Descobertas

- E onde eu vou dormir? - Perguntei me pondo a quebrar o silêncio que havia se formado entre nós.

- Na minha cama. - Ele disse me pegando de surpresa.

- Como? - Perguntei um pouco assustado com a fala do mais velho.

- Sim, você vai ficar com a minha cama e eu com o sofá. - Ele falou para meu alívio.

- Não, de jeito algum. Você fica com a cama e eu com o sofá. - Falei.

- Não, Juan. Eu faço questão, e minha casa, minhas regras, e se você não aceitar, eu vou ficar muito bravo com você.

- Ok. - Sorri timidamente.

Nos arrumamos para dormir, e Phelippe arrumou minha cama, me ofereci para arrumar, mas ele não deixou, confesso que estava achando ele um fofo.

- Boa noite, Juan. - Ele me disse.

- Boa noite. - Falei ao me deitar na macia cama do garoto.

Phelippe saiu do seu quarto, se pondo a ir pra sala.

''Queria que você dormisse comigo.'' - Pensei.

Mas no segundo seguinte, eu já me arrependi de ter pensado isso, não sabia o que estava sentindo, nunca havia me sentido atraído por homem antes, por que será que eu estava tendo esses pensamentos com Phelippe? Por que será que eu ficava enciumado cada vez que a namorada dele estava junto da gente? Por que as vezes me pegava olhando para seus lábios? Será que eu era gay? Quer dizer... Eu não sabia se gostava de Phelippe de um modo romântico e nunca tinha parado para pensar nisso, mas sei lá, eu gostava de estar com ele, e gostava muito, e nem conseguia entender o porquê de gostar tanto assim.

Fiquei tentando entender tudo que eu estava sentindo, até que acabei dormindo. Naquela noite eu sonhei com Phelippe. No sonho, estávamos felizes e rindo bastante, parecíamos até... namorados?

Quarta – feira, 6h20.

 Acordei meio assustado com o sonho que eu tive. Me levantei e fui até a sala. Phelippe já está pronto pra escola.

- Bom dia belo adormecido. - Brincou o garoto.

- Quê? Que horas é? - Perguntei apavorado achando que eu estava atrasado.

Olhei no relógio e era 6h22. O loiro riu discretamente.

- Idiota. Achei que estava tarde. - Falei.

Tomamos um delicioso café da manhã, e enquanto isso olhava para Phelippe, ele me olhou de volta, eu desviei o olhar timidamente. Cara, que olhos azuis eram aqueles? Estava com muito medo. Nunca havia sentido isso por ninguém antes. Pensei que talvez, de fato, eu pudesse estar gostando do mais velho, mas eu não queria, não queria ser gay, eu não podia ser.

Quarta – feira, 07h00. 

Chegamos na escola, porém ao chegarmos nos separamos, Phelippe foi falar com uns amigos, e eu me juntei com os meus, que já haviam chegado.

- O que tá pegando? - Pergunta Omar.

- Como assim? - Lhe questionei sem entender do que ele estava falando.

- Você e o Phelippe, chegando juntinhos. - Ele brincou me deixando aborrecido.

Fiquei chateado com a insinuação do garoto, não havia gostado da brincadeira, mas tentei não demonstrar muito o meu incômodo.

- Quê? Não viaja, meu. É que o Even me convidou pra ficar em sua casa, já que eu estava sozinho na minha, e eu resolvi aceitar. - Expliquei.

- Hum, sei... Ele queria uma companhia. Entendo. - Ironizou Bernardo.

- Para, não gosto dessas brincadeiras. - Falei bastante aborrecido.

- Qual é, cara? Relaxa, é brincadeira, estamos zoando com você. - Diz Thomas.

Quarta – feira, 15h00. 

Eu estava sentado em um banco. Havia marcado de me encontrar com Giulia em uma praça perto de nosso colégio, fazia tempo que a gente não saia, pois ela sempre estava com suas amigas e eu com os meus amigos. A ruiva chegou logo em seguida.

- Oi. - Ela disse.

- Oi. - Falei meio cabisbaixo.

A garota se sentou ao meu lado.

- O que houve? - Pergunta Giulia.

- Saudade da gente. Antes nós éramos tão amigos, tão unidos, até quando você namorava o Thomas a gente vivia grudados. Mas depois você colou nas garotas, e eu colei nos caras. Sinto falta da gente, da nossa amizade. - Falei.

- Também sinto. Mas Juan, mesmo que hoje a gente não esteja sempre juntos como antes, você sempre será meu amigo, e ninguém mudará isso. - Ela disse fazendo eu esboçar um leve sorriso.

Coloquei minha cabeça em seu ombro, e ficamos em silêncio por alguns segundos. Olhei para frente, depois para ela, e então voltei a olhar para frente enquanto criava coragem para falar o que eu queria.

- Hã... Giulia, eu precisava falar com alguém, um amigo, ou melhor, uma amiga. Mas com os garotos eu não posso falar, então lembrei de você, que sempre foi minha amiga. - Digo olhando para o lago, que está à nossa frente.

