Phelippe!

Continuei observando o garoto até o sinal da escola tocar me lembrando que estava na hora da aula começar. Thomas e eu nos dirigimos para nossas turmas, já tinha alguns colegas nossos na sala e nos juntamos à eles. Thomas e eu nos sentamos em nossos lugares, e logo a professora de filosofia entrou na sala, ela era uma senhora baixinha, aparentava ter uns 90 anos, tinha cabelo branco e pele bem enrugada, mas era um amor, as vezes ela até nos dava cola nas provas, e confesso que eu adorava essa parte. Ah, devo admitir que eu estava louco para que chegasse logo o recreio, ficava contando os minutos para esse momento. Nunca fui muito estudioso, na verdade, eu detestava estudar, minhas partes preferidas da escola eram o recreio, a saída e as férias, mas nem por isso eu me relaxa, por mais chatas que as aulas pudessem ser eu costumava prestar atenção, ou tentava, para assim não precisar estudar tanto para as provas, e mesmo assim, eu costumava tirar notas boas, geralmente dava certo.

Terça – feira, 10h00.

Recreio. Eu estava com meus amigos. Estávamos sentados em um banco no pátio da escola enquanto olhávamos para as garotas e apontávamos seus defeitos e qualidades. Reparei o tal garoto, que conversava alegremente com uma garota, talvez seja sua colega, ou namorada. Ele se despediu dela e saiu, passou pela gente, mas dessa vez ele me olhou, olhei de volta para ele encarando – o, mas logo em seguida, parei de olhar para o louro. O garoto foi até umas pessoas, três garotos e duas garotas, parecia conhecer todo mundo, mas eu não lembrava dele, não desde a lanchonete.

- Quem é? - Perguntei para meus amigos enquanto olhava para o tal garoto.

- Ah, ele é novo na escola, entrou esse ano. - Respondeu Bernardo se pondo a olhar para o rapaz.

Fiquei em silêncio enquanto continuava observando ele. Logo em seguida, voltei a olhar para os meus amigos, me pondo a prestar atenção no que eles diziam. Ainda estavam falando de garotas, era o assunto preferido deles, não que eu não gostasse de falar sobre minas, mas sei lá, preferida falar sobre o último jogo que havia sido lançado, ou aquela partida de futebol do meu time que passou no último domingo.

Terça – feira, 22h00.

Estava deitado mexendo em meu not book. Entrei na Netflix, e busquei por algum filme legal de terror, mas só tinha filme que eu já havia visto ou chato.

- Hora do jantar. - Gritou minha mãe da cozinha.

- Já vou. - Gritei de volta.

Me levantei e fui até a cozinha. O jantar era arroz, feijão, batata frita e frango, havia ficado tudo delicioso, minha mãe era a melhor cozinheira do mundo.

- Que delicia! - Falei.

- Obrigada, querido. - Disse minha mãe docemente.

- E cadê ele? - Perguntei me referindo ao meu pai.

Eu odiava meu pai. Ele era um homem muito ruim, ele bebia muito, e sempre batia em minha mãe e em mim. Mamãe e eu morríamos de medo dele. Era um homem muito violento, as vezes até quando estava sóbrio batia em minha mãe, se era contrariado, ela tinha que dizer ''sim'' pra tudo para ele, pois senão ele virava um monstro, e eu odiava no que ele era capaz de se transformar. Quando pequeno eu não podia fazer nada, mas desde os meus 15 anos que eu passei a enfrentar ele, muitas vezes retribuía as agressões. Lembro uma vez, eu tinha uns 6 anos, mais ou menos, o tal senhor havia chegado em casa, mamãe não estava, pois havia ido à padaria. Ele, fora de si, me empurrou, fazendo eu bater a cabeça em uma estante da sala, fui parar no hospital, fiquei quase um mês internado e levei uns três ou quatro pontos. Mamãe sempre quis se separar dele, mas ele fazia ameaçadas, falava que se ela tentasse algo, a mataria, que ela era só dele. Por diversas vezes eu pensei em fugir de casa para não vivenciar mais aquilo, mas não podia deixar minha mãe sozinha com aquele desgraçado.

- Adivinha. - Respondeu minha mãe.

Entendi com aquilo, que ele havia saído para beber. Normal, era o que ele sabia fazer de melhor, e eu até gostava quando ele saia, pois assim tínhamos um pouco de sossego dele, o ruim era quando o infeliz chegava em casa.

Mamãe e eu jantamos em silêncio. Olhei para os hematomas de minha mãe, e desejei com muita força que ele morresse. Nunca desejei a morte de ninguém, mas o ódio era maior do que tudo, e eu não queria mais ver a minha mãe ser agredida por aquele desgraçado.

A campainha tocou.

- Está esperando alguém, querido? - Mamãe perguntou.

- Não que eu saiba. - Respondi.

Abri a porta e tive uma imensa surpresa. Era Nina.

- Oi. - Ela fala com um leve sorriso.

- Oi. - Respondi bastante surpreso por ver a garota.

- Quem é, filho? - Perguntou minha mãe, indo até a porta.

- Uma amiga. - Respondi olhando para Marina.

- Olá. - Falou mamãe para a morena.

- Oi. Sua mãe é linda, Juan. - Disse Nina.

- Obrigada. - Falou mamãe ao sorrir.

Mamãe convida Nina para jantar conosco, mas ela não aceitou (graças a Deus). Nina me convidou para sair, mas eu não estava a fim, estava cansado, e já era noite.

- Olha, acho que precisamos conversar. - Falei.

