UM PACTO COM O MILIONÁRIO
UM PACTO COM O MILIONÁRIO
Por: Maria Pulido
PREFÁCIO

Há 15 anos...

—Hanna, querida, se sente direito... vamos aterrissar logo... —a garotinha assentiu em obediência, enquanto sua mãe, Sophie, colocava o cinto de segurança.

—Você parece nervosa... Há algo errado? —perguntou Michael, mas a Sophie negou, olhando para a filhinha que se esforçava para olhar pela janela.

—Não sei... hoje, quando estávamos pegando nosso jato, de alguma forma senti que não deveríamos fazer essa viagem....

—Mas você tem planejado essa viagem há muito tempo —o marido dela rebateu um pouco incrédulo.

—É, eu sei... talvez seja bobagem minha —Michael pegou a mão da esposa e a beijou lentamente.

—Vamos nos divertir muito... faz muito tempo que não tiramos férias, e a Hanna está muito animada com essa expectativa toda que você criou na mente dela. 

Sophie sorriu pro Michael e então pensou que ele estava certo.

Desde que a Hanna nascera, eles já estavam atolados de trabalho e, embora não precisassem trabalhar nunca mais, sabia muito bem que ambos eram obcecados por acumular e aumentar a fortuna da família.

Mas também estava claro que a filha deles conhecia melhor as babás e estava mais familiarizada com a equipe da mansão do que com eles, então, nos últimos meses, a Sophie tinha feito uma mudança radical em seu modo de vida.

Então as viagens se tornaram o foco principal.

Olhando para sua pequena filha, só desejava lhe mostrar o mundo e dar tudo para ela, mesmo as coisas que nem precisava.

Levaram muito tempo para ter a Hanna, passaram por muitos procedimentos de fertilidade e, quando jogaram a toalha, perdendo toda a esperança, um milagre indicou os dois traços no teste de gravidez.

—Sr. e Sra. Walton... em dez minutos estaremos em terra... Uma mulher da equipe veio avisá-los, e Sophie se apressou em pegar a mão de sua filha.

—Se você quiser... pode fechar os olhos, talvez poderia enjoar....

—Não... babá diz que eu sou uma garota corajosa...

A Sophie sorriu, passando os dedos sobre as bochechas rosadas da menina, e naquele momento teve a certeza de que sua filha Hanna era a criança mais linda que seus olhos já tinham visto.

Ela tinha cabelos castanhos, com algumas mechas amarelas, e seus olhos eram claros, entre o amarelo e o verde. Suas feições eram iguais às da Sophie, mas em termos de caráter ela era muito parecida com o Michael, seu pai.

Embora tivesse apenas 4 anos de idade, ela era muito independente, determinada e acima de tudo, afetuosa.

O casal desceu do avião e uma limusine os aguardava sem pelo menos perceber o forte calor que o Marrocos exalava e, quando se hospedaram no Mansour Marrakech, decidiram terminar de passar o dia entre os luxos e uma zona de conforto para relaxar.

Já era noite quando os três jantavam, enquanto a Sophie mostrava para Hanna no seu iPad aqueles pontos turísticos que eles percorreriam durante a semana no Marrocos.

A garota bocejou enquanto colocava mais uma batata frita na boca, até que viu uma imagem pitoresca nas fotos.

—Ela se sentou ereta, apontando para a famosa praça, onde os marroquinos barganhavam todos os tipos de mercadorias.

—Sim... é muito pitoresca e famosa também... mas tem muita gente —relatou a Sophie.

Michael olhou para cima para ver a decepção da filha e recuperando o fôlego, interveio.

—Devemos tentar de manhã... acho que estará menos lotado. Além disso, temos nosso pessoal nos cuidando.

Hanna sorriu e fez beicinho para a mãe, que revirou os olhos imediatamente.

—Tudo bem... vamos à praça, mas uma hora só, tem lugares melhores para visitar —a menina se apressou em se levantar e dando-lhe um beijo suave, colocou os bracinhos em volta da mãe.

—Obrigada mamãe... eu te amo.

Sophie sorriu para ela e chamou uma das empregadas que tinham sido trazidas para ajudá-la com a Hanna.

Na manhã seguinte, todos estavam prontos para sair, a Hanna era a mais animada e a Sophie verificou de levar protetor solar, óculos escuros e um chapéu para bloquear o sol.

Ela também levou uma assistente, que tinha viajado para cuidar da Hanna quando ela não estivesse disponível.

O carro os levou rapidamente para a praça, e o casal sorriu quando a Hanna não parou para descrever como a praça era incrível. E, embora pela manhã a praça não estava do jeito que o Michael disse, a Sophie não teve escolha a não ser descer do carro assim que chegaram em frente do local.

—O que vamos comprar mamãe? Hanna deu um pulo e foi pegando a mão dela com força, em meio à agitação e movimento das pessoas.

—O que você quiser, querida... apenas... fique comigo o tempo todo.

A praça, apesar de larga, parecia como se tivesse túneis quando eles começaram a andar. Detalharam muitas lojas no chão, e muitas pessoas correndo para oferecer seus produtos.

A Hanna ficou confusa com a língua estranha com a qual não estava acostumada a lidar, mas depois se deixou inundar pelos tecidos coloridos e objetos sonoros que nunca antes tinha ouvido. No entanto, assim que os vendedores souberam que eles eram americanos, foram rápidos em falar com eles na sua língua.

