto a garota encaixotava outros tantos na traseira do furgão, se curvava para afastar uma caixa da outra com uma das pernas dobradas na beira da traseira do veículo, fazendo com que sua bermuda encurtasse ainda mais. Enquanto Paul; observava suas nádegas, cutuca-o com o cotovelo os braços do amigo, apontado para o que ele via. Ferris olha rapidamente e devolvia com uma tapa em sua cabeça.
Mesmo estando de costas, a garota conversa com os rapazes, que insistiam em procurar algo que viesse os agradar, ou tivesse a ver com o presente que Ferris pretendia dar aos pais;
_ Se interessaram por alguma coisa? Neste instante ela para o que estava fazendo, sai do furgão, se voltando a eles e encara-os;
_ Eu? Nada não. Responde imediatamente Ferris;
_ Nem eu. Conclui Paul.
_ O que vocês estão procurando? É o que eu quis dizer! Tenho mais aqui dentro. Explica a bela garota com semblante ríspido, franzindo as sobrancelhas.
_ Oh, sim! Você tem muitas raridades aqui. – Comenta Ferris, olhando dos dois lados de um Long Play do Creedence Cleater Revival.
_ Esta é caixa com vinis só dos anos 70. Se vocês me disserem o tema e a banda, eu posso ver o ano.
_ Poxa. Você deve ter pesquisado muita coisa sobre música! Exclama Paul;
_, na verdade, vem de família mesmo. E ai rapazes, vocês estão procurando o que exatamente? Não me levem a mal, estou com um pouquinho depressa! Preciso sair mais cedo.
_ Tem outros títulos entre sessenta e setenta? Pergunta Derek;
_ É ainda tenho alguns títulos. Mas tá ficando difícil adquirir. O que procura exatamente?
_ Sei lá! Você teria “The Platters”?
A garota confirma com a cabeça, vira-se; e vai ao furgão; _Platters! Deixa-me ver aqui. Procurando na pilha mexendo um a um; _ Tenho um exemplar aqui. Difícil parecer quem os compre, geralmente são pessoas acima dos sessenta anos, que buscam estes mais antigos. Então retira o raríssimo exemplar, ainda com o plástico. Com o mesmo olhar expressivo e semblante séptico, apesar da beleza; ela estende os braços com o disco na mão;
_ Eu vou presentear meu pai. Declarou Ferris e a bela moça de olhos claros, cabelos castanhos escuros, parou olhou para o rosto de Derek. Observando-o com aquele olhar de análise. Sem parar de encará-lo, achando-o familiar a alguém;
_ Vem cá! Já não nos vimos antes?
_ Não! Acredito que não. É a primeira vez que venho para estes lados, mas meu amigo disse que você parece bem familiar.
A moça desta vez demonstra alguma simpatia, expressando um sereno sorriso e se apresenta, estendendo as mãos;
_ Me chamo Pamela Orson!
_ Sou Ferris, Derek Ferris. Prazer!
_ Eu me chamo Paul. Apresenta-se o amigo com cinismo, encarando a moça que deixou de esboçar o mesmo sorriso que havia dado a Ferris; enquanto ela pegava o troco, Pamela apenas responde com a cabeça agradecendo. Após os cumprimentos Pamela continua a observar pensativa, até se despedir com um aceno, dar meia volta e vai se virando em direção a pilha restante, para colocar junto às outras caixas no furgão, guardar e ir embora. Antes de entrar no furgão, a senhorita Orson observa Derek, mais uma vez antes de embarcar, quando os dois viram-se para seguir em frente. No console do veículo ela retira um pendrive e coloca em seu aparelho de som. Quando começa tocar uma canção bem peculiar aos ouvidos de Derek, que já haviam dado alguns passos em direção ao carro deles vira-se novamente para trás e ao reconhecer a canção, ele grita para a garota, no instante que já havia acionado a ignição e ameaçara partir;
_ Ei espere! Pondera ofegante pela corrida que deu. Ela freia o veículo;
_. Pois não.
_ Esta música eu conheço. Proferiu o rapaz e Pamela dá uma risadinha. Mais uma vez desconfiada;
_ Correu até aqui, para me dizer isto? Conhece de onde?
_. Na verdade, eu apenas ouvi. Só não sei quem é cantora e nem o nome da música. Declara Ferris e Pamela Orson deu uma breve gargalhada com sarcasmo;
_ É! Quem sabe você já tenha visto no you-tube, antes do vídeo sair do ar. Um fã anônimo postou e depois retirou, mas não acredito que seja você o fã, pois não estaria me perguntando. A menos que seja uma desculpa para me abordar;
_ Não! Não é uma desculpa. É curiosidade mesmo! Você pode ser bonita. Mas não faz meu tipo!
_ Sério mesmo? Esnobe! - Riu a garota – Certo! Se você for mais convincente e me disser por que você está interessado na música, eu posso lhe dizer quem é a cantora ou o nome da música. – Ponderou a moça e Derek pensa;
_ Você não acreditaria se eu lhe contasse.
_ E por que não tenta! Insiste Pamela.
_ Foi no meu sonho! Uma garota estava num palco e tocava esta mesma canção, segurando um violão...
_ Num sonho? Rá! Rá!
_ Sim!
_ Está na cara que você deve ter visto a postagem no you-tube. Sonho! ... Corta esta.
_. Mas eu lhe juro que não me lembro de ter visto em postagem. Ei... , espere!... A moça deu outra rizada; _ Quando, você acordar deste sonho! Sabe onde me encontrar! Declarou e pisou fundo no acelerador, deixando o rapaz parado na calçada.