- O que houve? Algum problema? - Ela me perguntou.

- Sim. - Respondi. - Eu acho que eu estou apaixonado. - Abaixei a cabeça meio envergonhado.

- Ah, que legal. Isso é ótimo. - Ela fala meio empolgada.

- Não, isso é terrível.

- Por que, Juan? - Ela perguntou sem entender a minha fala.

- Porque eu acho que eu estou apaixonado... pelo Phelippe. - Falei enfim.

Ela ficou em silêncio por alguns segundos e se pôs a olhar para frente, acho que estava assimilando o que eu havia falado.

- Entendi... Mas, e ele? Ele também gosta de você desse jeito? - Questionou a ruiva.

- Não sei, acho que não, ele tem namorada. Ah, droga, eu não acredito nisso.

- No que, Juan?

- Nunca pensei em gostar de outro cara. Ah, se tivesse um jeito de eu esquecer esse sentimento. Eu não posso ser gay. Eu não quero ser gay. 

- Juan, me escuta. Você não tem que sentir vergonha do teu sentimento, você tem que sentir vergonha desse teu pensamento idiota e preconceituoso. Desde quando ser gay é errado? Errado é pensar assim.

Fiquei em silêncio por alguns segundos, no fundo, eu sabia que Giulia estava coberta de razão.

- Acho que você está certa. - Falei colocando minha cabeça em seu ombro.

Quarta – feira, 19h00. 

Cheguei em casa, bom, na casa de Phelippe. E adivinhem? Ele estava saindo do banho, e estava NU, sim, eu disse e repito, ele estava NU, completamente nu, sem roupa nenhuma, não estava usando nem cueca, estava com tudo de fora.

- Hã, desculpa, eu não sabia que você... Que você... Esquece, eu vou sair, e volto mais tarde. - Falei tentando conter o nervosismo, porém, sem sucesso.

Ele riu da minha reação.

- Calma cara, até parece que nunca viu um pênis antes. Relaxa. Eu não sou fresco pra essas coisas. - Ele falou calmamente.

Confesso que fiquei meio envergonhado, e sem saber o que dizer.

- Onde você estava? - Ele me perguntou enquanto secava seu cabelo com uma toalha.

- Hã... Eu fui me encontrar com a Giulia, precisava conversar com alguém.

- Algum problema? - Perguntou.

- Não mais. - Respondi tentando não olhar para seu pênis que ainda estava exposto.

Quarta – feira, 22h00.

Phelippe e eu estamos vendo televisão, quer dizer, eu nem estava prestando atenção, pois estava pensando em outras coisas.

- Sabe, Juan, eu estava pensando em terminar com a Lizy.

- Ué, por quê? - Perguntei.

- Eu não gosto mais dela. Quer dizer... Eu gosto, mas não como eu gostava no começo, me entende?

- Claro, mas então por que você não rompe com ela de uma vez?

- É mais complicado do que você possa imaginar. Acontece, que ela tem uma doença muito grave, parece que é câncer, ou algo do tipo, e segundo os médicos, ela tem poucos meses de vida, e como ela está muito apaixonada por mim, eu quero que ela morra feliz.

- Sério? - Perguntei apavorado com o que o garoto havia acabado de me contar.

- É. E parece que só tem um médico que pode curá-la, acho que o nome dele é Chin Chin Io, só que ele mora em Ohio, no Japão, e pra ela se curar, teria que pagar uns 30 mil, e ela não tem todo esse dinheiro, né?

- Peraí, você está me zoando, né? - Perguntei.

Phelippe começou a rir, fazendo eu sentir muito ódio dele.

- Claro que sim, ou você acha que existe mesmo um médico chamado Chin Chin Io? E Ohio fica nos Estados Unidos, não no Japão. - Ele ri da minha cara.

- Filho da puta. - Falei querendo matá-lo.

- Mas falando sério agora... Os meus pais e os pais da Lizy são muito amigos, e nós dois nos conhecemos desde crianças. Meus pais sempre sonharam nessa minha relação com ela, sonham da gente se casar um dia e ter filhos. E eu não quero decepcionar eles. Acho que eu devo isso a eles, até pelo que houve com meu irmão. Mas... Eu não gosto mais dela, não como antes.- Disse o mais velho.

- Mas, se você não está feliz... - Falei.

- Mas eles estão. - Falou o garoto um pouco cabisbaixo.

Sabe, me deu até um pouco de dó de Phelippe, pois quando ele estava perto da tal namorada, ele parecia muito feliz e apaixonado, nem dava para dizer o contrário, mas naquele momento, eu pude perceber que ele não estava nada feliz como aparentava estar, muito pelo contrário, e infelizmente, eu não tinha nem como ajudá-lo, o que me deixava mais triste e chateado. Ah, se eu pudesse fazer algo para ajudar Phelippe, pois eu seria capaz de fazer qualquer coisa para vê-lo feliz...

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