O Michael reparou em algumas antiguidades, e Sophie estava interessada em lençóis de 800 fios que lhe deram arrepios.

O jeito de fazer negócio era novo, mas ela se aprofundou para aprender sobre outros tipos de fios.

—Este é lindo demais... —comentou ela com o vendedor.

O homem detalhou o produto e foi esperto em falar a sua língua. Na maioria das culturas árabes, o inglês básico era ensinado na escola primária e quase obrigatório no currículo escolar.

—Temos até 900 fios... —respondeu o homem, e o rosto da Sophie se ergueu ao ver que ele a entendia. Não era muito fluente, mas compreensível. 

—Sério? —Ela perguntou, o vendedor assentiu e lhe passou outro para que ela o tocasse.

—É incrível... quero leva-lo.

—Vou deixar esse para você em... —a Sophie estava pegando o dinheiro na bolsa, mas uma pontada forte atingiu no peito ao ver sua mão vazia.

Rapidamente, ela se virou para ambos lados e apertou a mão, sentindo que a Hanna não estava mais sob seu controle.

—Hanna... —ela se virou de repente ao ver que estava sozinha na loja e seus lábios se apressaram em perguntar ao homem à sua frente —Você viu minha filha?

O vendedor negou rapidamente. 

—Não vi ninguém com a senhora quando entrou, senhora...

—Como não viu?!!!—Sophie quase gritou e depois correu para fora para detalhar que seus guardas estavam olhando para outro lugar—. Onde está a Hanna?

Os dois seguranças se entreolharam e depois negaram.

—Achamos que ela estava com a senhora.

—Oh meu Deus! Quase rasgou a garganta, e então começou a correr de um lado para o outro, mas se lembrou da assistente e voltou para os guardas que já estavam procurando a menina. Onde está a Ana?

Eles apontaram para a assistente, e Sophie a viu bastante concentrada em algumas joias feitas à mão que estavam no chão da praça.

Correndo até a mulher, ela a virou e verificou seus lados, e viu que ela não estava com a filha.

—Como você pode não saber onde está a minha filha? Todos conseguiram ouvir seu desespero, e foi então que o Michael chegou.

O casal se olhou nos olhos com evidente terror e, sem esperar mais, ordenou uma busca completa na praça toda.

Passada uma hora, a Sophie desmaiou quando os oficiais marroquinos lhe anunciaram que não tinham conseguido encontrar a pequena...

—Sophie... por favor, olhe para mim... se acalme por favor, eu lhe imploro... —sua esposa tremia em seus braços enquanto lágrimas escorriam incontrolavelmente de seus olhos. 

—Eu quero morrer... não posso suportar isso... eu... eu sou a culpada... ela soltou minha mão... Deus! Eu sabia, eu sabia que não deveria ter vindo a este lugar...

—Sophie... me escute e acredite em mim, vamos procurar em cada canto... eu vou encontrar nossa filha, por favor acredite, eu vou encontrá-la...

"Notícias de última hora: casal de estrangeiros americanos procura desesperadamente por sua filha, que desapareceu na Praça Marrat."

Fátima olhou através do vidro para a foto da menina na televisão daquela loja e depois se virou para ver a menina segurando sua mão.

Ela veio à praça para vender seus véus de tecido e alguns vegetais que seu marido cultivava em seu vilarejo de Imlil, perto de Rabat, a capital do Marrocos, onde ela mora.

Naquela manhã, ela não tinha muita mercadoria, então, deixando sua loja móvel, preparou-se para sair cedo para Imlil, com seus ganhos da semana.

Fátima sabia que estava indo na direção errada quando se deparou com aquela pequena perdida, mas assim que ela se abaixou para encontrar seus olhos e a levantou do chão, ao sentir seu medo foi pega por aquele olhar inocente e seu coração insatisfeito se agitou como nunca antes.

Ele a entendeu desde o início, quando a menina lhe disse que seu nome era Hanna e que a ajudasse a encontrar sua mãe.

A Fátima estudou até o ensino médio e teria conseguido realizar seus sonhos acadêmicos se não tivesse encontrado o Ali, seu marido. Isso fez com que seus pais a deserdassem por ser teimosa e escolher sair de casa com ele, e agora ela estava vendendo na praça para sustentar sua casa.

Estava tentando engravidar há mais de sete anos e, mesmo com todas as suas orações e jejuns, não tinha conseguido realizar o seu maior sonho de construir uma família com o Ali, que nos últimos anos, tinha lhe mostrado seu pior lado.

Ela estava desesperada e, quando essa menina quase a fez cair na praça por causa da velocidade com que corria, ela só conseguia pensar que o próprio Deus estava lhe dando uma chance de ser mãe.

—Para onde estamos indo? —a Fátima se sacudiu quando Hanna choramingou e, ajeitando o cachecol, agachou-se para falar melhor com a menina.

—Estamos indo para Imlil... sua cidade natal a partir de agora... E também vai ter um novo nome?

—Novo nome? —a Hanna perguntou e Fátima assentiu.

—Agora você vai se chamar a Samara... Samara Raji...

A menina olhou para os lados muito confusa, mas Fátima pegou sua mão com força e começaram a andar.

"Ela é muito pequena, vai esquecer tudo, ela vai aprender... essa é a minha chance... ela será minha filha de agora em diante", a Fátima pensava enquanto quase corria em direção à estação de ônibus, e Hanna olhava para trás pela última vez.

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