Se questionando que ele pudesse ter mesmo visto num canal da internet, Derek ficou ali pensativo por alguns instantes e Paul ficou bem curioso com o fato de o amigo questionar a canção, e o fora, que a garota deu no colega explica.
_ Aquela é a canção que a loura cantava nos meus sonhos. E ela não me deu um fora. Fui eu que dei nela;
_ Que loucura! Ela é muito doida! (risos). Você acha que viu na internet? Porque pode ser possível e justifica suas visões e sonhos. Comenta Paul;
Tentando explicar, Derek acentua que, ainda se fosse pelo vídeo na internet, havia os encontros e os momentos com ela. _ Eu estava lá, nos beijamos e fizemos amor. Declarou e concluiu dizendo que seguindo sua linha de pensamento, não estaria no you-tube. Paul discute a possibilidade de o amigo ter visto mesmo um vídeo e imaginar o resto, por conta de ter se apaixonado. Derek insiste que jamais teria motivos para se imaginar com alguém que nunca viu.
_ Certo! Digamos que aconteceu! Em algum momento. Mas e o acidente? Assuntou Paul – Você encontrou algo? Lembra-se que veículo estava?
_ Não encontrei nada! Mas este detalhe pode ser mesmo parte de um sonho, ou isso venha mesmo acontecer. Se eu a encontrar, claro!
_ Então eu prefiro que você não a encontre! Vire esta boca pra lá! Declarou Paul com chateação. E ambos sessam o diálogo sobre o assunto, enquanto Paul gesticula abanando a cabeça. Contestando as explicações de Ferris.
O amigo supõe; que talvez as férias na casa de seus pais, o ajudaria refrescar a cabeça. Quem sabe até poderia voltar de lá com uma namorada de San Diego, desistindo de ficar esperando alguém que está apenas na cabeça dele, parando com as alucinações. Derek opta também por não prolongar aquele diálogo, porque quanto mais falava do assunto, mais ficava incomodado.
Ao cair da noite, após aproveitar à tarde para um bom cochilo. Já que não teria dormido suficiente, Derek fez as malas, jogou na traseira da pick-up, no instante que Nick e Paul vão à casa dele se despedir. Após uns pedidos de desculpas pelas brincadeiras, recebe os abraços dos colegas e segue seu curso.
Ferris partiria às 11h; 00. Conforme o programado. Por já estar descansado e pretendia viajar a noite toda, chegando somente ao amanhecer em San Diego. Antes de seguir seu curso, Derek para num posto, abastece, confere o nível de óleo e água. Pega uns itens básicos como algumas latas de refrigerantes, água mineral e biscoitos na loja de conveniência, paga com seu cartão e segue viagem. Com a noite tranquila e agradável, no caminho o pensativo rapaz se perde em algumas lembranças, projetando-se aos momentos tidos na casa dos seus pais durante os anos de férias ou folga.
Em meio estas lembranças também invadida pelas rotineiras visões que ao longo do caminho iam ficando mais nítidas do que as de costume. As mesmas visões da mulher com quem ele tanto sonhava. Talvez o fato destes sonhos e alucinações começarem quando ele acabara de voltar, a última vez que teve na casa dos pais, este retorno fez com que as lembranças voltassem bem mais relevantes em sua mente.
Em outro lugar nem tão distante dali, numa praia em San Francisco, num pequeno píer ao fundo de uma residência, um homem fazia uma modesta faxina em seu barco, até que sua neta vir chamá-lo para jantar;
_ Vovô, vamos entrar. O jantar está pronto. Avisa Pamela ao senhor Orson, que se sentia um pouco solitário aquela noite. Depois é perceptível que ele não estava somente a fazer a limpeza rotineira. Ela o vê pensativo, vai até sua direção sentando-se a beira do barco ao lado de seu avô, que olhava para o céu estrelado;
_ Sabe vovô, eu não consigo me lembrar muito do rosto dela, mesmo olhando as fotografias, mas é como se eu escutasse aquela voz doce em meu ouvido.
_ Você era ainda muito criança na época.
_ Quando eu morrer eu vou encontrá-la. Não é mesmo vô?
Orson abraça sua neta, beija sua cabeça e tenta de alguma forma consolá-la com suas palavras;
_ Se eu pudesse escolher entre mim e você, eu me escolheria obviamente! Mas Deus tem lá seus propósitos. Ele já me atendeu quando pedi que você ficasse viva daquela outra vez, não sei se é pedir demais, esperar que eu vá primeiro ou que eu troque de lugar com você.
Pamela abraçada ao seu avô assunta sobre seus sentimentos em relação sua avó; _ O senhor sentiu esta mesma vontade de morrer quando perdeu a vovó e depois a minha mãe? Proferiu com tristeza, pois a mesma já teria ouvido seu lamento com relação a sua mãe durante toda sua vida, mas nunca entendeu porque ele evitava tocar naquele assunto. Ou mesmo, quando mudava a conversa como acabara de fazer em seguida. Perguntando sobre a venda na feira, assuntando se o dia teria sido produtivo; _ Certo! Se não quer me contar, tudo bem! Eu desisto. Quanto à feira, eu voltei mais cedo, porque havia esquecido os remédios. Seu avô a alertou que ela não poderia ficar sem eles e que não queria vê-la novamente tendo crises. _ Está bem vovô. Vou me cuidar, eu prometo! Depois sorriu com mais um caloroso abraço e outro beijo em sua testa, o levantado e estendendo a mão para conduzi-lo para dentro.