Ela consentiu em um gesto com a cabeça.

- Depois eu termino. - Falei para mamãe.

Fomos até o quintal de minha casa, e nos sentamos em um banco que tinha ali.

- Como você soube onde eu morava? - Perguntei curioso.

- Bernardo me deu seu endereço.

''Filho da mãe.'' - Penso.

Não queria magoar Nina, ela era uma garota legal e não queria machucá-la, mas não podia seguir com isso. Se uma garota que eu fiquei duas vezes já descobria até meu endereço, se eu tivesse algo a mais com ela, era capaz dela rackiar minhas redes sociais para ver todas minhas conversas e excluir todas minhas amigas.

Eu não era bom em terminar relacionamentos, até por que nunca tive muitos, e quando eu tinha, era sempre a garota que me dava um pé na bunda. Mas eu acabei fazendo isso, terminei tudo com ela, sei lá, o que fosse que ela estivesse achando que era aquilo. Nina ficou bem triste, que não conseguiu nem disfarçar, não gostei de vê-la mal, mas eu não podia seguir com uma garota que eu não amava, e na moral, acho que nunca amei uma garota de verdade.

- Desculpa. - Falei.

- Tudo bem. - Ela diz se pondo a ir embora.

Fiquei mais um pouco ali sentado, pensando se fiz a coisa certa, odiava magoar as pessoas, pois sei como isso dói, mas também não poderia ir adiante com esse relacionamento. Nina era linda, mas muito pegajosa, e não fazia meu tipo.

Quarta – feira, 18h50.

 Recém havia chegado a tal reunião de moda e maquiagem.

- Juan? Que bom te ver. - Diz Pietra meio surpresa.

- Oi. - Falei.

- E seus amigos? - Me pergunta Aisha séria (como sempre).

- Não quiseram vir. - Respondi.

- Ah, por quê? - Perguntou Pietra parecendo meio desapontada.

Gaby estava comendo um picolé. Percebi que ela lambia e olhava para mim, me senti meio incomodado com isso, mas não falei nada.

- Qual é? Eu não posso obrigá-los a vir. - Falei para Pietra..

A tal reunião era no salão de nossa escola. Um salão grande, bem espaçoso, e tinha bastante gente. Me sentei em uma cadeira, estava sozinho, olhei para os lados, em busca de encontrar algum conhecido, mas não avistei ninguém, e eu era o único garoto ali, o que me deixou meio envergonhado. Comecei a mexer no celular, pois estava muito entediado.

Voltei a olhar para os lados, dessa vez avistei o tal garoto, cujo nome ainda era um enigma para mim.

''O que ele faz aqui?'' - Pensei.

O garoto estava meio longe, ele conversava com Ruby e Giulia.

''Talvez seja amigo delas.'' - Pensei.

Ele me olhou e eu viro o rosto disrçando. Notei ele se aproximar, e o garoto sentou atrás de mim.

Em seguida, a reunião começou. Aisha e Gaby chamaram uma garota, e passaram a dar dicas de maquiagem, acho que aquilo deve ter levado uma meia hora. Em seguida Pietra, Ruby e Giulia passaram a falar sobre moda. Estava mexendo em meu celular, pois não queria escutar tanta baboseira.

- Que tédio, não acha? - Me questiona o garoto atrás de mim.

- É. - Respondi meio surpreso.

- Parece que somos os únicos garotos daqui. O que você acha da gente fugir? - Ele me pergunta. - Com tanta gente que tem aqui, ninguém sentirá nossa falta.

Pensei duas vezes antes de responder. Olhei para as garotas, em seguida, olhei para ele, que estava a me olhar esperando que eu dissesse algo.

- Simbora. - Respondi.

Saímos do salão, e fomos pra rua. Silêncio. Nos sentamos em um banco.

- Phelippe. - Ele fala.

- Quê? - Perguntei sem entender.

- Me chamo Phelippe. - Ele disse. - E você?

- Juan. - Respondi.

Ele tirou um cigarro e um isqueiro do bolso da bermuda.

- Quer? - Ele me perguntou se referindo ao cigarro.

- Eu não. Você sabe quantas substâncias químicas um desses tem? Fora que causa mais de 50 doenças diferentes. - Falei me arrependendo logo em seguida.

Ele me olhou sério, e em seguida começou a rir.

- Tá brincando, né? - Ele perguntou voltando a ficar sério.

- Claro. - Respondi. - Mas é que eu sofro de bronquite e asma, se eu fumar um só, passo muito mal.

Ele acendeu o cigarro me encarando, o que me deixou com um pouco de vergonha.

- Você é novo na escola, né? - Perguntei.

- Sim, entrei esse ano .- Ele respondeu. - E você?

- Entrei ano passado. Estou refazendo o primeiro ano, pois a vadia da professora de matemática me reprovou por um ponto. Ainda bem que ela saiu da escola esse ano. - Falei chateado por lembr1ar da situação.

- Sério? Que merda! Mas não deu para ser feito nada?

- Não, ela me odiava, alegou que eu tinha muita falta.

- Que droga!

- E você, está em que ano? - Pergunto.

- Segundo. Também estou atrasado. Eu me mudei no ano passado, aí acabei perdendo o ano, e agora tive que refazer o segundo ano. - Ele falou.

- Que droga, cara. - Eu digo.

Olhei para o garoto, que estava fumando. Ele me olhou também, e eu desviei o olhar meio tímido. Ficamos ali conversando um pouco, ele parecia ser bem legal.

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